O trânsito é uma quimera tão dominante no mundo de hoje que
é normal as pessoas acharem que dá para reduzir congestionamentos com muito
dinheiro: avenidas novas, pontes sobre vales, minhocões por cima dos
gargalos... Mas estudiosos já chegaram a duas certezas: grandes obras viárias
provocam mais congestionamentos ao invés de resolver os existentes. E soluções
simples, que atuam sobre o hábito das pessoas, têm custo baixo e ajudam a
diminuir o número de carros na rua.
As medidas chamadas de TDM (do inglês "Traffic Demand
Management", gestão de demanda do trânsito) incluem providências como
escalonar horários de trabalho; incentivo a carona e ao transporte público;
adoção do expediente em casa etc.
Na quinta-feira, 19, serão apresentados na Virada da
Mobilidade os resultados de um programa de TDM coordenado pelo Banco Mundial em
São Paulo, que pode melhorar o trânsito com ações simples e de baixo custo. O
estudo-piloto aconteceu na avenida Berrini, lugar da cidade onde mais carros
circulam só com o motorista e o congestionamento é tão grande que invade as
garagens (os carros chegam a levar meia hora para sair do prédio).
O trabalho foi pilotado por Andrea Leal, especialista em
políticas públicas e coordenadora de projetos do organismo internacional. Foram
escolhidos dois grandes condomínios na av. Berrini: o WTC e o Cenu. De 80
empresas com escritórios nesses prédios, 20 aderiram ao projeto e passaram a
trabalhar junto aos funcionários para mudar hábitos. Foram oferecidas opções
como uso de caronas (parceria com o site caronetas.com.br), linhas de ônibus
fretados, horário de trabalho flexível, incentivo ao uso de bicicletas,
programas de trabalho doméstico...
Entre os resultados mais animadores estão os de uma ação
simples: o hotel Hilton local apresentou a cada funcionário as melhores rotas
de transporte público de sua casa ao trabalho. "Ficou provado que a
informação é uma ferramenta poderosa para a mudança de hábitos", diz
Andrea. Outra medida de impacto na redução do uso do carro foi deixar de cobrar
a parcela de 6% dos empregados no custo do Vale Transporte.
Também utilizaram menos o automóvel aqueles funcionários que
aderiram ao "home office": quem passou a trabalhar em casa (todos ou
alguns dias) reduziu em 20% sua necessidade do carro para outras tarefas. Já a
adesão à carona foi menor do que esperavam os organizadores, a partir de
pesquisas, o que sugere a necessidade de melhorar o sistema de oferta nos
próximos projetos.
(...) Numa cidade cansada de ver grandes obras viárias
associadas a irregularidades, é bom saber que medidas de custo irrisório podem
funcionar contra o trânsito.
Fonte: Leão Serva, “Folha
de S. Paulo", Cotidiano, 16/9/13 (íntegra aqui).
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