sexta-feira, 28 de novembro de 2014 | | 0 comentários

E o beatle me fez chorar

Raríssimas vezes na vida eu tive a sensação de que o tempo parou. Pouquíssimas vezes eu me senti tão extasiado a ponto de entender que se a vida acabasse naquele momento tudo teria valido a pena e eu estaria feliz. Foram sensações únicas – e, creia, difíceis de descrever.

Não sou fã de música (daqueles que conhecem nomes, histórias e trajetórias), tampouco sou beatlemaníaco, mas decidi que não teria o direito de passar por esta vida sem assistir ao menos a um beatle. E assim decidi ir ao show de Paul McCartney no Allianz Parque.




 


Talvez o mais performático dos Beatles mostrou toda a sua energia em duas horas e meia de show, durante as quais Paul cantou e tocou instrumentos variados em todas as canções, além de brincar com o público com suas dancinhas, gestos e ao arranhar o português – adaptado para o público, saudado como “paulistas”. E vieram “Sampa”, “esta é para a molecada” até o “É nóis!!!” que provocou gargalhadas.

Não faltaram luzes e cores num show primoroso, digno do nome – show. Espetáculo também cairia bem para uma apresentação espetacular – em emoção e tecnologia. Do som potente, passando pelo cenário deslumbrante aos fogos de artifício e à chuva de papeis picados que encerrou a apresentação, tudo foi mágico.




Tenho usado muito esta palavra para (tentar) descrever aquilo que vai além do que os olhos conseguem enxergar, o ouvido ouvir e o coração sentir. Para sensações e experiências que parecem entrar no mundo do sobrenatural.

A chuva definitivamente não atrapalhou a noite. Foi poética – ela apertou justamente quando Paul cantou “Here Today” em homenagem ao parceiro John Lennon, assassinado em Nova York (EUA) nos anos 80. “São as lágrimas do John”, eu disse.

And if I say I really knew you well
What would your answer be
If you were here today

Oh, oh, oh
Here today

Well knowing you
You'd probably laugh and say that we were worlds apart
If you were here today
Oh, oh, oh
Here today

But as for me
I still remember how it was before
And I am holding back the tears no more
Oh, oh, oh
I love you, oh

What about the time we met
Well, I suppose that you could say that we were playing hard to get
Didn't understand a thing
But we could always sing

What about the night we cried
Because there wasn't any reason left to keep it all inside
Never understood a word
But you were always there with a smile

And if I say, "I really loved you"
And was glad you came along

If you were here today
Oh, oh, oh
For you were in my song
Oh, oh, oh
Here today
(De Paul McCartney)




Também emocionante foi a homenagem a George Harrison, com “Something” - a música composta pelo amigo já falecido tocando enquanto imagens deles apareciam no telão:

Something in the way she moves
Attracts me like no other lover
Something in the way she woos me

I don't want to leave her now
You know I believe and how

Somewhere, in her smile, she knows
That I don't need no other lover
Something in her style that shows me

I don't want to leave her now
You know I believe and how

You're asking me will my love grow
I don't know, I don't know
You stick around now it may show
I don't know, I don't know

Something in the way she knows
And all I have to do is think of her
Something in the things she shows me

I don't want to leave her now
You know I believe and how
(De George Harrison) 




E a noite seguiu entremeada por sucessos dos Beatles, dos Wings (a outra banda de Paul) e do próprio cantor em carreira solo. 

Até chegarem os momentos cruciais, que deveriam ser vividos por todas as pessoas. Primeiro veio “Hey Jude” – e, como já virou tradição, o estádio se iluminou com luzinhas dos celulares e faroletes do público. E foi ali, naquele momento, que eu desejei que o tempo parasse, numa eternidade linda e mágica.

Mas tinha mais. E quando surgiram os primeiros acordes de “Yesterday” não deu mais para segurar. A emoção aflorou, as lágrimas escorreram para se misturar com a abençoada chuva. Sim, o beatle me fez chorar.

Yesterday
All my troubles seemed so far away
Now it looks as though they're here to stay
Oh, I believe in yesterday

Suddenly
I'm not half the man I used to be
There's a shadow hanging over me
Oh, yesterday came suddenly

Why she had to go I don't know
She wouldn't say
I said something wrong now I long
For yesterday

Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe in yesterday

Why she had to go I don't know
She wouldn't say
I said something wrong now I long
For yesterday

Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe in yesterday
(De John Lennon e Paul McCartney)  


 


 


  
Paul McCartney é um daqueles poucos seres humanos que carregam uma aura além do comum. São capazes de contagiar qualquer ambiente com uma energia diferente. Perfumam o ar, aquecem a noite, acalentam os corações.

Já posso dizer: eu vi um beatle tocar ao vivo. Eu vi o tempo parar. Eu vi, por um instante, o mundo acabar. Feliz.

* Obrigado, Mirele!

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A questão do racismo e a política de cotas

Dia desses, conversava numa mesa de bar com outras três pessoas a respeito do racismo. O trio criticando as cotas raciais e a costumeira posição de que os negros são os mais racistas de todos. Mencionavam, como de praxe, o falacioso argumento da camisa “100% branco”.

Contra-argumentei que tais manifestações ignoravam ou desconsideravam todo um processo histórico e só podiam partir de quem estava numa cômoda posição de não viver tais infortúnios – os do racismo.

Citei dados que corroboravam as marcas ainda profundas do racismo nas sociedades em geral. E defendi com vigor que aquela torcedora do Grêmio flagrada xingando o goleiro Aranha, do Santos, de “macaco” merecia uma punição rigorosa, nos limites da lei. Porque ela poderia tê-lo xingado de qualquer outra coisa, mas escolhera sim uma manifestação sabidamente – e conscientemente – racista.

Pois esta semana li um artigo do jornalista Clóvis Rossi na “Folha de S. Paulo” que reforçou minhas convicções e trouxe detalhes do que eu argumentara na ocasião da conversa.

(...) Os números mostram os motivos da divisão: os negros são 13% da população total (dos EUA), mas formam 40% da população carcerária; 3% de todos os homens negros estavam presos no fim de 2013, quando a taxa entre brancos era de apenas 0,5%. 

Em 2011, 1 de cada 15 afro-americanos tinha o pai preso; entre brancos, a proporção era de 1 para 111. (...)

Rossi cita uma pesquisa a respeito de um recente episódio da morte de um garoto negro por um policial nos EUA segundo a qual “62% dos afro-americanos dizem que o policial (branco) Darren Wilson errou ao atirar no negro Michael Brown, opinião que apenas 22% dos brancos compartilhavam”.

E concluía:

(...) Foi esse sentimento desumano que plasmou toda uma legislação segregacionista durante séculos. 

O fato de ela ter sido derrubada aos poucos não bastou para matar todos os demônios racistas que habitam os seres humanos. 

Será preciso toda uma revolução cultural e mental, por meio de uma ativa educação à convivência, para que um negro possa sentir-se tão à vontade nos EUA como um afegão. (...)

Numa entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, publicada em abril último, o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, manifestou-se no mesmo sentido:

As estatísticas ainda mostram que a raça faz uma grande diferença. Afro-americanos e hispânicos não só são comparativamente mais atingidos pela pobreza como são muito mais passíveis de serem presos do que outras pessoas. Desde que saí da Casa Branca, 800% mais mulheres negras estão encarceradas. A maioria das pessoas que estão na prisão por um longo tempo são hispânicos, negros ou mentalmente deficientes. A conclusão é que, considerando as pessoas que escrevem as leis, administram as leis e as aplicam, as demais são excluídas de qualquer tratamento igualitário no sistema de Justiça.

As políticas afirmativas, como a de cotas, são de fato polêmicas. Na minha visão, devem ter prazo determinado. São, porém, uma alternativa possível – talvez não a melhor, mas uma alternativa. Que é, indubitalvemente, melhor do que a inação.

É dever do Estado corrigir mazelas que ele mesmo criou ao longo dos anos, ainda que alguém pague indevidamente o preço do que não fora causado em seu tempo.

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Vem aí o governo tucano de Dilma!

De Armínio Fraga - ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso e principal aliado para a área econômica do candidato derrotado do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves, durante a campanha eleitoral: “Para os salários continuarem a crescer, os programas sociais continuarem a crescer, é preciso que a economia cresça”.

De Joaquim Levy – ex-secretário do Tesouro no governo Lula e futuro ministro da Fazenda do segundo governo Dilma Rousseff ao ser anunciado no cargo: "Se a gente não tiver crescimento, (...) é sempre mais difícil fazer qualquer política pública".

Armínio Fraga defendia a redução do papel dos bancos públicos.

Joaquim Levy disse que irá acabar com os repasses de recursos do Tesouro para os bancos públicos, iniciados no governo Lula e estendidos por Dilma.

Que me perdoem os petistas apaixonados, a esquerda sem capacidade de raciocínio e que abre mão de suas convicções e aqueles que acusam qualquer opinião contrária de ser neoliberal, tucana, da mídia golpista ou algo do gênero, mas ao ver os primeiros passos do segundo mandato de Dilma e comparar com a recém-encerrada campanha eleitoral, não há outra classificação a fazer senão “estelionato”.

Dilma deveria, por ofício, pedir desculpas aos seus eleitores e à nação. Não pelo que faz agora, que são passos necessários e aparentemente acertados, mas pelo que pregou na campanha e pelos ataques que fez – justamente a medidas que ela agora adota.

Como Dilma e o PT não tem humildade suficiente para pedir desculpas, nem o jogo político permite tal cena, os eleitores dela deveriam assumir este papel. Um mea-culpa já bastaria.

Fica, como registram algums colunistas, um sentimento estranho de se sentir enganado, mas ao mesmo tempo de saber que ela dá alguns sinais de que fará o que de fato precisa ser feito. O que Aécio chamou na campanha de “medidas impopulares” e que Dilma tanto criticou – e agora faz.

E olha quem nem falei do aumento dos combustíveis (também necessário) e da nomeação de Kátia Abreu para a Agricultura...

Leia também:

- Que ministério é este, Dilma?

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Trabalhando...

Reforma política já: a questão das coligações:



Vencedores do prêmio Nobel de medicina explicam porque taxistas têm memória mais desenvolvida:

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A sociedade custa caro

Custo mundial da obesidade*: US$ 2 trilhões (2,8% do PIB global)
Custo mundial do cigarro: US$ 2,1 trilhões
Custo mundial das guerras, conflitos e terrorismo: US$ 2,1 trilhões

Total: US$ 6,2 trilhões (ou R$ 15,5 trilhões – três vezes o PIB do Brasil)

* “A estimativa se baseia em perda de produtividade econômica, custos para os sistemas de saúde e investimentos necessários para mitigar o impacto da obesidade”, segundo reportagem da “Folha de S. Paulo.

terça-feira, 25 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Quem, afinal, é este tal de mercado? - uma reflexão

(...) Não estou afirmando que não caibam críticas morais aos resultados produzidos pelo mercado. Elas são muitas e muito pertinentes. É fundamental, contudo, que a indignação que possamos experimentar não contamine nossa capacidade de compreender como as engrenagens econômicas funcionam no mundo real. Se isso ocorrer, o resultado são barbeiragens. Foi exatamente o que se deu na primeira gestão de Dilma.

Quanto à lista de injustiças do mundo, ela até pode ser encabeçada pelos lucros exorbitantes de banqueiros, mas não se limita a eles. Por que um sujeito que teve a sorte de jogar bem futebol ou a mulher que por acaso nasceu bonita merecem ganhar milhares de vezes mais do que pernas de pau ou feias? Como mostrou John Rawls, quase tudo o que valorizamos é um prêmio indevido.

Fonte: Hélio Schwartsman, "O tal de mercado", Folha de S. Paulo, Opinião, 25/11/14, p. 2.

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Título mundial do Palmeiras é oficializado pela Fifa

O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, recebeu nesta semana a confirmação, agora em documento da FIFA, que o Palmeiras é o primeiro campeão mundial interclubes. A informação está em cópia da ata da reunião do Comitê Executivo da entidade máxima do futebol, que atendeu um pedido do clube paulista de reconhecimento do título, encaminhado em 2001.

O Palmeiras conquistou o torneio internacional em 1951, derrotando a Juventus de Turim (Itália). No primeiro jogo, vitória paulista por 1 x 0, gol de Rodrigues. A segunda partida terminou empatada por 2 x 2, Liminha e Rodrigues marcaram pelo alviverde, enquanto Praest e Bonipertti anotaram pelos italianos. Os jogos aconteceram no Maracanã.

(...) A demanda do Palmeiras vinha desde 2001, quando o clube enviou um pedido de reconhecimento do título à FIFA e à CBF. A primeira resposta chegou ao Brasil em carta datada de 9 de março de 2007 e assinada pelo então secretário-geral da FIFA, Urs Linsi. “Após minuciosa pesquisa, temos o prazer em anunciar que a FIFA concorda com sua proposta e aceita a Copa Rio 1951 como a Primeira Copa Mundial dos Clubes. Portanto, gostaríamos de solicitar que façam chegar essa designação diretamente à Sociedade Esportiva Palmeiras”.

(...) Mais recentemente, em abril de 2013, em ofício assinado pelo atual secretário-geral da entidade máxima do futebol, Jérôme Valcke, referendou a decisão em carta enviada ao ministro Aldo Rebelo.

Intitulado “Reconhecimento da Copa Rio 1951 como a Primeira Copa Mundial de Clubes”, o documento afirma que “depois do grande sucesso da Copa do Mundo FIFA no Brasil em 1950, a CBD decidiu promover outro campeonato em parceria com a FIFA visando elevar a qualidade técnica do esporte. Isso foi alcançado na Copa Rio 1951”.

No encerramento da carta, Valcke afirma que “além de garantir uma excelente organização do evento, o Brasil também pôde, orgulhosamente, ver o clube brasileiro Palmeiras vencer a final do campeonato contra o Juventus”.

Participaram da Copa Rio 1951, além de Palmeiras e Juventus de Turim, o Vasco da Gama, o Nacional de Montevidéu, o Áustria Viena, o Sporting de Portugal e o Estrela Vermelha da Iugoslávia.

A campanha palmeirense na competição:

1º Fase
30/6/1951 - Olympique Nice-FRA 0x3 Palmeiras5/7/1951 - Estrela Vermelha-IUG 1x2 Palmeiras
8/7/1951 - Palmeiras 0x4 Juventus-ITA

Semifinal
11/7/1951 - Palmeiras 2x1 Vasco da Gama15/7/1951 - Vasco da Gama 0x0 Palmeiras

Final
18/7/1951 - Palmeiras 1x0 Juventus-ITA22/7/1951 - Juventus-ITA 2x2 Palmeiras

Fonte: site do Ministério do Esporte

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"Vida breve"

(...) Caminho para os 40. E, com uma nitidez arrepiante, sinto que o tempo acelera como nunca.

Explico: aos dez, aos 20, o tempo passava com um ritmo mais lento. O ano acadêmico era longo. As férias de verão, também. E os dias, cada dia, tinham minutos que duravam horas e horas que duravam semanas.

Subitamente, os dias encolheram. E, com os dias, as horas e as semanas. Como explicar o fenômeno? (...)

Fonte: João Pereira Coutinho, “Folha de S. Paulo”, Ilustrada, 25/11/14 (íntegra
aqui).

domingo, 23 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Só para constar

Revendo conceitos - sobre a vida, as relações, a profissão, as prioridades...

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Os prédios mais inacreditáveis do mundo

Recentemente, li um texto sobre "os 20 prédios mais impressionantes do mundo". Infelizmente, a postagem original foi retirada do ar, mas como no mundo da Internet tudo se copia rapidamente, achei o texto e, o mais importante, as fotos num outro site.

Dos 20 prédios listados, conheci três pessoalmente. Um terceiro, embora não seja exatamente o que foi mencionado (Krzywy Domek, em Sopot, na Polônia), é bem semelhante a um famoso que encontrei numa esquina de Praga, na República Tcheca (e que bem poderia estar na lista). Aí vão eles:

1) Habitat 67 – Montreal, Canadá
Projeto feito para a Expo 67 pelo escritório do arquiteto Moshe Safdie





2) ROM - Toronto, Canadá
Royal Ontario Museum


3) Hotel Unique - São Paulo, Brasil
Construído em 2003, tem a assinatura do arquiteto Ruy Ohtake


4) Casa Dançante (Tancici dum) - Praga, República Tcheca
Assinada pelo arquitetoVlado Milunic em parceria com o arquiteto Frank Gehry


Eu poderia incluir ainda esta outra construção que vi também em Toronto, e que nem sei o que é:



Ou, quem sabe, o Flatiron Building, em Nova York (EUA):


E tantas outras construções mundo afora, incluindo as obras de Oscar Niemeyer...

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Vingança & perdão

(...) Não, a vingança não traz prazer nenhum; o mais provável é que ofereça apenas o alívio de não se conviver mais com o rancor, o ressentimento, aprisionados na garganta.

Há outra maneira de obter esse alívio, naturalmente: trata-se do perdão.

Bela palavra; mas perdoar não é tão simples quanto parece. Faz pouco sentido, para mim, a indulgência que se possa ter à noite, entre uma oração e outra, dirigida a ofensores indeterminados. "Perdoo todo mundo", penso, numa imitação preguiçosa da generosidade divina. Desse modo, não perdoei ninguém.

Assim como a vingança, o perdão precisa ser pessoal, cara a cara; o perdoado precisa saber que o foi. Fez-se um contrato entre nós; combinei com meu agressor que estamos prontos a um novo começo. (...)

Fonte: Marcelo Coelho, “Relatos selvagens”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 19/11/14.

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Que ministério é este, Dilma?

Brincadeira ouvida na última sexta-feira (21/11): o senador Aécio Neves (PSDB-MG) jogou no lixo o rascunho do ministério que pretendia montar caso vencesse as eleições presidenciais. Reeleita, a presidente Dilma Rousseff (PT) foi lá, pegou o rascunho para fuçar – e gostou do que viu...

Claro que a brincadeira carrega uma gigante dose de ironia, mas o que dizer de um ministério supostamente de esquerda (ou de centro-esquerda, como queira) com a senadora Kátia Abreu (PMDB-GO), representante maior do agronegócio, à frente do Ministério da Agricultura e com Joaquim Levy, provável ex-Bradesco e ex-secretário da área econômica nos governos Fernando Henrique Cardoso, na Fazenda?

Nem Aécio faria melhor...

“O primeiro movimento para o novo governo parece feito em marcha a ré”, registrou Janio de Freitas em coluna na “Folha de S. Paulo”. Para o jornalista Clóvis Rossi, também em artigo na “Folha”, trata-se de um “estelionato eleitoral”.

Em tempo: quando escrevo esta postagem, a imprensa já noticia reações contra a possível indicação de Kátia Abreu e pressões sobre a presidente Dilma para rever a escolha.

PS (acrescentado em 25/11): para reforçar o que escrevi, o jornalista Ricardo Melo (que aparenta nutrir certo apreço pelo petismo) sentenciou em recente coluna na "Folha":
(...) A política de agradar a Deus e ao Diabo encontra seus limites no sistema capitalista - embora no Brasil nem tarefas democráticas básicas, como a reforma agrária, ainda tenham sido cumpridas. 
 Mesmo com todas estas condicionantes, o triunvirato econômico que se dá como fechado para o próximo governo extrapola os limites da moderação. Na fase final da campanha, Dilma Rousseff abraçou o slogan de governo novo, ideias novas. Nada mais velho e cheirando a mofo do que os nomes aparentemente indicados para o núcleo duro da economia. (...)

Outro jornalista, Valdo Cruz, também em artigo na "Folha", acrescenta duas observações importantes:
(...) Total incoerência com o discurso eleitoral, daí a tristeza no mundo petista. Pior, porém, seria insistir nos erros que estavam levando o país a um quadro de estagflação. 
Agora, depois dos bons sinais na escolha da nova equipe, é preciso saber como Dilma Rousseff exercerá seu papel de árbitra da economia.

A última observação só o tempo irá responder...

PS (acrescentado em 28/11): a menção a Marina Silva existente nesta postagem, agora eliminada, estava incorreta. Ao contrário do que foi mencionado, ela nunca ocupou o ministério da Agricultura no governo Lula, e sim o do Meio Ambiente.

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Trabalhando... (na Suécia)

Garantir moradia para todos é um desafio até em países mais ricos:



Cidade inteira está de mudança para não desaparecer:



PS: segundo vídeo acrescentado em 18/12/14.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Um texto necessário sobre o Brasil

Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.

Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.

Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos "cochons des dix pour cent", os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.

Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão - cem vezes mais do que o caso Petrobras - pelos empresários?

Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado daqui. Que fingimento é esse?

Vejo as pessoas vociferarem contra os nordestinos que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff. Garantir renda para quem sempre foi preterido no desenvolvimento deveria ser motivo de princípio e de orgulho para um bom brasileiro. Tanto faz o partido.

Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país.

É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo.

Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite do sistema corrupto e políticas econômicas.

Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.

A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas.

O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras.

É lógico que a defesa desses executivos presos vão entrar novamente com habeas corpus, vários deles serão soltos, mas o susto e o passo à frente está dado. Daqui não se volta atrás como país.

A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas. O roubo está caindo, mas como a represa da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento.

Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. E são os grandes partidos que os brasileiros reconduzem desde sempre.

Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor? (grifo meu)

Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno sistêmico é homeopático. Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e não de um partido.

O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância cínicas. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada de nós sabe o que precisa fazer em vez de resmungar.

Fonte: Ricardo Semler, “Nunca se roubou tão pouco”, Folha de S. Paulo, Opinião, 21/11/14, p. 3.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014 | | 0 comentários

A ligação perversa das obras e campanhas eleitorais

A lógica revelada (ou confirmada) pela operação Lava Jato, da Polícia Federal, é a seguinte: as grandes empreiteiras participam de negociatas e garantem as maiores e mais caras obras do país – e, em alguns casos, no exterior, sob patrocínio de influentes políticos locais.

As nove construtoras que hoje estão na berlinda são as maiores do País, responsáveis por boa parte dos R$ 221,7 bilhões que o setor da construção civil faturou em 2013. Elas estão em todos os grandes projetos do governo e na maior obra em infraestrutura do País, a refinaria Abreu e Lima, orçada em R$ 37,4 bilhões e centro da operação Lava Jato. Seja como prestadoras de serviços ou sócias de consórcios, elas também atuam diretamente em projetos estruturais, como a construção da hidrelétrica Belo Monte, no Pará, uma obra de R$ 30 bilhões. 

Também estão presentes em obras emblemáticas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como a transposição do São Francisco, o Rodoanel de São Paulo e a ferrovia Norte-Sul, além das usinas Jirau (RO) e Santo Antônio (RO).
 

Fonte: Lu Aiko Ota e André Borges, “Operação Lava Jato pode comprometer futuro do programa de concessões”, O Estado de S. Paulo, Economia, 18/11/14, p. B1.

Em troca, pegam parte do dinheiro superfaturado que recebem e financiam as milionárias campanhas eleitorais, num círculo vicioso que se retroalimenta infindavelmente.

É tão simples, claro e óbvio como 2 + 2 = 4.

Detalhe: não bastasse a corrupção, ainda pegam dinheiro público emprestado a custo menor que o de mercado no bom e velho BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Como disse o governador eleito do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), em entrevista ao programa "Roda Viva" (TV Cultura, seg. 22h): "Estamos diante de fatos que implodiram o sistema de organização do jogo político. A reforma política se tornou um imperativo absoluto, o Congresso vai ter que deliberar. Só lamento que vai deliberar no meio de um profundo terremoto."

terça-feira, 18 de novembro de 2014 | | 0 comentários

A arte realista - e impressionante - de Ron Mueck

Um dos artistas contemporâneos mais renomados, o australiano Ron Mueck, desembarcou em São Paulo, na Pinacoteca do Estado.


A exposição - que tem atraído multidões - inclui nove esculturas feitas entre 2001 e 2013 com fibra de vidro, resina, silicone e acrítico. "Veias, unhas, pelos e outros detalhes são reproduzidos com perfeição. Não fosse pela alteração na escala, suas figuras poderiam ser confundidas com pessoas reais, mas elas são sempre maiores ou menores que uma pessoa real", explica o folder da mostra.

Uma das esculturas mais conhecidas é "Mask II" (a primeira na sequência de fotos abaixo), um autorretrato:











Talvez a mais conhecida obra de Mueck nesta exposição seja "Couple under an umbrella" ("Casal embaixo de uma sombrinha"). "A escala desta escultura nos faz sentir pequenos e, ao mesmo tempo, nos assombra pela aparente humanidade do casal", cita o folder.



  

  

* As fotos são de Mirele Parronchi