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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015 | | 0 comentários

Uma esperança para os jornais (e o jornalismo de qualidade)

Há um par de anos, a "Economist" alçou à capa a suposição, tirada de um especialista em comunicação, de que o último jornal impresso circularia pela última vez no ano de 2043.

(...) Eis que, há duas semanas, John Cassidy, jornalista da "New Yorker", tascou o primeiro texto razoavelmente otimista sobre a indústria nos últimos 20 anos.

Antes das boas notícias, o diagnóstico mais ou menos consensual: com a chegada da internet, o antigo modelo de negócios baseado em receitas de publicidade foi seriamente danificado, "e o esforço para replicar o modelo de anúncios na rede fracassou em geral".

Ninguém, no mundo inteiro, descobriu até agora como ganhar dinheiro com jornalismo na internet.

Ganhar dinheiro, no caso, não significa só os trocados que permitem a mera sobrevivência. Jornalismo (de qualidade, é claro) é um esporte extremamente caro e, portanto, exige receitas de fato suculentas.

A boa notícia é que começam a pipocar, aqui e ali, números que demonstram que talvez dê, sim, para ganhar dinheiro com notícias no papel e em sua versão digital.

O exemplo mais recente citado por Cassidy é o do veteraníssimo "Times" (o de Londres, não o de Nova York), que acaba de anunciar o primeiro lucro operacional após 13 anos de prejuízos.

Como foi dos primeiros a cobrar pelo seu conteúdo, o lucro do "Times" é um desmentido à sabedoria convencional que diz que ninguém pagaria por notícias se estivessem disponíveis de graça na internet.

(...) A mudança no modelo de negócios, se e quando efetivamente se consolidar, beneficia o leitor, como escreve Cassidy:

"Jornalistas financiados por anúncios são dependentes de anunciantes, da métrica de page-views' e dos algoritmos das mídias sociais. Jornalistas financiados por assinaturas são dependentes dos leitores".

(...) O otimismo do texto não leva o autor à ingenuidade de supor que a crise do modelo de negócios está superada, mas lhe permite afirmar que "o argumento de que jornais são dinossauros, destinados a serem substituídos por competidores on-line mais ágeis, parece um bocado menos convincente do que há poucos anos". (...)

Fonte: Clóvis Rossi, "Há vida no planeta jornal", Folha de S. Paulo, Mundo, 28/12/14.

quinta-feira, 24 de julho de 2014 | | 0 comentários

EXCLUSIVO: entrevista com o editor-executivo da "Folha"

O editor-executivo da "Folha de S. Paulo", Sérgio Dávila, fala sobre os desafios do jornalismo impresso na era digital e das experiências do jornal cuja Redação ele comanda:

A “Folha” foi pioneira no Brasil no sistema de “paywall” (“muro de pagamento”, na tradução literal, a cobrança pelo conteúdo da Internet a partir de uma cota grátis mensal) e parece que os resultados têm sido positivos. Ainda assim, o jornal impresso continua sendo visto – e a própria ex-ombudsman Suzana Singer escreveu isto – como um registro do passado. Você concorda com esta visão? O que pensa da função do jornal impresso hoje?
Sérgio Dávila – Acho que o jornal impresso está ganhando cada vez mais um papel de um resumo bem feito do passado, do último ciclo de 24 horas, mas mais do que isto cada vez mais uma interpretação bem feita do que aconteceu e indicando caminhos do que pode vir a acontecer. Esta tentativa do jornal de ser um farol do que vem por aí é fundamental para o leitor e o leitor sabe valorizar isto no produto impresso.
Outra coisa que o produto impresso tem, pelo próprio formato, pela própria característica do meio, (é) empacotar muito bem o que é importante naquele momento no país, o que vai dar agenda naquele momento no país e no mundo. Isto acho que o jornal impresso faz muito bem.
A gente tende a pensar, eu mesmo já cometi este erro outras vezes, que eles são excludentes, o impresso e o digital. Eles não são excludentes, eles são complementares. Um tem um papel, sem trocadilho, e o outro tem outro, mas eu não vejo um brigando com outro. Pelo contrário. Acho que você pode agir de determinada maneira e se comunicar de determinada maneira no digital e de outra no impresso, eles vão se complementando.

Fora o “paywall”, você conhece alguma outra experiência que seja bem sucedida a este respeito no mundo?
Dávila – Por exemplo: ações comerciais “casadas” multiplataforma. Você anuncia no jornal impresso e faz uma ação comercial no site, no tablet, no "mobile". Isto eu tenho visto acontecer na Europa e nos EUA com sucesso. Já acontece em menor medida no Brasil e acho que vai começar a acontecer mais intensivamente.

Inclusive em coberturas? A “Folha” fez o projeto “Belo Monte” que foi muito bem executado...
Dávila – Este tipo de cobertura como Belo Monte, que foi complementar, é um exemplo do que eu queria dizer dos meios complementares. A gente fez um caderno impresso, mas você tem lá também o site com outros recursos, com multimídia, com vídeo, com fotos, etc. Você pode ter os dois, você pode consumir um ou outro, você sai bem informado dos dois.
Este tipo de iniciativa, de você pegar um assunto e esgotar um assunto da maneira mais didática e atraente possível, começa a atrair os anunciantes. Quando você pega temas relevantes, do tipo Belo Monte que a gente fez, o Golpe de 64 que a gente fez e outros que a gente está planejando para este ano, você acaba atraindo o anunciante. O anunciante fala: “bom, este produto é de qualidade, ele atrai um público de qualidade e eu quero anunciar neste produto”. A gente acha que este é o caminho.

Nas últimas reformas gráficas de jornais, eu até assisti a uma palestra do Chico Amaral (designer responsável pela reformulação gráfica do “Estadão”) na qual ele disse que a base das mudanças foi considerar que o jornal é um produto para quem gosta de ler, a “Folha” seguiu um modelo contrário. O jornal não ficou telegráfico demais?
Dávila – Tem uma questão que é a seguinte: o mundo está ficando digital, mas o leitor continua analógico. E ele continua tendo 24 horas por dia para consumir a informação. Então você tem que entrar no “slot” que este leitor dedica à informação, seja uma hora, duas, três, com o melhor produto feito da melhor maneira que você puder. Se ele preferir o impresso, você está lá no impresso. Se ele preferir o digital, você está lá no digital. 
A nossa reforma gráfica, esta última a que você se referiu, tem este objetivo por trás, que é: não importa onde o leitor consumir a marca “Folha” ele vai saber que é um conteúdo da “Folha”. Esta era a ideia. A não ser que ele estiver no jornal e fala: “bom, aqui está a ‘Folha de S. Paulo’”. Se ele cai numa matéria na Internet ele fala: “bom, é uma matéria feita pela ‘Folha de S. Paulo’”. Se ele abre um tablet ou recebe um torpedo no “mobile”, ele sabe: “bom, isto vem do jornalismo da ‘Folha’ com os seguidos preceitos e princípios editoriais da ‘Folha’”. Esta era a nossa ideia. Foi criticada por alguns, mas foi elogiada pela ampla maioria, do leitorado inclusive. Então parece que funcionou. 
A gente tinha uma avaliação que as plataformas eram muito dissociadas, você não tinha claro que eram todas as plataformas, todo o conteúdo feito por uma mesma empresa, agora parece que isto está mais claro.

terça-feira, 17 de junho de 2014 | | 0 comentários

Os jornais e o jornalismo têm futuro, diz Carr

(...) Ele (o jornalista David Carr) diz não ser pessimista em relação ao jornalismo e aos problemas que enfrenta devido à queda de circulação dos diários impressos e a competição com a internet.

"Pelo contrário, é uma época estimulante para estar no jornalismo. As pessoas vivem me perguntando se há futuro para o ofício, e eu respondo que, se alguém me dissesse há alguns anos que um blogueiro do (jornal britânico) ‘Guardian’ daria o furo do século, não acreditaria", diz Carr.

"Um fenômeno como o Wikileaks surgiu e precisou de jornais tradicionais para dar forma ao seu conteúdo. E, ainda, o dono da Amazon acaba de comprar o Washington Post'. Não me interesso tanto pelo futuro mais distante, mas sim pelo que vai acontecer agora, e o panorama é estimulante", defende.

Ativo em blog e no Twitter, por outro lado, Carr admite que há um risco na perda de leitores dos jornais impressos, embora reafirme a importância dos grandes jornais.

"Há métodos e modos de tratar certos assuntos, de cobrir os bastidores da política, que não vão ser suplantados por posts no Facebook ou tuítes. Considero ainda importante que existam grandes organizações por trás do ofício."

Para Carr, porém, discutir se o digital matará o impresso é uma abordagem equivocada. "Esses dois mundos já caminham juntos. E já há uma maneira de imaginar novas estratégias, de mudar a relação com o consumidor de notícias e com a produção de conteúdos, integrando novos atores e organizações."

Acrescenta, ainda, que considera as novas gerações muito bem informadas. "Eu convivo com gente jovem, tenho filhas, dou aulas. Eles sabem muito. Pode-se questionar a qualidade, mas não há como negar que a informação tem lugar importante na nossa sociedade", afirma.

Fonte: Sylvia Colombo, "A novela da mídia", Folha de S. Paulo, Ilustrada, 2/6/14.

quarta-feira, 28 de maio de 2014 | | 0 comentários

As mudanças no "NYT"

(...) O relatório diz que o "New York Times" vai desenvolver times de análise e estratégia e que departamentos focados no leitor têm que estar mais próximos do setor de negócios do jornal.

O destaque do memorando é sobre a formação de audiência. Se antes, todo o trabalho era distribuir o jornal e ter certeza que ele chegasse à porta dos leitores (com todo o esforço do processo), hoje o jornal precisa "buscar" a audiência mais fragmentada, especialmente em celulares e tablets.

Entre as prioridades indicadas no estudo, estão promover as reportagens nas redes sociais, "reembalar" conteúdos para novas plataformas, saber otimizar reportagens para os mecanismos de busca e personalizar o conteúdo para o leitor.

(...) Em "Making News at The New York Times" [Fazer notícia no New York Times], a professora de comunicação Nikki Usher relata os quatro meses em que ficou dentro da Redação do jornal, acompanhando a produção das versões on-line e impressa.

Usher descobriu a mudança na hierarquia noticiosa e dos "fechamentos e atualizações permanentes".

Ela viu como um editor do site, lido por milhões de pessoas no mundo todo, publica reportagens de diferentes assuntos e seções sem nenhuma supervisão editorial além de seu próprio julgamento e olfato, com uma mentalidade de "publicar antes".

(...) “A cada dez minutos, um novo texto de blog aparece no site, reportagens mudam de lugar no site a cada 20 ou 30 minutos, e novas notícias são postadas tão logo chegam - em uma Redação de 1.100 jornalistas, o problema não era rotatividade."

Para ela, a Redação precisou se habituar a leitores que esperam sempre uma página "nova" na internet e de mudança contínua de assuntos.

Fonte: Raul Juste Lores, "'NY Times' troca comando da Redação", Folha de S. Paulo, Mercado, 15/5/14.

domingo, 27 de abril de 2014 | | 0 comentários

Receita de bolo para os jornais

(...) Vive-se o paradoxo de ter que aprofundar assuntos para quem tem cada vez menos tempo para ler jornal. A saída, com certeza, não é picotar o noticiário e dar uma pincelada em uma miríade de temas.

O jornal precisa fazer uma curadoria dos fatos mais relevantes, mostrar ao leitor o que ele não vê nos posts dos amigos no Facebook. Agora que as notícias estão disponíveis como água na torneira, é questão de sobrevivência preocupar-se com contexto, análise, densidade, sempre no sentido de transformar o importante em interessante. Dar um salto de qualidade e de criatividade para adaptar-se aos novos tempos é o maior desafio da “Folha” e dos impressos em geral. (...)

Fonte: Suzana Singer, “#fui”, Folha de S. Paulo, Ombudsman, 27/4/14.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013 | | 0 comentários

Cadê a notícia???

Eu já vi jornal poluído visualmente, mas igual ao alemão "Bild" é difícil:



sexta-feira, 13 de setembro de 2013 | | 0 comentários

Informação poliglota

Leituras de uma tarde:


Bem, em alguns casos - como o do "Metro" abaixo - não foi bem uma leitura...


segunda-feira, 26 de agosto de 2013 | | 0 comentários

Os jornais e a Internet como negócio

O indiano Avinash Kaushik tem um cargo peculiar: ele é evangelista de marketing digital do Google. Entre as suas atribuições, estudar e palpitar sobre o comportamento das pessoas na rede.

Para ele, medir o sucesso de um site pelo número de acessos é "estupidez". Muito mais importante, afirma, é ter leitores ou clientes fiéis. (...)

Folha - Page-views (...) ainda são um sinônimo de sucesso digital...
Avinash Kaushik - É uma estupidez!

Por quê? E o senhor acha que isso está mudando?
Se você tem um site, o seu retorno publicitário está relacionado com page-views. O problema, eu acho, é o que o page-view incentiva o modelo mental que ele cria. Você pode criar o site mais estúpido. As pessoas vão acessar, mas o que você, como negócio, ganha? Quer dizer, como você faz dinheiro? Por exemplo, eu amo o "New York Times"...

Essa era a próxima pergunta...
[Risos.] Eu pago para acessar o "New York Times" na internet. Onde eu vou no mundo, o consumo de notícias está aumentando, mesmo que o papel vá embora. Assim, o "Times" pode oferecer reportagens sobre o novo cachorro do Obama pela audiência. Mas eu não pago pelo cachorro, pago pelo conteúdo de alta qualidade. Jornais na internet não lucrarão com quem aparece uma vez, mas com quem vai ao site sempre, que vai pagar. Fidelidade é o que importa.

Mas, como o senhor mesmo aponta, o faturamento publicitário está ligado aos acessos.
Sim, infelizmente. Me parte o coração que a indústria da propaganda ainda trabalhe do mesmo modo antigo: uma revista tem tal circulação, então sua propaganda custa tanto e atinge tantos - mesmo que o sujeito nem olhe para o anúncio. Fomos para a internet e a mentalidade continuou a mesma. Meu conselho para os veículos: OK, jogue o jogo deles por enquanto, porque, se você parar de jogar, você quebra. Mas trabalhe forte para conseguir se rentabilizar de outras maneiras. É difícil dizer se o "paywall" [sistema de cobrança por conteúdo] é o futuro. Está funcionando no "New York Times", no "Financial Times". Com o tempo, anunciantes mudarão também. Verão que visitantes fiéis são um ativo dos sites - porque são "premium", porque não há como encontrá-los em outro lugar.

Como o senhor tem certeza dessa mudança futura?
Tenho filhos de 11 e 9 anos. Quando digo que íamos a lojas de discos, eles simplesmente não entendem. Eu digo "mas era gigantesco, tinha muitos andares", eles acham que estou mentido. (...)

Fonte: Ricardo Mioto, “Preocupar-se com número de acessos éuma estupidez”, Folha de S. Paulo, Mercado, 25/8/13.

terça-feira, 13 de agosto de 2013 | | 0 comentários

O jornalismo na era Bezos

Jeff Bezos, o fundador da Amazon, comprou o "Washington Post". E agora? Que futuro para o jornal? E que futuro para o jornalismo?

Calma, povo. Ponto prévio: a minha gratidão para com o sr. Bezos não tem limites. Nada mudou tanto a minha vida como a possibilidade de aceder a produtos que, em tempos mais jurássicos, eu era obrigado a carregar como um contrabandista sempre que viajava para o exterior.

(...) Além disso, confesso também que nunca comprei o tom catastrofista de quem vê na internet a maior ameaça para o jornalismo "tradicional".

É preciso fazer uma distinção entre o jornalismo "tradicional" e o jornalismo "impresso". Não são a mesma coisa. O primeiro indica uma forma de jornalismo onde critérios de verdade e relevância continuam a fazer sentido. A segunda, apenas uma forma de o apresentar.

Sim, a internet pode ser uma ameaça para o jornalismo "impresso". E, tal como Marshall McLuhan afirmou várias décadas atrás, é possível que um livro, uma revista ou até um jornal possam ser objetos artísticos, de luxo, próprios de colecionador, no futuro próximo.

(...) Nada disso significa o fim do jornalismo "tradicional". Enquanto existirem leitores do outro lado interessados em consumir informação, haverá notícias, entrevistas, crônicas ou reportagens prontas para serem servidas em vários tipos de telas.

Moral da história? A única coisa que o jornalismo "tradicional" tem a temer não é o fim do papel; é o fim dos leitores. E aqui entram os meus receios: saber até que ponto uma má adaptação do jornalismo "tradicional" para a internet não poderá alienar os próprios leitores.

Em excelente matéria para a "Veja", Rafael Sbarai levanta várias hipóteses sobre o futuro do jornalismo depois da compra de Jeff Bezos. Uma delas é Bezos aplicar ao jornal (e ao jornalismo) o mesmo critério comercial que pratica na Amazon.

Explico melhor. Sempre que entro na loja virtual, existem sugestões para mim. Sugestões de livros, discos, filmes. Alguém sabe do que eu gosto e esse alguém, como diria Flaubert sobre a sua Bovary, "c'est moi".

(...) Em pouco tempo, eu deixei de ser um consumidor da Amazon. Passei a ser dependente dela. Dependente do mesmo tipo de livros, discos ou filmes - em repetição entediante. O que implicou ignorar outros livros, discos ou filmes que não apareceram mais no radar.

Eis a maior ameaça para o futuro do jornalismo: chegar a um ponto em que as notícias que interessam são apenas as notícias que me interessam. E em que todas as outras deixam de aparecer nesse radar.

Haverá quem pense que isso é um progresso intelectual: nós, fechados no nosso pequeno mundo, lendo apenas o que corresponde às nossas preferências e ignorando o que existe fora da nossa ilha de gostos e idiossincrasias. Sem espaço para surpresas, incertezas, até baixezas.

Pessoalmente, só posso esperar que esse cenário nunca seja real. E que os jornais, no papel ou na tela, continuem a ser esse espaço de descobertas várias por onde os leitores investem a sua curiosidade. Livremente. E sem amarras.

Um jornal amazônico que seja apenas o reflexo das preferências do leitor deixa de ser um jornal. E, a prazo, até o leitor deixa de ser um leitor.

Fonte: João Pereira Coutinho, "Jornalismo amazônico", Folha de S. Paulo, Ilustrada, 13/8/13.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013 | | 0 comentários

Provocação

Uma perguntinha aos “publisher´s” da imprensa limeirense: que tal seguir o exemplo de Don Graham, o ex-homem forte do “Washington Post” que decidiu vender o jornal para um novo investidor?

E não pensem que se trata de mero negócio, finanças, economia. Há muito mais por trás da decisão de Graham. Há, antes e acima de tudo, paixão pelo "WP" - daí a venda.

Por isto, aos “publisher´s” limeirenses, recomendo a leitura da entrevista de Graham para a “Salon” na qual fala sobre o assunto. Infelizmente, está disponível apenas em inglês.

São exemplares as respostas dele sobre a decisão de vender o jornal (“Pela primeira vez, para nossa surpresa, perguntamos um ao outro se haveria alguém ou alguma companhia que pudesse trazer algo diferente para nosso negócio”) e sobre o futuro da mídia impressa (“Se há uma frase que todo mundo concorda, da redação à gráfica, é que a cada ano haverá um pouco mais de digital. As pessoas vão ler mais notícias em equipamentos digitais e menos a cada ano em meios impressos”).

quarta-feira, 7 de agosto de 2013 | | 0 comentários

Boa notícia: o “Washington Post” já era

Calma, eu explico: o título desta postagem não se trata de nenhuma manifestação de desejo ou profecia pessimista. Até porque, como se sabe, o principal jornal da capital norte-americana e um dos principais diários do mundo não acabou – nem está prestes a acabar. Foi apenas vendido: por US$ 250 milhões passou das mãos da tradicional família que o controlava há décadas para a do novo rico Jeff Bezos, dono da Amazon.

O negócio pegou quase todo mundo de surpresa e virou um dos principais assuntos do noticiário nos últimos dois dias. Várias análises já foram feitas, principalmente porque envolve um setor considerado crucial para a vida democrática de qualquer sociedade: a imprensa.

Ao mesmo tempo, envolve questões até hoje sem respostas. A principal delas é: qual o futuro dos jornais?

Será a venda do "WP" um prenúncio do fim? Ou de um (re)começo?

A depender das palavras – e do perfil executivo – do novo proprietário, o “WP” pode ser a resposta para a perturbadora pergunta sobre o futuro dos jornais.

Sinais para isto já existem. Em carta aos funcionários do “WP”, Bezos fez questão de avisar que o diário passará por mudanças nos próximos anos. Mudanças que ele chamou de “experimentação”.

A carta, aliás, é uma boa lição de jornalismo, ou de seus princípios, muitos dos quais abandonados por grande parte da imprensa atual (residirá aí um dos motivos da crise da mídia impressa?):

"O jornal vai continuar servindo os interesses de seus leitores, e não os interesses particulares de seus donos. 

Vamos continuar a seguir a verdade, onde quer que ela nos conduza, e vamos trabalhar duro para não cometer erros. Quando os cometermos, vamos reconhecer o fato rapidamente e por completo. 

(...) Haverá mudanças no 'Post' nos próximos anos, é claro. Isso é essencial e teria acontecido com ou sem novos proprietários. A internet está transformando quase todos os elementos do setor dos jornais: encurtando os ciclos de notícias, erodindo fontes de renda que foram constantes durante anos e possibilitando novos tipos de concorrência, alguns dos quais arcam com pouco ou nada dos custos da produção de notícias. Não existe mapa, e não será fácil mapear o caminho a seguir. 

Precisamos inventar, o que significa que teremos que fazer experimentos. Nossa pedra de toque serão os leitores, entender o que interessa a eles - política, líderes locais, aberturas de restaurantes, tropas de escoteiros, empresas, organizações beneficentes, governadores, esportes - e trabalhar com base nisso. Estou animado e otimista com a oportunidade de invenção."

Ao citar expressamente a Internet, Bezos fala de uma área que conhece bem. Foi por meio da rede mundial de computadores que ele revolucionou o mundo da venda de livros num primeiro momento e posteriormente o do varejo em geral ao criar o maior site de compras do mundo.

Portanto, quando Bezos fala em experimentar e inventar, pode-se presumir que o “WP” será campo de nada menos do que uma revolução no meio jornal. Esta é a expectativa.

Se os experimentos trarão resultados positivos é algo que sequer o novo dono se arrisca a dizer. O que não se pode negar é o faro dele para os negócios e a coragem e a ousadia necessárias para buscar novos caminhos num setor em franca decadência financeira nos EUA.

Decadência causada em grande parte por novidades como a rede mundial de computadores e suas infinitas possibilidades. “É simbólico que o ‘Post’, ícone do jornalismo impresso, acabe nas mãos da Amazon, que ajudou a tirar do mercado milhares de livrarias dos Estados Unidos”, escreveu o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva em artigo publicado na “Folha de S. Paulo”.

Em recente entrevista ao jornal alemão “Berliner Zeitung”, Bezos não mediu as palavras ao prenunciar o fim dos jornais tal como os conhecemos num futuro breve.

Não parece ser mesmo de meias palavras o novo dono do “WP”. Embora suas intenções ao comprar o jornal não sejam claras (há muita especulação; para o assunto, recomendo a leitura dos links ao final desta postagem), é bom ficar de olho no que o “Washington Post” fará a partir de agora. Pode estar aí a chave para um novo jornalismo. Ou melhor: uma nova ferramenta e um novo jeito para o bom e velho jornalismo.

Em tempo: você pode pensar o que temos no Brasil a ver com isto. Muito. Espera-se que eventuais novidades introduzidas pelas experimentações anunciadas por Bezos no “WP” possam influenciar os jornais brasileiros, cada vez mais chatos e com menos utilidade diante das novas ferramentas virtuais.

Sobre isto, recomendo a leitura do artigo de Pedro Katchborian para o "youPIX".

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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013 | | 0 comentários

A vez do leitor (?)

O "New York Times" anunciou na quinta-feira passada que, pela primeira vez em sua história, a receita de circulação ultrapassou a obtida com a publicidade. A ombudsman de lá saudou: "Aviso ao leitores: vocês importam. E importam agora mais do que nunca".

(...) A verdade é que, apesar de comemorarem as vultosas cifras de audiência on-line, os jornais ainda não descobriram o tamanho real do seu público na internet, aquele que, interessado em informação, acharia justo pagar por ela. (...)

Fonte: Suzana Singer, “A luta do momento”, Folha de S. Paulo, Poder:  Ombudsman, 10/2/13.

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quinta-feira, 29 de novembro de 2012 | | 0 comentários

O Titanic cem anos depois

Li em um portal de notícias que irá a leilão uma foto do suposto (ou provável) iceberg contra o qual o famoso navio RMS Titanic colidiu na madrugada do dia 14 para 15 de abril de 1912 – ou seja, há cem anos. 

A notícia me trouxe à mente uma exposição que vi justamente em abril deste ano em Washington D.C., a capital dos Estados Unidos, a respeito do centenário do famoso naufrágio.

A exposição foi montada pelo Newseum, o Museu da Notícia. Para se adequar ao tema do museu, a mostra reproduzia as primeiras páginas dos principais jornais do país nos dias posteriores ao acidente, que causou a morte de 1.523 pessoas nas águas gélidas do Atlântico Norte.



Em tempo: o Newseum tem uma iniciativa permanente bem legal. Chama-se “Today´s Front Pages”. São reproduções diárias das primeiras páginas de alguns dos principais jornais do mundo. Elas ficam em placas expostas diretamente na calçada de modo que qualquer pessoa possa vê-las.




Em tempo: o projeto "Today´s Front Pages" também está acessível no site oficial do museu. Ontem (28/11), por exemplo, havia 903 primeiras páginas de jornais de 89 países.

* As fotos são minhas e de Carlos Giannoni de Araujo

segunda-feira, 12 de novembro de 2012 | | 0 comentários

"Os jornais vão, sim, acabar"

Podem me chamar de Cassandra. Eu não ligo. Essa figura mítica grega, a quem Apolo ensinou os segredos da profecia, passou a ser tida por louca quando tentou comunicar aos troianos suas previsões de catástrofe e desgraças, todas realizadas.

Depois que Cassandra se negou a dormir com Apolo, o deus vingativo lançou-lhe a maldição de que ninguém jamais viesse a acreditar na profetisa.

O nome de Cassandra surgiu na semana passada no debate promovido pelo jornalista Alberto Dines durante o programa "Observatório da Imprensa", na TV Brasil. A discussão era a morte dos jornais, assunto que voltou à baila com a recente extinção do paulistano "Jornal da Tarde" e com a decisão da revista norte-americana "Newsweek" de prosseguir atividades apenas on-line, não mais em papel.

Escrevi que podem me chamar de Cassandra, pois minha previsão é que os jornais vão, sim, acabar. Aliás, já estão acabando. Centenas sumiram nos últimos anos. Sinto muito, pois eu adoro jornais. Além disso, eles têm uma função política fundamental na defesa do interesse público e na sustentação da democracia, frequentemente superior ao desempenho de outros meios de comunicação especializados em notícias ligeiras, com pouca investigação.

Mas os tempos são de mudança. Quem quer comprar um jornal que não traz o resultado da eleição norte-americana, ocorrida na véspera? Quem, entre os usuários da internet, quer abrir mão de enviar artigos por e-mail, compartilhar notícias em redes sociais, comentar ou discutir um texto com o seu autor on-line, consultar arquivos na hora? Os jovens é que não são.

Ainda tenho o fetiche de empunhar um jornal e sentir o mundo nas mãos. Gosto da sua organização, da sua periodicidade, do seu material. Cresci com eles ao meu redor. Leio diariamente, com prazer e afinco.

Mas vejo que existe hoje um fetiche bem maior por iPhones, iPads, Galaxys e similares. Todos eles suportes possíveis para o bom jornalismo.

Então prever o fim dos jornais não é sinônimo de prever o fim do jornalismo, bem entendido.

Não faço parte das turmas que tentam vender a ideia de que jornalistas são dispensáveis num mundo em que qualquer um pode publicar o que quiser na internet.

O que me salta aos olhos na internet são outros mitos gregos: Eco e Narciso.
Narciso é um jovem magnífico que se apaixona pela própria imagem refletida na água. Acabou consumido pelo amor próprio e se tornou o nome da flor encontrada onde ele desapareceu.

Somos todos Narcisos no Facebook, no Orkut ou no Instagram, quando publicamos fotos dos nossos sorrisos e melhores momentos.

Eco é uma ninfa que amava os bosques e os montes, mas tinha um defeito: falava demais e sempre queria ter a última palavra em qualquer discussão.

Como Eco fez o papel de distrair Hera enquanto Zeus se divertia com outras ninfas, ela recebeu um castigo. Perdeu o direito à própria voz, que tanto amava. Foi condenada a repetir eternamente a última palavra do que os outros falassem.

Pois são muitos ecos que encontro no Twitter e em outras redes sociais. Repetições contínuas, em vez de um mar de palavras originais.

Fonte: Marion Strecker, “Três mitos gregos”, Folha de S. Paulo, Tec, 12/11/12, p. F6.

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quinta-feira, 8 de novembro de 2012 | | 0 comentários

O futuro dos jornais, por David Carr

Talvez mais conhecido por sua participação no Page One, um documentário sobre o New York Times, o jornalista David Carr passou os últimos 25 anos investigando as interseções entre mídia e negócios, cultura e governo. Colunista do New York Times desde 2002, Carr sabe uma coisa ou outra sobre a faceta mutável do jornalismo - e tem predições sobre o rumo da atividade no futuro.

Ele compartilhou essas reflexões com uma sala cheia de aspirantes a jornalistas e profissionais da imprensa no Centro Belo para Novas Mídias da Universidade do Texas na quarta-feira, 24 de outubro. Carr esteve no campus para apresentar a a Aula Magna Mary Alice Davis de 2012 sobre Jornalismo, intitulada “Apertando o botão reset” na qual ele alerta que a velha guarda do jornalismo está mudando.

“Você se imagina explicando a alguém o que é um jornal?”, perguntou Carr ao público. “Pense em daqui a 20 anos. ‘Eu costumava pegar e jogar no quintal das pessoas. E era assim que recebíamos as notícias!’”

Segundo Carr, sua cadeira não treme mais às 22h, quando as impressoras da gráfica começam, porque os escritórios do New York Times mudaram. As pessoas podem facilmente juntar matérias por causa do tempo muito curto de resposta online. Redatores raramente falam uns com os outros na redação porque todos têm um computador.

“Ninguém mais tem uísque em cima da mesa mais, e poucos ainda fumam” disse Carr.

Embora seu discurso tenha sido temperado por tiradas irônicas e piadas sarcásticas, Carr deixou claro que acredita que o jornalismo fará a transição do impresso para o digital. E, com quase 400.000 seguidores no Twitter, o próprio Carr fez a transição de forma suave.

“Em quase um ano por aqui, comecei a entender que o valor real desse serviço é ouvir a uma voz coletiva conectada”, disse ele no Page One. “A mídia não foi a mensagem. As mensagens são a mídia.”

(...) Carr também falou sobre paywalls, eleição presidencial, a crescente obsolescência das redações e o futuro do New York Times.

Sua conclusão final: o jornalismo está mudando porque nós estamos mudando, mas a mudança não importa de verdade. Enquanto jornais imprimem cada vez menos cópias, disse ele, isso não vai impedir as notícias e o New York Times de sobreviver à transição.

“Informação de boa qualidade, rápida e produzida de forma memorável nunca sairá de moda”, disse Carr.

* Este artigo originalmente foi publicado em 26 de outubro, na revista dos alunos da Universidade do Texas em Austin de 2012, The Alcalde, impressa pela Texas Exes. A autoria é de Kelsey McKinney. 

Fonte: Daniel Guerra/IF, "Mudanças na mídia não acabarão com as notícias: David Carr, do New York Times, fala sobre o futuro do jornalismo", blog Jornalismo nas Américas, Knight Center for Journalism in the Americas, 29/10/12.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012 | | 0 comentários

A sobrevida do jornal (e o futuro dos jornais)

O "Financial Times" iniciou sua impressão na Lapa, zona oeste de São Paulo, um mês atrás. Não é o único título de alcance global que quer chegar em papel ao consumidor brasileiro.

Agora também o "New York Times" planeja publicar aqui seu título no mercado externo, o "International Herald Tribune". Também quer impressão em São Paulo.

(...) John Ridding, presidente do jornal britânico, em entrevista em São Paulo, justificou os investimentos no país com a "ascendente classe média" e comentou, questionado sobre o futuro do papel:

"Sim, eu vejo um futuro muito bom para o impresso. O elemento central da estratégia do 'FT' é ser multicanal. Devemos estar disponíveis por qualquer canal que os leitores queiram o 'FT'. Não sou dos que pensam que uma nova tecnologia chega para matar a anterior. O que acontece é que você tem um ajuste no espectro, em que diferentes formatos se encaixam."

"O jornal tem vantagens únicas. Ele tem o que o que chamo de efeito serendipismo [a qualidade de fazer descobertas por acaso], que é muito importante para tomadores de decisão nos negócios e para líderes empresariais. Muitas vezes, com o digital, você consegue o que buscou. Mas precisa saber de outras coisas. E nos jornais pode estar lendo uma matéria aqui e subitamente notar essa ou aquela."

Duas semanas após o lançamento do "FT" por Ridding e uma semana após o anúncio do "NYT" em português pelo presidente Arthur Sulzberger Jr., surgiu em São Paulo o presidente do maior jornal em língua inglesa no mundo, o "Times of India".

Ravi Dhariwal não anunciou edição nem site para o Brasil, mas reafirmou que a estratégia é seguir no papel, ao contrário do que começam a fazer na Europa e nos EUA. A seu ver, um erro.

***

O que "FT" e "NYT" vêm buscar aqui, também aquilo que torna tão resistente o "Times of India" de papel, é o crescimento do poder de compra nos emergentes, com a nova classe média.

Os dois contrastam com o fim do "Jornal da Tarde", na quarta, e do "Jornal do Brasil" impresso, há dois anos. Indicam que aqui a crise é menos do jornalismo impresso e mais do jornalismo romântico, de meio século atrás.

Pelo que me relatou Mino Carta, seu criador, o "JT" teve "o melhor da sua existência de 1969 até 1973". Não por acaso, são os cinco anos do Milagre Econômico. O jornal refletiu uma classe média que crescia.

Mas não conseguiu o mesmo na segunda onda de ascensão social, agora, com a classe C que segue pobre, mas ganhou poder de compra. O melhor indicador é o contraste com os números do "Agora", da mesma faixa.

Ao longo da última década, a circulação do "JT" caiu, a do concorrente subiu. Mas o choque maior é na venda avulsa, em banca, aos domingos: em setembro, sua média foi de 7 mil, contra 112 mil.

Abraçado ao modelo de meio século atrás, o "JT" perdeu espaço para títulos novos, a começar do "Lance". O relato mais revelador é do repórter Josmar Jozino, célebre por ter adiantado a rebelião do PCC em 2006:

"Um dia antes, agentes penitenciários e mulheres de presos me ligaram dizendo que uns 700 tinham sido transferidos. Pensei, 'amanhã vai ter rebelião em série'. Avisei e não quiseram dar grande. No dia seguinte, umas três horas, o pessoal até brincou, 'você não disse que ia ter problema?". Quatro e meia, começou a matança."

"Eles sempre diziam que o leitor era classe B, universitário, que sua prioridade era subir mais na vida. Falavam que não queriam matéria de periferia, chegaram a dizer, 'matéria de pobre, aqui não'. Na minha opinião, foi o foco errado. O erro do jornal começou aí. Nos últimos anos, só estava preocupado em publicar, de polícia, matérias de crime a patrimônio, na área nobre da cidade".

Jozino entrou no "JT" em 2004 e já no ano seguinte começaram os grandes cortes anuais na redação. Foi demitido em 2010, quando os cortes passaram a ser semestrais. No dia seguinte, foi chamado pelo "Agora".

Fonte: Nelson de Sá, "O papel continua", UOL/Folha de S. Paulo, 5/11/12.

Inevitável questionar: a crise, afinal, é do formato ou do modelo de jornal? Do meio (papel) ou do conteúdo? Do produto ou da falta de investimento em pessoas qualificadas e trabalho de reportagem (que custa caro)?

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- A morte de um jornal (e o futuro dos jornais)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012 | | 0 comentários

A morte de um jornal (e o futuro dos jornais)

Um dos mais respeitados veículos de comunicação de São Paulo, o Jornal da Tarde deixa de circular a partir desta quarta-feira, 31 de outubro, após 46 anos de história. O diário ilustrou a capa de sua edição de despedida com uma foto tirada do terraço do edifício Itália, um dos cartões-postais da cidade, e a frase "Obrigado, São Paulo".

Em editorial intitulado "O JT sai de cena", o jornal ressaltou seu papel na renovação da comunicação brasileira. "Desenhado para chegar às bancas no início da tarde, o JT pôde, na primeira metade de sua vida, dar-se ao luxo de funcionar na velocidade das ideias e concentrar-se com o necessário vagar no tratamento dos fatos, na avaliação do seu significado e na sua apresentação em imagens e palavras nunca antes tão cuidadosa e competentemente trabalhadas na história da imprensa brasileira", lembrou.

Conforme já havia anunciado em comunicado oficial distribuído no início desta semana, o Grupo Estado decidiu suspender as operações do JT por decisões estratégicas, passando a concentrar seus investimentos unicamente no jornal O Estado de S. Paulo. Para o diretor-presidente da empresa, Francisco Mesquita Neto, "ao longo dessas quase cinco décadas, o 'JT' foi polo de inovação e criatividade (...) com seus premiados jornalismo e design gráfico, influenciou gerações de leitores e de profissionais da comunicação, com uma grande contribuição ao jornalismo brasileiro. É uma missão cumprida".

(...) Em comentários na internet, blogueiros e jornalistas manifestaram pesar pelo fim do Jornal da Tarde. Mino Carta, idealizador do JT e atual diretor da revista Carta Capital, lamentou a notícia, em entrevista ao portal UOL. "A morte de um jornal sempre me entristece, mas, neste caso específico, eu devo dizer que me entristece em dobro, talvez ao cubo, pois foi um jornal que nasceu por obra que uma equipe que eu comandei".

"Nós revolucionamos, tanto na paginação quanto no texto. Acreditávamos que o jornalismo era uma forma de literatura, coisa que se perdeu no jornalismo brasileiro. Achávamos que a investigação era fundamental, que reportagens bem trabalhadas e profundas eram fundamentais para o êxito do jornal", acrescentou.

(...) Para o jornalista Mauro Cezar Pereira, o fim do JT é um indício da falta de sintonia entre o papel dos jornais e os novos tempos. "Não sei se a web vai 'matar' o jornal impresso. Sei que a notícia no papel precisa ser apresentada de outra forma, o enfoque não pode continuar frio, burocrático. E isso é urgente. Hoje, por exemplo, Folha e Estadão deram como manchete que Haddad é o novo prefeito de São Paulo. É que podemos chamar de notícia velha", comentou.

Fonte: Natalia Mazotte, "Jornal da Tarde, que revolucionou a imprensa de São Paulo nos anos 70, deixa de circular", blog Jornalismo nas Américas, Knight Center for Journalism in the Americas, 31/10/12.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012 | | 0 comentários

Surge uma luz para o meio jornal

Há uma esperança no mercado de jornais e ela diz respeito ao leitor.

Nos Estados Unidos, onde a crise no meio impresso é mais acentuada na medida em que crescem os meios digitais e portáteis de acesso à informação, alguns especialistas sugerem aumentar o preço dos jornais como alternativa à recorrente queda na receita com publicidade.

Se a curto prazo isto pode representar um “golpe” contra o leitor, a médio prazo a tendência é que o público saia ganhando. Como? Simples: tendo às mãos produtos de maior qualidade.

A matemática não é difícil: na medida em que cai a dependência financeira da publicidade e cresce a dependência do dinheiro direto do leitor, os jornais se verão obrigados a elevar a qualidade dos seus produtos.

Algumas iniciativas – como a do “paywall” adotada pelo “The New York Times” e pelo “Dallas Morning News” – já indicam que o leitor está disposto a pagar por um conteúdo de qualidade.

Nos últimos anos, com a crescente influência da publicidade na mídia, muitos veículos relegaram a segundo plano o “coração” de qualquer jornal – a Redação – para focar investimentos no setor comercial.

É uma visão míope, já que há uma ligação direta entre anunciante e audiência (o primeiro é atraído em razão da segunda). E audiência se conquista com qualidade editorial (entre outros pilares, como credibilidade, entrega e atendimento eficientes).

Ainda assim, como prevalece em muitos veículos de mídia essa tal visão míope, as Redações foram sendo “sucateadas” em detrimento de outros setores.

Agora, com a migração da publicidade para outros meios, os jornais estão sendo forçados a discutir alternativas. E uma delas é justamente voltar os olhos para seu MAIOR patrimônio, o leitor.

Aquele cidadão que, nos últimos anos, ficou em segundo plano, perdendo espaço para o anunciante.

Em tempo: a publicidade e os anunciantes são essenciais para qualquer empresa de mídia, mas eles devem ser a consequência do trabalho e não a causa em si, como vem ocorrendo nos últimos anos.

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terça-feira, 21 de agosto de 2012 | | 0 comentários

"Jornalismo de qualidade é bom negócio"

O jornalismo de qualidade é importante para os cidadãos de todo o mundo e é também um bom negócio. Essa foi a mensagem do palestrante que abriu o nono Congresso Brasileiro de Jornais, ontem, em São Paulo.

Gerente do serviço noticioso do jornal "The New York Times", Michael Greenspon detalhou o sistema de cobrança de conteúdo digital que o diário americano adotou em março de 2011.

Conhecido pelo nome de "paywall poroso", esse modelo permite o acesso gratuito a alguns textos por mês e permite que apenas assinantes leiam sem restrições.

"Alguns gurus diziam que não ia dar certo. Agora esses mesmos gurus dizem que esse modelo só funciona para o 'NYT'", afirmou Greenspon. "O modelo pode funcionar para qualquer um que ofereça jornalismo de qualidade."

Ele comparou a situação do jornal hoje e há dez anos.

Segundo o executivo, o número de assinantes mais do que dobrou, superando agora 2 milhões. O total de leitores do site passou de 10 milhões, em 2002, para 45 milhões agora. E o modelo majoritariamente dependente de publicidade deu lugar a uma divisão mais igualitária entre receita de assinaturas e receita comercial (que cresceu 10% no primeiro ano de cobrança pelo conteúdo).

"Deveríamos ter começado a cobrar antes", afirmou Greenspon. Segundo ele, uma pesquisa feita com leitores do "NYT" indicou que 40% das pessoas aceitam pagar pelo jornalismo que consomem.

No Brasil, a Folha foi o primeiro jornal a adotar o "paywall poroso", em junho.

Em outra apresentação do congresso da ANJ, o americano Bill Kovach defendeu o jornalismo colaborativo.

"Temos de usar a internet para ter um envolvimento mais profundo do público. Isso o dinheiro não pode comprar." Kovach é autor do livro "Os Elementos do Jornalismo", clássico nas escolas.

Ele citou o furacão Katrina, em 2005, como exemplo de jornalismo colaborativo, pela participação do público nas narrativas. "O Katrina alterou o fluxo de informação do cidadão para a mídia e da mídia para o governo."

Fonte: Folha de S. Paulo, Poder, "Jornalismo de qualidade é bom negócio, diz executivo do 'NYT'", 21/8/12 (a reportagem está sem assinatura de repórter).

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Futuro do jornal exige modelo híbrido na web

segunda-feira, 6 de agosto de 2012 | | 0 comentários

Imprensa na rua

Uma das marcas dos Estados Unidos, as famosas máquinas de jornal continuam pelas ruas em muitas cidades - por mais que a imprensa escrita esteja em crise financeira por lá.

Em alguns locais, elas são tantas que complementam a paisagem de modo relevante, conferindo um colorido especial ao cinza das ruas.

Eis dois exemplos em Washington D.C.:



E outro em Chicago:


* As fotos são minhas e de Carlos Giannoni de Araujo