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sábado, 20 de agosto de 2016 | | 0 comentários

Movimento Boa Praça ("Ordem do Dia")

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O caminho mais fácil para a audiência (2)

escrevi neste blog que existe um caminho - ou vários - fácil para a audiência. O chamado "jornalismo justiceiro" é um destes caminhos. É o que se viu com uma equipe de um programa policial que forçou a entrada num hospital público, onde sabidamente é necessária autorização para captação de imagens (a não ser que o assunto justifique o uso de câmera escondida, o que deve ser exceção da exceção). 

Para quem não sabe como funciona a imprensa, pode parecer corajosa e ousada a atitude da repórter. Quem faz jornalismo sério, porém, sabe que o caminho escolhido não é o adequado. 

A questão é saber se o público faz essa distinção. Por mais que muitos tendam a dizer que não, arrisco-me a afirmar o oposto. Pode-se argumentar que tais programas dão audiência. É verdade. Há uma boa parcela da população que responde a esse tipo de chamado sensacionalista. Mas e quanto a todos os outros programas que estão sendo exibidos no mesmo horário? E quanto aos que não assistem a nada? Não será um número maior? Certamente é.

O caminho fácil para audiência mostra-se, portanto, limitado. Para quem quer ir além das migalhas tradicionais no Ibope pode funcionar - mas deve-se saber que nunca se chegará ao topo pela via mais fácil.

sábado, 6 de fevereiro de 2016 | | 0 comentários

A reportagem que não exibi

Nunca vi com bons olhos os famosos programas policialescos que atraem audiência - e, em alguns casos, dinheiro - para as emissoras. Até que me vi no epicentro de um deles.

Por dois anos, apresentei (não digo comandei porque minha participação na produção era mínima) um desses programas no interior de São Paulo. Foi uma experiência rica do ponto de vista de aprendizado (para colocar em teste todas as teorias e [pre]conceitos que tinha em relação ao formato).

Naturalmente, continua o reprovando de modo geral. Há um apelo barato e por vezes desrespeitoso, uma temática que pouco estimula a reflexão ao tratar a violência pela violência, sem contar o tom justiceiro e, em muitos casos, o desrespeito às leis - um levantamento divulgado recentemente apontou 12 leis afrontadas por diversos programas no país.

Claro que, ao assumir um programa com tais características, procurei na medida do possível mudar o tom. Não sou a pessoa mais adequada para dizer se isto foi alcançado (embora tenha ouvido depoimentos nesse sentido de muitos telespectadores).

A quem me pergunta, porém, costumo dizer que minha maior vitória à frente do programa foi justamente o que não foi exibido. 

Um episódio singular exemplifica isto: certa vez, recebi um telefonema na Redação dando conta de que um homem estaria vivendo numa casa com um cavalo. Detalhe: o cavalo não ficava no quintal, e sim dentro do imóvel. Quem fazia o relato era um vizinho preocupado com a situação do homem, um jovem.

Dirigi-me até o endereço com o cinegrafista e confirmei a situação. O jovem vivia de fato com o cavalo, que tinha um quarto à disposição, cheio de feno (ou algo semelhante). Em resumo, o rapaz era usuário de drogas e tinha sido de alguma forma "abandonado" pela família, que não aguentava mais cuidar dele. Coloquei aspas no verbo porque a família dava um dinheiro ao jovem, ou pagava o aluguel do imóvel (não me recordo). 

Fiz as imagens e entrevistei o jovem. Ele admitiu o uso de entorpecentes, criticou a família e disse que o cavalo era seu melhor amigo. Também cobrou a antecipação por parte de familiares de uma suposta herança (ou da parte que supostamente lhe caberia). 

A cena era indigna e degradante. Um homem dividindo um espaço sujo com um cavalo.

Ao chegar à Redação, entrei em contato com um parente e relatei o caso. Ouvi que "não adiantava ajudá-lo, que a família já tinha feito de tudo e tentado de tudo, mas que o jovem não tinha jeito". Também ouvi que os familiares ajudavam com pagamento de contas de água, luz ou algo assim e que a suposta herança não podia ser paga simplesmente porque não existia (não naquele momento).

Refleti muito se deveria ou não colocar a reportagem no ar. Conversei com alguns colegas. Pensei de que forma exibir o material contribuiria com aquele rapaz e com a promoção da cidadania. Não encontrava respostas satisfatórias. Até que ouvi de um colega a senha para a decisão. Disse ele: 

- Se for pro ar, será apenas mais uma dessas reportagens.

De tantas semelhantes que o programa historicamente tinha feito.

Naquele momento, diante daquela manifestação, eu - ainda no início de minha participação como apresentador - decidi que o material não seria exibido. E não foi.

quarta-feira, 1 de julho de 2015 | | 0 comentários

Televisão, esporte e jornalismo

Sobre o novo modo de apresentar as notícias na TV, notadamente na Rede Globo, na busca (quase) desesperada por audiência (e pelo público jovem, que está deixando de ligar a telinha), li uma interessante análise do crítico de TV da "Folha de S. Paulo"/UOL, Maurício Stycer: 

"O problema ocorre quando a informação é deixada de lado, e prevalece apenas o entretenimento (...)".

quarta-feira, 22 de abril de 2015 | | 0 comentários

O futuro da TV

Reportagem publicada hoje (22/4) pela “Folha de S. Paulo”, assinada por Nelson de Sá e Fernanda Reis, sobre o futuro da Rede Globo por ocasião das comemorações dos 50 anos da emissora, traz uma espécie de diagnóstico desse importante meio de comunicação.

Reproduzo a seguir um trecho da reportagem justamente pelo fato da análise extrapolar os muros da Globo e valer para a TV em si:

Para começar, fala Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, seu principal executivo por três décadas: "Capacitada a produzir conteúdo em escala, o caminho da Globo será investir cada vez mais em qualidade, para utilizar todas as plataformas. Não importa onde, pelo ar, cabo, internet. O importante é ter conteúdo que atraia visibilidade". 

Nizan Guanaes, dono do maior grupo publicitário do país, o ABC, vai na mesma direção: "Vivemos a era do conteúdo e do 'storytelling' [contar histórias]. As próximas décadas vão ser desafiadoras para ela como vão ser para todo o mundo. Mas ela está muito bem posicionada porque é craque em padrão mundial nas duas coisas". 

Para Esther Hamburger, da USP, e Vanderlei Dias de Souza, do Mackenzie, a TV aberta seguirá firme. "Tem gente que fala que está morrendo, mas não, está se transformando", diz ela, citando as coproduções da Globo. "A TV do jeito que é não vai desaparecer, a Globo ainda dá audiência, apesar da queda", diz ele. 

Mas o desafio agora é o novo público, não passivo como na TV aberta, e sim "junto". Ken Doctor, do Nieman Lab, de Harvard, diz que a Globo "pode com certeza" achar o seu lugar nesse ambiente: 

"O grande agente de mudança é o consumidor, que agora ocupa parte do banco do motorista. A compreensão profunda da audiência, por idade, plataforma, é requisito para empresas como a Globo. Em seguida virá como agir a partir dessa compreensão".

Leia também (acrescentado em 4/5):

- Novas tecnologias dinamizaram a forma de ver TV

segunda-feira, 13 de abril de 2015 | | 0 comentários

Gugu: mais do mesmo

Diante das polêmicas geradas pelas entrevistas que fez com Suzane von Richthofen e o ex-goleiro Bruno Fernandes, ambos presos condenados por envolvimento com assassinatos, o apresentador Gugu se defendeu dizendo que apenas faz jornalismo.

"Estava com saudades de fazer externas e grandes reportagens", disse. Falou 
ainda que fez entrevistas com pessoas procuradas por toda a imprensa.

Este é, certamente, o ÚNICO mérito de Gugu - com a ressalva de que conseguiu as entrevistas muito mais pela sua conhecida docilidade do que pela credibilidade (que perdeu depois do episódio da falsa entrevista com PCC) e pelo faro jornalístico.

De "grande reportagem" o trabalho recente de Gugu não tem nada. Peca na forma e no conteúdo, como bem explicitou o crítico de TV do UOL/"Folha", Mauricio Stycer. Jornalismo não combina com a dramatização piegas, forçada e excessiva das entrevistas, tampouco com "pegadinhas" para atrair a audiência como a da "revelação" de Bruno que mudaria o caso do ponto de vista jurídico.

No fundo, Gugu continua fazendo o que sempre fez: um entretenimento muitas vezes apelativo em busca de nada mais do que audiência. Para isso, finge usar recursos jornalísticos e empresta ao material uma cara (de jornalismo) que qualquer análise minimamente séria concluirá não se sustentar.

Em outras palavras, Gugu engana o telespectador e abusa da boa fé do público (ou seria inocência? Ignorância?...) em proveito próprio. Apenas isso.

segunda-feira, 23 de março de 2015 | | 0 comentários

A questão das TVs públicas: um debate necessário

Dois livros recém-lançados no Brasil debatem uma questão cada vez mais premente na sociedade: o papel das TVs públicas.

Consideradas modelos bem sucedidos em vários países (o Reino Unido, com a BBC, talvez seja o melhor exemplo no que diz respeito à gestão, financiamento e conteúdo), as TVs públicas brasileiras vira e mexe vão parar no noticiário, seja pela qualidade de algum produto ou pelas costumeiras interferências políticas e/ou baixa audiência.

Segundo o jornalista Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás e autor de “O Estado de Narciso”, o problema “começa na submissão das emissoras às autoridades de plantão, que controlam verbas e indicam diretores”, conforme resenha assinada pelo jornalista Bernardo Mello Franco na “Folha de S. Paulo”.

Já Ernesto Rodrigues em “O traço da Cultura” analisa especificamente o caso da TV Cultura de São Paulo, emissora da qual foi ombudsman por três anos (em tempo: a experiência de ter um ouvidor foi encerrada na Cultura – emissora da qual estou funcionário).

Para ele, a TV pública paulista é um “parque de diversões da elite cultural paulistana em que todos trabalhavam de costas para o público, sem querer saber se ele estava satisfeito. Ou mesmo presente”.

Conforme resenha feita pelo crítico de TV do UOL, Mauricio Stycer, Rodrigues defende para a Cultura (o que, no caso do Brasil, vale para outras emissoras públicas) “a inclusão de conteúdos, personagens e temáticas ‘mais populares’ na grade. Na sua visão, isso não significa ‘abrir mão do senso crítico ou adotar a mediocridade como parâmetro cultural ou jornalístico’”.

Este debate sempre teve sua particular relevância, acentuada neste momento em que parte da sociedade coloca em xeque a independência dos meios de comunicação e que o partido do governo cobra a aprovação no país de uma nova lei de mídia.

Leia também:

sexta-feira, 20 de março de 2015 | | 0 comentários

Aula de edição de vídeos

Para quem curte rap ou edição de imagens, os vídeos a seguir - com Brian Williams, da rede norte-americana NBC - são imperdíveis!





quinta-feira, 19 de março de 2015 | | 0 comentários

"Jornal da Cultura": "o bom combate"


terça-feira, 24 de fevereiro de 2015 | | 0 comentários

Há um novo telejornalismo no ar?

Em tempos de mídias sociais, o jornalismo abre cada vez mais espaço para o entretenimento. Arrisca-se ao ultrapassar uma fronteira tênue – e perigosa. Há casos em que o show tem prevalecido em detrimento da informação.

A Igreja Universal do Reino de Deus, não é de hoje, usa a concessão da TV Record conseguida em nome de seu líder, o bispo Edir Macedo, para fazer proselitismo religioso e atender interesses políticos. Caso recente ocorreu no programa “Domingo Espetacular”, que “exibiu uma longa reportagem (26 minutos) sobre viciados em crack com o objetivo, na verdade, de divulgar o trabalho de um bispo da igreja junto a pessoas com este problema”, conta Mauricio Stycer em coluna na “Folha de S. Paulo”.

Na mesma coluna, Stycer cita as manifestações do âncora e editor-chefe do “Jornal Nacional”, da TV Globo, William Bonner, em redes sociais. “Talvez chame um pouco mais atenção pelo fato de se tratar de um jornalista, de quem se espera uma postura mais recatada, e não de um artista”.

Segundo o crítico de TV, a “questão é que esta fronteira está cada vez mais borrada”. “No caso de alguns jornalistas da Globo, parece haver um incentivo da própria emissora no sentido de que os profissionais adotem uma postura mais ‘humana’, mais ‘gente como a gente’”, observa.

Não sei se é uma política da emissora, mas é fato que muitos jornalísticos – da Globo e de outros canais - têm ganhado uma postura cada vez mais popularesca. Na linguagem inclusive. Em reportagens, é comum ouvir “a gasolina ‘tá’ cara” no lugar de “está”. Trata-se de uma concessão à linguagem falada, em confronto com a gramática formal. Mais que concessão, uma escolha.

Também é comum ver apresentadores de telejornais, antes restritos ao formalismo (talvez excessivo, é verdade) das bancadas, aderir a um jeito despojado de chamar as notícias. Adotam até um tom estridente, como se estivessem fazendo animação de auditório. “O jornal fica por aqui, a gente volta amanhã, um beijo pra vocês e juízo hein!” – ouvi dia desses.

Repito: num mundo cada vez mais sem fronteiras em razão das mídias sociais, talvez seja mesmo a hora de rever o formalismo dos telejornais (e do jornalismo em geral). Contudo, há que se questionar se a popularização é o melhor caminho.

Um texto, mesmo na TV, continua sendo um texto e tem regras, disse um colega jornalista dia desses.

Veja: não estou dizendo que o novo caminho é certo ou errado, melhor ou pior, apenas que é diferente. Concessões são sempre um risco, abrem espaço para o limiar do entretenimento, do show, da celebrização, que não deveriam se misturar com a tarefa de informar.

Mas e se funciona?

Aí a questão é: para quem? Por qual objetivo? Audiência meramente?

São apenas perguntas (provavelmente ainda sem respostas) para questões que atormentam.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015 | | 0 comentários

A falta de água - direto do "Mundo da Lua"

Lucas Silva e Silva, 20 anos atrás, fazia um prenúncio dos tempos atuais...



segunda-feira, 15 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

O caminho (fácil) para a audiência (3)

Mais de seis décadas depois da estreia de "A Montanha dos Sete Abutres" (1951), é interessante ver como várias das "lições" de Chuck Tatum, o jornalista decadente e picareta vivido por Kirk Douglas, permanecem atuais.

(...) Mas o incidente diz muito do estado de ansiedade dos executivos de televisão com os novos hábitos dos espectadores. Diante das muitas possibilidades de gravação de programas e de TV à la carte, o desafio de manter o público na frente da televisão, vendo a programação e os anúncios que as emissoras querem, exige muita criatividade. O perigo é recorrer a ideias de homens como Chuck Tatum.

Fonte: Mauricio Stycer,
“Acobra não engoliu o homem”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 14/12/14.

Leia também:


quarta-feira, 29 de outubro de 2014 | | 0 comentários

"Custe o Que Custar"

Curtindo o "CQC" ao vivo, na Band - convite do querido Marcelo Tas!





E teve até a TV Cultura no "Top Five"...

quarta-feira, 17 de setembro de 2014 | | 0 comentários

A "velha nova" classe média fez sucesso na TV

Chegou ao final na semana passada (11/9) - num episódio emocionante, inteligente, ousado e metalinguístico - um dos melhores (senão o melhor) e dos mais longevos seriados da TV brasileira nas últimas duas décadas: "A Grande Família".

Não me atreverei a falar do programa porque os entendidos já fizeram isto de forma muito melhor (leia aqui coluna do crítico de TV da "Folha de S. Paulo" e UOL, Maurício Stycer).

Gostaria apenas de fazer um registro que escapou às análises que li: à parte a qualidade imensurável do elenco, o que ajuda a explicar o sucesso de "A Grande Família" foi o fato básico de que ela conseguiu reproduzir, de modo muito simples, personagens, personalidades e o cotidiano de uma típica família de classe média brasileira. 

E isto numa época (14 anos atrás, quando o seriado começou) em que a tal "ascensão da nova classe média" nem era tema dos debates...

Simples assim.

* A imagem que ilustra esta postagem foi retirada da Internet (busca via Google)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014 | | 0 comentários

O caminho (fácil) para a audiência (2)

De Mauricio Stycer, crítico de TV, em artigo na "Folha de S. Paulo":


A busca por audiência é um motor natural na TV aberta. Menos natural é ver que programas têm sido criados sem qualquer outro objetivo a não ser este. Também me assusta a cara de pau de figuras como este candidato a rei da "bacciaria".

Como eu já escrevi, o caminho da audiência pela audiência é conhecido e fácil...

* Leia também (acrescentado em 17/11):

- Com Rabo de Arraia, Record transforma jornalismo em circo

quinta-feira, 19 de junho de 2014 | | 0 comentários

O caminho (fácil) para a audiência

Outro dia, fazendo uma reportagem que necessitou de um depoimento mais dramático de uma mãe que perdeu o filho assassinado, comentei com um colega da equipe: “Está vendo, é fácil dar audiência na TV. Está cheio de histórias de desgraças humanas, sejam frutos da violência ou de doenças. Basta explorar”.

O comentário, claro, foi em tom irônico. Não pretendia fazer isto nem este é o objetivo do trabalho desenvolvido pela TV Cultura (em tempo: há uma recomendação expressa da chefia de Jornalismo para não explorar lágrimas alheias nas reportagens, pois a desgraça basta por si).

A questão me veio à mente recentemente ao ler um artigo assinado por Mauricio Stycer, colunista de TV do UOL. “Dois programas da Record têm investido num gênero perigoso, que mistura jornalismo com entretenimento, sem medo algum do ridículo”, escreveu. Ambos, segundo o colunista, vêm “cometendo barbaridades para alavancar a audiência”.

Antes de mais nada, é preciso lembrar o que os bancos das faculdades de Jornalismo ensinam (ou devem ensinar): jornalismo e entretenimento não se misturam – e quando se misturam, a notícia é prejudicada e a verdade ameaçada.

Vide a cobertura que algumas emissoras fazem de certos eventos esportivos dos quais são parceiras.

Voltando ao cerne da questão, Stycer rebate o argumento de que a televisão precisa ser popular.

Difícil dizer o que não é "para o povo" na TV aberta brasileira. Há de tudo, de atrações que fazem o espectador pensar até aquelas que, mais grosseiramente, o seduzem com prêmios ou aviõezinhos de dinheiro. 
O caso em questão é de outra ordem. O que assusta em apelações como "será que Michael Jackson está vivo?" é o descaramento. Os envolvidos em operações "jornalísticas" deste naipe sabem exatamente o que estão fazendo e, possivelmente, acham graça. É literalmente um vale-tudo em nome da audiência. 

E, não custa lembrar, dar audiência (a qualquer custo) não é tão difícil assim...

Complemento postado em 24/6/14 - Em referência à junção entre jornalismo-entretenimento nos grandes eventos, vale ler o artigo cujo trechos reproduzo a seguir:

(...) A TV aberta é uma espécie de negativo das redes sociais. Em vez da falta de filtro, o filtro em excesso. Em vez da particularidade magnificada, a generalização sem diferenças. Se no Twitter o início da Copa foram protestos, greves e transtornos causados pela parceria Don Corleone-Didi Mocó que a organiza - o que é verdade -, em LCD o torneio vem sendo uma festa contínua cujo motor é a paixão de multidões - verdade também. 
 Claro que há nuances aí. Há esforço das emissoras em sair da armadilha dos extremos. "O que a Globo não mostra" é o que a Globo mostra, sim, porém menos do que deveria - em momentos secundários da cobertura, em menções demasiadamente rápidas. O mantra dos locutores é algo como "todos têm direito de se manifestar, mas tudo tem hora". A oração adversativa é a senha para que a euforia continue, agora sem pudor. 
Por outro lado, e mesmo que a mistura entre jornalismo e entretenimento (ou departamento comercial) seja fato há muitas Copas, há uma novidade simbólica e incômoda em 2014. A mesma Globo que não faz merchandising explícito, ao menos na boca de seus locutores, desistiu de parecer neutra no principal produto de seu pacote. Quem opina sobre o campeonato da Fifa nos jogos do Brasil é Ronaldo Nazário, que presta serviços à Fifa. (...) 
Fonte: Michel Laub, “Copa na TV aberta”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 20/6/14.

segunda-feira, 12 de maio de 2014 | | 0 comentários

Propor e escutar, os deveres da TV

(...) o primeiro verbo que a TV nunca deve parar de conjugar: propor.

Toda a forma de narrativa televisiva tem que estar sempre propondo alguma coisa nova. Não falo só das histórias que nos são contadas - afinal, o que há de realmente novo embaixo do sol? Amor, traição, segredos de família - se formos pensar assim, tudo já foi fundamentalmente coberto pelo teatro grego clássico (e lapidado de maneira definitiva por Shakespeare). Mas as inovações sempre são possíveis na maneira como contamos essas histórias.

(...) Mas junto com isso vem um outro verbo também: escutar.

Ele é tão ou mais importante do que o "propor", já que é ele que nos faz parar e pensar na próxima coisa que vamos propor. Temos que saber a opinião de quem nos assiste e respeitá-la. Essa atenção com o telespectador é a base de tudo. E por isso essa pausa é tão necessária. Bem aproveitada, é ela que nos dá novas ideias e nos estimula a inovar mais ainda. (...)

Fonte: blog do Zeca Camargo, “Dois verbos que a TV nunca pode parar de conjugar”, postado em 8/5/14.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014 | | 0 comentários

"A nossa Cultura"

Para quem não viu, a série que fizemos a respeito da pesquisa encomendada pela BBC que colocou a TV Cultura como segunda melhor emissora do mundo em qualidade de conteúdo:











Em tempo: quero parabenizar de público todos que se envolveram neste trabalho, que durou um mês. Principalmente à equipe de externa, o cinegrafista Daniel Azeredo e o auxiliar Jório Silva, ao produtor Diego Balassiano e aos editores de texto, Geoffrey Scarmelote, e de imagem Eduardo Félix.

Todos deram riquíssimas contribuições para o trabalho final, reforçando que televisão se faz em equipe.

Que venha a próxima!

terça-feira, 31 de dezembro de 2013 | | 0 comentários

Feliz 2014!

Quantas estradas um homem precisará andar
Antes que possam chamá-lo de homem?
Quantos mares uma pomba branca precisará sobrevoar
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim, e quantas balas de canhão precisarão voar
Até serem para sempre banidas?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento

Sim, e quantos anos uma montanha pode existir
Antes que ela seja dissolvida pelo mar?
Sim, e quantos anos algumas pessoas podem existir
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim, e quantas vezes um homem pode virar sua cabeça
E fingir que ele simplesmente não vê?

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento

Sim, e quantas vezes um homem precisará olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim, e quantas orelhas um homem precisará ter
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim, e quantas mortes ele causará até saber
Que pessoas demais morreram

A resposta, meu amigo, está soprando ao vento
A resposta está soprando ao vento?

(“Blowin’ in the Wind”, de Bob Dylan, em tradução da letras.mus.br)


Recentemente, fui convidado para participar do programa "Tribuna Independente", da Rede Vida, apresentado por Dalcides Biscalquin. Na ocasião, o convidado foi o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), autor e entusiasta da lei da renda básica cidadã. 

Ao final da entrevista, sabendo que o senador é conhecido pela cantoria na tribuna do Senado, pedi que ele cantasse. Sugeri que escolhesse uma música que simbolizasse o ano de 2013 e/ou indicasse desejos para 2014. 

A música escolhida - cujo refrão final tivemos que cantar juntos, por determinação dele - é a que ilustra esta postagem de encerramento do ano. 

A canção, famosa na voz de Bob Dylan, diz muito sobre um período em que a humanidade sonhou e lutou por ideais. Que seja inspirador para o Ano Novo!

* Foto de Paulo Galvão

sábado, 24 de agosto de 2013 | | 0 comentários

Apenasmente fantástica

Elogiar as produções globais feitas em formato de mini e microssérie ou no horário alternativo de novelas, às 23h, é "chover no molhado". É nestas horas, ou nestas produções, que o propalado "padrão Globo de qualidade" se evidencia.

Contudo, "Saramandaia" merece um registro. Do texto aos cenários, das temáticas ao elenco, passando pela abertura e o acabamento geral, a novela - um "remake" inspirado no original do genial Dias Gomes, exibido em 1976 - é um primor.

Eu me divirto com os diálogos e as "invencionices" linguísticas dos personagens, o "bolibolismo" (ou "saramandismo", se preferir), algo presente no original e perfeitamente mantido na adaptação atual. De um dos capítulos, retirei as seguintes frases e palavras:

- exagerância, previsões meteorologísticas, deverasmente periclitante, acautelatório, "falassice" (nem sei como se escreveria isto), de repentemente;

- O senhor me deu seu palavrismo...
- Mas vou lhe confessar que o meu curiosismo me mata.

- Chega de conversionismo.

- Não aceito o derrotismo!

- Quanto gentilismo das pessoas, mas eu já estou bastantemente melhor.

- Era apenasmente um sonho.

As atuações todas são primorosas, mas merecem destaque as participações de Vera Holtz na pele da engraçadíssima Dona Redonda (e ela vai explodir na clássica cena, já gravada); Matheus Nachtergaele como Seu Encolheu, o marido da Redonda; e Aracy Balabanian como Dona Pupu - os três impagáveis em seus papéis.

A abertura merece um elogio especial ao recorrer ao desenho e insinuar o realismo-fantástico que marca o enredo. Este, aliás, repleto de menções metafóricas e alegóricas a temas da realidade brasileira, mantém-se vivo, mesmo após mais de 30 anos da exibição do original. 

É relevante também o fato da novela recorrer a metáforas e alegorias para tratar de questões já presentes na década de 1970 e ainda mais importantes no século 21, como a dificuldade da sociedade em lidar com o diferente - algo exemplarmente tratado por meio do personagem João Gibão, vivido pelo ator Sérgio Guizé.

Tudo isso somado à trilha sonora fantástica, que tem como ápice (embora ausente da abertura) o clássico de Ednardo, "Pavão Mysteriozo", faz de "Saramandaia" um deleite para os fins de noite.

É divertismo puro!