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quinta-feira, 7 de maio de 2015 | | 0 comentários

Roteiro para as férias

Você conhece o reino de Talossa? Sealand? E o principado de Seborga?

Se não conhece, prepare o passaporte. Ou será que não é preciso passaporte? Aliás, existem embaixadas ou consulados desses “países” para requerer um visto?

Estas são
micronações. Existem de fato (de fato?), mas não de direito. Ainda... (rs!)

Quer saber mais? Clique aqui.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014 | | 0 comentários

"Ventos da transformação"

The world is closing in
Did you ever think
That we could be so close, like brothers
The future's in the air
I can feel it everywhere
Blowing with the wind of change

Walking down the street
Distant memories
Are buried in the past forever

The wind of change blows straight
Into the face of time
Like a stormwind that will ring
The freedom bell for peace of mind
Let your balalaika sing
What my guitar wants to say

Take me to the magic of the moment
On a glory night
Where the children of tomorrow dream away
In the wind of change


(“Wind of Change”, de Klaus Meine)


Ontem tive como missão abordar o referendo sobre a independência da Escócia – realizado nesta quinta-feira (18/9). Não sei o resultado e isto pouco importa (pesquisas de boca de urna indicam a vitória do “não”).

O que me chamou a atenção foi o contraste das duas entrevistas que fiz, uma pragmática, outra sentimental.

O professor de Relações Internacionais da FAAP, Marcus Vinícius, disse basicamente que a separação da Escócia do Reino Unido não era viável porque:

1 – a economia escocesa se basearia na exploração de petróleo e qualquer alteração no preço para menos (como preveem alguns especialistas caso a exploração de xisto seja bem sucedida) seria terrível para as finanças do país;

2 – a sociedade não poderia basear a independência num descontentamento com os governos conservadores do Reino Unido;

3 – o nível de “desinvestimento” no país seria grande.

Aleguei que a análise, embora correta, desconsiderava os sentimentos e até mesmo a crise de representatividade que atinge parte do mundo – a Escócia incluída.

Pois esta parte da análise veio justamente de um escocês. Murray Fergusson, há sete anos no Brasil, disse estar indeciso, citou que os pais votariam pelo “não”, enquanto o irmão votaria “sim”.

Contudo, falou que sempre houve no país um sentimento de mudança, que se acentuou com o governo de Margaret Thatcher nos anos 1980. Salientou também o fato de que “por um dia os escoceses terão o poder nas mãos para decidir o futuro e isto é bom para a democracia”.

E quando forcei-o a escolher um dos lados, já que se estivesse na Escócia teria que tomar uma decisão, ele falou após refletir um pouco: “I would be brave and vote ‘yes’”.

Mas a melhor frase de Fergusson veio quando comentei que, mesmo com a eventual vitória do “não”, o governo britânico seria forçado a fazer concessões à Escócia, como já vinha prometendo. E isto seria uma vitória.

“Ventos de mudança chegaram. Independentemente do resultado, a Escócia e o Reino Unido não serão mais os mesmos a partir de amanhã de manhã”.

E o amanhã chegou...

segunda-feira, 8 de setembro de 2014 | | 0 comentários

Constatação

Pobre o país em que o presidente diz ver imagens miraculosas do ex-líder morto. Triste o país no qual o presidente diz sonhar com recados do falecido transmitidos por aves e parafraseia orações para cultuar quem já se foi - tudo para conseguir popularidade...

* Leia também:

- A beatificação do fracasso

terça-feira, 22 de julho de 2014 | | 0 comentários

EUA: dois pesos, duas medidas

(...) A dedução mais razoável incrimina os rebeldes ucranianos na derrubada do Boeing da Malaysia Airlines, com armamento fornecido pela Rússia. Mas não foi em provas que Barack Obama se baseou para transformar tal hipótese em acusação explícita a Vladimir Putin. Baseou-se no cinismo que rege a política internacional e no seu próprio.

Em menos de duas semanas morreu em Gaza o equivalente aos ocupantes de dois Boeings idênticos àquele. Mortes com bombas fornecidas a Israel pelos Estados Unidos e lançadas por caças F-16I fornecidos a Israel pelos Estados Unidos. (...)

Fonte: Janio de Freitas, “Um caso difícil”, Folha de S. Paulo, Poder, 22/7/14.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013 | | 0 comentários

A nossa herança maldita

(...) Para o cientista político Francis Fukuyama, as teorias sobre o desenvolvimento quase sempre pecam pela "abstração excessiva (o vício dos economistas)" ou pelo "particularismo excessivo (problema comum a muitos historiadores e antropólogos)". (...)

Por que o Brasil e outros países latino-americanos enfrentam tamanha dificuldade para modernizar as suas instituições?
Existem, em primeiro lugar, razões históricas. Os espanhóis e os portugueses implantaram na região suas instituições pré-modernas. Além disso, não foram sociedades compostas inteiramente de colonos europeus, mas sobrepostas, de maneira desigual, a uma vasta população de indígenas, tratados como escravos. No Brasil, assim como no Caribe, a economia foi moldada ao redor do açúcar, uma agricultura baseada em grandes propriedades e mão de obra escrava. Trata-se de um modelo cujo resultado é a desigualdade. Não havia os incentivos para constituir uma burocracia administrativa de qualidade nas colônias. Em razão desse estágio inicial de profunda desigualdade, as instituições foram se moldando para servir às elites. Nunca houve o princípio de oferecer educação de qualidade a toda a população. Desde que a elite estivesse atendida, bastava.

Por que outros países, principalmente na Ásia, conseguiram se desenvolver em um espaço relativamente curto de tempo, ao contrário do que vemos na América Latina?
O Japão, a Coreia do Sul, Taiwan, todos os chamados Tigres Asiáticos, possuem população relativamente pequena, muito mais homogênea, além de um forte senso de identidade nacional. Isso facilitou. Esses países investiram muito na formação de uma elite burocrática altamente capacitada. Houve ainda o investimento maciço em educação. Na América Latina, historicamente mais desigual, a trajetória tem sido mais lenta. Houve avanço no acesso da população ao ensino, mas persiste um grande desnível na qualidade da educação, sobretudo aquela oferecida aos mais pobres. Os países asiáticos foram capazes de resolver essa questão mais rapidamente. (...)

Fonte:
Giuliano Guandalini, “A construção da democracia”, Veja, edição 2.344, ano 46, número43, 23/10/13, p. 17, 20-1.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013 | | 0 comentários

Risco EUA

(...) Já é absurdo que os Estados Unidos se erijam em vigilantes do planeta, com seu megaesquema de espionagem. Mais absurdo fica quando seu sistema político passa a ser refém de um grupo de fanáticos de extrema direita que quer impor seus preconceitos, passando por cima dos mecanismos democráticos.

Refiro-me ao fato de que os radicais do Partido Republicano paralisaram, primeiro, a administração e, em seguida, puseram o país à beira do calote, a pretexto de derrubar um sistema de seguro-saúde que foi aprovado pelo Congresso e, depois, referendado na eleição presidencial de 2012, em que seu autor, um certo Barack Obama, foi comodamente reeleito. (...)

Fonte: Clóvis Rossi, "Desamericanizar é preciso?", Folha de S. Paulo, Mundo, 17/10/13.

PS: quem tem mais de 30 anos certamente vai se lembrar dos tempos em que se falava do risco Brasil na economia. Pois bem: diante dos novos tempos, o título desta postagem é uma referência provocativa.

domingo, 22 de setembro de 2013 | | 0 comentários

Frase

“Você pode não querer ir até a Bolívia. Mas a Bolívia vai até você."
Eduardo Saboia, diplomata, ex-encarregado de negócios da embaixada do Brasil na Bolívia, em entrevista à “Folha de S. Paulo”

quarta-feira, 11 de setembro de 2013 | | 0 comentários

O Brasil e o mundo em três frases

“Os Estados Unidos não têm um presidente; têm uma baratinha tonta que fala demais e depois espera por um milagre.”
João Pereira Coutinho em sua coluna na “Folha de S. Paulo”

“Se o espionado fosse Obama, ele não viria ao Brasil, e seu gesto seria aplaudido. Temerosa de reagir de modo altivo, Dilma se humilha.”
Mario Magalhaes, jornalista, em seu blog

“Infelizmente, fui transformado no principal alvo do ódio e da inveja de setores da elite do país que não se conformam com a ascensão de Lula.” 
José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil no governo Lula e condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por corrupção, no blog “Congresso em Foco”

terça-feira, 23 de julho de 2013 | | 0 comentários

A voz de um palestino


O talento e a história de vida de Mohammed Assaf, que venceu o “Arab Idol”, são exemplos de esperança num mundo melhor.

terça-feira, 23 de outubro de 2012 | | 0 comentários

Exemplos que vêm de uma ilha

A Islândia é uma ilha com pouco mais de 300 mil habitantes que parece decidida a inventar a democracia do futuro.

Por uma razão não totalmente clara, esse país que fora um dos primeiros a quebrar com a crise financeira de 2008 sumiu em larga medida das páginas da imprensa mundial. Coisas estranhas, no entanto, aconteceram por lá.

Primeiro, o presidente da República submeteu a plebiscito propostas de ajuda estatal a bancos falidos. O ex-primeiro-ministro grego George Papandreou foi posto para fora do governo quando aventou uma ideia semelhante. O povo islandês, todavia, não se fez de rogado e disse claramente que não pagaria nenhuma dívida de bancos.

Mais do que isso, os executivos dos bancos foram presos e o primeiro-ministro que governava o país à época da crise foi julgado e condenado.

Algo muito diferente do resto da Europa, onde os executivos que quebraram a economia mundial foram para casa levando no bolso "stock options" vindos diretamente das ajudas estatais.

Como se não bastasse, a Islândia resolveu escrever uma nova Constituição. Submetida a sufrágio universal, ela foi aprovada no último fim de semana. A Constituição não foi redigida por membros do Parlamento ou por juristas, mas por 25 "pessoas comuns" escolhidas de maneira direta.

Durante sua redação, qualquer um podia utilizar as redes sociais para enviar sugestões de leis e questionar o projeto. Todas as discussões entre os membros do Conselho Constitucional podiam ser acompanhadas do computador de qualquer cidadão.

O resultado é uma Constituição que estatiza todos os recursos naturais, impede o Estado de ter documentos secretos sobre seus cidadãos e cria as bases de uma democracia direta, onde basta o pedido de 10% da população para que uma lei aprovada pelo Parlamento seja objeto de plebiscito.

Seu preâmbulo não poderia ser mais claro a respeito do espírito de todo o documento: "Nós, o povo da Islândia, queremos criar uma sociedade justa que ofereça as mesmas oportunidades a todos. Nossas diferentes origens são uma riqueza comum e, juntos, somos responsáveis pela herança de gerações".

Em uma época na qual a Europa afunda na xenofobia e esquece o igualitarismo como valor republicano fundamental, a Constituição islandesa soa estranha. Esse estranho país, contudo, já não está mais em crise econômica.

Cresceu 2,1% no ano passado e deve crescer 2,7% neste ano. Eles fizeram tudo o que Portugal, Espanha, Grécia, Itália e outros não fizeram. Ou seja, eles confiaram na força da soberania popular e resolveram guiar seu destino com as próprias mãos. Algo atualmente muito estranho.

Fonte: Vladimir Safatle, “Um país estranho”, Folha de S. Paulo, Opinião, 23/10/12, p. 2.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012 | | 0 comentários

As lições de Watergate para o jornalismo

"Paranoico, prepotente, sectário, praticou e estimulou entre seus aliados abusos e ilegalidades, como se eles estivessem acima do que se aplicava aos mortais devido à grandiosidade das missões de que estavam imbuídos."

Não, não se trata da descrição de um ex-prefeito de Limeira...


O texto - do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, editor da revista "Política Externa" - foi publicado na "Folha de S. Paulo" em 18/6/12 e faz referência ao ex-presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, pivô do escândalo conhecido como Watergate, que completa 40 anos (para saber detalhes, clique
aqui - é preciso ter senha do jornal ou do UOL).

O apelido se deve ao nome do prédio - Watergate - onde as falcatruas ocorriam, em Washington D.C.

O caso, de repercussão mundial, ajudou a mudar a história do jornalismo. É o que afirma Nelson de Sá, articulista da "Folha", em texto publicado nesta segunda-feira e reproduzido a seguir:


Escândalo foi ponto de mudança para a investigação jornalística nos EUA e no mundo


Watergate foi o ponto de mudança, quando o jornalismo americano passou a acreditar em sua própria lenda. Foi quando "follow the money", siga o dinheiro, se tornou a regra inscrita em pedra para toda investigação jornalística, não só nos EUA.


A expressão não aparece nos blocos de anotação do repórter Bob Woodward, na voz de sua fonte, "Garganta Profunda", nem no livro-reportagem "Todos os Homens do Presidente", que ele escreveu com Carl Bernstein. Ela nasceu no filme hollywoodiano e é criação do roteirista William Goldman.

No momento em que festeja os 40 anos do caso, o "Washington Post" já não é o mesmo. No primeiro trimestre, sua publicidade caiu 17% no papel e 7% na internet. Em conteúdo, voltou a ser o jornal regional de antes de derrubar um presidente.


E talvez sobreviva pouco: um mês atrás, o presidente do "Post", Steve Hill, afirmou que prêmios "não importam" e defendeu mais "galerias de fotos" para elevar a audiência do site do jornal.


Na semana passada, pela primeira vez desde os anos 70, Woodward e Bernstein assinaram juntos um texto comemorativo no "Post", intitulado "Nixon era muito pior do que pensávamos", listando os ataques do ex-presidente às instituições americanas.


A festa de gala reuniu os dois repórteres e o também lendário editor Ben Bradlee. Woodward e Bernstein questionaram então se seria possível cobertura semelhante hoje, quando se acredita que tudo pode ser descoberto e repercutido on-line.


Para o crítico de mídia Howard Kurtz, do Daily Beast, foi uma celebração "do próprio jornalismo, daquele breve momento quando fazer jornal foi saudado como uma profissão nobre".


Jack Shafer, crítico de mídia da Reuters, é mais cruel: "Se você acrescentar uns poucos barcos e alguns chapéus ridículos à cobertura do 'Post' para o 40º aniversário de Watergate, você poderia chamá-la de jubileu da rainha."

terça-feira, 22 de maio de 2012 | | 0 comentários

Será o apocalipse?

Em praticamente dois meses, o dólar passou de R$ 1,72 a R$ 2,08 no Brasil. Reflexo da crise europeia que se acentua a cada dia.

Não sei onde o mundo vai parar – ou melhor, a economia (e ela é determinando para o resto). Paul Krugman previu em seu blog no site do “The New York Times” o colapso do euro. Para breve, questão de meses. O roteiro: a Grécia abandona o euro; Espanha, Itália, Portugal e Irlanda quebram; a Alemanha se vê num impasse. A União Europeia corre riscos.

Nos EUA, a situação também não é cômoda. Segundo Krugman, mais da metade da população norte-americana vive em estados com um nível de desemprego de pelo menos 8%. Só 8% dos norte-americanos moram em estados com desemprego inferior a 6%.

A questão que se coloca na Europa é, de acordo com o “El País” desta terça-feira: como resolver o impasse entre corte de gastos e crescimento econômico. Aparentemente, fazer as duas coisas parece impossível. Este será o tema principal de um encontro informal do Grupo dos 27, no final de junho.

O impasse ganhou um novo – e poderoso – ingrediente com a eleição do esquerdista François Hollande na França. Ele quer uma alternativa ao arrocho proposto (e acordado meses antes pelos líderes dos países da zona do euro, França incluída) em detrimento do crescimento econômico e da geração de empregos.

Na Espanha, um dos países que mais sentem a crise, a saída encontrada pelo governo de Mariano Raroy é conhecida: elevar impostos e reduzir gastos na primeira metade do mandato. As metas propostas por ele levariam a economia da Espanha ao mesmo nível da dos países do leste europeu. Em quatro anos, o nível de investimentos/gastos públicos cairia dos atuais 43,6% do PIB (Produto Interno Bruto) para 37,7%, informa “El País”.

A política de austeridade fiscal está sendo questionada por um motivo básico: seus resultados “escassos”, nas palavras do principal diário espanhol. Como contraponto, porém, apresenta-se a Alemanha: exemplo máximo da tal política, o país exibe os melhores números da economia em toda a União Europeia.

Li hoje que muito em breve, questão de anos, o PIB mundial será comandado pelos ditos emergentes (notadamente os Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Ontem, a presidente Dilma Rousseff manifestou num evento que o Brasil está “300% preparado” para enfrentar a crise. O governo brasileiro, ao contrário da austeridade pregada pela Europa, tem optado desde 2008 por elevar os gastos públicos como forma de impulsionar o consumo. Dilma acaba de reduzir a zero as alíquotas do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros populares. A medida faz parte de um pacote que totaliza R$ 2,7 bilhões entre isenções e oferta de crédito.

Como disse, não sei para onde o mundo caminha, não sou especialista no assunto, pouco entendo de economia. Leio e tento compreender o contexto atual. Só sei que a situação da Europa me parece sombria. O futuro é incerto. Teme-se um quadro de convulsão social – por lá, os protestos são comuns.

Será o apocalipse neste sombrio 2012?

sexta-feira, 11 de maio de 2012 | | 0 comentários

"O choque ideológico do século 21?"

Os confrontos da humanidade costumavam ser causados por disputas religiosas, pela captura de novos territórios e suas riquezas ou pela ideologia. As cruzadas, as guerras entre os diferentes papados, as expansões de impérios e as guerras de independência servem de exemplos.

No século passado, tivemos os nazistas contra os aliados, a União Soviética e seus satélites contra os Estados Unidos e seus aliados, o capitalismo contra o comunismo, democracias contra regimes autoritários e inúmeros outros conflitos.


A segunda década do século 21 está nos trazendo um confronto novo, surpreendente e insólito: o da austeridade contra o crescimento. De um lado estão aqueles que defendem a ideia de estimular as economias para - acima de tudo - criar postos de trabalho para os milhões de desempregados da Europa e de outros países com economias estagnadas. O novo presidente da França, François Hollande, é uma das figuras mais representativas dessa nova perspectiva, assim como meu colega de página aos sábados, o Nobel de Economia Paul Krugman.


Do outro lado estão aqueles que batalham pelo retorno à estabilidade econômica, a qual, segundo eles, requer reduzir a diferença entre a arrecadação e os gastos dos governos e o endividamento do setor público. São os defensores da austeridade fiscal, comandados, como sabemos, pela chanceler [primeira-ministra] alemã, Angela Merkel. Mitt Romney e o Partido Republicano dos EUA também estão nesse campo.


Tanto os partidários do crescimento quanto seus rivais defensores da austeridade recentemente receberam apoio de grupos que talvez preferissem não ter como aliados.


Nas recentes eleições gregas, graças ao seu repúdio às medidas de austeridade, a extrema esquerda - que inclui o muito tradicional e agora quase irrelevante Partido Comunista - conquistou sucesso sem precedentes (elegendo 50 deputados), e o mesmo vale para o partido neonazista Aurora Dourada, que deterá 21 cadeiras. É isso mesmo: comunistas e neonazistas unidos no repúdio à austeridade e no apoio ao crescimento a qualquer custo.


Do outro lado, o movimento Tea Party, nos Estados Unidos, iça com entusiasmo e radicalismo semelhantes a bandeira da austeridade - a qualquer custo, e não importam as consequências sociais.


Gianni Riotta, um dos mais lúcidos analistas europeus, me disse que "austeridade e crescimento são os dois únicos partidos que definem a política do mundo ocidental hoje em dia. Esse confronto decidiu a eleição entre Hollande, Sarkozy, Le Pen e Mélenchon, na França, e na Espanha deu a vitória a Rajoy".


"O mesmo tema terá papel decisivo na disputa presidencial entre Barack Obama e Mitt Romney nos Estados Unidos e no confronto entre a chanceler Merkel e seu rival social-democrata na Alemanha. Na Itália, a sucessão de Mario Monti como chefe de governo também dependerá do debate entre austeridade e crescimento", prossegue ele.


Quem teria imaginado que, no século 21, o principal debate do mundo ocidental se reduziria a tomar partido quanto à melhor política monetária, de câmbio e fiscal? É uma vergonha.


Fonte: Moisés Naím, Folha de S. Paulo, Mundo, 11/5/12, p. A18.

sábado, 5 de maio de 2012 | | 0 comentários

A nova realidade americana (2)

Os Estados Unidos estão diferentes. Não sei dizer se para melhor ou pior. Em dois anos, desde minha última visita ao país, alguns aspectos mudaram. Notei desta vez, salvo uma ou outra exceção (por exemplo, a área histórica da Filadélfia, com muitos prédios fechados), que o número de imóveis “for leasing” ou “for rent” aparentemente caiu em relação a 2009. Ao mesmo tempo, cresceu espantosamente o número de pessoas pedindo dinheiro nas ruas. Em todas as cidades – e até no Canadá.

Pedintes eram uma cena inimaginável nos EUA há alguns anos. Já em 2009, quando lá estive, encontrei dois. Desta vez, porém, eram quase dois por quarteirão. Muitos. Em geral, de dois tipos: os “homeless” (ou seja, os sem-casa) e os “veterans” (os que dizem ser veteranos de guerra). Cheguei a ver uma jovem carregando um filho pequeno no colo dizendo ser sem-teto e pedindo ajuda. Cena triste e, repito, raríssima até alguns anos.

Também foi um tanto comum encontrar pessoas dormindo nas ruas -
em Nova York e Toronto (foto) lembro-me bem das cenas (não vou considerar os que encontrei em Nova Orleans porque provavelmente dormiam em razão de bebedeira).


Perguntei a um taxista em Las Vegas como estava a economia. “Ah, melhorou muito nos últimos tempos perto do que estava”, disse. Estranhei, porém, a pouca movimentação na cidade. Quando lá estive, em 1999, via-se uma “muvuca” de dia e à noite. Desta vez, a cidade ficou quase às moscas depois das 22h. Às moscas é um certo exagero, é verdade, mas se tratando de Las Vegas a manifestação faz sentido. Tudo bem que era terça-feira, mas trata-se de uma cidade que existe em função unicamente do entretenimento. Perguntei a um outro taxista e ele justificou dizendo que após um “big weekend” era normal a cidade esvaziar um pouco nos dias seguintes. Sei lá...

Em Atlanta, uma pessoa que nos acompanhava e era um tanto “habitué” por lá observou que o hotel estava vazio desta vez em relação aos últimos anos. Comentou isso com um garçom que a reconheceu de visitas anteriores. “Sim, está vazio, é a crise”, respondeu o funcionário.

Para nós, brasileiros, é um tanto difícil “ver” a crise, principalmente nas grandes cidades, com vocação mais turística. O nível de consumo do país continua muito alto, o estímulo às compras (com promoções e cartões de desconto por todos os lados) é incrível, quase insano. Ainda assim, a crise existe e é forte. “É que o nível de consumo deles há alguns anos era algo fora do comum”, comentou uma brasileira que morou por alguns anos na região de Michigan.

Seja como for, o país está fervilhando às vésperas de uma campanha eleitoral. A esperança Obama de ontem é uma realidade hoje, com realizações e decepções; a divisão entre democratas e republicanos (para simplificar as correntes políticas) segue acentuada. Obama continua sendo “acusado” de comunista pelos opositores, o “presidente mais esquerdista da história”, como vi em algum lugar.

Li no “Metro”, por exemplo, a carta de um leitor de Manville, Nova Jersey. Wayne Sargent criticava os gastos do governo Obama – dizia que foram maiores em três anos do que nos oito anos de George W. Bush. Os alvos? Os programas sociais Medicare e Social Security (Obama reformulou os programas, ampliando o acesso das minorias e, naturalmente, elevando os gastos com o bem-estar social).

No mesmo “Metro”, uma reportagem citava a acusação dos republicanos de que o déficit federal cresceu US$ 530 bilhões em relação a dez anos atrás.

A leitora Kathy Kourian, por sua vez, rebateu as críticas contra o atual presidente alegando que o custo da dívida se deve ao grande corte de impostos visando estimular a economia e às duas guerras (Afeganistão e Iraque) “que não feitos pelo Obama”. Ela manifestou ainda temor em relação ao futuro dos programas sociais caso o democrata deixe o governo.

São visões diferentes de um mesmo país eternamente dividido e que louva sua liberdade e democracia.

Assim seja.

PS: para ler "A nova realidade americana" (1), clique aqui.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011 | | 0 comentários

Frase

"Nós não respondemos o mal com o mal, como você faria. Nós combatemos o mal com o bem. E nós ganhamos."
Ivar Benjamin Oesteboe, sobrevivente dos ataques ocorridos na Noruega na semana passada, em carta ao extremista Anders Breivik, responsável pela tragédia. Vale a pena ler a carta na íntegra (clique aqui).

terça-feira, 8 de março de 2011 | | 0 comentários

Um novo Brasil (?)

Uma pesquisa anual do Serviço Mundial da BBC conduzida em 27 países revela que as opiniões positivas sobre a influência do Brasil no mundo tiveram o maior aumento entre as nações pesquisadas, passando de 40% a 49%.

Já as visões negativas sobre a atuação brasileira caíram 3 pontos percentuais, para 20%. Somente em um país, a Alemanha, as opiniões negativas sobre o Brasil são superiores às positivas (32% a 31%).

Leia a íntegra aqui.

Fonte: BBC/ABr

segunda-feira, 22 de novembro de 2010 | | 0 comentários

Os fins justificam...?

Argentina, Chile, Japão, EUA e a Europa, num total de 80 países, aprovaram resolução na ONU, encaminhada pelo Canadá, contra as "recorrentes violações dos direitos humanos" por parte do governo do Irã. O Brasil se absteve. Votou como Sudão, Síria, Líbia, Cuba e Venezuela, entre outros.

Na resolução, está em jogo o repúdio às execuções por apedrejamento, às execuções de menores, à tortura, às mutilações, à perseguição a mulheres, minorias e presos políticos pelo Estado iraniano.

Ao justificar a posição brasileira, a embaixadora Maria Luiza Viotti defendeu que os direitos humanos devem ser examinados "de uma maneira holística, multilateral, despolitizada e não seletiva".

Maneira "holística"? Cabe um "voto de protesto" contra esse jargão eufemístico, a serviço da empulhação diplomática? Diante da iraniana que está prestes a morrer apedrejada, a fala brasileira soa simplesmente cínica.

Mas a abstenção do Brasil também é política. Ela faz eco à posição do próprio Irã, que vê na defesa dos direitos humanos uma cortina de fumaça para os interesses da política externa norte-americana.

O Brasil se nega a criticar o Irã publicamente. Insiste que a cooperação e o diálogo são preferíveis ao isolamento de Ahmadinejad. Na prática, transige com a barbárie, negociando vergonhosamente os direitos humanos, em nome, talvez, de um antiamericanismo fora de época e de lugar, como quem quisesse acertar contas do passado por razões equivocadas.

Lula, ao oferecer asilo a Sakineh Ashtani, acredita ter feito a sua parte. Lavou as mãos. Mas o Brasil será cobrado, e com razão, se sua execução se consumar. Por que não tratar o caso Sakineh como um divisor de águas? Ou melhor: por que, sabendo que ele assumiu essa dimensão, emprestar solidariedade aos facínoras? Por que jogar o peso político do país na simpatia acovardada e covarde pelo obscurantismo? Pois é disso, afinal, que se trata.

Fonte: Fernando de Barros e Silva, ” Abstenção pela pedra”, Folha de S. Paulo, Opinião, p. 2, 22/11/10.

Está nítido que a posição brasileira é política. A única dúvida é: a afronta aos direitos humanos aceita – ou permite – concessões, ainda que politicamente justificadas?