segunda-feira, 31 de agosto de 2015 | | 1 comentários

As pessoas é que são notícia!

Se tivesse novamente a oportunidade de conduzir um jornal diário (ou site), tomaria como norma editorial algo sobre o qual tenho lido muito a respeito: a necessidade premente de humanizar o jornalismo. A questão foi muito abordada pela ombudsman da “Folha de S. Paulo”, Vera Guimarães Martins, em coluna do dia 30/8/15:

“É mais factível acreditar na insensibilidade de coberturas conduzidas no automático, nas quais predominam o macro, não as pessoas, e as disputas políticas, não as histórias humanas de gente sem pedigree.

Números são importantes, mas são as pessoas que merecem ser notícia – ou destaque. Dados ajudam a interpretar o mundo, mas são as histórias que nos comovem e nos geram identificação com os problemas que os números friamente retratam.

Quando fui convidado a voltar a dirigir o jornal do qual fui editor-chefe por quase seis anos, discuti com um dos proprietários algumas ideias que tinha para mudar o diário. Um dos pilares era justamente este: privilegiar histórias de vida, gente, pessoas de carne e osso.

Hoje, em geral, prevalecem nos jornais as aspas improdutivas; o oficialismo inútil e distante do dia a dia dos cidadãos; as denúncias que vêm e vão e pouco mudam a realidade; os dados jogados ao vento, muitas vezes sem aprofundamento, contextualização, análise ou algo mais real que possa dar a eles algum sentido.

Aliás, sobre o uso de dados, trago a seguir a reflexão feita por Jeff Sonderman em artigo do Poynter, traduzido por Natália Mazotte, do Knight Center for Journalism in the Americas:

“Sim, registros públicos podem ser obtidos por qualquer pessoa. Isso graças a decisões de políticas públicas que determinam que o conhecimento em poder do governo deveria ser passivamente acessível a qualquer pessoa, mediante solicitação. 

Mas quando um jornalista opta por copiar essa informação, enquadrá-la em um determinado (inerentemente subjetivo) contexto e, em seguida, ativamente destacá-la para milhares de leitores e pedir a eles para olharem para ela, ele tomou uma ação distinta pela qual é responsável.
 

Bons jornalistas de dados lhes dirão que ‘despejar dados’ não é bom jornalismo.
 

Os dados podem ser errados, enganosos, prejudiciais, constrangedores ou invasivos. Apresentá-los como uma forma de jornalismo requer submetê-los a um processo jornalístico.
 

Nós devemos pensar em dados como nós pensamos em qualquer fonte. Eles lhe dão informações, mas você não apenas reproduz tudo o que uma fonte diz, textualmente. Você examina a informação de forma crítica e se atém a certos padrões de publicação - como precisão, contexto, clareza e equidade.”

Em tempo: não se trata de desafio novo. A humanização da notícia foi destacada num seminário do qual participei, promovido pela Associação Paulista de Jornais (APJ) em Bauru, muitos anos atrás. Desde então, em razão da precariedade que toma conta das Redações, fruto da crise financeira das empresas e da falta de visão dos administradores, a situação em nada melhorou.

Infelizmente, em muitos casos, degringolou...

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"Ryan"

Não é exatamente uma obra de arte, mas achei bem carinhoso - embora o Ryan mencionado não seja eu.


Em tempo: vi o cartaz na entrada do restaurante de um hotel em Halifax, no Canadá.

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A era de Aquário chegou à política?

Já fiz esta reflexão aqui, pós-eleição, e volto a fazê-la - ou lembrá-la: escrevi neste blog, na véspera do segundo turno presidencial do ano passado, que tinha a impressão de que quem saísse vencedor nas urnas na verdade perderia.

Não era preciso ser muito inteligente ou visionário para antever o atual cenário de dificuldades - com Dilma Rousseff ou fosse com Aécio Neves.

O vencedor das urnas assumiria num cenário de pouco legitimidade, com um país dividido.

Pois algo semelhante ocorre agora na Guatemala, segundo texto do jornalista Clóvis Rossi na "Folha de S. Paulo". Lá, como cá, a sociedade não tolera mais tantos escândalos de corrupção. Lá, como cá, os cidadãos não se sentem mais representados pela classe política. Lá, e não cá, ocorrem protestos seguidos há 18 semanas!

Tudo isto - e mais outros movimentos mundo afora (como o Podemos, na Espanha, e a renúncia do primeiro-ministro grego que se elegeu prometendo combater a política de austeridade imposta pela Europa e sete meses depois fez acordos com a chamada "troika", sem falar da tal Primavera Árabe) - indica que há uma significativa mudança em curso na humanidade (ou em boa parte dela) no que diz respeito à política. 

Ecos da era de Aquário?

Parece-me, contudo, que apenas os políticos ainda não entenderam os efeitos desta nova era digital.

Em tempo: a menção à era de Aquário é meramente retórica, para indicar mudanças. Não entendo nada do assunto e não sei quais são os preceitos desta tal era.

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Frase

“Fama, dinheiro e sucesso são bons parceiros. Hoje, no entanto, penso que a caminhada é que é legal, não a chegada.”
Cauã Reymond, ator, em entrevista à “Folha de S. Paulo”

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Pelo bem comum

Mensagenzinha filosófica que eu flagrei em um banheiro de Montreal, no Canadá:


"Você pode querer deixar sua marca na vida, mas não deixe nenhuma no banheiro. Por favor, use a escovinha."

domingo, 30 de agosto de 2015 | | 0 comentários

A nova era digital: reflexões sobre o pau de selfie

(...) Em um mundo altamente tecnológico, o "pau de selfie" se destaca pelo aspecto tosco. Os que esperavam carros voadores e lentes multifuncionais se viram decepcionados pela realidade: o invento mais popular do ano é um bastão.

Atrás dessa aparente simplicidade, porém, se esconde uma revelação profunda sobre o mundo contemporâneo. Como o velho cajado que amparou nossos antepassados, o “pau de selfie” nos oferece segurança diante de um mundo perigoso. Não é só a nossa proteção no isolamento mas uma resposta a essa angústia do ser humano contemporâneo – a de constatar sua própria existência.

Fonte: Emilio Lezama, tradução de Francesca Angiolillo,
“Papparazi de nós mesmos”, Folha de S. Paulo, Ilustríssima, 30/8/15.

terça-feira, 25 de agosto de 2015 | | 0 comentários

Drogas: vítima de quem?

Para trazer um pouco de racionalidade à discussão sobre a descriminalização das drogas, reproduzo a seguir trecho de interessante entrevista concedida à “Folha de S. Paulo” (créditos no link) pelo delegado e doutor em ciência política pela Universidade Federal Fluminense, Orlando Zaccone:

Como vê a descriminalização do porte de drogas para uso pessoal?
Orlando Zaccone - Não tem como não ser a favor. A criminalização do uso viola princípios do direito penal. Não se pode punir condutas que não tenham vítima, não se pune a autolesão. A pessoa não pode ser autora e vítima do mesmo crime. O consumo de drogas não tem lesão à coletividade. Se existe lesão, é só à pessoa. (...)

Como resolver o problema do consumo excessivo de drogas?
Com políticas públicas. A droga que mais teve redução de consumo no Brasil é lícita: o tabaco. Isso porque teve políticas públicas importantes, como proibir propaganda. Com drogas ilegais, não se faz políticas públicas, mas política criminal, que não faz transformação social.

* Leia também (acrescentado em 29/9):

- De foro íntimo

sábado, 15 de agosto de 2015 | | 0 comentários

Na Pinacoteca, os retratos da família imperial

Para quem aprecia arte, principalmente pintura e escultura, a Pinacoteca do Estado de São Paulo é um programa imperdível. A exposição permanente reúne alguns dos melhores nomes da arte brasileira – e as mostras temporárias sempre apresentam novidades que costumam causar grandes filas, como foi com o trabalho do australiano Ron Mueck.

O prédio em si já mereceria uma visita. Feito todo em tijolos, é um palacete cercado de um belo jardim (pena que a área onde ele fica esteja mal cuidada; em uma das últimas visitas que fiz, o cheiro de urina e fezes na calçada era insuportável).






A seguir, trago alguns exemplos da mostra permanente, com destaque para o quadro “Emigrantes III” (1937), de Lasar Segall (o primeiro da sequência abaixo):




  






Uma das partes de que mais gosto é a que apresenta pinturas e retratos da família imperial brasileira. Não me lembrava, da primeira visita que fiz à Pinacoteca anos atrás, que esse material estava lá. É bastante interessante ver de perto as imagens da única família imperial das Américas (tirando o Canadá, que é da Commomwealth e não conta muito):

Dom João VI

Carlota Joaquina

Dom Pedro I e Dona Amélia

Dom Pedro II

Dona Maria Amélia


Dona Teresa Cristina

A Pinacoteca fica na Praça da Luz, 2 – largo General Osório, 66. Abre de terça a domingo das 10 às 17h30, com permanência até as 18h.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015 | | 0 comentários

Limeira e a história do trabalho

A longa transição da economia brasileira de um modelo escravagista para a abolição criou situações inesperadas aos próprios europeus que, por anos, haviam financiado e lucrado com o tráfico de africanos para as Américas: o surgimento de “escravos brancos” nos cafezais brasileiros.

Documentos dos arquivos diplomáticos suíços obtidos pelo "Estado" revelam que milhares de imigrantes que chegaram ao Brasil para trabalhar nas fazendas de café acabaram se transformando, na opinião de seus governos, em “escravos”. Os casos abriram uma crise diplomática entre a Suíça e o imperador d. Pedro II, além de revoltas em algumas fazendas e a emissão de um decreto no país alpino proibindo os suíços de emigrarem para o Brasil.

A situação, porém, não foi criada apenas pelos fazendeiros brasileiros, mas também pelos governos locais na Suíça, que levaram milhares de pessoas a optar pela emigração como forma de resolver os problemas internos de pobreza que sofriam as regiões rurais do país. Para isso, fizeram empréstimos a idosos, crianças órfãs e até para cegos que, com seu trabalho no “Novo Mundo”, teriam como quitar as dívidas.

O centro da crise foi o sistema de parceria promovido pelo senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Diante da decisão do Reino Unido de proibir o comércio de escravos entre a África e a América em 1845, o preço dos escravos africanos explodiu e passou-se a buscar alternativas. Uma delas foi o sistema criado na Fazenda Ibicaba, em Limeira (SP), em que europeus foram convidados a se mudar ao Brasil para trabalhar. Eram os colonos. (...)

Fonte: Jamil Chade, "Nos cafezais paulistas, os 'escravos brancos'", O Estado de S. Paulo, Economia, 10/8/15.

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A (fracassada) guerra às drogas

(...) Em 40 anos de política repressiva, as drogas no mundo, em vez de encarecerem, ficaram mais baratas. Sua qualidade aumentou.

A repressão ainda criou um mercado negro que alimenta corrupção entre narcotraficantes, forças de segurança e políticos mundo afora. Em países como Brasil e Estados Unidos, produziu encarceramento em massa, muitas vezes por crimes não violentos.

O hemisfério ocidental está se ajustando à nova realidade. Guatemala, Uruguai e alguns Estados americanos estão descriminalizando o consumo de drogas. Na Colômbia, país onde a guerra às drogas enfraqueceu a guerrilha, mas manteve a força dos cartéis, o governo vê a velha política como "fracassada".

(...) Em geral, porém, o governo (brasileiro) continua preso ao paradigma de ontem. A descriminalização do consumo não tem apoio do Congresso Nacional nem da maioria da população.

Fonte: Matias Spektor,
“Guerra à droga apequena Dilma naCasa Branca”, Folha de S. Paulo, Mundo, 25/6/15.

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São Paulo em fotos (de novo!)

Tão logo me mudei para São Paulo, passei a postar meu resumo visual da semana (aqui, aqui, aqui e aqui, por exemplo). Eram fotos que colhia, via celular, pelos caminhos aos quais as reportagens me levavam. Depois de algum tempo interrompi a iniciativa - que tinha muito de descoberta para um "caipira" como eu, embora tivesse também um tom brega e de aparente deslumbramento. 

Acho, porém, que ela cumpriu uma função (e a deste blog também, que não tem outra pretensão senão a de ser uma espécie de "diário" moderno, não no sentido estrito, de contar os meus dias, mas de servir como caderno de anotações, memórias e reflexões).

Reparei, porém, que já faz tempo que não posto fotos da capital paulista. E ela tem tanto a mostrar! 

Trago agora, pois, dois lugares que são bastante curiosos. São conjuntos que misturam passado e futuro, tradição e modernidade. 

O primeiro deles inclui a Estação da Luz, a antiga estação Júlio Prestes, sede da Sala São Paulo (uma das mais modernas salas de concerto do mundo), e o Memorial da Resistência, onde funcionou um dos QGs da ditadura militar em São Paulo:









   




O outro conjunto inclui o Museu do Tribunal de Justiça e um edifício do mesmo órgão:

  


Estação da Luz/Sala São Paulo: Praça da Luz, 1

Museu do TJ-SP: rua Conde de Sarzedas, 100, Sé

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Mobilidade urbana e cidades

(...) Assim como a redução dos limites de velocidade, muitas das ações da atual gestão municipal na área da mobilidade correspondem a uma nova maneira de pensar a cidade. Mas a prefeitura falha ao não lançar seus argumentos e estudos técnicos a um amplo debate público antes de adotar tais medidas.

Sem dúvida queremos construir, hoje, um futuro sob outros parâmetros, sem mortes no trânsito, com a valorização do transporte coletivo, dos meios não motorizados, dos espaços públicos, do meio ambiente, enfim, da vida. Mas isso significa mexer com práticas, modos de vida e usos do espaço profundamente enraizados, o que não é nada fácil.

Fonte: Raquel Rolnik, “Entrei na rua Augusta a 120 por hora”, Folha de S. Paulo, Cotidiano, 10/8/15.

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Reflexão

(...) Se meu filho nem nasceu
Eu ainda sou o filho
Se hoje canto essa canção
O que cantarei depois?
Cantar depois!...

Se sou eu ainda jovem
Passando por cima de tudo
Se hoje canto essa canção
O que cantarei depois? ...

(“Dias de luta”, por Edgard Scandurra)

PS: dedicada ao "meu amigo Pedro..."

sexta-feira, 7 de agosto de 2015 | | 0 comentários

A música canta e conta a história

Qualquer cidadão, em qualquer lugar do mundo, será capaz de lembrar de uma música que tenha marcado época por seu caráter histórico, de contestação ou retratação de um determinado momento. Das mais pops, como “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones...”, às mais rebuscadas, muitas delas contaram e fizeram história.

Confesso, porém, que nunca tinha parado para pensar na amplitude dessa relação quase umbilical até ver recentemente uma interessante exposição do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Intitulada “A música canta a República”, a mostra retratou a história do Brasil do final do século 19 ao início do século 21 por meio de canções populares, muitas das quais fizeram enorme sucesso, outras nem tanto.


A exposição foi construída de um modo que os visitantes passassem por uma espécie de linha do tempo. Nela, os fatos históricos mais relevantes eram apresentados em fotos e textos. Trechos de música apareciam como retratos daquele momento. Um guia auditivo podia ser usado para ouvir as canções conforme se avançava pela exposição.











   
A iniciativa acompanha o lançamento da trilogia “Quem foi que inventou o Brasil - a música popular conta a história”, escrita pelo jornalista e ex-ministro do governo Lula, Franklin Martins, cujos dois primeiros livros foram lançados recentemente.

Depois de São Paulo, a mostra passaria por Rio de Janeiro e Brasília.

Em tempo: as fotos acima não seguem a ordem cronológica dos fatos.