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quinta-feira, 24 de julho de 2014 | | 0 comentários

EXCLUSIVO: entrevista com o editor-executivo da "Folha"

O editor-executivo da "Folha de S. Paulo", Sérgio Dávila, fala sobre os desafios do jornalismo impresso na era digital e das experiências do jornal cuja Redação ele comanda:

A “Folha” foi pioneira no Brasil no sistema de “paywall” (“muro de pagamento”, na tradução literal, a cobrança pelo conteúdo da Internet a partir de uma cota grátis mensal) e parece que os resultados têm sido positivos. Ainda assim, o jornal impresso continua sendo visto – e a própria ex-ombudsman Suzana Singer escreveu isto – como um registro do passado. Você concorda com esta visão? O que pensa da função do jornal impresso hoje?
Sérgio Dávila – Acho que o jornal impresso está ganhando cada vez mais um papel de um resumo bem feito do passado, do último ciclo de 24 horas, mas mais do que isto cada vez mais uma interpretação bem feita do que aconteceu e indicando caminhos do que pode vir a acontecer. Esta tentativa do jornal de ser um farol do que vem por aí é fundamental para o leitor e o leitor sabe valorizar isto no produto impresso.
Outra coisa que o produto impresso tem, pelo próprio formato, pela própria característica do meio, (é) empacotar muito bem o que é importante naquele momento no país, o que vai dar agenda naquele momento no país e no mundo. Isto acho que o jornal impresso faz muito bem.
A gente tende a pensar, eu mesmo já cometi este erro outras vezes, que eles são excludentes, o impresso e o digital. Eles não são excludentes, eles são complementares. Um tem um papel, sem trocadilho, e o outro tem outro, mas eu não vejo um brigando com outro. Pelo contrário. Acho que você pode agir de determinada maneira e se comunicar de determinada maneira no digital e de outra no impresso, eles vão se complementando.

Fora o “paywall”, você conhece alguma outra experiência que seja bem sucedida a este respeito no mundo?
Dávila – Por exemplo: ações comerciais “casadas” multiplataforma. Você anuncia no jornal impresso e faz uma ação comercial no site, no tablet, no "mobile". Isto eu tenho visto acontecer na Europa e nos EUA com sucesso. Já acontece em menor medida no Brasil e acho que vai começar a acontecer mais intensivamente.

Inclusive em coberturas? A “Folha” fez o projeto “Belo Monte” que foi muito bem executado...
Dávila – Este tipo de cobertura como Belo Monte, que foi complementar, é um exemplo do que eu queria dizer dos meios complementares. A gente fez um caderno impresso, mas você tem lá também o site com outros recursos, com multimídia, com vídeo, com fotos, etc. Você pode ter os dois, você pode consumir um ou outro, você sai bem informado dos dois.
Este tipo de iniciativa, de você pegar um assunto e esgotar um assunto da maneira mais didática e atraente possível, começa a atrair os anunciantes. Quando você pega temas relevantes, do tipo Belo Monte que a gente fez, o Golpe de 64 que a gente fez e outros que a gente está planejando para este ano, você acaba atraindo o anunciante. O anunciante fala: “bom, este produto é de qualidade, ele atrai um público de qualidade e eu quero anunciar neste produto”. A gente acha que este é o caminho.

Nas últimas reformas gráficas de jornais, eu até assisti a uma palestra do Chico Amaral (designer responsável pela reformulação gráfica do “Estadão”) na qual ele disse que a base das mudanças foi considerar que o jornal é um produto para quem gosta de ler, a “Folha” seguiu um modelo contrário. O jornal não ficou telegráfico demais?
Dávila – Tem uma questão que é a seguinte: o mundo está ficando digital, mas o leitor continua analógico. E ele continua tendo 24 horas por dia para consumir a informação. Então você tem que entrar no “slot” que este leitor dedica à informação, seja uma hora, duas, três, com o melhor produto feito da melhor maneira que você puder. Se ele preferir o impresso, você está lá no impresso. Se ele preferir o digital, você está lá no digital. 
A nossa reforma gráfica, esta última a que você se referiu, tem este objetivo por trás, que é: não importa onde o leitor consumir a marca “Folha” ele vai saber que é um conteúdo da “Folha”. Esta era a ideia. A não ser que ele estiver no jornal e fala: “bom, aqui está a ‘Folha de S. Paulo’”. Se ele cai numa matéria na Internet ele fala: “bom, é uma matéria feita pela ‘Folha de S. Paulo’”. Se ele abre um tablet ou recebe um torpedo no “mobile”, ele sabe: “bom, isto vem do jornalismo da ‘Folha’ com os seguidos preceitos e princípios editoriais da ‘Folha’”. Esta era a nossa ideia. Foi criticada por alguns, mas foi elogiada pela ampla maioria, do leitorado inclusive. Então parece que funcionou. 
A gente tinha uma avaliação que as plataformas eram muito dissociadas, você não tinha claro que eram todas as plataformas, todo o conteúdo feito por uma mesma empresa, agora parece que isto está mais claro.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013 | | 0 comentários

Cadê a notícia???

Eu já vi jornal poluído visualmente, mas igual ao alemão "Bild" é difícil:



segunda-feira, 9 de setembro de 2013 | | 0 comentários

O exemplo de "O Globo"

Diante dos gritos "A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura!", que se ouvem nos protestos de rua, a reação esperada de um grande órgão de imprensa seria: 1) ignorar a provocação; 2) desmenti-la; 3) tentar justificar-se.

No domingo passado, as Organizações Globo surpreenderam ao não fazerem nada disso. O jornal "O Globo" publicou um editorial no qual reconhece que o apoio dado ao golpe militar de 1964 foi um erro.

"De fato, trata-se de uma verdade, e, também de fato, de uma verdade dura", admite o jornal. O editorial cita o contexto da época - Guerra Fria, radicalização do governo João Goulart e a promessa dos militares de que seria uma "intervenção passageira" - para justificar o apoio dado ao golpe, chamado por muito tempo de "revolução".

O "Globo" fez questão de sublinhar que, ao concordar com a intervenção militar, estava "ao lado de outros grandes jornais, como 'O Estado de S. Paulo', ‘Folha’, 'Jornal do Brasil' e o 'Correio da Manhã'". De fato, dos grandes periódicos, só a "Última Hora", de Samuel Wainer, ficou ao lado de João Goulart.

Só que o "Globo" deu apoio à ditadura praticamente até o fim, o que o jornal admite, embora ressalve que "sempre cobrou (...) o restabelecimento, no menor prazo possível, da normalidade democrática".

(...) É a primeira vez que se vê tamanho ato de contrição na imprensa brasileira. Trata-se do principal conglomerado de mídia assumindo um erro editorial - não de informação - sobre um momento decisivo da história recente do país.

(...) Não importa tanto se há interesses outros nessa autocrítica, feita às vésperas dos 50 anos do golpe, ou se havia muito mais para ser dito. O principal é perceber que se está dando uma satisfação ao público, que hoje, graças às redes sociais, tem uma capacidade inédita de expressão - e de pressão.

É um primeiro passo no longo caminho para a transparência, que passa pelo respeito ao "outro lado", pela obsessão com o equilíbrio, pelo reconhecimento rápido dos erros cometidos e por canais que permitam uma crítica constante.

Quem sabe "o futuro já começou", como diz o slogan de fim de ano da emissora.

Fonte: Suzana Singer, “Fantasmas do passado”, Folha de S. Paulo, 8/9/13.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013 | | 0 comentários

Lembranças do jornal

Diz um ditado que "recordar é viver...". Pois bem: eu estava anteontem à noite fazendo uma pesquisa nos arquivos digitais do "Jornal de Limeira" (disponível a partir de 2007) e me deparei com várias edições que coordenei como editor-chefe.

Naturalmente, muitos fatos me vieram à mente. Tive um sentimento de dever cumprido, de satisfação pelos trabalhos realizados. 

Em particular, gostava muito de elaborar as primeiras páginas do jornal. Era ali que eu dava "a minha cara" para a edição. Nem sempre era possível ousar, mas às vezes a ocasião permitia (e exigia). 

Separei, do ano de 2007, algumas primeiras páginas que planejei (a execução, como é natural na imprensa, foi trabalho de uma equipe) e das quais me orgulho:






PS: lembre-se - para analisar as primeiras páginas - que existe a "dobra", ou seja, a parte de cima é a que fica exposta na banca.

Em tempo: já escrevi no blog sobre o desejo de fazer um jornal diferente. Mostrei exemplos do que penso. Infelizmente, "comprar a ideia" exige coragem e visão. 

Vejo, porém, com orgulho que seis anos atrás fiz algo diferente, que saiu da mesmice. Claro que são ideias já antigas, mas vale como registro.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013 | | 0 comentários

O dia em que o papa morreu (e a lição de Ratzinger)

Lembro bem da cobertura que coordenei - como editor-chefe do "Jornal de Limeira" - a respeito da morte do então papa João Paulo 2°.

Tendo o terceiro mais longo pontificado de todos os tempos (27 anos), ele vinha apresentando piora do seu estado de saúde mês a mês. Diante disso (não estranhe, a imprensa funciona assim), havia dois anos que o JL tinha adquirido da Agência Estado um caderno especial para a ocasião da morte do pontífice. 

Na Páscoa de 2005, em 27 de março, o papa apareceu muito debilitado. Católicos ficaram assustados. Cresciam os rumores a respeito de sua frágil saúde. Jornalistas de todo o mundo dirigiram-se para o Vaticano. Nos dias seguintes, a angústia aumentava diante das escassas informações oficiais e da boataria reinante. 

Até que chegou a sexta-feira 1° de abril. Diante das informações que recebíamos sobre o papa, convoquei uma reunião no jornal e tomei a decisão: era hora de montar o caderno especial. E assim foi feito.

No sábado, 2, segui minha rotina: cheguei no jornal por volta de 8h30 e iniciei o fechamento da edição dominical. O dia avançava e nada de oficial a respeito do papa. Ainda na sexta-feira, alguns veículos de imprensa chegaram a anunciar a morte do religioso, mas depois tiveram que desmentir.

O trabalho no JL se aproximava da finalização. Todas as páginas já estavam fechadas, como se diz no jargão jornalístico, e restava apenas a primeira página para ser montada, a mais importante de um jornal. Era por volta de 16h30. Foi quando a TV anunciou: o papa morreu.

Minha reação, embora mórbida, saiu espontânea: "Graças a Deus! Na hora certa". Lembro que a este infeliz comentário, acrescentei: "Coitado dos colegas na Itália. Lá são mais de nove da noite e os jornais estão praticamente fechados. Vão ter que mexer na edição...".

Lendo agora parece frio e calculista, mas acredite: nós, jornalistas, na lida diária, somos assim muitas vezes.  Editar um jornal tendo a pressão do tempo não é tarefa fácil.

O caderno especial do papa foi uma surpresa para os leitores e um "gol" marcado perante a concorrência, que não tinha material semelhante. A primeira página do jornal, planejada com calma e especialmente para a ocasião, foi das mais bonitas que já elaborei. Bela e serena, como a ocasião exigia e o papa merecia (infelizmente, o arquivo digital do JL disponibiliza as edições a partir de 2007).


Em poucos dias, o mundo assistia à ascensão de um novo papa. Para mim, fato inédito: nunca tinha acompanhado um conclave (o processo secular pelo qual um novo pontífice é escolhido). O cardeal alemão Joseph Ratzinger, então chefe da Congregação para a Fé, um dos braços mais importantes e poderosos da Igreja Católica Romana, iniciava seu papado como Bento 16.

***

Toda esta história me veio à mente em razão da surpreendente notícia da renúncia de Ratzinger ao papado nesta segunda-feira (11/2).

Eleito papa aos 78 anos (e prestes a completar 86), Ratzinger foi considerado - já em 2005, ano de sua eleição - um pontífice de "transição". Era uma escolha proposital da Igreja: após um papado de um quarto de século, portanto muito marcante, era necessário um período mais brando até que um outro pontífice pudesse dar novas marcas ao catolicismo. 

A missão de Ratzinger, portanto, era levar a Igreja adiante sem muitos percalços.

Bento 16, porém, deixará seu pontificado com marcas fortes: a principal delas é o reforço dogmático e da fé. Natural para alguém oriundo justamente do braço da Igreja responsável por resguardar estes dois aspectos. 

Considerado conservador, o papa que agora renuncia fez questão nos seus oito anos de pontificado de reforçar princípios da Igreja Católica.

Quando se esperava abertura, ele acentuou a clausura. Criou polêmica ao assumir tal postura. 

Pode-se até discordar dele, mas não se pode dizer que tenha fugido aos seus princípios. Fez certamente o que dele se esperava quando foi eleito.

Análise teológica à parte, eu passei a admirar Ratzinger como ser humano em razão da renúncia. Ou mais precisamente em razão da coragem, firmeza e humildade para reconhecer sua fraqueza diante da missão que lhe cabia. 

Não é pouca coisa. Para alguns desavisados, pode parecer fraqueza o que, na verdade, foi um ato de grandeza.

Poucos homens são capazes de tal atitude, a do desprendimento. Principalmente quando se ocupa um dos postos mais poderosos do mundo, o de chefe de Estado respeitado por todos os demais e o de líder de bilhões de católicos ao redor do globo.

Abrir mão do "trono de são Pedro" fez de Ratzinger, sem dúvida, mais humano (a infalibilidade papal é um dos dogmas da Igreja Católica). Talvez seja essa uma das suas principais contribuições como papa. A lição está dada.

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A vez do leitor (?)

O "New York Times" anunciou na quinta-feira passada que, pela primeira vez em sua história, a receita de circulação ultrapassou a obtida com a publicidade. A ombudsman de lá saudou: "Aviso ao leitores: vocês importam. E importam agora mais do que nunca".

(...) A verdade é que, apesar de comemorarem as vultosas cifras de audiência on-line, os jornais ainda não descobriram o tamanho real do seu público na internet, aquele que, interessado em informação, acharia justo pagar por ela. (...)

Fonte: Suzana Singer, “A luta do momento”, Folha de S. Paulo, Poder:  Ombudsman, 10/2/13.

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terça-feira, 29 de janeiro de 2013 | | 0 comentários

Um outro jornalismo possível

Andei relendo alguns materiais antigos e encontrei uma edição do “Philadelphia City Paper”, de setembro de 2009. Trata-se de um jornal diferenciado, que foca em dicas de lazer e entretenimento e traz grandes reportagens. A matéria principal da edição do dia 9 – intitulada “No justice, no peace” – abordou a experiência de um jornal alternativo chamado “The Defenestrator”.


A publicação alvo da reportagem é de cunho anarquista. Isto, no país mais capitalista do mundo, soa como uma aberração, uma desconformidade. Sob um determinado ponto de vista, claro. Porque, sem dúvida, trata-se de uma experiência rica e inovadora. Um jornal feito pela comunidade, sem foco mercadológico, discutindo temas de interesse da comunidade – questões que geralmente passam alheias à chamada “grande imprensa”, seja por uma visão obtusa ou por falta de interesse mesmo.

Não conhecia o “City Paper” muito menos o “Defenestrator”. Este, fique claro, não o vi nem o li. Já o primeiro tive contato e posso garantir: trata-se de uma iniciativa bastante interessante. Não é um jornal tradicional, com notícias quentes do dia anterior, as chamadas “hard news”. Está mais para uma revista – tanto pelo formato quanto pelo conteúdo.

O “City Paper” vale a leitura. O texto principal, sobre o “Defenestrator”, por exemplo, faz uso de recursos do chamado “new journalism” – o “novo jornalismo”. Para apresentar a publicação anarquista, a reportagem acompanhou uma espécie de protesto que distribuía comida grátis, fruto de um movimento intitulado “Food not bombs”.

Após narrar em detalhes personagens e situações do protesto, a matéria trouxe a questão: como as pessoas foram mobilizadas para participar? Num mundo em que as redes sociais exibem grande poder de mobilização, aquelas pessoas estavam lá porque viram no jornal. Não nos jornais tradicionais da cidade e sim numa publicação um tanto tosca, em preto e branco, chamada “The Defenestrator”.

A seguir, reproduzo trechos do início da reportagem (disponível só em inglês). Ela pode ser lida na íntegra no link já disponibilizado nesta postagem.

They're supposed to be there at 7:30 p.m., but on Aug. 17, by 7:45, there are very few people in front of the Free Library's Central Branch, and for very good reason: Somehow the sun remains sweltering hot despite its gradual progression toward the horizon over the Art Museum. Still no one by 7:50. Drifters seem to muscle through the broil to reach the library's luxuriously frigid, conditioned air.

Right around 8 p.m., just before the impulse to flee has all but played out, a lithe, white, cute hipster shows up in beat-up gray Chuck Taylors, long cutoff jean shorts, a tight yellow T-shirt and a green trucker cap. She's grinning wide and awkwardly cradling a giant plastic bowl that even from 100 feet away appears to be splashed with red sauce. As she approaches a park bench in the grass, more young people draw near, maybe 15 total, emerging from the 19th Street side of the library. They all carry food. The scene begins to play out:

First the front door of the library opens and a gray-haired dude - Caucasian, unwashed and unshaven - comes striding out toward the bench, staring intently at it with wide, dark eyes. A few more people trickle out from inside the library. The door closes and then opens again as more people exit. From the other side of the bench a tattered squadron steps in weird unison, some limping, some stepping faster, close to a jog, toward what one could imagine looks aerially like a vortex of men and women all converging on one spot to get what turns out to be a spatula full of vegan spaghetti each, some potatoes and a ripe orange served on a paper plate.

They eat using plastic forks. At least 100 people arrive to feast and no one pushes, no one raises their voice and, in fact, the whole scene is surprisingly silent - the only sounds coming from mouths chewing and shoes walking, first toward the bench and then, after they've received their meal, toward spots on grass and concrete. They eat in peace and chew and sit quietly, if only for a few moments, before they either depart or get up with a clean plate to ask for seconds. They'll receive it if they ask; there's plenty to go around.

This gathering has a name: Food Not Bombs. It's a type of franchise activism initiated in Cambridge, Mass., to protest war, poverty and needless excesses. (...) Their goal is to serve free, fresh-made vegan fare to anyone who wants it, and to encourage the poor and homeless to gather and hang out and maybe even germinate ideas for personal and collective growth.

The Web provides ample opportunities to advertise gatherings like this, but ask anyone here how they discovered the free food and they'll likely say one of two things: "My friend told me," or "I read it in the newspaper."

The "newspaper" is not the Inquirer or the Daily News or even City Paper, but a printed anarchist publication called The Defenestrator. It is a stark, black-and-white newsprint publication distributed for free in independent shops and meeting places along Lancaster and Baltimore avenues in West Philadelphia, and at a few places within tentacle reach of South Street's business district.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012 | | 0 comentários

"Os jornais vão, sim, acabar"

Podem me chamar de Cassandra. Eu não ligo. Essa figura mítica grega, a quem Apolo ensinou os segredos da profecia, passou a ser tida por louca quando tentou comunicar aos troianos suas previsões de catástrofe e desgraças, todas realizadas.

Depois que Cassandra se negou a dormir com Apolo, o deus vingativo lançou-lhe a maldição de que ninguém jamais viesse a acreditar na profetisa.

O nome de Cassandra surgiu na semana passada no debate promovido pelo jornalista Alberto Dines durante o programa "Observatório da Imprensa", na TV Brasil. A discussão era a morte dos jornais, assunto que voltou à baila com a recente extinção do paulistano "Jornal da Tarde" e com a decisão da revista norte-americana "Newsweek" de prosseguir atividades apenas on-line, não mais em papel.

Escrevi que podem me chamar de Cassandra, pois minha previsão é que os jornais vão, sim, acabar. Aliás, já estão acabando. Centenas sumiram nos últimos anos. Sinto muito, pois eu adoro jornais. Além disso, eles têm uma função política fundamental na defesa do interesse público e na sustentação da democracia, frequentemente superior ao desempenho de outros meios de comunicação especializados em notícias ligeiras, com pouca investigação.

Mas os tempos são de mudança. Quem quer comprar um jornal que não traz o resultado da eleição norte-americana, ocorrida na véspera? Quem, entre os usuários da internet, quer abrir mão de enviar artigos por e-mail, compartilhar notícias em redes sociais, comentar ou discutir um texto com o seu autor on-line, consultar arquivos na hora? Os jovens é que não são.

Ainda tenho o fetiche de empunhar um jornal e sentir o mundo nas mãos. Gosto da sua organização, da sua periodicidade, do seu material. Cresci com eles ao meu redor. Leio diariamente, com prazer e afinco.

Mas vejo que existe hoje um fetiche bem maior por iPhones, iPads, Galaxys e similares. Todos eles suportes possíveis para o bom jornalismo.

Então prever o fim dos jornais não é sinônimo de prever o fim do jornalismo, bem entendido.

Não faço parte das turmas que tentam vender a ideia de que jornalistas são dispensáveis num mundo em que qualquer um pode publicar o que quiser na internet.

O que me salta aos olhos na internet são outros mitos gregos: Eco e Narciso.
Narciso é um jovem magnífico que se apaixona pela própria imagem refletida na água. Acabou consumido pelo amor próprio e se tornou o nome da flor encontrada onde ele desapareceu.

Somos todos Narcisos no Facebook, no Orkut ou no Instagram, quando publicamos fotos dos nossos sorrisos e melhores momentos.

Eco é uma ninfa que amava os bosques e os montes, mas tinha um defeito: falava demais e sempre queria ter a última palavra em qualquer discussão.

Como Eco fez o papel de distrair Hera enquanto Zeus se divertia com outras ninfas, ela recebeu um castigo. Perdeu o direito à própria voz, que tanto amava. Foi condenada a repetir eternamente a última palavra do que os outros falassem.

Pois são muitos ecos que encontro no Twitter e em outras redes sociais. Repetições contínuas, em vez de um mar de palavras originais.

Fonte: Marion Strecker, “Três mitos gregos”, Folha de S. Paulo, Tec, 12/11/12, p. F6.

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quinta-feira, 8 de novembro de 2012 | | 0 comentários

O futuro dos jornais, por David Carr

Talvez mais conhecido por sua participação no Page One, um documentário sobre o New York Times, o jornalista David Carr passou os últimos 25 anos investigando as interseções entre mídia e negócios, cultura e governo. Colunista do New York Times desde 2002, Carr sabe uma coisa ou outra sobre a faceta mutável do jornalismo - e tem predições sobre o rumo da atividade no futuro.

Ele compartilhou essas reflexões com uma sala cheia de aspirantes a jornalistas e profissionais da imprensa no Centro Belo para Novas Mídias da Universidade do Texas na quarta-feira, 24 de outubro. Carr esteve no campus para apresentar a a Aula Magna Mary Alice Davis de 2012 sobre Jornalismo, intitulada “Apertando o botão reset” na qual ele alerta que a velha guarda do jornalismo está mudando.

“Você se imagina explicando a alguém o que é um jornal?”, perguntou Carr ao público. “Pense em daqui a 20 anos. ‘Eu costumava pegar e jogar no quintal das pessoas. E era assim que recebíamos as notícias!’”

Segundo Carr, sua cadeira não treme mais às 22h, quando as impressoras da gráfica começam, porque os escritórios do New York Times mudaram. As pessoas podem facilmente juntar matérias por causa do tempo muito curto de resposta online. Redatores raramente falam uns com os outros na redação porque todos têm um computador.

“Ninguém mais tem uísque em cima da mesa mais, e poucos ainda fumam” disse Carr.

Embora seu discurso tenha sido temperado por tiradas irônicas e piadas sarcásticas, Carr deixou claro que acredita que o jornalismo fará a transição do impresso para o digital. E, com quase 400.000 seguidores no Twitter, o próprio Carr fez a transição de forma suave.

“Em quase um ano por aqui, comecei a entender que o valor real desse serviço é ouvir a uma voz coletiva conectada”, disse ele no Page One. “A mídia não foi a mensagem. As mensagens são a mídia.”

(...) Carr também falou sobre paywalls, eleição presidencial, a crescente obsolescência das redações e o futuro do New York Times.

Sua conclusão final: o jornalismo está mudando porque nós estamos mudando, mas a mudança não importa de verdade. Enquanto jornais imprimem cada vez menos cópias, disse ele, isso não vai impedir as notícias e o New York Times de sobreviver à transição.

“Informação de boa qualidade, rápida e produzida de forma memorável nunca sairá de moda”, disse Carr.

* Este artigo originalmente foi publicado em 26 de outubro, na revista dos alunos da Universidade do Texas em Austin de 2012, The Alcalde, impressa pela Texas Exes. A autoria é de Kelsey McKinney. 

Fonte: Daniel Guerra/IF, "Mudanças na mídia não acabarão com as notícias: David Carr, do New York Times, fala sobre o futuro do jornalismo", blog Jornalismo nas Américas, Knight Center for Journalism in the Americas, 29/10/12.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012 | | 0 comentários

A sobrevida do jornal (e o futuro dos jornais)

O "Financial Times" iniciou sua impressão na Lapa, zona oeste de São Paulo, um mês atrás. Não é o único título de alcance global que quer chegar em papel ao consumidor brasileiro.

Agora também o "New York Times" planeja publicar aqui seu título no mercado externo, o "International Herald Tribune". Também quer impressão em São Paulo.

(...) John Ridding, presidente do jornal britânico, em entrevista em São Paulo, justificou os investimentos no país com a "ascendente classe média" e comentou, questionado sobre o futuro do papel:

"Sim, eu vejo um futuro muito bom para o impresso. O elemento central da estratégia do 'FT' é ser multicanal. Devemos estar disponíveis por qualquer canal que os leitores queiram o 'FT'. Não sou dos que pensam que uma nova tecnologia chega para matar a anterior. O que acontece é que você tem um ajuste no espectro, em que diferentes formatos se encaixam."

"O jornal tem vantagens únicas. Ele tem o que o que chamo de efeito serendipismo [a qualidade de fazer descobertas por acaso], que é muito importante para tomadores de decisão nos negócios e para líderes empresariais. Muitas vezes, com o digital, você consegue o que buscou. Mas precisa saber de outras coisas. E nos jornais pode estar lendo uma matéria aqui e subitamente notar essa ou aquela."

Duas semanas após o lançamento do "FT" por Ridding e uma semana após o anúncio do "NYT" em português pelo presidente Arthur Sulzberger Jr., surgiu em São Paulo o presidente do maior jornal em língua inglesa no mundo, o "Times of India".

Ravi Dhariwal não anunciou edição nem site para o Brasil, mas reafirmou que a estratégia é seguir no papel, ao contrário do que começam a fazer na Europa e nos EUA. A seu ver, um erro.

***

O que "FT" e "NYT" vêm buscar aqui, também aquilo que torna tão resistente o "Times of India" de papel, é o crescimento do poder de compra nos emergentes, com a nova classe média.

Os dois contrastam com o fim do "Jornal da Tarde", na quarta, e do "Jornal do Brasil" impresso, há dois anos. Indicam que aqui a crise é menos do jornalismo impresso e mais do jornalismo romântico, de meio século atrás.

Pelo que me relatou Mino Carta, seu criador, o "JT" teve "o melhor da sua existência de 1969 até 1973". Não por acaso, são os cinco anos do Milagre Econômico. O jornal refletiu uma classe média que crescia.

Mas não conseguiu o mesmo na segunda onda de ascensão social, agora, com a classe C que segue pobre, mas ganhou poder de compra. O melhor indicador é o contraste com os números do "Agora", da mesma faixa.

Ao longo da última década, a circulação do "JT" caiu, a do concorrente subiu. Mas o choque maior é na venda avulsa, em banca, aos domingos: em setembro, sua média foi de 7 mil, contra 112 mil.

Abraçado ao modelo de meio século atrás, o "JT" perdeu espaço para títulos novos, a começar do "Lance". O relato mais revelador é do repórter Josmar Jozino, célebre por ter adiantado a rebelião do PCC em 2006:

"Um dia antes, agentes penitenciários e mulheres de presos me ligaram dizendo que uns 700 tinham sido transferidos. Pensei, 'amanhã vai ter rebelião em série'. Avisei e não quiseram dar grande. No dia seguinte, umas três horas, o pessoal até brincou, 'você não disse que ia ter problema?". Quatro e meia, começou a matança."

"Eles sempre diziam que o leitor era classe B, universitário, que sua prioridade era subir mais na vida. Falavam que não queriam matéria de periferia, chegaram a dizer, 'matéria de pobre, aqui não'. Na minha opinião, foi o foco errado. O erro do jornal começou aí. Nos últimos anos, só estava preocupado em publicar, de polícia, matérias de crime a patrimônio, na área nobre da cidade".

Jozino entrou no "JT" em 2004 e já no ano seguinte começaram os grandes cortes anuais na redação. Foi demitido em 2010, quando os cortes passaram a ser semestrais. No dia seguinte, foi chamado pelo "Agora".

Fonte: Nelson de Sá, "O papel continua", UOL/Folha de S. Paulo, 5/11/12.

Inevitável questionar: a crise, afinal, é do formato ou do modelo de jornal? Do meio (papel) ou do conteúdo? Do produto ou da falta de investimento em pessoas qualificadas e trabalho de reportagem (que custa caro)?

Leia também:

- A morte de um jornal (e o futuro dos jornais)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012 | | 0 comentários

A morte de um jornal (e o futuro dos jornais)

Um dos mais respeitados veículos de comunicação de São Paulo, o Jornal da Tarde deixa de circular a partir desta quarta-feira, 31 de outubro, após 46 anos de história. O diário ilustrou a capa de sua edição de despedida com uma foto tirada do terraço do edifício Itália, um dos cartões-postais da cidade, e a frase "Obrigado, São Paulo".

Em editorial intitulado "O JT sai de cena", o jornal ressaltou seu papel na renovação da comunicação brasileira. "Desenhado para chegar às bancas no início da tarde, o JT pôde, na primeira metade de sua vida, dar-se ao luxo de funcionar na velocidade das ideias e concentrar-se com o necessário vagar no tratamento dos fatos, na avaliação do seu significado e na sua apresentação em imagens e palavras nunca antes tão cuidadosa e competentemente trabalhadas na história da imprensa brasileira", lembrou.

Conforme já havia anunciado em comunicado oficial distribuído no início desta semana, o Grupo Estado decidiu suspender as operações do JT por decisões estratégicas, passando a concentrar seus investimentos unicamente no jornal O Estado de S. Paulo. Para o diretor-presidente da empresa, Francisco Mesquita Neto, "ao longo dessas quase cinco décadas, o 'JT' foi polo de inovação e criatividade (...) com seus premiados jornalismo e design gráfico, influenciou gerações de leitores e de profissionais da comunicação, com uma grande contribuição ao jornalismo brasileiro. É uma missão cumprida".

(...) Em comentários na internet, blogueiros e jornalistas manifestaram pesar pelo fim do Jornal da Tarde. Mino Carta, idealizador do JT e atual diretor da revista Carta Capital, lamentou a notícia, em entrevista ao portal UOL. "A morte de um jornal sempre me entristece, mas, neste caso específico, eu devo dizer que me entristece em dobro, talvez ao cubo, pois foi um jornal que nasceu por obra que uma equipe que eu comandei".

"Nós revolucionamos, tanto na paginação quanto no texto. Acreditávamos que o jornalismo era uma forma de literatura, coisa que se perdeu no jornalismo brasileiro. Achávamos que a investigação era fundamental, que reportagens bem trabalhadas e profundas eram fundamentais para o êxito do jornal", acrescentou.

(...) Para o jornalista Mauro Cezar Pereira, o fim do JT é um indício da falta de sintonia entre o papel dos jornais e os novos tempos. "Não sei se a web vai 'matar' o jornal impresso. Sei que a notícia no papel precisa ser apresentada de outra forma, o enfoque não pode continuar frio, burocrático. E isso é urgente. Hoje, por exemplo, Folha e Estadão deram como manchete que Haddad é o novo prefeito de São Paulo. É que podemos chamar de notícia velha", comentou.

Fonte: Natalia Mazotte, "Jornal da Tarde, que revolucionou a imprensa de São Paulo nos anos 70, deixa de circular", blog Jornalismo nas Américas, Knight Center for Journalism in the Americas, 31/10/12.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012 | | 0 comentários

O jornal

O jornal - aquele relatório diário da estupidez e da genialidade da espécie - nunca antes deixara de sair. Agora, sumira do mapa.
Tom Rachman, "Os imperfeccionistas" (p. 377)

domingo, 20 de maio de 2012 | | 0 comentários

Jornais sem novidade

Sou um leitor assíduo de jornais – não, não sou da geração “y”. Meu nível de conexão com as redes sociais é baixíssimo (não tenho Facebook, Twitter, Orkut, nada dessas ferramentas que só nos desviam o foco, arrumam problemas por causa da “bisbilhotice” alheia e servem para quem quer ficar procurando “tilangos” e “tilangas” ou “amigos” virtuais).

Fiz esta introdução inútil para deixar claro que não sou um usuário inveterado da Internet. Esta observação é importante para o que pretendo comentar. Como leitor de jornais, tenho percebido certa inutilidade de muitas páginas (e não são de classificados...). Vou tentar ser mais claro: grande parte das notícias que recebo diariamente não me interessa (nem aos meus pais, que compartilham os jornais comigo). Pouco se salva em cada edição.

Notícias como “Aumenta a procura por peixes na Quaresma” ou “Finados deve atrair 20 mil aos cemitérios” não fazem mais sentido no mundo de hoje. Tenho focado minha leitura em análises (editoriais, opiniões, etc) e eventuais “furos” de reportagem (sejam denúncias relevantes ou histórias exclusivas, bem escritas e bem contadas).

O que isto significa? Que a maior parte do noticiário está disponível na Internet. Somos bombardeados a cada minuto por uma quantidade enorme de informação. E os jornais continuam reproduzindo – no dia seguinte! - muito do que já está nas redes, tornando-os quase desnecessários. Se continuarem assim, vão acelerar as previsões apocalípticas sobre o meio.


Recentemente, estive nos Estados Unidos e percebi como os grandes jornais (“The New York Times” e “Washington Post”, por exemplo) reduziram o tamanho de suas edições, principalmente durante a semana. Lá, onde o acesso aos aparelhos móveis e à banda larga é infinitamente maior que no Brasil, a crise na mídia impressa é séria e já causou falências e centenas de demissões (talvez milhares).
 
Trata-se, então, de um caminho sem volta?

Não, ao contrário. Encontrei nos jornais norte-americanos boas histórias, daquelas que não aparecem facilmente em todos os sites (ou em qualquer site). Ou as mesmas histórias, contadas de um jeito diferente, sob um prisma novo. É uma reação às mudanças, uma tentativa de sobrevivência.

Além disso, permanecem as análises de conjuntura e as crônicas. Este tipo de material não se encontra por aí, reproduzido aos montes em qualquer site de notícias. Já as informações sobre a “procura por peixes na Quaresma” ou o “público do Finados” podem ser lidas em qualquer lugar.

Caros colegas jornalistas: não entendam esta manifestação como crítica ou ressentimento porque deixei a mídia impressa há três anos. Ao contrário: abri este texto deixando claro que sou um leitor assíduo de jornais. Formei-me profissionalmente dentro de uma redação de veículo impresso, algo de que me orgulho. Nutro o maior respeito pelo meio.

Busco apenas fazer uma análise sincera do meio (e muito do que escrevi sobre os jornais e revistas vale também para a TV, cujo noticiário do dia-a-dia é praticamente igual em qualquer canal e sem novidades em relação ao que já se viu na Internet).

Onde estão as grandes reportagens, as boas histórias, os bons textos, as belas imagens? Isto atraiu, atrai e atrairá sempre leitores e telespectadores.

(Em tempo: isto exige investimentos em profissionais de qualidade e em infraestrutura.)

Tenho um projeto de jornal um tanto ousado. Ele focaria justamente nestes pilares que aqui mencionei – “fait divers” em pequenas colunas, as notícias do dia-a-dia em pequenas colunas, restando espaço para prestação de serviços (excluindo loterias, previsão do tempo e afins, disponível em qualquer site de notícias), boas reportagens sobre figuras e acontecimentos que fogem da pauta tradicional e eventuais denúncias, com investimento forte em apuração e pesquisa.

Confesso que não sei se há espaço para isso ainda. Tenho notado um certo receio dos donos de jornais em mudar o atual formato, que vai sobrevivendo às custas do baixo nível de educação do brasileiro e da banda larga de péssima qualidade que temos no país. Quando tudo isto mudar, acredito que as cenas vistas nos EUA, onde as pessoas lêem as notícias preferencialmente pelo celular ou tablet, vão se repetir por aqui. Aí, os jornais terão mesmo que se reinventar ou caminharão paulatinamente para o abismo anunciado.

PS: a foto - bastante significa - que ilustra esta postagem foi tirada no metrô de Nova York.

* Mais sobre este assunto neste blog:




  

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012 | | 0 comentários

“Leitor 'se engaja' mais na notícia impressa”

Um estudo da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, levantou que um leitor de jornal em papel retém mais que um leitor on-line.

Intitulado "Medium Matters" - "questões de meio" em uma tradução mais literal ou, em trocadilho, "o meio importa"-, é uma análise sobre o "engajamento com jornais" nos dias de hoje.

Em suma, diz o estudo, "os leitores on-line tendem a escanear os textos, enquanto os leitores de impresso tendem a ser mais metódicos".

Mais especificamente, o leitor do "New York Times" impresso recorda em média "significativamente mais notícias" (9,6) que o leitor do site do jornal (7,3). Ele também relembra "significativamente mais tópicos" (4,2) que o leitor on-line (2,8). Por tópico, o levantamento entende a essência de cada texto.

Também quanto aos pontos principais - ou seja, os trechos importantes distribuídos ao longo do texto- o leitor do jornal impresso recorda mais (4) que a pessoa que lê na mídia on-line (2,8).

O único empate na comparação entre papel e site acontece na lembrança de títulos, mais superficial.

A pesquisa registrou o comportamento de 45 estudantes da própria universidade, na grande maioria (77%) habituados a obter suas notícias via internet. Eles foram divididos em dois grupos, para a leitura monitorada das versões em papel e on-line do "New York Times".

Arthur Santana, um dos três autores da pesquisa e que foi repórter e editor do "Washington Post", avisa que os resultados em nada alteram "o que está ocorrendo com os jornais, ao menos neste país [EUA], onde prosseguem em declínio gradual".

O pesquisador não acredita que esses resultados sejam indicação de que "os jornais ainda têm uma função útil e necessária". Santana afirma, entretanto, que "é importante", inclusive para os próprios jornalistas, "saber e compreender".

CONCENTRAÇÃO
A principal explicação para a diferença na retenção seria que um site não apresenta as notícias com a gradação de importância que o papel apresenta. Não dá tantas "indicações de ênfase" ao leitor e, assim, acaba por não cumprir a "função de estabelecer agenda", característica histórica dos jornais impressos.

O levantamento da Universidade de Oregon também "demonstra que o desenvolvimento de formas dinâmicas [de edição nos sites] teve pouco efeito" no sentido de melhorar a retenção.

Arthur Santana lembra Nicholas Carr, autor de "The Shallows" -"os rasos", obra traduzida no Brasil como "A Geração Artificial" (editora Agir). O livro questiona os efeitos da internet sobre a capacidade de "concentração e contemplação".

Para o pesquisador, as próprias pessoas hoje se condicionam a ler "apressadamente, dispersamente, desengajadamente", seja como for.

COEXISTÊNCIA
Para Jack Shafer, crítico de mídia da agência de notícias Reuters, "embora o número de leitores testado seja pequeno, o estudo confirma meu viés de que o impresso é superior".

Shafer passou um ano sem ler a versão impressa do "New York Times", acreditando que não era mais necessário, pois o site já se mostrava superior. Voltou a assinar quando começou a sentir "falta das notícias". Ele diz que gastava horas no site, mas "não lembrava", pois a leitura on-line "havia afetado minha capacidade de retenção".

Apesar de ter recuado ao experimentar ficar sem ler no papel, Shafer diz não ser "nenhum ludita", referência ao movimento que reagiu às máquinas nas fábricas têxteis inglesas, no século 19, durante a Revolução Industrial.

"Você não pode pesquisar em papel e você só tem acesso a um punhado de edições de fora da cidade, no dia em que são publicadas; portanto, fico contente que os dois meios coexistam."

Na publicidade, pesquisa indica efeito semelhante

Um segundo estudo dos autores de "Medium Matters", intitulado "Advertising Affinities" -"afinidades de publicidade"-, obteve resultados semelhantes quanto à retenção. O leitor do impresso recorda, em média, 1,3 anúncio publicitário, enquanto a pessoa que lê a publicidade on-line recorda 0,7.

Segundo Arthur Santana, um dos pesquisadores da Universidade de Oregon, um motivo é que os anúncios impressos "são estáticos, não mudam, enquanto no on-line têm natureza efêmera".

O mesmo grupo de pesquisadores se prepara agora para estender o estudo a tablets e smartphones, "especificamente iPad e iPhone, porque todo mundo parece ter um".

Questionado, Santana arrisca que, "em linha com a pesquisa, minha teoria seria que as pessoas que leem suas notícias via iPad e iPhone têm a mesma taxa de retenção dos que leem num laptop ou num desktop".

Em outras palavras, "a imprensa deve continuar sendo um meio melhor de receber e lembrar das notícias".

Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP e autor de "Sobre Ética e Imprensa", diz que "internet e tablet são completamente diferentes".

Para ele, "o tablet substitui o caminhão de entrega", ou seja, muda só a forma de distribuir. "É evidente que quem trabalha em jornal não trabalha na indústria gráfica, mas na produção de conteúdo."

Por sua própria experiência e também pela convivência com os alunos de jornalismo na USP, avalia que o tablet "está cada vez mais perto da leitura em papel e tem uma retenção e uma credibilidade equivalentes", no caso dos aplicativos de jornal.

Lembra que "o hardware ainda está na pré-história", devendo se aproximar mais e mais do ritual do papel.

Fonte: Nelson de Sá, "Folha de S. Paulo", Mercado, 29/1/12.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011 | | 0 comentários

Jornalismo pago e game-notícia

O jornalista Bill Keller liderou a construção do mais discutido modelo de negócios para a mídia no ano: o chamado "muro de cobrança" do jornal "The New York Times".

Inaugurado em março, o "paywall" do diário envolveu todas as plataformas e abriu um novo caminho para a velha discussão sobre cobrar ou não pelo conteúdo.

O pulo do gato do "NYT" foi montar um sistema flexível, que busca conciliar o modelo de assinaturas, originado do jornal impresso, com a corrida por audiência na web.

Cada internauta pode ler gratuitamente 20 textos do "NYT" por mês. A partir daí, o jornal oferece pacotes para leitores que querem ver o jornal sem restrições - o sistema contempla tablets e celulares. A assinatura começa em US$ 15 mensais (R$ 26).

O modelo, porém, tem "furos" propositais. A "home page" não é contada entre os 20 cliques gratuitos. Links colocados em redes sociais também não. Em seu mais recente balanço, divulgado no mês passado, o jornal disse ter 324 mil assinantes digitais.

"Está funcionando tão bem quanto esperávamos ou melhor", afirma Keller. Em setembro, após a implantação do novo modelo, ele deixou, a pedido, o cargo de editor-executivo do "NYT" e retomou sua função anterior, de colunista do jornal.

Folha - A era da informação totalmente gratuita acabou?
Bill Keller - Não sei se é o final de uma era, mas é certamente o fim de um mito. Os profetas da internet argumentavam que tudo era gratuito e que as pessoas não pagariam por nada, que a informação em todos os seus formatos seria livre. Mas então apareceu o iTunes e viu-se que as pessoas ainda queriam pagar por música. Desapareceu toda essa noção, que é um eco dos anos 60, de que tudo deveria ser gratuito, que o comércio é de certa maneira ilícito. É natural que as notícias sigam [esse caminho]. Isso não significa que as pessoas vão pagar por todo tipo de coisa. Jornalismo de serviço público exige muito tempo e investigação. É preciso ter advogados do seu lado. Jornalismo que exige ir a lugares longínquos e perigosos não estará disponível gratuitamente. Jornalismo muito local, aquele tipo realmente importante de jornalismo sobre o que está acontecendo na sua vizinhança, ou na capital do seu Estado, esse tipo de coisa ninguém está fazendo gratuitamente.

Em uma famosa palestra em 2007, o sr. chamou a internet de elemento de ruptura da imprensa. As coisas mudaram em que sentido desde então?

Keller - A internet mudou quase tudo na maneira como colhemos informação, como disseminamos informação e como pagamos pela informação. Ela causou ruptura de uma maneira que é ameaçadora, mas também de algumas maneiras muito boas. Nós agora usamos a internet não apenas para transmitir notícias, mas também para colher informação. Um exemplo óbvio é o da Primavera Árabe. Se só tivéssemos as mídias sociais, não seria suficiente. Mas as mídias sociais foram muito importantes em dar uma percepção do que estava acontecendo nas ruas. Algumas vezes você não tem como chegar até a rua, ir até o país. A maneira como apresentamos a informação hoje é totalmente diferente da de dez anos atrás. É mais rápido, mais gráfico, com vídeo e áudio quando achamos que eles acrescentarão algo. Todo mundo fica focado na circulação impressa, mas nós agora temos 40 milhões de usuários únicos. Estamos chegando a mais pessoas.

Fonte: Roberto Dias, “Caiu mito do jornalismo grátis, diz Keller”, Folha de S. Paulo, Mercado, 16/11/11 (para ler a íntegra, clique aqui - é preciso ter senha do jornal ou do UOL)

***

Videogame: plataforma versátil de entretenimento que pode ser utilizada em parceria com o jornalismo para noticiar acontecimentos.

A definição é do pesquisador e designer norte-americano Ian Bogost, um dos pioneiros no uso do termo "newsgames", modelo de jogo eletrônico que usa fatos em suas narrativas.

Ele é professor do Georgia Institute of Technology e fundador da Persuasive Games, que cria esse tipo de jogo.

(...) A seguir, trechos da conversa com Bogost:

Folha - Como é possível explorar jogos no jornalismo?

Ian Bogost - Os "newsgames" podem trazer ao campo do jornalismo propriedades dos jogos, como simulações de sistemas complexos e ferramentas de RPG. Além disso, indicam uma (de talvez muitas) novas formas de fazer jornalismo, além dos textos, dos vídeos e das trasmissões de áudio.

Folha - Você os vê como uma ferramenta complementar na tarefa de informar as pessoas?
Bogost -
Os "newsgames" só vão se tornar importantes se os jornalistas o utilizarem. Não estou sugerindo a substituição das formas atuais de distribuição de notícias pelos games: eles são complementares ao jornalismo tradicional. Esses jogos têm a capacidade de atrair pessoas para o conteúdo tradicional, como cartuns e charges fazem.

Fonte: Alexandre Orrico, “Game-notícia complementa o jornalismo, diz professor”, Folha de S. Paulo, Tec, 16/11/11 (para ler a íntegra, clique aqui)

sábado, 12 de novembro de 2011 | | 0 comentários

"Futuro é dos grandes jornais, diz analista"

Grandes jornais e pequenos projetos comunitários. É essa a receita de dois dos mais relevantes especialistas em mídia noticiosa nos EUA para o futuro do jornalismo.

"As questões mais sérias, de importância para o país, ainda são cobertas pelos grandes jornais, onde se faz reportagem muito bem. E há os pequenos veículos de jornalismo hiperlocal, um modelo crescente", afirmou Jan Schaffer, diretora do Instituto para Jornalismo Interativo da Universidade Americana.

"Quem está tendo problemas são os jornais regionais", disse em debate sobre o futuro da notícia no Center on Foreign Relations (Washington).

Para seu colega Tom Rosenstiel, que dirige o Projeto para Excelência no Jornalismo no Centro de Pesquisa Pew, pesquisas com o leitorado indicam que os grandes veículos se tornarão maiores.

"A concentração [de leitores] em cima vai aumentar", afirmou. "Os números indicam que há crise de financiamento, não de audiência."

Os analistas afirmam que os jornais de porte médio tendem a sobreviver apenas na versão digital, com edições dominicais impressas.

O desafio é criar um modelo rentável na transição para as plataformas digitais, onde os anúncios escasseiam e são baratos.

"No 'New York Times', enquanto quase dois terços da audiência vem das plataformas eletrônicas hoje, somente 15% da receita vem daí", diz Rosenstiel. Os dados são anteriores ao início da cobrança pelo acesso digital.

Mas ambos se dizem otimistas com a tecnologia. "Houve uma série de previsões sobre queda na qualidade, mas estudos mostram que jornalismo hoje é feito com o mesmo cuidado e as mesmas técnica de antes."

Rosenstiel e Schaffer afirmaram que, com a enorme capacidade de disseminação que as ferramentas digitais trazem, a reprodução e a ressonância do noticiário aumentaram. Por isso, disseram caber às empresas jornalísticas continuar investindo no conteúdo da cobertura.

"Falta repertório nessa cadeia de disseminação", afirmou. "Não há ainda nenhum grande site de engenharia - como o Google - investindo em bom jornalismo."

Schaffer vê um leitor mais seletivo. "O volume de informação é tamanho, há tanta coisa no meio disfarçada de notícia - campanhas políticas, publicidade -, que é preciso ter esperteza de consumidor para discernir o que é notícia de fato."

Fonte: Luciana Coelho, “Folha de S. Paulo”, Mercado, 12/11/11.