Mostrando postagens com marcador David Carr. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador David Carr. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 17 de junho de 2014 | | 0 comentários

Os jornais e o jornalismo têm futuro, diz Carr

(...) Ele (o jornalista David Carr) diz não ser pessimista em relação ao jornalismo e aos problemas que enfrenta devido à queda de circulação dos diários impressos e a competição com a internet.

"Pelo contrário, é uma época estimulante para estar no jornalismo. As pessoas vivem me perguntando se há futuro para o ofício, e eu respondo que, se alguém me dissesse há alguns anos que um blogueiro do (jornal britânico) ‘Guardian’ daria o furo do século, não acreditaria", diz Carr.

"Um fenômeno como o Wikileaks surgiu e precisou de jornais tradicionais para dar forma ao seu conteúdo. E, ainda, o dono da Amazon acaba de comprar o Washington Post'. Não me interesso tanto pelo futuro mais distante, mas sim pelo que vai acontecer agora, e o panorama é estimulante", defende.

Ativo em blog e no Twitter, por outro lado, Carr admite que há um risco na perda de leitores dos jornais impressos, embora reafirme a importância dos grandes jornais.

"Há métodos e modos de tratar certos assuntos, de cobrir os bastidores da política, que não vão ser suplantados por posts no Facebook ou tuítes. Considero ainda importante que existam grandes organizações por trás do ofício."

Para Carr, porém, discutir se o digital matará o impresso é uma abordagem equivocada. "Esses dois mundos já caminham juntos. E já há uma maneira de imaginar novas estratégias, de mudar a relação com o consumidor de notícias e com a produção de conteúdos, integrando novos atores e organizações."

Acrescenta, ainda, que considera as novas gerações muito bem informadas. "Eu convivo com gente jovem, tenho filhas, dou aulas. Eles sabem muito. Pode-se questionar a qualidade, mas não há como negar que a informação tem lugar importante na nossa sociedade", afirma.

Fonte: Sylvia Colombo, "A novela da mídia", Folha de S. Paulo, Ilustrada, 2/6/14.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012 | | 0 comentários

O futuro dos jornais, por David Carr

Talvez mais conhecido por sua participação no Page One, um documentário sobre o New York Times, o jornalista David Carr passou os últimos 25 anos investigando as interseções entre mídia e negócios, cultura e governo. Colunista do New York Times desde 2002, Carr sabe uma coisa ou outra sobre a faceta mutável do jornalismo - e tem predições sobre o rumo da atividade no futuro.

Ele compartilhou essas reflexões com uma sala cheia de aspirantes a jornalistas e profissionais da imprensa no Centro Belo para Novas Mídias da Universidade do Texas na quarta-feira, 24 de outubro. Carr esteve no campus para apresentar a a Aula Magna Mary Alice Davis de 2012 sobre Jornalismo, intitulada “Apertando o botão reset” na qual ele alerta que a velha guarda do jornalismo está mudando.

“Você se imagina explicando a alguém o que é um jornal?”, perguntou Carr ao público. “Pense em daqui a 20 anos. ‘Eu costumava pegar e jogar no quintal das pessoas. E era assim que recebíamos as notícias!’”

Segundo Carr, sua cadeira não treme mais às 22h, quando as impressoras da gráfica começam, porque os escritórios do New York Times mudaram. As pessoas podem facilmente juntar matérias por causa do tempo muito curto de resposta online. Redatores raramente falam uns com os outros na redação porque todos têm um computador.

“Ninguém mais tem uísque em cima da mesa mais, e poucos ainda fumam” disse Carr.

Embora seu discurso tenha sido temperado por tiradas irônicas e piadas sarcásticas, Carr deixou claro que acredita que o jornalismo fará a transição do impresso para o digital. E, com quase 400.000 seguidores no Twitter, o próprio Carr fez a transição de forma suave.

“Em quase um ano por aqui, comecei a entender que o valor real desse serviço é ouvir a uma voz coletiva conectada”, disse ele no Page One. “A mídia não foi a mensagem. As mensagens são a mídia.”

(...) Carr também falou sobre paywalls, eleição presidencial, a crescente obsolescência das redações e o futuro do New York Times.

Sua conclusão final: o jornalismo está mudando porque nós estamos mudando, mas a mudança não importa de verdade. Enquanto jornais imprimem cada vez menos cópias, disse ele, isso não vai impedir as notícias e o New York Times de sobreviver à transição.

“Informação de boa qualidade, rápida e produzida de forma memorável nunca sairá de moda”, disse Carr.

* Este artigo originalmente foi publicado em 26 de outubro, na revista dos alunos da Universidade do Texas em Austin de 2012, The Alcalde, impressa pela Texas Exes. A autoria é de Kelsey McKinney. 

Fonte: Daniel Guerra/IF, "Mudanças na mídia não acabarão com as notícias: David Carr, do New York Times, fala sobre o futuro do jornalismo", blog Jornalismo nas Américas, Knight Center for Journalism in the Americas, 29/10/12.

terça-feira, 10 de julho de 2012 | | 0 comentários

Novas e velhas plataformas do jornalismo

David Carr, 55, repórter e colunista de mídia do "New York Times", acompanhou nas últimas semanas o agravamento da crise nos jornais regionais dos EUA. Noticiou que o "Times-Picayune" de Nova Orleans, fundado em 1837, passaria a publicar três edições por semana, contra as sete atuais. E relatou a transformação do "U-T San Diego", de 1861, em porta-voz dos interesses comerciais de um novo proprietário.

Carr, que estará em São Paulo no próximo sábado, no congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), avalia que a imprensa americana enfrenta "ameaça existencial". (...)

Folha - Na sua cobertura, o sr. vê o momento atual como último estágio de uma era no jornalismo.

David Carr - Sim, estamos falando de uma ameaça existencial. É algo que quem ama jornais, como eu e provavelmente você, pode até torcer contra, mas realmente não se pode parar o que vem por aí... Quer dizer, eu sei que o setor de jornais no Brasil também enfrenta os seus desafios, mas está muito mais saudável do que aqui, certo?

Folha - O que o sr. vê como maior efeito dessa disrupção nos EUA? Mais "paywall"?

Carr - Acima de tudo, é a perda de potência, de músculo institucional em reportagem. Sou menos um romântico da imprensa que um fã do jornalismo e da reportagem, então o problema é que o modelo de negócios não sustenta o nível de jornalismo que havia. No mercado americano, os jornais regionais tinham um virtual monopólio e lucraram tanto que não sabiam o que fazer com o dinheiro, então enfiaram em reportagem. De certa maneira, a era de ouro do jornalismo foi anômala, em termos econômicos. Quando esses monopólios regionais foram desagregados pela internet e pela mudança de hábito dos leitores, nós já tínhamos nos acostumado a um nível de reportagem que não teremos mais.

Folha - A crise afeta os jornais nacionais, como o "New York Times", mas eles parecem ter espaço de manobra para buscar novas fontes de receita.
Carr - Temos mais espaço do que tínhamos até pouco tempo atrás. Temos flexibilidade operacional, porque estamos pagando os empréstimos e, principalmente, porque o "paywall" está funcionando. Mas estamos com um grande desafio. As pessoas ficam esperando que o mercado publicitário retorne. Não vai. Esta é a nova normalidade. Se vamos avançar para o futuro, e penso que vamos, será com uma variedade de negócios sob a marca "The New York Times". Parte será vídeo, parte será social, haverá um monte de pequenas empresas sob esta outra. (...)

Folha - Qual é a lição que o sr. tira dessa experiência com "paywall" no "NYT", em termos de fidelidade do leitor, de acesso grátis por mídia social e da simples qualidade do jornalismo?
Carr - Uma das lições é que dizem que as pessoas não vão pagar por algo que tem sido grátis: isso não é verdade. As pessoas pagam por água em toda parte nos EUA, elas querem que tenha uma certa qualidade, uma marca específica. Há pessoas que claramente já queriam pagar. A razão por que eu pago pelo acesso ao "Wall Street Journal" e ao "Financial Times" não é só achar algo neles. Se realmente quisesse, com ou sem "paywall", eu conseguiria. Mas estou disposto a pagar um valor conveniente para poder acessar quando quiser, como quiser, quanto quiser. Não é um negócio de massa. Há 300 milhões de pessoas nos EUA e meio milhão pagam pelo "NYT" na internet, portanto, não dá para dizer que seja um negócio imenso. Mas é muito real. E eu acredito que a decisão de manter os ativos institucionais nos torna capazes de cobrar pelo que fazemos. Não passamos por todos os tipos de cortes que o "Washington Post" fez.

Folha - Os tablets cumpriram a promessa que anunciavam para a mídia impressa?
Carr - Em termos de leitores, sim. Hearst, uma das grandes editoras de revistas nos EUA, está perto de 1 milhão de assinantes. O "Wall Street Journal" e o "New York Times" também têm sido felizes vendendo aplicativos. Em termos de nova oportunidade para mensagens publicitárias, creio que não aconteceu ainda. Não acho que já tenhamos solucionado. Mas posso dizer, pelos meus hábitos, que o tablet revolucionou a maneira como consumo conteúdo.

Fonte: Nelson de Sá, “Cobrar conteúdo on-line é reação a menos publicidade”, Folha de S. Paulo, 9/7/12.

Em tempo: reproduzi só alguns trechos da entrevista. Para ler na íntegra, via link, é preciso ter senha do jornal ou do UOL.