Inevitável pensar: se Maluf é ficha-limpa, então tenho licença para matar.
(Pensamento propositalmente exagerado e parcialmente inspirado no título do filme.)
* Leia também:
- Se Paulo Maluf é Ficha Limpa, tudo é permitido
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 05:15 | 0 comentários
Que país é este (e que Justiça é esta)?
quarta-feira, 11 de setembro de 2013 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 19:24 | 0 comentários
O jogo da vida
quinta-feira, 21 de junho de 2012 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 07:44 | 0 comentários
"O crime compensa?"
Há uma enorme perplexidade, sobretudo em Brasília, diante dos sucessivos erros de Lula depois de sair da Presidência e assistir, da planície, ao sucesso de Dilma no Planalto e nas pesquisas.
A aliança de Lula com Paulo Maluf, porém, tem uma lógica eleitoral (certa ou errada) e combina perfeitamente com todos os movimentos de Lula durante seus oito anos na Presidência, resumidos numa frase: vale tudo pelo poder.
Ao juntar-se a Maluf e anunciar a aliança no 'bunker' malufista, diante de uma multidão de fotógrafos, Lula sobrepôs o que considera ganhos eleitorais (quantitativos) a inevitáveis perdas políticas (qualitativas).
Explico: ele vendeu o PT a Maluf por um minuto e meio e pelo ainda forte capital de votos de Maluf em setores conservadores e na periferia da capital paulista. E deu de ombros para a evidente reação de petistas, tucanos ou marcianos.
Fazendo o cálculo, Lula concluiu que valia a pena prestar-se ao que Luiza Erundina chamou ontem de "higienização" de Maluf. A imagem do PT? Já não anda lá essas coisas mesmo desde o mensalão...
Pragmatismo em puríssimo estado, tão ao gosto de quem se atirou com tanto prazer nos braços de Collor, de Sarney, de tantos outros inimigos históricos do PT. E, quando se fala de Maluf, a questão não é ideológica, programática, política. A questão é visceralmente ética.
Registre-se, de quebra, o protagonismo de Lula e a inexpressividade do próprio candidato Fernando Haddad. Em todos os episódios, com Marta, Kassab, Maluf, Erundina, ele parece um mero figurante, de cabelo novo, roupa nova, sorriso novo e completamente dispensável - seria deselegante falar em marionete.
Um efeito prático no grave erro político do abraço a Maluf, portanto, é que Haddad vai aumentar e Lula vai reduzir a presença em cena. Nos bastidores, porém, continuará ensinando ao pupilo que o crime compensa.
Fonte: Eliane Cantanhêde, "Folha de S. Paulo", Opinião, 21/6/12, p. 2.
Marcadores: eleição, Eliane Cantanhêde, Lula, Maluf, política
terça-feira, 19 de junho de 2012 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 22:32 | 0 comentários
política com "p" (minúsculo)
PT e PSDB são faces da mesma moeda.
Há quem possa dizer que o PSDB se uniu aos “mensaleiros” do PR na capital paulista. É fato. E aí, um erro justifica o outro?
Daí a conclusão: ideologia jogada no lixo, política meramente pragmática, faces da mesma moeda.
Salve Luiza Erundina!
+++
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT), e Silvio Félix da Silva (PDT) são faces da mesma moeda.
Ou alguém há de estranhar a união de um deputado federal rotineiramente envolto em denúncias e que comanda seu partido de modo meramente pragmático e com mão de ferro com um prefeito cassado por denúncias de corrupção e que comanda seu partido de modo meramente pragmático e com mão de ferro?
Em tempo: Félix está atuando na pré-campanha de Paulinho à Prefeitura de São Paulo. Ele foi visto em evento que oficializou a candidatura do deputado.
terça-feira, 27 de julho de 2010 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 19:06 | 0 comentários
A resposta de Maluf: "maktub"
Aos 78 anos, Paulo Salim Maluf é um astro da política. Poucos fazem uso tão bem da retórica quanto o ex-governador e ex-prefeito de São Paulo. Poucos são tão inteligentes quanto ele.
Não vou entrar no mérito da atuação política de Paulo Maluf (PP-SP), até porque julgo ser desnecessário (basta lembrar qual o verbo popularmente atribuído ao malufismo). Contudo, é inegável a habilidade do hoje deputado federal e candidato à reeleição para atuar no meio político (marcado por práticas pouco republicanas).
Maluf esteve recentemente em Limeira (como faz, aliás, a cada quatro anos, sempre em época de eleição). Carregava a sua tradicional pasta, na qual guarda documentos de seus arquivos com encaminhamentos de obras e serviços em prol de cada município que visita. A pasta de Limeira já é antiga - esteve com ele em 2006 na sua última visita à cidade.
Na TV Jornal, Maluf preferiu dispensar a pasta. Ao ser alertado de que havia esquecido a dita cuja na mesa, o deputado apontou para a cabeça como quem dissesse: “está tudo aqui”. E estava mesmo. Diante de comentários de telespectadores, lembrou de encontros com os ex-prefeitos Sebastião Fumagalli e Waldemar Mattos Silveira, o Memau. Citou também os ex-deputados federais limeirenses Jurandyr Paixão Filho, o Jurinha, e Heitor Franco de Oliveira.
Antes da entrevista, Maluf baixou a guarda: “podem perguntar qualquer coisa”. Como um professor, recorreu à máxima de Chacrinha de que “quem não se comunica, se trumbica” - ainda que diante de perguntas delicadas. “Você não consegue falar com 200 milhões de pessoas de uma só vez.” Por isso, não despreza - ao contrário, valoriza - o poder dos meios de comunicação, grandes ou pequenos.
O deputado contou ter ido a uma rádio e ouvido do locutor, antes do bate-papo, quais assuntos não gostaria que fossem abordados. Citou não ter feito nenhum impedimento. Maluf faz essa aparente concessão porque sabe, de antemão, que os temas delicados de sua carreira política surgirão de qualquer maneira. Durante a entrevista, como se quisesse ser indagado sobre dinheiro fora do pais, denúncias de corrupção e ficha suja, repetiu que responderia sobre qualquer tema.
De fato, Maluf não perde a compostura. Às vezes recorre ao conhecido subterfúgio de fugir da pergunta. Fez isso quando questionado sobre quais benefícios trouxe a Limeira nos últimos quatro anos como deputado. Preferiu elogiar a deputada Aline Correa, sua colega de partido, citada como única intermediária dos pleitos limeirenses junto ao governo. Depois, emendou quase laconicamente: “o telefone do meu gabinete está à disposição...”.
Questionado sobre a assinatura junto do nome “Paolo Maluf” (assim mesmo, com “o”) que aparece na conta atribuída a ele no exterior, iniciou a resposta dizendo que nunca assina um cheque quando vai a um restaurante. Antes, havia afirmado que não é ilegal ter dinheiro fora do país, desde que a origem seja lícita e o valor declarado à Receita Federal.
Sobre o fato de ser considerado procurado pela Interpol (leia aqui), disse ter o mesmo endereço há mais de 40 anos e que não é obrigado a ir para os EUA depor. E criticou o governo por não defender um cidadão brasileiro.
E você pode estar pensando o que maktub (ou maktoub) tem a ver com tudo isso. Pois bem. Quando soube que iria entrevistar Maluf, fiquei pensando o que perguntar – afinal, ele é daqueles personagens a quem tudo já foi questionado. Sobre o tal “se o Pitta não for um bom prefeito...”, já falou centenas de vezes.
Até que uma curiosidade me veio à mente. Algo sobre o qual nunca ouvira Maluf falar. O que um político experiente como ele sente ao lembrar que quase foi presidente da República, que perdeu a eleição no colégio eleitoral aos 45 minutos do segundo tempo? Como um homem reage ao ter perdido a oportunidade de comandar o país, uma chance que Maluf sabe ter sido única em sua vida, o sonho de qualquer político?
A resposta foi: “maktub”. “Eu sou libanês e em árabe existe uma palavra: maktub. Ela quer dizer a carta, mas tem um outro sentido, o de estava escrito. É isso, estava escrito”, disse, resignado. Comentou que um conhecido certa vez lhe dissera que se tivesse escolhido o hoje presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AL), como candidato a vice em sua chapa, teria sido eleito. “Mas estava escrito que o presidente da chapa do Sarney ia morrer”, citou, referindo-se a Tancredo de Almeida Neves, presidente eleito que morreu dias antes da posse, abrindo espaço para Sarney, o vice que virou presidente.
Apesar do maktub, Maluf fez questão de observar que “estava mais preparado para ser presidente do que o Sarney”.
Já fora do ar, o deputado assumiu novamente tom professoral ao responder outra dúvida minha: afinal, quem ou o que o tira do sério? “Vou lhe dizer uma coisa: as pessoas não estão nem um pouco interessadas no mérito do que eu estou respondo. Estão prestando atenção no modo como eu estou dizendo. Se eu respondo com tranquilidade, sorridente, gostam do que eu digo. Se respondo com agressividade, não gostam. Por isso, nunca trato mal nenhum repórter”.
E Maluf se foi. Não sem antes dar nota dez a Lula como pessoa e nota 5 ao seu governo. “O governo dele é medíocre”.
Em tempo: o deputado prometeu voltar à TV Jornal em dezembro, mas é mais certo que retorne mesmo em 2014...
Marcadores: eleição, entrevista, Maluf, política
domingo, 21 de março de 2010 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 19:13 | 0 comentários