sexta-feira, 26 de junho de 2009 | | 2 comentários

Sobre Michael Jackson

Confesso que nunca fui fã de Michael Jackson. Isto não significa que não admirasse sua qualidade artística – que ia muito além do que o rótulo de "pop star" pode supor. Apenas não era fã na pura acepção do termo (ou seja, aquele que acompanha a carreira do artista, sabe muito sobre ele, etc). Apesar disso, era – e é – impossível ficar incólume sobre Michael Jackson, sua vida e, agora, sua morte.

Confesso que até este momento não tinha ideia do que escrever – primeiro porque nada me vinha à mente; depois porque considerei que minhas palavras nada acrescentariam. Fui tomado, porém, por uma imensa necessidade de registrar algo neste blog. E, após tanto ler e ver sobre a morte de Michael Jackson, decidi recorrer a dois expedientes: à memória e a palavras alheias.

Lembrei de como Michael Jackson, sua música, sua dança e seus passos estiveram presentes em minha infância. “Thriller”, seu mais famoso álbum, recorde de vendas até hoje, foi lançado em 1982 e virou uma febre. Eu tinha então 6 anos de idade. Recordo-me como se fosse hoje do misto de medo e atração que sentia ao assistir àquele clipe. Ficava fascinado e assustado com aquele clima de terror, aqueles zumbis caminhando (melhor seria dançando) em direção à câmera, em minha direção! Ainda assim, não conseguia deixar de assisti-lo sempre que meu irmão – quatro anos mais velho que eu – colocava-o para passar.

Eu provavelmente não sabia, mas via ali naquelas cenas algo diferente. O tempo se encarregou de confirmar isso.

Lembro-me também da outra febre que tomou conta da garotada: a tentativa de imitar o “moonwalk”, os famosos passos para trás de Michael Jackson. Na rua da casa do meu primo, houve até competição para ver quem fazia melhor o que Michael Jackson fazia como ninguém.

O tempo passou, eu cresci, Michael Jackson cresceu (?), vieram as acusações contra ele, seu comportamento cada vez mais excêntrico, as mudanças faciais... O tempo passou, Michael Jackson fez 50 anos e morreu. Vai-se o artista, fica o mito.

Tomo agora emprestadas as palavras de Caetano Veloso, publicadas ontem em “O Globo”, para tentar definir Michael Jackson: “Michael é o anjo e o demônio da indústria cultural. A serpente do seu paraíso e seu mártir purificador. Os talentos artísticos extraordinários frequentemente coincidem com vidas torturadas e enigmáticas. Michael era um desses talentos imensos. (...) Ele a representava (a atividade artística) em sua totalidade, fulgurantemente, tragicamente, divinamente".

PS: “Thriller” foi, sem dúvida, o grande álbum e “We are the World” a grande ação, mas guardo na memória uma outra música. Ela marcou pela alegria, pelas cores, pela batida, pela proximidade entre o mito e a realidade, pelo Brasil: “They don´t care about us” (como a incorporação do clipe foi desativada no YouTube, não é possível reproduzil-lo neste blog; para acessá-lo, clique aqui).

A seguir, uma homenagem feita pela Rede Globo ao "king of the pop".


quinta-feira, 25 de junho de 2009 | | 0 comentários

Eu erro, tu erras, eles erram...

A Globo também erra... Hehehe!

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"Go Bafana Bafana! (No matter...)"

Não, não importa. Não importa que tenha sido só 1 a 0. Não importa que tenha sido sofrido. Não importa que tenha sido com um gol de falta no final do jogo. Importa que o futebol proporcionou mais uma vez uma daquelas histórias que só ele é capaz de proporcionar.

Assistir a Brasil e África do Sul nesta tarde (horário de Brasília) foi como ver diante dos olhos um belo capítulo da história humana.

Desde que a África do Sul foi escolhida para sediar a Copa de 2010 (e o mesmo vale para o Brasil, que sediará o evento em 2014), sobram desconfianças quanto à capacidade do país de realizar um espetáculo tão importante. Desconfianças quanto ao cumprimento de prazos, à situação dos estádios, à infraestrutura das cidades... Uma pressão que só aumenta ante a modernidade vista nas duas últimas edições do torneio, na Alemanha (2006) e na Coreia do Sul/Japão (2002).

Quer saber? Que bom que foi só 1 a 0. Que bom que foi sofrido. Sem querer, isto conferiu ao espetáculo uma grandiosidade maior do que se o Brasil tivesse goleado. Tudo porque a África do Sul mostrou o seu valor, dentro e fora do campo.

Ainda que o gramado do estádio esteja ruim, ver a alegria dos torcedores é contagiante. O sorriso aberto, o colorido, a esperança e o orgulho estampados no rosto, sem contar o som das já famosas vuvuzelas ecoando por todos os cantos foi o que se pode chamar de um “dos maiores espetáculos da Terra”. Exagero? Não para quem consegue captar o sentido humano que há muito além da disputa esportiva.

Tecnologia e competência na organização de um evento como a Copa era o mínimo que se podia esperar de Alemanha, Coreia e Japão. São países ricos. A África do Sul não. Até por isso, tudo o que o país fez até agora talvez revele muito mais esforço do que os seus antecessores.

Os olhos marejados de Joel Santana, o brasileiro técnico do time anfitrião, simbolizam isso. Lágrimas contidas antes, durante e depois da partida desta tarde.

Sim, os sul-africanos estão de parabéns.

Estão mostrando ao mundo que um outro mundo é possível.

Se na hora do gol de Daniel Alves as vuvuzelas dos sul-africanos “calaram por um breve, profundo, triste, para eles, instante”, como escreveu o jornalista Juca Kfouri, elas vão ecoar por todo o sempre a partir de agora. Elas serão talvez o maior símbolo de tudo o que representa para o mundo esta Copa que se avizinha. Um mundo que, em 49 anos, investiu US$ 2 trilhões no combate à pobreza, enquanto em um ano aplicou US$ 18 trilhões para salvar o sistema financeiro, segundo relatório da ONU divulgado ontem.

Salve as vuvuzelas!

“No matter what happens we all behind you. Go Bafana Bafana!”

PS: a frase acima estava escrita em uma faixa da torcida no jogo de hoje.

* As fotos desta postagem foram retiradas do UOL.

terça-feira, 23 de junho de 2009 | | 0 comentários

Uma frase

"... Não tenho mais tempo algum, ser feliz me consome." (Adélia Prado)

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Ética em questão

Tive este semestre o desafio de ministrar a disciplina Ética e Legislação em Jornalismo para uma turma do segundo ano do Isca Faculdades (foto). Foi um imenso prazer - na medida em que ter contato com a disciplina me obrigou a refletir sobre os afazeres da profissão, principalmente nesta época de enormes desafios.

Como tarefa final do semestre, pedi que os alunos - em dupla - elaborassem um programa de rádio com cerca de cinco minutos abordando a questão ética (não necessariamente no jornalismo). Além disso, solicitei que entrevistassem profissionais da área para discutir uma série de temas.

Com as entrevistas, pretendo montar um livreto que servirá como produto da disciplina.

Foi, porém, os programas de rádio que me surpreenderam. Não que esperasse algo ruim, mas o resultado foi fenomenal (assim define o desempenho dos alunos). Alguns tiveram uma criatividade imensa (criaram uma música e até um jogo de futebol para tratar do tema). Outros optaram por um caminho mais tradicional, mas nem por isso deixaram de fazer programas de excelente qualidade.

Pretendo aqui reproduzir, aos poucos, alguns desses programas. A seguir, vão dois deles:

Por Renata Reis e Vanessa Ferreira

Por Juan Piva e Vinicius Paes

Abaixo segue a letra da música de autoria do Vinicius (cujo blog, com poemas dele, pode ser acessado aqui):

"Minhas e suas opiniões, agarradas a uma teia
De teorias e conspirações, de quem se ama ou se odeia
Mentira nua, crua e disfarçada
Felicidade vende em qualquer calçada
Alguns compram sorrisos na televisão
Pessoas fazem sexo por mera distração

Eu abro o jornal quanta publicidade
Tem sangue, bunda, moda e variedade
No caderno 6 eles só falam inglês
Vendendo alíquotas de Coca-Cola
A informação perdeu pro entretenimento
As ideologias jogadas ao vento
Agora tem espaço na coluna social
Abra um sorriso e finja que o mundo está normal

Afinal, quem são os loucos aqui?"

segunda-feira, 22 de junho de 2009 | | 1 comentários

Ainda o diploma

Uma amiga, jornalista e doutora em linguística, Érika de Moraes, escreveu um interessante artigo sobre o fim da obrigatoriedade do diploma para jornalistas. O texto foi originalmente publicado no "Jornal da Cidade", de Bauru. Quem tiver interesse em ler clique aqui.

Também recomendo a leitura de artigo publicado pelo jornalista Gilberto Dimenstein neste domingo (21/6) na "Folha de S. Paulo". Para quem quiser, leia aqui.

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As besteiras de Lula

Quem pensa que o presidente Lula não irá mais falar besteiras está enganado. Ele faz isso com mais frequência do que se imagina, seja na defesa de aliados sob suspeição (quem não se lembra do "todo mundo faz" no auge da crise do mensalão e caixa dois eleitoral?) ou nas previsões furadas (quem não se lembra da "marolinha" da crise econômica?).

Na semana passada, ante a onda de denúncias contra o Senado e o seu presidente, José Sarney, Lula elevou o acuado político (que tantas vezes o ajudou em situações delicadas, registre-se) a uma categoria diferenciada: a dos homens especiais. "Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum", disse o presidente da República.

Sarney pode até ser imortal (ocupa a cadeira 38 na Academia Brasileira de Letras), mas daí a estar acima das leis é uma invenção lulista. Aliás, com essa frase, Lula - além de, mais uma vez, defender o time dos suspeitos - demonstra desconhecer princípio básico da Constituição, que versa em seu artigo quinto que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". Desconhecer? Pensando bem, Lula também deve se considerar na categoria dos "especiais". Mas e a lei? Ora, a lei...

Não bastasse isso, o presidente do Brasil taxou, sem nenhum conhecimento de causa, que os protestos no Irã contra a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad eram choro de derrotado. "A impressão que eu tenho é a de que o protesto é de quem perdeu".

"Eu não posso avaliar o que aconteceu no Irã. Agora veja, Ahmadinejad teve uma votação de 61% ou 62%. É uma votação muito grande para a gente imaginar que possa ter havido fraude. (...) Eu não conheço ninguém, além da oposição, que tenha discordado da eleição no Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos", disse Lula, mostrando:

1) falta de bom senso: se não pode avaliar o que ocorre em outro país, fique quieto;
2) falta de informação: parte da comunidade internacional está questionando a eleição iraniana e Lula diz que só a oposição naquele país faz isso;
3) pobreza intelectual: sem melhores argumentos, recorre às já tradicionais menções futebolísticas para tentar explicar um grave problema internacional.

O presidente disse ainda que, no Brasil, contestar resultado eleitoral "está virando moda". "As pessoas que ganham as eleições perdem na Justiça e a oposição toma posse". Ora, alguém precisa avisar o chefe do Executivo nacional que a Justiça só afastou eleitos por causa de ilegalidades (e quem comete ilegalidade, salvo as figuras "especiais" criadas por Lula, deve ser punido).

Por fim, é bom avisar Lula que: 1) o Conselho dos Guardiões (órgão que supervisiona as eleições no Irã) admitiu ter havido irregularidades em pelo menos 50 zonas eleitorais; 2) ele está endossando um governo que censura a imprensa e reprime com violência a opinião alheia.

quinta-feira, 18 de junho de 2009 | | 0 comentários

Minidocumentário (mais um)

Confira mais um minidocumentário de colega do curso Jornalismo 2.0, do Knight Center for Journalism in the Americas.

quarta-feira, 17 de junho de 2009 | | 0 comentários

O diploma morreu... Morreu? E daí?

O STF acabou de derrubar, por oito votos a um, a obrigatoriedade do diploma para exercício da profissão de jornalista (leia aqui). Por princípio, sou favorável à regulamentação de toda atividade profissional. Da mesma forma, sou favorável ao diploma, embora admita que há argumentos interessantes vindos de quem pensa de forma contrária.

Não tenho a menor dúvida de que o jornalismo exige técnicas de redação específicas e estas, por enquanto, são apresentadas nas faculdades. Se as instituições estão formando bons profissionais, se as grades curriculares são adequadas, é uma outra discussão. O que não se pode é, nem de um lado nem de outro, tomar exceções como regras (o não formado que é excelente jornalista ou o jornalista que é péssimo profissional) para justificar uma posição.


Tenho um amigo publicitário que costuma brincar que é jornalista por força de liminar (e é mesmo!). Embora ele escreve muitíssimo bem, melhor até do que muitos jornalistas que eu conheço, falta-lhe (e isto não é de modo algum desabonador) a técnica jornalística para redação de uma reportagem. Da mesma forma eu não possuo as técnicas específicas para elaborar um trabalho publicitário (tenho certeza que elas existem).

Na publicidade, vemos muitas pessoas despreparadas abrindo agências e sucateando o mercado só porque sabem lidar com alguns programas de computador. O mesmo tende a ocorrer com o jornalismo. Obviamente que em cidades maiores e em empresas maiores, é praticamente inimaginável a contratação do trabalho "não profissional", mas em localidades menores isso acaba se tornando comum.

Enfim, não pretendo ser corporativista nesta discussão - ao contrário, estou buscando ouvir argumentos contrários à exigência do diploma. Só não concordo com o argumento maior usado pelo STF, o de que a Constituição garante liderdade de expressão a todos. Não é o diploma que impede qualquer cidadão de se expressar livremente; o diploma impede qualquer cidadão de exercer a atividade jornalística (e, nela, há muitas outras questões além da expressão).

A discussão está aberta e este espaço é livre para quem quiser se manifestar. As opinições serão sempre bem-vindas.

PS: nesta história toda, dois fatos chamaram minha atenção. O primeiro deles foi a discussão desencadeada na faculdade onde dou aula de jornalismo, em Limeira, tão logo o STF decidiu pelo fim do diploma. Foi um debate inteligente e pertinente com alguns estudantes e outros profissionais. Na democracia, o debate - que pressupõe confronto de ideias - é fundamental.

O segundo aspecto foi a discussão travada via Twitter. Antes mesmo do STF concluir a votação, já havia manifestações de twitters, seja emitindo opiniões, seja dando informações (como a de que no Reino Unido não é necessário diploma).

terça-feira, 16 de junho de 2009 | | 0 comentários

Mais um

Veja outro minidocumentário feito no curso Jornalismo 2.0, do Knight Center for Journalism in the Americas:

A Feira de Borough from paula goes on Vimeo.

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Para que serve o ensino médio?

Para que serve o ensino médio? Tomada assim, isoladamente, a pergunta apresentada pelo secretário da Educação de Limeira, Antônio Montesano Neto, pode soar irresponsável. Afinal, estudar nunca é demais. Considerando o contexto em que ela foi feita, porém, faz todo o sentido.

Montesano participou hoje do programa "Fatos & Notícias" (11h30-12h45), da TV Jornal de Limeira. Questionado por mim na ocasião sobre o que está sendo feito para melhorar a qualidade da educação (um desafio nacional), o secretário colocou uma série de questionamentos para concluir que: 1) o assunto é mais complexo do que se imagina; 2) antes de mais nada, é preciso deixar a hipocrisia de lado para discuti-lo seriamente; 3) ninguém ainda parece disposto a levar essa discussão adiante.

Para Montesano, que é professor de História, é preciso antes de tudo repensar todo o currículo escolar quando se pretende falar em qualidade da educação. Afinal, o mundo mudou, a sociedade vive a era da globalização e da tecnologia e não se pode continuar ensinando da mesma forma que se fazia há 2o anos com base numa grade curricular que se aplicava há 20 anos (e nem precisa ser 20 anos, basta pensar nas mudanças que ocorreram nos últimos cinco anos para se ter uma ideia da defasagem da escola em relação à realidade dos alunos).

Hoje, crianças e jovens lidam com telas de computador enquanto nas escolas (salvo raras exceções) se deparam com lousas. Hoje, crianças são estimuladas a pensar e a agir com jogos cada vez mais interativos enquanto nas escolas (salvo raras exceções) são forçadas a ficar sentadas numa carteira de modo obsoleto copiando lição da lousa. Hoje, crianças se envolvem cada vez mais com as questões da comunidade enquanto nas escolas (salvo raras exceções) ficam “trancadas” entre quatro paredes.

Diante deste contexto, Montesano disparou: “Para que serve o ensino médio? As pessoas ficam assustadas quando eu digo isso. O ensino médio hoje serve para aqueles alunos que vão fazer o vestibular. Para que estudar o Império Carolíngio? Falei com alguns estudantes italianos e nem na Itália eles estudam mais isso”.

É uma discussão provocativa e necessária – que, parece, o Ministério da Educação ainda não está disposto a travar. Talvez se possa criar, com base na manifestação de Montesano, o Movimento “Abaixo o Império Carolíngio” como base de um novo ensino. Eu iria aderir!

***

- A questão da qualidade no ensino não será diretamente tratada na Conferência Municipal da Educação, que acontece de amanhã (17/6) a sábado na Câmara de Limeira. Os quatro grandes temas a serem abordados são: ensino de 9 anos, professor substituto, jornada do professor e educação especial (inclusão).

- Segundo Montesano, o déficit de vagas para crianças de 3 a 5 anos nas creches de Limeira foi zerado. Hoje, há 700 vagas disponíveis. O problema se concentra na oferta de classes para crianças de zero a 3 anos de idade. A rede municipal de ensino tem cerca de 26 mil alunos, conforme o secretário (o número inclui as creches), além de 500 crianças que são atendidas por meio do Bolsa-Creche (Lei 3.649, de 6 de novembro de 2003).

- O projeto de criar apostilas próprias para a rede municipal de ensino, que gerou grande polêmica recentemente, foi abortado pela secretaria, diz Montesano.

PS: quem tiver interesse em saber sobre o Império Carolíngio, clique aqui.

segunda-feira, 15 de junho de 2009 | | 0 comentários

Outro minidocumentário

Segue mais um minidocumentário feito no curso Jornalismo 2.0, do Knight Center for Journalism in the Americas:

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O confronto saudável (de ideias)

Se tem algo com o que os jornais impressos ainda contribuem é o debate de ideias e visões dos fatos. Sábado (13/6) e hoje (15/6), a "Folha de S. Paulo" trouxe duas análises distintas de seus articulistas sobre o confronto ocorrido semana passada na Universidade de São Paulo (USP) entre manifestantes grevistas e policiais.

"Quando a polícia é compreendida - O que mais me impressiona nos episódios da USP não é tanto a ação policial, embora condenável. Não me impressiona pela quantidade de vezes que vi episódios semelhantes -e sofri na pele a violência, embora nada tivesse a ver com o peixe. Estava apenas cobrindo manifestações públicas, no Brasil, na Argentina, no Chile, em Seatle (EUA), na América Central etc.

O que me impressiona é o fato de que pessoas da melhor qualidade, como o professor Dalmo Dallari, aceitem o recurso à polícia para resolver uma pendência interna da universidade. Não estou nem discutindo os argumentos que Dallari apresentou em sua entrevista de ontem à Folha. O fato é que sou de um tempo em que, em qualquer confronto polícia x estudantes, os Dallaris do mundo estariam do lado dos estudantes.

Impressiona também o fato de alunos condenarem seus colegas e aceitarem a ação policial, como ficou claro em duas cartas publicadas, em dias sucessivos, no 'Painel do Leitor'. Sou do tempo em que estudantes eram rebeldes, com ou sem causa, e portanto mereciam o apoio integral de seus colegas - ainda que cego, às vezes.

Até entendo que a rebeldia de hoje se dê em torno de questões mais pobres (ou estou sendo apenas saudosista? O que a idade permite, mas o bom senso desaconselha).O fato é que sempre me encantou um dos slogans-símbolo de 1968, aquele que dizia 'seja razoável, peça o impossível'. Hoje, o impossível nem passa perto da pauta.

O empobrecimento da agenda talvez explique a desunião no meio estudantil. Até acredito que 'entre os 2.000 estudantes que se manifestaram nesta semana estão alguns de nossos melhores alunos', como escreveu ontem Vladimir Safatle, professor da filosofia.

São poucos, não? E ainda resta saber onde estavam os outros melhores alunos." (Clóvis Rossi, p. A2, 13/6/2009)

"USP, polícia e demagogia - 'Não se deve caluniar abstratamente a polícia'. É conhecida a resposta do filósofo Theodor Adorno à reprovação que lhe fazia, dos EUA, Herbert Marcuse pelo fato de ter recorrido à força policial para barrar estudantes que tinham invadido o Instituto de Pesquisa Social, em Frankfurt, no início de 1969. A polícia, escreve Adorno numa das célebres cartas ao amigo, 'tratou os estudantes de maneira incomparavelmente mais tolerante do que estes a mim'.

A USP não é a Escola de Frankfurt, 2009 não é 1969 e Suely Vilela não é... bem, a reitora já disse ser adepta dos livros de autoajuda. Alguém dirá, além disso, que há razões nada abstratas para criticar a ação da polícia no campus, o despreparo para lidar com situações deste tipo entre elas.

Sim, ninguém pode de boa-fé desejar a universidade ocupada. Sim, a reitora é uma figura lamentável, e sua gestão, ruinosa. Mas quando os 'progressistas' da USP vão ter coragem intelectual para criticar também o comportamento autoritário de uma minoria de funcionários grevistas que intimidam colegas e querem impor ao conjunto da universidade o que há de pior e mais privado no espírito corporativo?

Quando dirão que luta social e vandalização de patrimônio público não são nem devem ser sinônimos? Quando chamarão pelo nome o 'fascismo de esquerda' de grupelhos pautados por estupidez teórica e desprezo sistemático pelos direitos dos outros?

Coube ao professor Dalmo Dallari, um veterano das causas democráticas, a intervenção mais lúcida, honesta e destemida a respeito do imbróglio uspiano. Em entrevista à Folha, na sexta, ele diz coisas como: a polícia que cumpre uma ordem judicial para proteger o bem público não é a polícia da ditadura; a pauta dos grevistas é desconexa e seus métodos são intoleráveis; a reitora é fraca, mas sua destituição agora desmoralizaria a instituição.

Eis, para os que não querem ficar presos a clichês mal digeridos da cultura meia-oito, um bom ponto de partida para o debate." (Fernando de Barros e Silva, p. A2, 15/6/2009)

sexta-feira, 12 de junho de 2009 | | 0 comentários

Os bons tempos da faculdade...

Descobri outro dia (na verdade, a Mirele descobriu) o blog de um amigo da faculdade, que não vejo há dez anos. Fiquei surpreso por encontrar lá algumas fotos da turma, inclusive minhas. Foi bom para matar a saudade daquele que considero um dos melhores períodos da vida. Com a devida autorização do Ricardo Iwao Niime, o Budha, reproduzo aqui algumas fotos:

quinta-feira, 11 de junho de 2009 | | 0 comentários

Uma nova visão sobre o Brasil

Nas duas últimas viagens que fiz ao Exterior (EUA e Europa), entre 2007 e 2008, chamou minha atenção o interesse estrangeiro no Brasil e em especial no presidente Lula. Mais do que isso, chamou minha atenção a curiosidade estrangeira sobre o que estava acontecendo com nossa economia e como era quase unânime a percepção de que o Brasil estava dando certo.

Na Bélgica, uma vendedora chegou a dizer, diante de um pedido de desconto seguido de um comentário - em tom de brincadeira - de que éramos (os brasileiros) "pobres", que "nós estávamos ficando ricos, pobres estavam ficando eles (europeus)". Na França, uma vendedora quis saber se era período de férias no Brasil tamanha a quantidade de turistas brasileiros que ela atendia diariamente (em tempo: era abril).

Em Madrid, uma norte-americana manifestou num pub que o Brasil estava crescendo enquanto os EUA afundando.

Nos táxis, comentários sobre o bom desempenho do país e de seu presidente eram comuns a ponto de um taxista em Washington pedir para que "Mr. Lula" fosse o presidente de seu país.

De fato, a imagem do Brasil no que diz respeito à economia mudou no Exterior - a ponto de muitos estrangeiros desejarem estar por aqui (e isso tudo aconteceu antes da crise explodir...). Para quem ainda duvida de que a visão do Brasil mudou, sugiro a leitura de um artigo publicado hoje no jornal inglês "The Guardian".

No artigo, um especialista diz o que para ele (e também para mim - apesar do tom um tanto exagerado) explica a recente ascensão econômica brasileira: "o Brasil teve a sorte de ter dois líderes sucessivos que muitos julgam ser os presidentes eleitos mais bem sucedidos na história da América Latina. O antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso, foi um líder respeitável que pavimentou o caminho para Lula com reformas econômicas cruciais".

Para ler o artigo (em inglês), clique aqui.

PS 1: se a visão sobre a economia brasileira no Exterior mudou, permanece inalterada a visão sobre a violência no Brasil. A colocação de que o país é violento - seja em forma de afirmação ou de pergunta - foi quase tão comum quanto a outra.

PS 2: a publicação desta postagem só foi possível graças às novas ferramentas da web 2.0. Soube do tal artigo por meio de uma mensagem via Twitter encaminhada por Paula Góes, de Londres.

segunda-feira, 8 de junho de 2009 | | 0 comentários

Pomares em declínio

Limeira já foi considerada berço da citricultura nacional. Aos poucos e silenciosamente, a produção de laranjas foi dando lugar aos canaviais. Os pomares ainda estão presentes na cidade em grande número (15.810 hectares, divididos em 1.219 unidades produtoras, ante 13.159,6 hecatares de cana em 186 unidades, conforme relatório de 2007/2008 da Secretaria Estadual da Agricultura), mas há tempos perderam o valor que um dia tiveram.

Atualmente, a citricultura não compensa, principalmente no caso dos pequenos produtores. Quem atesta isso é o diretor de Áreas Verdes da Secretaria de Meio Ambiente de Limeira e ex-presidente do Sindicato Rural local, João Santarosa. Cansado das dificuldades enfrentadas pelo setor, ele mesmo trocou há três anos seus pés de laranja por eucaliptos na área que possui em Limeira (confira o áudio).

O que, afinal, tem "arrasado" os pomares naquela que já foi um dia chamada de terra da laranja? Fatores econômicos e biológicos. No primeiro caso, o avanço dos sucos industrializados junto ao mercado consumidor fez com que os produtores passassem a ficar mais dependentes das indústrias. Estas, por sua vez, pagam ao citricultor valores abaixo dos custos de produção - sem contar as denúncias de cartelização (leia aqui).

Em média, diz Santarosa, a produção de uma caixa de 40 quilos de laranja custa de R$ 10 a R$ 12. Por essa mesma caixa, recebe-se US$ 4 (cerca de R$ 8). Grandes produtores conseguem reduzir custos e negociar melhores contratos; já os pequenos ficam numa "sinuca de bico", fala o ex-presidente do Sindicato Rural.

Para complicar um quadro que, por si só, seria desastroso, as doenças que atingem os pomares estão elevando os custos com defensivos e gerando perdas (o greening, por exemplo, exige a erradicação das árvores). Não é à toa que muitos pequenos produtores evitam fazer a vistoria nos seus pomares, fala Santarosa. Em tempo: o greening tem avançado no Estado de São Paulo, informa o Fundecitrus.

Diante desse cenário, o recém-aprovado projeto que dá a Limeira o título de Capital Histórica da Laranja - proposto pelo vereador César Cortez (PV) - soa cada vez mais como homenagem póstuma...

PS: segundo Santarosa, os dados da Secretaria Estadual de Agricultura sobre a produção em Limeira estão defasados. Ele cita que a cana já domina 60% da área agrícola no município.

quinta-feira, 4 de junho de 2009 | | 0 comentários

Planeta água: meu documentário

A atividade final do curso de Jornalismo 2.0 que estou fazendo, ministrado pelo Knight Center for Journalism in the Americas, é a produção de um minidocumentário - de até sete minutos. A tarefa incluía todo o processo, desde a sinopse até a edição e disponibilização na web. Eis aqui o resultado do meu trabalho (feito, registre-se, com uma câmera de fotos digital - que contém, obviamente, o recurso de vídeo).

Desde já registro meus agradecimentos a todos que colaboraram, em especial aos entrevistados.