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terça-feira, 9 de junho de 2015 | | 0 comentários

Para infrator, só há um caminho: educação!

(...) Prender mais cedo ou mais tarde, por menos ou por mais tempo, nada melhorou até agora e nada vai melhorar. É mera antecipação ou protelação. Reduz-se a idade para o recolhimento ou se espera mais pelo retorno às ruas do recolhido -- mais ressentido, mais experiente, e com menos possibilidades, porque já adulto, de encontrar um encaminhamento diferente para a vida.

Não confio nas "soluções" apresentadas e, como sempre, não tenho uma proposta formulada. Mas tenho uma convicção. Em qualquer idade penal e com qualquer tempo de recolhimento, haverá apenas castigo inútil, senão agravador, caso não haja ligação rígida e persistente do recolhimento com o ensino. Inclusive como condição, segundo os resultados, para a volta à liberdade. (...)

Fonte:
Janio de Freitas, “Escolas da prisão”, Folha de S. Paulo, Poder, 9/6/15.

* Leia também:

quarta-feira, 6 de maio de 2015 | | 0 comentários

Terceirização: é simples...

(...) É simples: se a terceirização não fosse de conveniência das empresas, por que o empresariado a desejaria?

É simples: se empresas demitem empregados e contratam, para substituí-los, mão-de-obra fornecida por outras empresas, só pode ser porque gastarão menos do que usando empregados seus; logo, a mão-de-obra fornecida tem salários inferiores aos dos empregados demitidos, o que resulta em perda no padrão geral de salários.

É simples: terceirização diminui a pouca distribuição de renda havida nos últimos anos e favorece ainda maior concentração. (...)

Fonte: Janio de Freitas,
“O racha”, Folha de S. Paulo, Poder, 23/4/15.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014 | | 0 comentários

"É o conteúdo, estúpido!"

Do publicitário Washington Olivetto no Arena do Marketing, evento “Folha”/ESPM: "As possibilidades de formas aumentaram muito, mas as formas estão sendo usadas para esconder a falta de conteúdo. A tecnologia permite fazer qualquer coisa, mas o fundamental é o conteúdo".

Frase essencial para os produtores de sites, similares e, mais que tudo, para inscrição sempre à vista dos diretores de jornal.

Fonte: Janio de Freitas, “Com o corrupto da Petrobras”, Folha de S. Paulo, Poder, 18/9/14.

terça-feira, 22 de julho de 2014 | | 0 comentários

EUA: dois pesos, duas medidas

(...) A dedução mais razoável incrimina os rebeldes ucranianos na derrubada do Boeing da Malaysia Airlines, com armamento fornecido pela Rússia. Mas não foi em provas que Barack Obama se baseou para transformar tal hipótese em acusação explícita a Vladimir Putin. Baseou-se no cinismo que rege a política internacional e no seu próprio.

Em menos de duas semanas morreu em Gaza o equivalente aos ocupantes de dois Boeings idênticos àquele. Mortes com bombas fornecidas a Israel pelos Estados Unidos e lançadas por caças F-16I fornecidos a Israel pelos Estados Unidos. (...)

Fonte: Janio de Freitas, “Um caso difícil”, Folha de S. Paulo, Poder, 22/7/14.

segunda-feira, 14 de julho de 2014 | | 0 comentários

A culpa (também) é da imprensa

(...) A imprensa e os jornalistas são muito democráticos: têm a convicção de que tudo e todos são sujeitos à crítica. Desde que não sejam a imprensa e os jornalistas. Apesar disso, é preciso dizer que os mal denominados meios de comunicação têm uma parcela - de difícil mensuração, mas não pequena - nas causas do que está chamado de "humilhação, catástrofe e vergonha". E parcela maior no choque emotivo das pessoas em geral, reação que corresponde à expectativa esperançosa de que estiveram imbuídas.

(...) Se o tempo de vida em contato com a imprensa e com a opinião pública vale alguma coisa, é a partir dele que concluo pela contribuição da baixa média de franqueza crítica para a ocorrência do desacerto, continuado e progressivo, que levou à "vergonha". E do mesmo modo se faz a minha convicção de que o ambiente ficou livre para que a falta de observações firmes, a tendência nacional ao oba-oba e os interesses comerciais se juntassem na criação do otimismo mentiroso. Logo, também na decepção doída como um luto.

O jornalismo brasileiro está precisando de uma reviravolta mais ou menos como a pedida para o futebol. (...)

Fonte: Janio de Freitas,
“Palavras de mudança”, Folha de S. Paulo, Poder, 10/7/14.

terça-feira, 17 de junho de 2014 | | 0 comentários

A crônica falta de educação brasileira

(...) Na raiz e na forma daquele fato está a realidade de que os brasileiros não têm educação nenhuma. (...)

A cafajestice é a regra, sem diferenciação entre as classes econômicas. Na vulgaridade da linguagem, na indumentária "descontraída", na ganância que faz de tudo um modo de usurpar algo do alheio, na boçalidade do trânsito, nos divertimentos escrachados, na total falta de respeito de produtores e comerciantes pelo consumidor, enganado na qualidade e furtado no valor - em tudo é o reinado do primarismo mental e dos modos da falta de educação.

O baixíssimo nível moral e intelectual do Congresso, o comercialismo dos dirigentes políticos e dos partidos, o negocismo que corrompe as administrações públicas, tudo isso é a própria falta de educação, invasiva e ilimitada. E crescente. (...)

Fonte: Janio de Freitas,
“O que se perdeu”, Folha de S. Paulo, Poder, 17/6/14.

segunda-feira, 16 de junho de 2014 | | 0 comentários

“O novo direito”

(...) A reivindicação não precisa ser justificável para ser um direito. A greve, reivindicatória ou de protesto, é um direito, se não é antissocial. Mas o que ocorre em muitas cidades brasileiras, como o ato violento dos aeroviários dirigidos pela Força Sindical, ou como a surpresa covarde dos metroviários paulistanos comandados pelo PSOL, e ações instigadas pelo PSTU como a violência "black bloc", pertencem a uma categoria nascente. São formas da pretensão de direito à violência contra o que não é violento, nem é responsável por violências econômicas, injustiças sociais nem a má qualidade de serviços públicos.

Essa pretensão de direito à violência cega, uma espécie de imitação da ditadura militar, é um chamariz para a violência contrária. É claro que a tolerância dos governantes tem limites, até porque em jogo está a sua sobrevivência política. É claro que a contenção inofensiva dos atos mais perturbadores, depositada na função das polícias, jamais ficará nos limites da civilidade se houver desafio físico à ação policial. E é o que tem havido. Quase sempre como intenção, mesmo. (...)

Fonte: Janio de Freitas, Folha de S. Paulo, Poder, 15/6/14 (íntegra aqui).

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014 | | 0 comentários

A violência nossa de cada dia

(...) Briga de torcida? Bandos de criminosos estão agora atacando a polícia, no que assim representa a segunda fase - a da reação - do programa de UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora cuja instalação em cidadelas do crime restaurou muito do Rio. No país todo, qualquer incidente, inclusive se provocado por bandos criminosos em disputa, leva à interrupção de ruas e estradas, incêndios de ônibus e carros, já também de moradias destinadas à própria pobreza. A internet convoca sem cerimônia e sem restrição para violências, não lhe bastando os brasileiros, também contra os estrangeiros que venham à Copa e até contra times.

À espera do ônibus ou dentro do carro, branco, negro, pobre, rico: o Brasil se embrutece. E o Brasil nem sequer se nota.

Fonte: Janio de Freitas, “Brasil embrutecido”, Folha de S. Paulo, Poder, 25/2/14.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014 | | 0 comentários

Provocações (1)

(...) Quando estimados os gastos com a Copa, os estádios a serem construídos, a prevista marotagem dos aumentos de custos acertados entre empreiteiras e governos, raríssimos foram críticos dessa irresponsabilidade, de dimensão ainda incalculável. Os interesses políticos e os financeiros se associaram ao Brasil levianamente festivo. Ao se aproximar o que foi tão celebrado, com a ansiedade popular do antimaracanazo, tudo de repente virou motivo de "rebelião"? Não dá para crer. Ao menos, porém, há uma originalidade aí: rebelião popular com data marcada, e anúncio a seus antagonistas com larga antecedência. (...)

Fonte:
Janio de Freitas, “Tiros na democracia”, Folha de S. Paulo, Poder, 28/1/14.

domingo, 10 de novembro de 2013 | | 0 comentários

"Para que as ruas salvem"

As manifestações de reivindicação e protesto precisam ser salvas e continuar. São o sinal de vida da sociedade e o mais legítimo e direto exercício da cidadania, muito mais do que o voto. Mas, ainda mal saídas da longa apatia, foram inibidas pela violência sem ideia dos "black blocs" e seus imitadores. A primeira decisão da força-tarefa composta para esvaziar tal violência é um início inteligente e promissor: o Pronto Atendimento Judicial, ativado a cada acesso da violência para o pronto exame de prisões, excessos e queixas.

Além da comprovação histórica de que as sociedades se aprimoram de baixo para cima, estes anos de omissão na busca de direitos mostraram bem que os brasileiros, e o próprio país, não podem contar com o Legislativo, que é onde deveriam forjar-se os rumos e as regras do aprimoramento social e nacional. O Congresso é assim porque os partidos são assim, sem representatividade. Contanto que ninguém grite "o povo unido jamais será vencido" (toc-toc-toc), o que resta aos segmentos sociais é a participação por iniciativa própria ou a frustração. (...)

Fonte: Janio de Freitas, “Folha de S. Paulo, Poder, 10/11/13 (íntegra
aqui).

terça-feira, 10 de setembro de 2013 | | 0 comentários

Sobre os "baderneiros"

(...) Destruir utensílios urbanos e emporcalhar prédios públicos é antissocial. Quebrar porta de banco como "agressão ao capitalismo" é imbecilidade. Mas não é provável que os autores de tais façanhas sejam capazes de perceber que não produziram efeito algum, além da mera destruição.

Mas quando voltam a sua cretinice feroz contra alheios indefesos e, ainda pior, já subjugados pela vida, aí essas bestas de cara escondida ou descoberta se tornam revoltantes. Por mim, são indefensáveis. O que quer que lhes aconteça é problema estritamente seu. Nada tem a ver com democracia ou com direitos humanos. (...)

Fonte: Janio de Freitas, “Lixo de gente”, Folha de S. Paulo, Poder, 10/9/13.

***

(...) A fantasia junina deu lugar à raiva e ao medo. Mistura que pode até estimular arruaceiros, mas serve exatamente à classe política que eles dizem querer combater.

Seguindo nesta toada, as ruas ficarão cada vez mais vazias. E o coro em defesa da repressão aos baderneiros só aumentará. De novo, algo que só presta aos donos transitórios de palácios, acostumados a este tipo de jogo, no qual se perpetuam.

(...) Desde muito a máscara serviu, na maior parte das vezes, aos que não têm coragem de enfrentar a luz do dia. Precisam se esconder para dar sequência a seus atos. Nada a ver com aquele sentimento de heróis mascarados dos quadrinhos.

O fato é que os nossos mascarados de hoje estão fazendo um jogo que acaba interessando aqueles que, pretensamente, seriam seus alvos. Fica a pergunta: exatamente a favor de quem eles estão?

Fonte: Valdo Cruz, “A favor de quem?”, Folha de S. Paulo, Opinião, 9/9/13, p. 2.

terça-feira, 30 de abril de 2013 | | 0 comentários

Violência e juventude: o problema real

A necessidade e a urgência de bloqueio ao uso de menores por bandidos e monstros como os incendiários da dentista indefesa Cinthya de Souza, em São Paulo, não podem continuar pendentes da discussão tergiversante sobre a menoridade penal. A menos que se continue admitindo, com estupor mas passivamente, que crimes se propaguem amparados na pena máxima de três anos de "reeducação" para o falso principal autor.

O truque adotado pela bandidagem é inteligente. Suas ações passaram a ter, como norma, a presença de um menor de 18 anos. No caso de mau resultado final do crime, a gravidade maior do ato é atribuída ao "dimenor" e, como passaporte para o primeiro nível da bandidagem, por ele assumida. Não considerado criminoso e preso, como de fato é, mas como "apreendido" para reeducação nos tais três anos máximos, proporciona aos criminosos "dimaior" penas muito mais leves, como coadjuvantes. E saídas da prisão muito mais cedo, com os benefícios presenteados pela lei.

(...) À parte a idade penal, as autoridades ditas responsáveis, nos governos e no Congresso, e mesmo nas polícias, precisam remediar o problema já. Ou ser pressionadas a fazê-lo. Agravante de corrupção de menor, agravar pesadamente a prática de crime de adulto acompanhado de menor, levando a pena a ultrapassar a vantagem do truque, são exemplos de providências adotáveis com rapidez. Mesmo que o marginal de 17 ou 18 anos em nada se diferencie do marginal de 20 ou mais, e mesmo que seu aprendizado criminal nos presídios não seja maior do que o aprendizado fora, não é possível perder mais tempo discutindo idades. (...)

Fonte: Janio de Freitas, “Protetores do crime”, Folha de S. Paulo, Poder, 30/4/13, p. 6.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013 | | 0 comentários

Questões de Justiça

(...) Por falar em Judiciário, os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos, matadores do casal Richthofen, tiveram a esperteza de não encarar a bandidagem nem os agentes penitenciários onde estiveram presos. Assim cumpriram um sexto da pena de 38 anos. E em razão daquele "bom comportamento" estão livres, com a obrigação apenas de dormir em abrigo judiciário. É a Justiça que se faz mais uma vez, como um ato de celebração da igualdade de valores. Se as vidas de Marísia e Manfred von Richthofen valiam só três anos cada, conforme o estabelecido pelo Código Penal, celebremos nós outros o fato de estarmos vivos ainda, sendo nossas vidas brasileiras tão democraticamente baratas, sem distinção.

Código Penal, bem entendido, é nome fantasia. O nome verdadeiro, inusual como é próprio dos apelidos, é Código de Incentivo à Criminalidade. Elaborado pelo sentido de responsabilidade do Legislativo e praticado pelo sentido de justiça do Judiciário. (...)

Fonte: Janio de Freitas, “Livres e proibidos”, Folha de S. Paulo, Poder, 21/2/13.

domingo, 2 de setembro de 2012 | | 0 comentários

O Brasil pós-mensalão

(...) O início do fim. Trocou o passado de lutas e o futuro promissor por um vício: a embriaguez do poder, em que "os fins justificam os meios". Quis ser tudo, virou nada. Ontem, o Wikipédia já dizia que João Paulo Cunha "foi" um político brasileiro.

Sua condenação pelo Supremo Tribunal Federal, por contundentes 9 a 2, entra para a história como o fim de uma era. Vai-se a impunidade, vem a responsabilidade. A Câmara dos Deputados, o Banco do Brasil, a Petrobras, a Presidência da

República - as instituições, enfim - não têm donos, ou dono. São do Estado e servem à nação.

Isso vale para o Supremo, até mais do que para todas as demais. Lê-se que Lula está triste, acabrunhado, por sentir-se "traído". Dos 11 ministros (incluindo Peluso), 8 foram colocados ali nos governos petistas e só 2 votaram pela absolvição de João Paulo -por extensão, do PT.

A corte suprema não vota mais com os poderosos, pelos poderosos. Julga com a lei, pela justiça. Inaugura, assim, um novo Brasil.

Fonte: Eliane Cantanhêde, "Os bons meninos", Folha de S. Paulo, Opinião, 2/9/12, p. 2.

***

O Brasil, os políticos e suas práticas não vão mudar coisa alguma por efeito do chamado julgamento do mensalão, sejam quais e quantas forem as condenações. É o que indica o indesmentido fluxo histórico brasileiro e o que comprova a experiência mais ou menos recente.

"O Brasil não será mais o mesmo", ou, no dizer dos que precisam ser pernósticos, "o julgamento é um paradigma", são frases que pululam nos meios de comunicação, com suas similares, como meros produtos de ingenuidade ou do engodo comum.

O que vai mudar são alguns dos métodos agora desvendados. (...)

A degradação da ética e do nível cultural na política não se altera com episódios tão circunscritos como o julgamento do mensalão.

Se ainda for corrigível, reverter a degradação dependeria de muitos fatores, como remodelação do financiamento eleitoral e do sistema partidário, redução da Câmara, das Assembleias e das Câmaras Municipais, exigências para coligações, efetividade dos programas partidários, e por aí afora.

O momento facilita constatar-se a continuidade da degradação política e das eleições como vestibular para a indústria do enriquecimento. É só ver dois ou três programas da propaganda eleitoral: a média dos candidatos, em qualquer sentido, não deixa dúvida. Não sobrará dúvida nem sobre a ingenuidade ou o engodo do besteirol de que o Brasil mudará com o julgamento agora feito pelo Supremo Tribunal Federal - um, em dezenas ou centenas de julgamentos necessários.

Fonte: Janio de Freitas, "Amanhã tal como ontem", Folha de S. Paulo, Poder, 2/9/12.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012 | | 0 comentários

Frase

"O jornalista perdeu o olhar crítico. Por isso que se preocupam com a Internet e não com o próprio jornal."
Janio de Freitas, jornalista e colunista da "Folha de S. Paulo", em entrevista ao programa "Roda Vida" (TV Cultura) desta segunda-feira (6/8) 

quinta-feira, 26 de maio de 2011 | | 0 comentários

Uma defesa da imprensa (honesta)

O Lula que reaparece para "assumir a defesa" de Antonio Palocci, o qual já precisou afastar do governo por atitude delinquente e imoralidade administrativa, é um dos piores Lulas: o Lula que faz calúnias fáceis e desumanas.

"A imprensa" a que Lula volta a atribuir conduta de má-fé, com as notícias sobre o enriquecimento peculiar de Palocci, é uma forma verbal que se presta à dispensa cômoda de referir-se aos jornalistas
ligados ao assunto em questão. As revelações, antes de o serem da imprensa, que as veicula, o são dos jornalistas. Nunca os que prestem serviços palacianos e partidários, menos ou mais disfarçados, ou façam "jornalismo" mais de ficções que da disposição de expôr-se às adversidades da profissão. Não é a estes que Lula se dirige.

Exaltado, diz Lula que o bombardeio da imprensa a Dilma começou muito antes do que ocorreu à sua Presidência. De fato, demorou um pouco a revelação ao país, por intermédio daFolha, do tráfico de dinheiro entre políticos operado pelo conluio de parte da cúpula petista com Marcos Valério.
E, é certo, tardou mais ainda a revelação da casa utilizada por lobistas com o então ministro principal de Lula.

Mas não é verdade, e é caluniosa, a acusação de Lula a propósitos de bombardear Dilma e, para tanto, valer-se das revelações sobre os negócios inconfessados, e até agora inconfessáveis, de Palocci outra vez feito ministro por Lula, apesar de tudo. Nem, muito menos, tais revelações têm o objetivo político de "testar a Dilma". Excetuado Fernando Henrique Cardoso, e por motivos óbvios, Lula não demonstraria que algum outro presidente, desde o fim da ditadura de Getúlio, fosse tratado com mais consideração pessoal e cuidado crítico do que Dilma Rousseff em seus cinco meses iniciais (ao que acrescento: tratada como fez por merecer).

As duas revelações fundamentais do novo caso Palocci - a compra multimilionária de imóveis e a colheita gênero megassena logo em seguida à eleição de Dilma - foram publicadas pela Folha e elaboradas como notícias objetivas. Sem qualquer extrapolação excedente aos fatos. Nada do publicado ali foi desmentido. A nota de defesa de Palocci, para que senadores, deputados e ministros falassem por ele, foi confirmação inequívoca das revelações. Até com um acréscimo inábil, constatado por artigo nesta coluna, que levava à revelação de posse, além dos imóveis, de riqueza em espécie posta sob guarda e aplicações de empresa especializada.

A atribuição de segundas e outras intenções a jornalistas sérios, como Lula praticou quando presidente e volta a fazer, é caluniosa para com profissionais que se esforçam por um jornalismo honesto. E, sem motivo algum, desumanamente desrespeitosa com eles como pessoas. Os quais nem ao menos são citados nominalmente, para justificar uma defesa.

Com o tempo de vida passado como testemunha e partícipe daquele esforço, não dá mais para ver, como se nada significassem, essas violências e injustiças de fins intimidatórios. E não exclusivas de Lul
a, apesar de sua especialidade. Nunca estive e não estou nem perto das linhas de frente dos defensores da imprensa, brasileira ou outra. Mesmo quando Lula me atribuiu a intenção de causar prejuízo eleitoral ao PT, por ter revelado uma fraude (comprovada) em concorrência na então prefeitura petista de Campinas, apenas assinalei sua atitude. Mas o golpe da calúnia se tornou hábito. Os aborrecimentos para dentro do jornalismo não cabem mais só nele. Se posso usar este para protestar, é o que faço.

O leitor que ache nada ter com isso, e ainda assim chegou até aqui, queira desculpar. Mas tem muito mais a ver com isso do que pode supor.

Fonte: Janio de Freitas, “Palocci e o método Lula”, Folha de S. Paulo, Poder, 26/5/2011.