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terça-feira, 2 de junho de 2015 | | 0 comentários

Constatação

Do jornalista Valdo Cruz, em coluna na “Folha de S. Paulo” de 1/6: "Diante da nova decepção em curso, fica provado que nunca teremos uma reforma política digna do nome enquanto seus autores forem apenas os atuais parlamentares. As ruas que despertem para tal fato".

quinta-feira, 25 de novembro de 2010 | | 0 comentários

Ventos que sopram da Europa

Quarta-feira (24/11) foi a greve geral em Portugal, um protesto dos trabalhadores – organizado pelas duas maiores centrais sindicais do país – contra medidas de austeridade fiscal anunciadas pelo governo para 2011: aumento do IVA (o imposto sobre valor agregado, algo como o ICMS no Brasil) em dois pontos percentuais, redução dos salários em média de 5% e redução das pensões, entre outras.

No dia seguinte (25/11), foi a vez dos estudantes ocuparem o Coliseu, em Roma, e a famosa torre da catedral de Pisa protestando contra uma reforma do Ministério da Educação que inclui cortes de verbas do setor.

Recentemente, a França foi agitada por paralisações e protestos contra o aumento – de 60 para 62 anos - da idade mínima para se aposentar.

São os ventos que sacodem a Europa desde que a crise financeira mundial estourou, em outubro de 2008. A ferida do que muitos consideram gastança e outros chamam de estado de bem-estar social foi aberta. Uma bolha que estouraria em algum momento. A Grécia já quebrou. A Irlanda ruma para isso (ambas recorreram ao dinheiro da União Europeia). Especialistas afirmam que Portugal, Espanha e Itália seguem de modo acelerado no mesmo caminho.

Diante deste cenário, duas palavras têm dominado o noticiário nos principais jornais europeus: crise e reforma. Não se fala em outra coisa, não se discute outro assunto, embora muitas vezes com posições diversas – não raramente divergentes. É preciso reformar o Estado, as finanças públicas não se sustentam diante do atual nível de gastos, pregam quase em uníssono.

Isso implica mexer em algo caro para os europeus, o gasto social. Implica também melhorar a eficiência dos gastos públicos, atacar a corrupção, estabelecer freios para o mercado (principalmente o sistema financeiro) e por fim a benesses populistas.

Na Itália, o “la Repubblica” de 19/10 informava sobre um decreto do governo prevendo que a Igreja volte a pagar impostos. Em busca de votos num país tradicionalmente católico, isenções foram concedidas em dezembro de 2005 pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi com vistas às eleições da primavera seguinte. Cerca de um bilhão de euros.

Agora a conta chegou.

Pelo que entendi, a Igreja aceitou uma espécie de acordo de cavalheiros para voltar a pagar tributos a partir de 2014. Funcionará assim: escolas, hospitais, clubes, etc, da Igreja vão pagar os mesmos impostos que qualquer outro empreendimento privado semelhante. Ou seja: a volta de uma concorrência leal.

No “24 Ore” de 31/10 (a mesma edição em que a então candidata – hoje presidente eleita – Dilma Rousseff foi chamada de “alterego feminino do presidente Lula”), vejo a entrevista de uma líder da oposição italiana cobrando reformas drásticas por parte do governo. E urgentes.

Uma brasileira que vive na Itália há anos contou que muitas empresas estão oferecendo dinheiro para que os trabalhadores estrangeiros voltem para seus países de origem. “Aqui já foi bom, o bom agora é o Brasil”, disse, enquanto esperava o trem na estação central de Milão e contava os dias para as férias no Brasil (ela embarcaria dali três dias).

Faz sentido.


Enquanto por lá o desemprego bate na casa de 20% em muitos lugares, como a Espanha, no Brasil ele atingiu o menor índice desde que a série histórica de registros começou, em março de 2002: 6,1% nas seis principais regiões metropolitanas, apontou nesta quinta-feira o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Para tomar o exemplo espanhol, quando um em cada cinco trabalhadores está sem uma ocupação formal – e vê ameaçados os benefícios sociais de que os desempregados desfrutam -, as reações são previsíveis. Quando não se vislumbra uma luz no túnel, a situação tende a piorar. Daí ao perigo da volta de um cenário sombrio de 70 anos atrás é um passo.

Sinais nesse sentido já são vistos com certa frequência na Europa. São os efeitos colaterais que surgiram com a crise. A ultradireita avança e conquista espaço em vários países, informou o “Corriere della Sera” em matéria de uma página. Crescem também as manifestações de xenofobia (a França expulsou os ciganos).

Crescem também as ondas separatistas e as respectivas reações contrárias (de resistência), como vi em duas pichações em Pisa.

Não se sabe se reformas serão suficientes para salvar o euro e, de resto, a União Europeia. Se salvarem, não se sabe se a sociedade sobreviverá (no sentido figurado) a uma anunciada convulsão social decorrente das medidas.

Nunca, portanto, Sócrates esteve tão em voga com seu “Só sei que nada sei” (citado por Platão em “Apologia de Sócrates”, já que o filósofo de quem foi discípulo não deixou escritos).