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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015 | | 0 comentários

Triste diagnóstico

(...) Os estelionatos dos governos federal e paulista, além da corrupção ciclópica, causam escárnio, cinismo ou nojo deprimido entre elites diversas, petistas, tucanas, neutras ou indiferentes a partidos. Mas nada sabemos como o grosso do povo ou os centros nervosos e neuróticos do país (como São Paulo) vão reagir à primeira crise socioeconômica duradoura dos anos petistas, de resto simultânea a um pico alto de desfaçatez dos governantes e à degradação íntima da vida cotidiana.

(...) Nem sabemos o que fazer da provável revolta, maior ou menor. Não temos Syriza, Podemos ou mesmo neofascistas, alternativas europeias que brotaram de uma crise que ainda não vivemos. Afora PT e PSDB, em putrefação, há PMDBs e nenhum movimento social ou político grande ou em formação para captar e dar forma à onda de indignações.

Fonte: Vinicius Torres Freire, “Nojo grande, política pequena”, Folha de S. Paulo, Mercado, 1/2/15.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

Dilma - passado e futuro

Resumo da era Dilma 1.0:

(...) Ao assumir, Mantega encontrou um país que crescia algo mais que 3% ao ano, com a inflação na meta (4,6%) e um superavit de US$ 13 bilhões (1,4% do PIB) nas contas externas. O superavit primário não era maquiado e equivalia a 3% do PIB, enquanto a dívida bruta do governo caíra para 56% do PIB. Naquele momento, o Brasil gerava 1,3 milhão de empregos formais por ano e pavimentava seu caminho para receber o grau de investimento. 

O país que entrega não poderia ser mais diferente. O crescimento neste ano mal deve superar zero, a inflação (6,6% nos últimos 12 meses) segue perigosamente próxima ao teto da meta e o deficit externo supera US$ 84 bilhões (3,7% do PIB) nos 12 meses até outubro.
 

O superavit primário (maquiado) caiu para 0,6% do PIB (sem maquiagem, trata-se de deficit de 0,2% do PIB), e a dívida governamental atingiu 62% do PIB. A geração de empregos formais nesse contexto caiu para pouco menos de 300 mil postos por ano. (...)
 

Fonte: Alexandre Schwartsman, “Uma fotografia na parede”, Folha de S. Paulo, Mercado, 17/12/14.

Desafios da era Dilma 2.0:

(...) 1) Gastar menos do que se dispõe, bidu; 

2) Não esconder dívidas no armário (esqueletos ou caveirinhas), assumir as que estão debaixo do tapete, não maquiar a contabilidade;
 

3) Preços de verdade: tarifas de eletricidade sem subsídios (repassar custos para o consumidor), por exemplo. Aumentar a taxa de juros, a TJLP, dos empréstimos e doações do BNDES a empresas;
 

4) Estimativas realistas de crescimento do PIB e de receita de impostos, de juros ou inflação. Isto é, projeções de mercado, acompanhadas de estimativas paralelas do governo, como de resto o faz o BC;
 

5) Revisar subsídios e desonerações a fim de verificar se os benefícios dessas políticas, no fundo despesas ("gastos tributários"), foram eficazes pelo menos segundo seus objetivos iniciais. Isto é, ainda tem imposto para aumentar, além dos comentados na praça (IPI, Cide, Imposto de Importação, IOF etc.);
 

6) Bancos públicos devem ajustar a concessão de crédito às suas possibilidades e aos riscos maiores de uma economia estagnada, o que de resto é um auxílio ao BC, que talvez assim possa maneirar no juro se a banca estatal maneirar no crédito.
 

7) O que o governo não tem tempo, dinheiro ou capacidade de fazer será feito pelo setor privado. "Deu certo em aeroporto e em certas rodovias. Vai ter disso também em porto, setor de gás, internet". (...)
 

Fonte: Vinicius Torres Freire, “As dores de cair na real”, Folha de S. Paulo, Mercado, 17/12/14.

sábado, 6 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

Questões para refletir...

(...) É estranho, considerando o cenário político atual, ouvir alguns dos hinos que foram entoados por gente que clamava por democracia e ver o que aconteceu com alguns dos ícones daquela geração. Foi inevitável a sensação de que algo saiu fora do script. "O que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer." (...)

Fonte: Renato Andrade,
“Falso brilhante”, Folha de S. Paulo, Opinião, 6/12/14, p. 2.

***

(...) A gente sempre se pergunta o que um partido quer com a nomeação de um diretor de banco estatal. Implementar suas políticas de ampliação de crédito, discutir a adequação do banco às normas de Basileia, incrementar a bancarização? (...)

Fonte: Vinicius Torres Freire,
“Dilma e seus inimigos ocultos”, Folha de S. Paulo, Mercado, 4/12/14.

quinta-feira, 20 de março de 2014 | | 0 comentários

Eis a questão...

Há na oposição muita gente assanhada com as tantas chances de espinafrar Dilma Rousseff, dadas as tantas bobagens cometidas pelo governo, vide o caso da escassez de eletricidade, mas não apenas.

(...) Mais importante é perguntar: 1) Apesar dos fracassos evidentes do governo, a picuinha vai colar na massa do eleitorado?; 2) Vai ser assim que a oposição vai conversar com o eleitorado a respeito do futuro do país?; 3) Não é possível dar um desconto de 10% no espírito de porco e no oportunismo, de lado a lado, governo e oposição?

Para começar, quão visíveis são os fracassos do governo, quão evidentes são no cotidiano do povo miúdo? Quão visíveis são os sucessos, mesmo aqueles apenas aparentes, pois insustentáveis?

Fonte: Vinicius Torres Freire, "Dilma 2, o visível e o invisível", Folha de S. Paulo, Mercado, 20/3/14.

PS: daí a importância da educação e da informação...

segunda-feira, 25 de junho de 2012 | | 0 comentários

"Um prefeito civilizado, por favor"

Suponha que o caso Maluf deixe de poluir as conversas sobre a eleição em São Paulo, seja lá por qual motivo. Do que se vai falar então?

Sim, a gente sabe dos problemas principais. As escolas são uma tristeza indizível. As pessoas perdem metade do seu tempo livre no transporte. O povo não tem hospital decente. O de sempre.

Sim, esperamos que os candidatos tenham algo de bem pensado a dizer sobre o assunto em vez de aparecer com programas com nome marqueteiro populista e cafona ("Mamãe Bacana", "Bebê Paulistano").


O candidato dirá algo sobre como mudar o padrão de gasto da prefeitura? Só 11% da despesa vai para investimento. Sem isso, não vai dar para acreditar que o prefeito novo vai fazer algo lá muito diferente em termos de obras.


Que ideia nova e radical terá para a educação? Ressalte-se: educação é o que e como as crianças aprendem. Uniforme importa, comida, salário, escola limpa e inteira importam. Mas nunca falamos de aprendizado.


A educação no Estado e na cidade mais ricos do país é um desastre. Os tucanos estão faz quase 18 anos no governo, tempo de transformar uma criança em médico formado, e os resultados dos testes são vexaminosos. Na cidade de São Paulo, mais ou menos dominada por tucanos, com pitadas petistas, a coisa não anda melhor. O que dirá o prefeito? Quem será o seu genial secretário da Educação?


O que o prefeito tem de dizer de inovador? O que fará do Minhocão? Do lixo? Em São Paulo, só ouvimos falar de lixo quando se trata de concorrência superfaturada. O que o prefeito tem a dizer sobre reciclagem, usina de energia movida a lixo?


O que tem a dizer sobre tentativas de estimular a economia paulistana? Vez e outra ouvimos que a prefeitura vai demolir tal ou qual região para que se construa um "novo polo econômico" de "novas tecnologias" (em geral, tecnologia de informação, TI).


Mas o que temos aqui de TI? O prefeito sabe? A gente tem é, por exemplo, muito hospital bom (menos para os pobres), turismo de saúde etc. Por que não temos um "polo de tecnologia e indústria" de saúde e medicina?


Por falar em indústria, esse setor ainda produz uns 20% do valor agregado da economia paulistana (dados de 2009, deve ter caído um pouco). Em 2000, eram 26%. Sim, São Paulo se "desindustrializa", mas ainda é uma força industrial. Pregar que a cidade é de "serviços" é ideologia.


E "serviços" pode significar tanta coisa. Pode ser restaurante, limpeza, apoio à produção industrial, finanças.


Enfim, onde estão esses polos tecnológicos? O governo do Estado faria um no Jaguaré, ao lado da USP (TI, fármacos, bio e nanotecnologia). Anda devagar quase parando. Os polos da região da Luz e da cracolândia são um fiasco gigantesco dos tucanos e de Gilberto Kassab.


Por falar em USP, dois dos principais candidatos, Serra e Haddad, são "uspianos". Vai fazer diferença?


São Paulo é uma cidade de "turismo de negócios e de cultura", diz-se. Mas os hotéis são caríssimos e o trânsito vai parar (que tal pedágio urbano?). Não temos nem trens para os aeroportos, uma pobreza.


Não falta, enfim, assunto para uma conversa civilizada sobre a cidade.


Fonte: Vinicius Torres Freire, "Folha de S. Paulo", Mercado, 24/6/12.


PS: princípios que valem para São Paulo e valem para Limeira!