terça-feira, 26 de agosto de 2014 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 07:01 | 0 comentários
"Ricos meninos pobres"
Marcadores: comportamento, família, Ruy Castro
sábado, 6 de outubro de 2012 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 15:02 | 0 comentários
A memória do jornalismo brasileiro
Há 20 anos, pesquisando na Biblioteca Nacional para um livro que se chamaria "O Anjo Pornográfico", precisei consultar a coleção do "Correio da Manhã" referente ao ano de 1967. A funcionária da seção de periódicos levantou a ficha do jornal e me informou que não dispunham do "Correio" daquele ano - mas que, segundo a ficha, os exemplares seriam "brevemente fornecidos pela Biblioteca do Congresso dos EUA".
Aconteceu que, procurando melhor, descobriu-se que os americanos já haviam fornecido os exemplares, não só de 1967, mas também dos anos imediatamente anteriores, idem em falta - a ficha é que não fora atualizada. Com isso, pude mergulhar na riquíssima coleção daquele jornal fundado em 1901 e morto pelo AI-5 em 1968, mas só sepultado em 1974 e, desde então, ignorado pelos pesquisadores, para os quais só existiu o "Jornal do Brasil".
Bem, agora não há mais desculpa. Fuad Atala e Bertholdo de Castro, colegas dos tempos do "Correio" e guardiães de sua memória, acabam de me mandar um presentaço: o "Correio da Manhã" digitalizado, do primeiro ao último número, pela Biblioteca Nacional (entre em hemerotecadigital.bn.br e escreva o nome do jornal no espaço "Buscar").
Por quase 70 anos, o "Correio da Manhã" abrigou os maiores nomes do jornalismo e da literatura. Ditou normas da imprensa, ajudou a derrubar ministros e presidentes, enfrentou truculentos de vários calibres e influiu decisivamente na vida nacional. Mas pode ser coincidência que seus anos de lacuna na Biblioteca Nacional fossem os de sua maior oposição à ditadura militar.
Lacuna afinal preenchida pelos exemplares da assinatura da antiga Embaixada dos EUA no Rio, cujo endereço impresso se lê ao lado do cabeçalho nesse fabuloso "Correio" digital - pronto para servir de novo à história do Brasil.
Fonte: Ruy Castro, "O 'Correio' digital", Folha de S. Paulo, Opinião, 6/10/12, p. 2.
Marcadores: Correio da Manhã, história, jornalismo, memória, Ruy Castro
domingo, 5 de agosto de 2012 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 20:30 | 0 comentários
"Dois legados"
Dois mitos
do século 20 morreram em Los Angeles num dia 5 de agosto: Carmen Miranda, em
1955, aos 46 anos, e Marilyn Monroe, em 1962, aos 36. Eram fenomenais, maiores
que a vida e foram vítimas, ambas, de anos de abuso de substâncias legais, mas
letais. Deixaram um imenso legado artístico e são cultuadas hoje por pessoas
que nem eram nascidas quando elas partiram. A forma como se administra seus
legados é que difere.
Marcadores: Carmen Miranda, Marilyn, Ruy Castro
quarta-feira, 4 de julho de 2012 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 09:14 | 0 comentários
Viva o Rio!
Um programa que gosto de fazer com amigos de visita ao Rio é levá-los ao Posto 6 de Copacabana e, de frente para o mar, instá-los a procurar o horizonte. Ao longe, montanhas; mais ao longe, mais montanhas; e, por trás destas, ainda mais montanhas. Não se sabe onde terminam. "On a clear day you can see forever", dizia uma canção de Alan Jay Lerner sobre Nova York. O que ele não diria sobre o Rio?
Mas, para que não se atribua esse cenário ao simples talento divino, é só olhar à esquerda e ver a curva da avenida Atlântica, sublinhada pela paliçada de prédios altos dos anos 30 e 40, que, por muito tempo, fizeram de Copacabana um nicho cosmopolita num país ainda acanhado e sem assunto. Ao fundo, o Pão de Açúcar, desde 1912 com o bondinho. Tudo isso levou a mão do homem.
Que não é santa, mas nem sempre interfere para sujar, corromper, demolir. Na maioria dos cartões-postais do Rio, vê-se a intervenção humana. Tome a floresta da Tijuca, dizimada pelo café nos séculos 18 e 19 e replantada pelo engenheiro Archer e seis escravos, de 1861 a 1872, para se tornar a maior floresta urbana do mundo. E que contou com sementes e mudas do hoje humilde Passeio Público -este também, na origem, um brejo, e construído em 1779 pelo mestre Valentim.
Tome o Jardim Botânico, outra criação humana. Ou a baía de Guanabara, margeando a cidade, a velha e a nova. O parque do Flamengo, com o paisagismo de Burle Marx. Flamengo, Botafogo e o centro, vistos da Urca. O aconchego natural do Horto, da Gávea, do Cosme Velho. Os muitos recantos deliciosos da Tijuca, do Grajaú, até de São Cristóvão. Tantos levaram séculos tentando destruir o Rio. Não conseguiram.
O título de patrimônio da humanidade, dado pela Unesco na categoria paisagem cultural, é também um reconhecimento ao fato de o Rio ter sobrevivido a si mesmo.
Fonte: Ruy Castro, "A mão do homem", Folha de S. Paulo, Opinião, 4/7/12, p. 2.
Marcadores: Rio de Janeiro, Ruy Castro
domingo, 25 de setembro de 2011 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 23:01 | 0 comentários
“Os garotos do Brasil”
Mas isso não fará dele um ex-alcoólatra. Assim como o diabético que deixa de comer açúcar não se torna ex-diabético - torna-se apenas um diabético que deixou de comer açúcar-, Sócrates continuará sendo alcoólatra. Apenas terá deixado de beber.
Para a indústria cervejeira, sua doença é um desastre. Demonstra que ninguém, nem mesmo um homem inteligente, cidadão admirado e, ainda por cima, médico, como Sócrates, está a salvo de seu produto. Que este produto não é diferente dos "mais fortes", como os destilados, e que, apesar disso, entra alegremente pelas casas via televisão, patrocinando inclusive a seleção brasileira.
Pois não é irônico que Sócrates, que já foi um dos símbolos desta como atleta nos anos 80, quase tenha morrido do produto que patrocina hoje a seleção?
Trinta anos de consumo firme e crescente de cerveja renderam-lhe a cirrose cujos sintomas ele, como médico, deve ter percebido há muito. Sócrates percebeu, mas continuou a beber. Por quê? Porque o alcoolismo é progressivo e, depois de certa etapa, quem manda não é a razão, mas o organismo, e este quer sempre mais.
Sócrates pertence aos 15% da humanidade que podem beber muito sem sentir os efeitos adversos do álcool, como embriaguez, intoxicação e ressaca.
Só isso explica que, com seu histórico de copo, nunca tenha sido advertido pelos médicos de seus clubes -que também não entendem de alcoolismo.
Sócrates disse que, se saísse dessa, iria fazer trabalho social junto às crianças da Venezuela. Faria melhor se ficasse aqui e contasse sua história para os garotos do Brasil.
Marcadores: alcoolismo, bebida, Ruy Castro, Sócrates