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domingo, 25 de dezembro de 2011 | | 0 comentários

Uma questão de Justiça - 2

Perder poder é sempre desagradável. Impossível agir com naturalidade nessas situações. A estridente disputa interna no Judiciário nada mais é do que o sintoma de um processo cujo desfecho será o fim da inimputabilidade na qual se refugiam muitos juízes.

Parece que foi há cem anos, mas, na década passada, o presidente do Supremo Tribunal Federal era Nelson Jobim. Obcecado por números, ele iniciou uma coleta a respeito dos orçamentos de Tribunais de Justiça do país. Inexistia estatística confiável sobre os ganhos dos juízes.

"Os TJs não diziam o valor exato dos salários. Em vários casos, eu pedi a algum juiz amigo que me desse uma cópia do seu contracheque, do qual eu rasgava a parte com o nome. Aí, calculava-se o valor da folha de pagamento daquele determinado tribunal", lembra Jobim.

Nesta semana, a corregedora do Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon, revelou que 45% dos desembargadores de São Paulo não entregam suas declarações de bens e rendimentos ao TJ. Em Mato Grosso do Sul, 100% descumprem essa regra - imposta por uma lei de 1993.

Segundo Eliana Calmon, alguns juízes não entregam suas declarações por desconhecerem a exigência legal. Críticos dirão: eles fingem ignorância. É possível, embora não seja um despautério imaginar juízes desinformados, despreparados e incapazes de entender com precisão a função que desempenham.

Há uma frase comum quando alguém questiona uma sentença. O magistrado quase sempre responde: "Decidi de acordo com a minha consciência". Argumento menos republicano, impossível. Juiz deve proferir decisões de acordo com a lei. E agir no seu cotidiano da mesma forma. No fundo, a crise atual é positiva. Mostra o Judiciário prestes a perder seu poder autocrático. O processo é lento, mas inexorável. Juízes terão de se comportar como todos os outros cidadãos.

Fonte: Fernando Rodrigues, “A inexorável perda do poder”, Folha de S. Paulo, Opinião, 24/12/11, p. 2.

* Para ler "Uma questão de Justiça", o texto inicial, com minha opinião, basta clicar aqui.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011 | | 0 comentários

Uma questão de Justiça

Tão logo comecei a trabalhar como jornalista, ouvi de um colega o seguinte comentário: “O Judiciário é o mais problemático dos poderes”.

A observação faz sentido. Por mais que eclodam diariamente Brasil afora escândalos de corrupção envolvendo governos e legisladores, ninguém há de negar que os poderes Executivo e Legislativo estão expostos à sangria, tal qual o corpo de Tiradentes após ser executado na Inconfidência Mineira.

Prefeituras e governos estaduais e federal são fiscalizados à exaustão por vereadores, deputados, senadores, pela comunidade (por meio de suas entidades civis) e pela imprensa. Há quase uma devassa diária nas suas contas e nas suas práticas. O mesmo acontece com as Câmaras Municipais, os parlamentos estaduais e federal. Estão na mira da imprensa e de entidades que fiscalizam os poderes em geral.

E o Judiciário, está à vista de quem?

Até a criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de praticamente ninguém.

O ex-presidente Lula certa vez disse ser necessário abrir a “caixa preta” do Judiciário. Foi massacrado numa reação corporativista. E ele estava certo – como as ações do CNJ agora indicam.

O Judiciário é o mais fechado dos três poderes. É praticamente inacessível. Experimente você, cidadão, falar com um juiz. Se conseguir chegar até ele já terá sido um grande passo. As práticas jurídicas, extremamente tradicionalistas, mantêm o poder Judiciário distante da população. O povo em geral não entende como a Justiça funciona nem o que os juízes e demais operadores do Direito dizem (ou escrevem). Ainda se mantêm em muitos lugares práticas como deixar o juiz numa espécie de tablado acima dos demais “mortais” durante audiências e julgamentos.

E a prestação de contas do Judiciário, alguém tem acesso a ela de forma tão fácil como no caso dos poderes Executivo e Legislativo?

Além de extremamente fechado, o Judiciário é o mais refratário dos poderes no que diz a críticas. Via de regra, não as aceita e reage a elas com o poder de que dispõe, o da caneta.

E olha que ainda não chegamos aos meandros do poder, ou seja, às práticas não republicanas que de vez em quando aparecem via imprensa.

Contribui para isso o fato de não terem os magistrados e outros operadores do Direito que se submeter ao crivo das urnas – o que, registre-se, garante uma necessária segurança institucional e jurídica à função que desempenham.

O novo embate entre a Corregedoria do CNJ e as associações de magistrados é apenas mais um capítulo de uma briga eterna. Está no âmago da questão a ideia de que o Judiciário não deve ser vigiado, fiscalizado. A de que seria um “poder superior”. Nunca vão dizer isso, mas é isso o que sentem muitos de seus membros, ainda que inconscientemente.

Chama a atenção ainda o fato de que a reação dos magistrados só tenha surgido depois que a suposta “devassa” nas declarações de renda atingiu o poder Judiciário de São Paulo. Quando a fiscalização corria pelo Piauí e outros estados, nenhuma palavra.

Obviamente, é legítimo o direito dos magistrados (por meio de suas entidades de classe) se manifestarem contrários à atuação do CNJ. O fato de não terem criticado antes não tira deles o direito de agora agir.

Entretanto, que tal reação não pega bem perante a sociedade, reforça estigmas do Judiciário e não coaduna com o atual momento da sociedade, que quer uma faxina nas instituições, isto ninguém há de negar.

O povo também espera justiça da Justiça!

domingo, 1 de maio de 2011 | | 0 comentários

CR de Limeira: excelentes condições, avalia CNJ

Quase a metade das prisões paulistas está em condições adequadas. É o que aponta um relatório feito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), divulgado recentemente. O estudo, inédito, traça um verdadeiro raio-x do sistema prisional brasileiro.

Em todo o país, são 2.605 cadeias públicas, 543 penitenciárias, 76 albergues prisionais, 44 colônias agrícolas e 33 hospitais psiquiátricos.

No Estado de São Paulo, 189 unidades foram catalogadas. Destas, 78 receberam a classificação “boa”, 61 estão em situação “regular”, 16 foram consideradas “ruins” e 26 estão em “péssimas” condições. Só oito unidades, a maioria Centros de Ressocialização como o de Limeira, ganharam o selo de “excelente”.

Além de Limeira, a lista inclui os CRs de Birigui, Atibaia, Sumaré, Jaú e Mogi-Mirim, bem como o Centro Hospitalar Psiquiátrico de São Paulo e a Penitenciária de Casa Branca.

Na região de Limeira, a situação prisional reflete o cenário brasileiro. Com 1.287 presos num espaço para 562, o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Piracicaba foi considerado em péssimas condições pelo estudo do CNJ. Segundo o levantamento, o estabelecimento tem 162 agentes, número considerado insuficiente - funcionários reclamaram da superlotação na unidade ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) durante uma visita recente a Piracicaba.

Outro CDP da região foi considerado em péssimo estado: o de Americana. Com capacidade para 576 presos, ele abrigava 1.276.

Com 207 pessoas e capacidade para 130, o CR de Piracicaba - exclusivo para mulheres - foi considerado “ruim”.

A Cadeia Pública de Araras e o CR Feminino de Rio Claro foram considerados em boas condições. A Cadeia Pública de Leme recebeu a classificação “regular”.

Com 172 reeducandos e capacidade para 220, o CR de Limeira foi a única unidade prisional da região a ser considerada em excelentes condições pelo estudo do CNJ.

Descrição do estabelecimento:
CENTRO DE RESSOCIALIZAÇÃO DE LIMEIRA
Lotação atual masculina:
172
Quantidade de Presos provisórios Masculino:
19
Capacidade de vagas existentes Masculina:
220
Condição do Estabelecimento:
EXCELENTE
Quantidade de agentes:
24
Quantidade de computadores:
23

Descrição do estabelecimento:
CADEIA PÚBLICA DE ARARAS
Lotação atual masculina:
6
Quantidade de Presos provisórios Masculino:
3
Capacidade de vagas existentes Masculina:
24
Condição do Estabelecimento:
BOAS
Quantidade de agentes:
INFORMAÇÃO NÃO FORNECIDA
Quantidade de computadores:
1

Descrição do estabelecimento:
CENTRO DE RESSOCIALIZAÇÃO FEMININO DE RIO CLARO
Lotação atual feminina:
122
Quantidade de Presos provisórios Feminino:
4
Capacidade de vagas existentes Feminina:
130
Condição do Estabelecimento:
BOAS
Quantidade de agentes:
17
Quantidade de computadores:
23

Descrição do estabelecimento:
CADEIA PÚBLICA DE LEME
Lotação atual feminina:
84
Quantidade de Presos provisórios Feminino:
74
Capacidade de vagas existentes Feminina:
30
Condição do Estabelecimento:
REGULARES
Quantidade de agentes:
4
Quantidade de computadores:
1

Descrição do estabelecimento:
CENTRO DE RESSOCIALIZAÇÃO FEMININO CARLOS SIDNES CANTARELLI - PIRACICABA
Lotação atual feminina:
207
Capacidade de vagas existentes Feminina:
130
Condição do Estabelecimento:
RUINS
Quantidade de agentes:
28
Quantidade de computadores:
15

Descrição do estabelecimento:
CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA NELSON FURLAN DE PIRACICABA E ALA DE PROGRESSÃO
Lotação atual masculina:
1287
Quantidade de Presos provisórios Masculino:
1055
Capacidade de vagas existentes Masculina:
562
Condição do Estabelecimento:
PÉSSIMAS
Quantidade de agentes:
162
Quantidade de computadores:
37

Descrição do estabelecimento:
CENTRO DE DETENÇÃO PROVISÓRIA DE AMERICANA
Lotação atual masculina:
1276
Quantidade de Presos provisórios Masculino:
1026
Capacidade de vagas existentes Masculina:
576
Condição do Estabelecimento:
PÉSSIMAS
Quantidade de agentes:
195
Quantidade de computadores:
36
Fonte: CNJ

PS: o trabalho no CR de Limeira foi alvo de duas reportagens que eu fiz para a TV Jornal. Elas podem ser vistas aqui.