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terça-feira, 4 de agosto de 2015 | | 0 comentários

Nós, os imbecis (?)

(...) O escritor italiano (Umberto Eco) não tem boas palavras para as redes sociais. Há um mês, ao receber o título de doutor honoris causa na Universidade de Turim, disse que "a mídia social dá voz a uma legião de imbecis, que antes falava apenas no bar depois de beber uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade".

"Hoje eles têm o mesmo direito de palavra de um Prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis", afirmou, no discurso de agradecimento. "O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade."

As palavras soam duras e reducionistas. O saldo da popularização da internet e da facilidade de divulgação de opiniões que dela advém é mais positivo que negativo. Hoje, qualquer pessoa com uma conexão ou um celular diz em poucos segundos o que pensa sobre qualquer tema e, em países como a Itália ou o Brasil, sem censura.

O problema é que, assim como nos bares, no Facebook, no Twitter e no Instagram os imbecis fazem mais barulho que os sensatos. (...)

Fonte: Sérgio Dávila,
“Os imbecis estão ganhando”, Folha de S. Paulo, Opinião, 12/7/15.

***

(...) Segundo estudo recente da consultoria americana A.T. Kearney, o Brasil é o país com maior porcentagem de pessoas na faixa mais alta de permanência on-line: 51%, ante 37% do segundo colocado, a Nigéria, e 25% dos americanos. Somos um povo conectado/ disponível/on-line.

Isso tem implicações. Uma delas o canadense Michael Harris chama de "o fim da ausência", no poético título de livro recém-lançado nos EUA ("The End of Absence", Penguin). Estamos o tempo todo não só acessíveis virtualmente como compartilhando tudo o que vivemos. Isso faz com que tenhamos pouco tempo para digerir nossas experiências – para viver. (...)

Fonte: Sérgio Dávila,
“A gente somos ‘smupids'", Folha de S. Paulo, Opinião, 26/7/15.

* Leia também:


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015 | | 0 comentários

O que escrevem de você e o que você compartilha

A Corte de Justiça da União Europeia tomou no ano passado uma decisão extremamente relevante e polêmica: permitiu que um cidadão tivesse apagados registros no Google referentes ao seu passado. É o chamado “direito de ser esquecido”.

Esta é, sem dúvida, uma questão dos tempos modernos – e que veio para ficar.

"A decisão confirma a necessidade de trazer as normas atuais de proteção de dados da idade da pedra digital para o mundo da computação moderna", registrou Viviane Reding, comissária da Justiça da UE.

"Serviços de busca não armazenam informações, e tentar levá-los a censurar conteúdo legal em seus resultados é a abordagem incorreta. A informação precisa ser resolvida na fonte (…)", disse Emma Carr, diretora de uma organização pró-direitos de privacidade.

A polêmica coloca em pauta também os direitos (constitucionais em grande parte das democracias) às liberdades de imprensa e de acesso à informação.

No Brasil, a Constituição registra em seu artigo 5° que:

IX - é livre a expressão da atividade (...) de comunicação, independentemente de censura ou licença; 

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

Para o jurista Paulo Rená, “garantir o esquecimento, a fim de proteger a intimidade, pode abrir as portas para o crescimento da censura privada”. Em artigo para a “Folha de S. Paulo”, ele anotou:

Na Europa, foi ressalvado que o interesse público em acessar a informação supera a eliminação de dados considerados "inadequados, irrelevantes ou excessivos". 

E se fosse um livro, ou um filme, a palavra final sobre o que pode ou não ser narrado cabe ao desejo particular ou à Justiça?

A Internet, porém, além de complexa e instigante, por vezes é paradoxal. Como chamou a atenção Marcelo Coelho, também em artigo na “Folha”:

Como a internet funciona por ondas, um velho boato ou uma antiquíssima besteira renascem, meses depois de terem sido arquivadas. A mentira pode ter pernas curtas, mas volta sempre. 

Há ao mesmo tempo uma hipertrofia da memória --tudo pode ser lembrado-- e uma atrofia da memória, porque tudo será esquecido. Na política, Fulano denuncia um caso de corrupção, que equivale ao outro em que ele próprio estava envolvido.

Vê-se, portanto, que lembrar e esquecer são verbos intrínsecos à rede mundial.

Outro problema trazido à tona pela modernidade e que chegou à Justiça envolve os crimes de injúria, calúnia e difamação cometidos via redes sociais. Quando a autoria é conhecida, a possibilidade de processo é normal, bem como a chance de sucesso. A novidade apresentada no final de 2013 por uma decisão da 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo é o risco de condenação de quem compartilhar ou curtir eventuais ofensas.

O caso envolveu duas moradoras de Piracicaba e um veterinário da cidade. Uma das mulheres postou mensagens no Facebook consideradas em primeira instância ofensivas ao profissional. A outra as compartilhou. Ambas tiveram a condenação confirmada pelo TJ em decisão dos desembargadores José Joaquim dos Santos e Álvaro Passos, além do relator José Roberto Neves Amorim.

Apontou o relator:

Ora, por certo é direito de todos a manifestação do livre pensamento, conforme artigo 5º, IX, da Constituição Federal, contudo, caminha com este direito o dever de reparar os danos dela advindos se estes violarem o direito à honra (subjetiva e objetiva) do autor, direito este também disposto na Constituição Federal em seu artigo 5º, V e X. 
Se por um lado o meio eletrônico tornou mais simples a comunicação entre as pessoas, facilitando também a emissão de opinião, sendo forte ferramenta para debates em nossa sociedade e para denúncias de inúmeras injustiças que vemos em nosso dia-a-dia, por outro lado, trouxe também, a divulgação desenfreada de mensagens que não condizem com a realidade e atingem um número incontável de pessoas, além da manifestação precipitada e equivocada sobre os fatos, dificultando o direito de resposta e reparação do dano causado aos envolvidos. 

(...) Há responsabilidade dos que “compartilham” mensagens e dos que nelas opinam de forma ofensiva, pelos desdobramentos das publicações, devendo ser encarado o uso deste meio de comunicação com mais seriedade e não com o caráter informal que como entendem as rés.

Para quem tiver curiosidade, a sentença de primeira instância pode ser lida aqui, bem como o acórdão do TJ.

Portanto, mais cuidado com seus cliques. As redes sociais são parte da sociedade e estão sujeitas às mesmas regras legais, como tem confirmado a Justiça.


* Leia também (acrescentado em 15/6/15):

- Deixando as digitais

terça-feira, 11 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Uma reflexão sobre nosso mundo virtual

Acabei de ler um livro muito especial para mim (história já narrada neste blog): “The virtual self – how our digital lives are altering the world around us” (algo como “O ser virtual – como nossas vidas digitais estão mudando o mundo ao nosso redor”), de Nora Young.

A obra aborda um tema extremamente atual. A autora canadense faz um diagnóstico e, a partir dele, introduz complexas discussões suscitadas pelo “adorável mundo novo” da tecnologia.

A seguir, algumas anotações que fiz a partir da leitura (importante: os trechos não são traduções literais).

***

Somos uma sociedade viciada em números, mas ainda não definimos bem o que pode ser feito com eles, o que significa afinal viver num mundo digital e ser cidadão.

Tudo começou com o autorrastreamento de dados, que decolou com a popularização de equipamentos dotados de sensores eletrônicos, cada vez menores e melhores. A facilidade de uso se somou à possibilidade de compartilhar os dados, criando uma espécie de “superinteligência global”.

“É uma espécie de jogo que jogamos com nós mesmos para aprender sobre nós mesmos”, disse Carlos Rizo, do projeto “Quantified Self Toronto” (mais aqui).

Ou seja: o virtual ajuda a conhecer o real – e produz efeitos colaterais, já que ter consciência do que se faz é o primeiro passo para mudar comportamentos (imagine, por exemplo, no rastreamento de dados sobre suas atividades físicas).

Como disse Ben Franklin: cria-se um perfeito e detalhado retrato de nós mesmos que, usado apropriadamente, permite checar nosso comportamento. O risco é tornar o corpo um objeto. E o desafio é não perder contato com nosso interior e o mundo real.

Podemos conhecer pessoas e aprender sobre elas sem estar perto fisicamente. O lado ruim é que perdemos contato pessoal, até com aqueles de quem gostamos.

E não pense que é possível escolher participar deste “mundo novo”: só de usar ferramentas digitais você está envolvido numa rede de dados.

O ser humano é, por si, uma criatura compulsivamente social. A diferença hoje é que temos ferramentas para compartilhar informações facilmente. E isto - feito por milhares de pessoas - transforma o mundo.

Atualmente, é possível fazer o que só sofisticados serviços de inteligência conseguiam: saber exatamente onde as pessoas estão e deduzir o que estão fazendo. Isto muda a compreensão de nossa relação com o mundo.

Contudo, o uso das novas tecnologias envolve complexas regras sociais e há pouca discussão a respeito. Afinal, é possível que os dados que fornecemos falem mais de quem realmente somos do que as histórias que contamos.

Dados sobre nossas vidas são importantes para nós, mas também para outros. A questão que se coloca é: quem vai usar esses dados e como? Eu tenho direito de guardar e usar uma conversa, por exemplo?

Estamos diante de uma sociedade que pode ser muito mais transparente e também mais invasiva. A natureza fácil e automática de muitas ferramentas significa que não precisamos saber como elas funcionam para usá-las. Mas se não sabemos como funcionam, podemos estar usando-as sem cuidado.

Informações colhidas num contexto, por exemplo, podem ser usadas em outro – e isto pode ser benéfico ou perigoso.

Por isso, um desafio é criar aplicações úteis para o uso dos dados.

O fato é que criamos dados e eles produzem valor.

Atualmente, o compartilhamento de dados não é só a chave do “network social”, mas também dos negócios.

Há, porém, uma diferença (quase ética) entre dados que geramos propositalmente e os que fornecemos inadvertidamente.

Precisamos balancear os modelos de negócio das companhias que querem usar nossos dados, o valor social dessa informação e, o mais importante, nossos direitos.

As companhias têm que ser transparentes sobre como estão usando nossos dados – uma relação hoje restrita aos “termos de serviço” ou “termos de uso” que geralmente avalizamos sem ler.

Este novo ecossistema de informações exige uma nova política de dados – algo como  o Marco Civil da Internet, aprovado este ano pelo Congresso brasileiro e considerado referência.

Mas é preciso considerar que a lei é absolutamente lenta para lidar com a evolução tecnológica. “Precisamos de um ‘new deal’ de dados”, diz Alex Pentland, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

Uma outra tarefa interessante é pensar em iniciativas não só para tornar dados públicos, mas também para o público criar dados úteis. Isto pode ser uma nova forma de democracia e de tornar mais inteligente a vida nas cidades. Uma espécie de “data democracy”.

quinta-feira, 17 de julho de 2014 | | 0 comentários

Um adeus ao Facebook

Recentemente, o ator Alexandre Nero desistiu de usar o Facebook. O motivo foi explicado por ele numa espécie de carta aberta, postada na própria rede social. E não há manifestação mais clara. 

Me despeço do Facebook pelo discurso de ódio que tem sido cada vez mais constante, e compartilhado, não que nas outras redes sociais ou blogs não exista. Há ódio na internet. Não apenas aquele "clássico" sobre cor ou religião, futebol e política. As pessoas se odeiam. Com todas as forças possíveis. Um fato ocorre envolvendo seres humanos e basta para os comentários no Facebook esfarelarem a vida dos incautos. 
Pq o Facebook é a única rede social que me faz obrigatoriamente ver postagens de pessoas que não quero. Ele serve para fazer "amigos" e por isso essas conexões acontecem. (...)

É importante lembrar que o problema não reside no Facebook em si, mas no uso que muitas pessoas fazem dele. Como registrou o ator, porém, esta rede social em especial, por suas características, dá mais vazão ao que ele chamou de "discurso de ódio".

Discurso que, registre-se, está presente cada vez mais na sociedade, intolerante e dividida (fruto até de discursos políticos dos últimos anos que investem no "nós" contra "eles", sejam lá quem forem estes tais "nós" e "eles").

terça-feira, 20 de maio de 2014 | | 0 comentários

Vida visualizada - uma crítica sobre as redes sociais

"I forgot my phone", escrito por Charlene deGuzman e dirigido por Miles Crawford:



"Look up", dirigido por Gary Turk:



Leia também:

- Retrato de uma juventude

quarta-feira, 23 de abril de 2014 | | 0 comentários

"Selfies"

Muita gente se irrita, e tem razão, com o uso indiscriminado dos celulares. Fossem só para falar, já seria ruim. Mas servem também para tirar fotografias, e com isso somos invadidos no Facebook com imagens de gatos subindo na cortina, focinhos de cachorro farejando a câmera, pratos de torresmo, brownie e feijoada.

Se depender do que vejo com meus filhos - dez e 12 anos -, o tempo dos "selfies" está de todo modo chegando ao fim. Eles já começam a achar ridícula a mania de tirar retratos de si mesmo em qualquer ocasião.

(...) Hábito que pode ser compreensível, contudo. Imagino alguém dedicado a melhorar sua forma física, registrando seus progressos semanais. Ou apenas entregue, no início da adolescência, à descoberta de si mesmo.

A bobeira se revela em outras situações: é o caso de quem tira um "selfie" tendo ao fundo a torre Eiffel, ou (pior) ao lado de, sei lá, Tony Ramos ou Cauã Reymond.

Seria apenas o registro de algo importante que nos acontece - e tudo bem. O problema fica mais complicado se pensarmos no caso das fotos de comida. Em primeiro lugar, vejo em tudo isso uma espécie de degradação da experiência.

Ou seja, é como se aquilo que vivemos de fato - uma estadia em Paris, o jantar num restaurante - não pudesse ser vivido e sentido como aquilo que é.

Se me entrego a tirar fotos de mim mesmo na viagem, em vez de simplesmente viajar, posso estar fugindo das minhas próprias sensações. Desdobro o meu "self" (cabe bem a palavra) em duas entidades distintas: aquela pessoa que está em Paris, e aquela que tira a foto de quem está em Paris.

Pode ser narcisismo, é claro. Mas o narcisismo não precisa viajar para lugar nenhum. A complicação não surge do sujeito, surge do objeto. O que me incomoda é a torre Eiffel; o que fazer com ela? O que fazer de minha relação com a torre Eiffel?

Poderia unir-me à paisagem, sentir como respiro diante daquela triunfal elevação de ferro e nuvem, deixar que meu olhar atravesse o seu duro rendilhado que fosforesce ao sol, fazer-me diminuir entre as quatro vigas curvas daquela catedral sem clero e sem paredes.

Perco tempo no centro imóvel desse mecanismo, que é como o ponteiro único de um relógio que tem seu mostrador na circunferência do horizonte. Grupos de turistas se fazem e desfazem, há ruídos e crianças.

Pego, entretanto, o meu celular: tiro uma foto de mim mesmo na torre Eiffel. O mundo se fechou no visor do aparelho. Não por acaso eu brinco, fazendo uma careta idiota; dou de costas para o monumento, mas estou na verdade dando as costas para a vida.

Não digo que quem tira a foto da cerveja deixe de tomá-la logo depois. Mas intervém aí um segundo aspecto desse "empobrecimento da experiência". Tomar cerveja não é o bastante. Preciso tirar foto da cerveja. Por quê?

Talvez porque nada exista de verdade, no mundo contemporâneo, se não for na forma de anúncio, de publicidade. Não estou apenas contando aos meus seguidores do Facebook que às 18h42 de sábado estava num bar tomando umas. Estou dizendo isso a mim mesmo. Afinal, os meus seguidores do Facebook, sei disso, não estão assim tão interessados no fato.

Não basta a sede, não basta o prazer, não basta a vontade de beber. Tenho de constituí-la como objeto publicitário. Preciso criar a mediação, a barreira, o intervalo entre o copo e a boca.

Vejam, pergunto a meus seguidores inexistentes, "não é sensacional?". Eis uma cerveja, a da foto, que nunca poderá ser tomada. A foto do celular imortaliza o banal, morrerá ela mesma em algum arquivo que apagarei logo depois.

Não importa; fiz meu anúncio ao mundo. Beber a cerveja continua sendo bom. Mas talvez nem seja tão bom assim, porque de alguma forma a realidade não me contenta.

A imagem engoliu minha experiência de beber; já não estou sozinho. Mesmo que ninguém me veja, o celular roubou minha privacidade; é o meu segundo eu, é a minha consciência, não posso andar sem ele, sabe mais do que nunca saberei, estará ligado quando eu morrer.

Talvez as coisas não sejam tão desesperadoras. Imagine-se que daqui a cem anos, depois de uma guerra atômica e de uma catástrofe climática que destruam o mundo civilizado, um pesquisador recupere os "selfies" e as fotos de batata frita.

"Como as pessoas eram felizes naquela época!" A alternativa seria dizer: "Como eram tontas!". Dependerá, por certo, dos humores do pesquisador.

Fonte: Marcelo Coelho, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 23/4/14 (íntegra aqui).

terça-feira, 22 de abril de 2014 | | 0 comentários

Agora no Instagram

A partir de hoje, estou no Instagram (o famoso "Estragão", como dizia um ex-colega de trabalho, o "Sem Rosto").

Quem me conhece sabe que tenho certa ojeriza a redes sociais. Não à toa; já tive Twitter e Orkut e as experiências positivas se juntaram a outras tantas negativas - e, definitivamente, não preciso destas últimas e tampouco as primeiras eram essenciais.

Logo, abandonei ambos.

Até hoje, resisti ao Facebook, com convicção - apesar dos insistentes apelos de amigos.

Não aprecio a excessiva exposição e invasão de privacidade que as redes sociais - Facebook à frente - estimulam e provocam. Não preciso saber onde fulano jantou nem que alguém saiba onde estou jantando; não preciso receber beijinhos de quem está voltando para casa; não preciso saber que alguém agradeceu a Deus porque encontrou o "amor da sua vida"; não preciso saber que fulano foi com seu amor para Fortaleza, Porto Alegre, Miami ou Buenos Aires.

Ainda assim, cedi à intimação de amigos para entrar no Instagram. Por que cedi, afinal? Basicamente por três razões. A primeira e principal delas é que adoro tirar e ver fotografias. A segunda razão foi a menor exposição/invasão de privacidade que a rede possui em relação ao Facebook. 

E, em terceiro lugar, me chamou a atenção a possibilidade de compartilhar fotos que faço muito sem motivo e que não encontram lugar para exposição - eventualmente neste blog, mas por tão tolas que são, às vezes sequer as posto. 

Exemplos são as fotos abaixo:



No Instagram, poderei postá-las sem dor na consciência. Uma imagem no Instagram, na minha cabeça (vai entender...?), não tem o "peso editorial" de uma postagem no blog.

Apesar disso, estabeleci algumas regras próprias. Pretendo postar fotos inúteis como as desta postagem, fotos curiosas, flagrantes que capto diariamente durante meu trabalho, imagens de cunho mais artístico e raramente coisas pessoais (as exceções ficarão por conta de algumas reuniões de amigos ou encontro interessante e alguma eventual viagem).

Dito isto, convido-o(a) a me seguir. Basta clicar aqui.

PS: se o Instagram fugir ao controle, como ocorreu com Orkut e Twitter, simplesmente deleto.

domingo, 16 de março de 2014 | | 0 comentários

"Ciberescapismo"

(...) Se Samantha é um avatar avançado de Siri, Theodore em nada difere dos cibernautas do presente que vivem vicariamente num mundo à parte, como almas penadas do limbo digital em busca de uma saída distanciada, clean, para sua solidão. São zumbis, e não apenas usuários, das mídias sociais, viciados no Facebook, no Twitter e serviços afins. Diversos estudos recentes, e não tão recentes, sobre os efeitos negativos da convivência virtual revelam dados preocupantes. Conclusão unânime: quanto mais vazia nossa vida pessoal, maior a tendência para preenchê-la na realidade virtual. Quanto mais ocupados e ativos, menos nos deixamos seduzir pelo ciberescapismo.

Permanecer muito tempo nas redes sociais pode provocar insônia, ansiedade, estresse, distúrbios digestivos (revelação da última edição do Journal of Eating Disorders), anorexia, afetar a autoestima, incitar a inveja e o ciúme. A psicoterapeuta Sherri Campbell defende essa tese com ardor: "As mídias sociais nos dão um falso sentimento comunitário, uma falsa conectividade com o mundo e as pessoas. As trocas que nelas se processam são meros simulacros das relações interpessoais no mundo físico. Milhares de contatos, amigos, seguidores e curtições não valem o sucesso real, palpável, que podemos desfrutar no mundo real".

(...) Nas mídias sociais a vida dos outros parece perfeita e isso pode nos deixar complexados e deprimidos, ainda que o que os outros nos mostram seja apenas um instantâneo da realidade, eventualmente edulcorada, falsificada, "porque também produto de um complexo de inferioridade", acrescenta a psicoterapeuta (...)

Fonte:
Sérgio Augusto, “O Estado de S. Paulo”, Aliás, 16/3/14, p. E9 (íntegra aqui).

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014 | | 0 comentários

"Contra o Facebook"

O fato é que sumi com o aplicativo do Facebook. Senti uma sensação boa. Aproveitei o entusiasmo e apaguei também os aplicativos do LinkedIn, do Lulu (que instalei para testar e achei simplesmente péssimo) e até do Viber (algo entre o Skype e o WhatsApp). Combinei comigo mesma que vou observar o que acontecerá com as minhas mãos da próxima vez que ficar à toa com o telefone na mão. Será que vou tremer? Será que entrarei na App Store e baixarei tudo de novo? Ou vou me esquecer aos poucos dessa mania de ficar fazendo a ronda na internet, checando as atualizações das redes e esperando reações a cada coisa que publico, nem sei bem por quê?

Sério mesmo: o Facebook é a maior perda de tempo que conheci na vida. Quanto mais amigos eu "faço", mais me distancio das pessoas que são realmente importantes para mim. A fatalidade é que sempre perco informações de quem me importa no meio da balbúrdia da multidão a que estou conectada.

Fonte:
Marion Strecker, “Folha de S. Paulo”, Tec, 3/2/14 (íntegra aqui).

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014 | | 0 comentários

Tribunal Facebook

(...) Essas conclusões foram extraídas de redes sociais menos de 24 horas depois de a história vir à tona, na semana passada. O tribunal Facebook já havia chegado a um veredicto.

(...) Esses episódios ilustram bem o que se transformou a internet pós-Mark Zuckerberg - um imenso fórum, indispensável e democrático, mas também terreno fértil para conclusões apressadas e intolerância de todos os matizes.

Fonte: Alan Gripp, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 23/1/14, p. 2 (íntegra aqui).

domingo, 22 de setembro de 2013 | | 0 comentários

Dez minutos no Facebook - uma experiência

Dia desses, um amigo chegou e me disse: “Olha as fotos do meu sobrinho no Rio”. 

As fotos estavam no Facebook. Eu não tenho Facebook e mal sei mexer (fuçar?) nele.

Pois bem: em cerca de dez minutos que “facebookei” me vi xereteando nos fatos e fotos de umas oito pessoas pelo menos (estas foram as que eu lembrei no momento em que escrevo esta postagem).

Dez minutos bisbilhotando a vida alheia – que, por sua vez, estava lá exposta publicamente.

É este tipo de situação que me incomoda no Facebook (como já me incomodava no Orkut e, em certo grau, no Twitter): a mania (vício?) de xeretear a vida dos outros e permitir que os outros bisbilhotem a nossa vida.

Aí alguém poderá dizer: basta se controlar.

E é aí que eu respondo: o “sistema”, o Facebook no caso, faz com que você navegue pela vida dos outros. É quase inevitável. Até porque qual o sentido de estar numa rede social se não para “compartilhar” (é este o termo, não?) as experiências?

A questão é que este “compartilhamento” passou dos limites.

Qual o sentido de alguém dizer que está no shopping com fulano e beltrano? Ou que está no zoológico com o(a) namorado(a)? Ou no cinema? Ou em Paris?

Qual o sentido de postar tantas fotos, transformando a vida diária praticamente num “book”, num diário visual? Que narcisismo é este? Qual a finalidade de tanto exibicionismo?

Eu, por exemplo, descobri certa vez por meio de uma foto no Facebook que um ex-colega de trabalho tinha sido “traído” (esta não é bem a palavra, mas não vem ao caso). Como? Porque um outro colega tinha postado uma foto de um beijo dele com a “pegadete” do outro.

Esta minha experiência recente, fuçando nos perfis dos outros, trouxe-me à mente uma entrevista do jornalista e escritor Bernardo Carvalho sobre o seu mais recente livro, “Reprodução”. Detalhe: na obra, ele trata da Internet em geral, ou seja, o Facebook é apenas uma parte do problema.

Veja a seguir alguns trechos:

Folha - Não é de hoje que você questiona uma "banalização" promovida pela internet. Como essa ideia virou livro?
Bernardo Carvalho - Tive um processo longo de percepção de uma fascistização do mundo, de um jeito ambíguo, porque as pessoas criam o fascismo achando que estão encontrando a liberdade. A internet é libertária, democrática, mas também faz você entregar sua privacidade e se relacionar com corporações como se fossem Deus ou a natureza. Elas dizem: "Você não precisa pagar nada". E você se entrega acriticamente, porque a ideia de não fazer esforço é sedutora. E há o narcisismo, a exposição no Facebook, que pega um ponto central. É perverso, a conquista vai em pontos frágeis da psique, você se sente uma celebridade. Do ponto de vista político, você acha que está usando, mas está sendo usado. O livro expressa esse desconforto.
Na sua opinião, a internet apenas reflete um comportamento humano ou o reforça?
Talvez tenha acirrado algo que sempre existiu em potencial. Você não tem privacidade, mas pode ter anonimato, o que permite uma manifestação de imbecilidade sob a proteção do anonimato. Estava incomodado com isso e pensei nesse narrador que representa o ódio absoluto, o anonimato da internet. No livro há uma frase do [filósofo espanhol] Ortega y Gasset: "Todo povo cala uma coisa para poder dizer outra. Porque tudo seria indizível". O personagem tem a informação absoluta, mas nada do que ele diz quer dizer muito. Não adianta você saber um monte de coisas, ser informado na superficialidade midiática sem uma compreensão do mundo. Você só reproduz, não consegue mais produzir.
Fonte: Raquel Cozer, “Você acha que usa a Internet, mas estásendo usado por ela”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 21/9/13.

terça-feira, 13 de agosto de 2013 | | 0 comentários

"O Facebook e a máquina de escrever"

Minha primeira vez na Redação da Folha coincidiu com a chegada dos computadores.

Até então, o ambiente era dominado pelas máquinas de escrever e pela fumaça dos cigarros.

Fui testemunha ocular da rejeição instantânea de alguns colegas à novidade tecnológica.

Uns profetizavam que a chegada das "máquinas silenciosas com monitores parecidos com os de TV" era um sinal do fim do jornalismo. Outros se agarravam nostálgicos às suas Olivettis como náufragos diante de uma boia no convés do Titanic.

Temo que o atual debate "jornalismo convencional x redes sociais" (...) repete o falso dilema "computador x máquina de escrever". A comparação entre ferramentas diferentes, somada à confusão entre ferramenta e usuário, conduz a conclusões distorcidas.

A mudança central que computadores trouxeram ao jornalismo foi conectar os profissionais na Redação e, depois, fora delas. As informações passaram a ser compartilhadas em tempo real, flexibilizando as decisões editoriais e os prazos de fechamento.

Era o início tímido da aceleração espantosa que experimentamos hoje na publicação das notícias na era das redes sociais.

Já as redes sociais não representam uma mudança de hardware, mas de software. Na história da comunicação, a transmissão da informação sempre foi unidirecional.

Na revolução digital, as redes sociais subverteram esse fluxo. Leitores não querem mais ser só leitores. Querem também publicar, criticar, influenciar. Substitua leitores por telespectadores, ouvintes, empresas, consumidores, alunos, professores, chefes, funcionários, pais, filhos, torcedores, clubes de futebol e sinta o tamanho da encrenca.

Depois das manifestações de junho, a Folha passou a ser enfática em criticar as redes sociais. Em um editorial, chegou a alertar: "É honesto reconhecer um aspecto corporativo nessas críticas".

Não questiono a legitimidade das críticas, mesmo corporativas, e até concordo com algumas delas. O equívoco é como se fundamentam: na tentativa inglória de separação asséptica entre "jornalismo convencional" e redes sociais.

(...) Ora, blogs e redes sociais são apenas ferramentas, sem vida própria. Podem ser usadas bem ou mal, por profissionais ou amadores. Ao que me consta, esta Folha tem blogs e está nas redes sociais. Resta a pergunta: qual o significado, em 2013, da expressão "mídia convencional"?

Não é mera questão semântica. Quem pensa fazer parte da "mídia convencional" parece ainda acreditar na existência de um "leitor convencional". Mesmo contra a vontade, a mídia antiga já foi empurrada para a revolução digital pelos seus próprios usuários. É hora de nos desapegarmos dos falsos dilemas e reinventarmos o jornalismo.

Fonte: Marcelo Tas, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 12/8/13, p. 3 (para ler na íntegra, clique aqui).

terça-feira, 23 de julho de 2013 | | 0 comentários

"Invasão de privacidade"

(...) As redes sociais, esse grande bacanal de narcisismo, são um prato cheio para sermos vigiados. Sites nos dão nosso perfil de consumo e nossa "linha da vida". Celulares nos avisam quando algo acontece em nossa conta e em nosso cartão de crédito, e isso tudo é muito "prático", não?

Este evento revela a óbvia violência à privacidade que as redes sociais significam. A ideia de que elas são uma ferramenta da democracia pode ser uma ideia também infantil. (...)

Fonte: Luiz Felipe Pondé, “Folha de S. Paulo”, Ilustrada, 22/7/13 (para ler a íntegra, clique aqui).

segunda-feira, 15 de julho de 2013 | | 0 comentários

"Facebobos"

A "grande mídia" mundial é hoje dominada por empresas como Facebook, Google e Twitter e subprodutos como Instagram, Skype e YouTube. Juntas, elas faturaram pelo menos R$ 120 bilhões só nos EUA em 2012 - ou cerca de três vezes o que movimentou no mesmo período o mercado publicitário brasileiro inteiro.

Sim, volto ao tema da coluna passada. É que, no mesmo dia em que eu escrevia que o Facebook é pouco transparente, o jornal "O Globo" publicava reportagem mostrando que o Brasil é um dos alvos da espionagem dos EUA, aquela que, segundo o "Guardian", usa o programa Prism para acessar contas do... Facebook.

Essas empresas são cada vez mais poderosas e tentaculares, com lobistas nos Legislativos e Judiciários do mundo inteiro --inclusive no Brasil. Ainda assim, pela novidade tecnológica e por contarem com um marketing muito bem feito, são vistas por seus usuários como operações amadoras tocadas por idealistas.

Sorte delas. O problema é que são empresas de práticas duvidosas e espinha dorsal gelatinosa. Quando instadas pelos governos, como ocorreu recentemente nos EUA, abrem acesso a dados de seus usuários do mundo inteiro - inclusive do Brasil.

A Microsoft, hoje dona do Skype, chegou a ajudar os arapongas a quebrar seu próprio bloqueio para um acesso mais rápido. Esse tipo de solicitude não é novidade. Na China, por exemplo, o Google censurou das buscas termos considerados indesejáveis pelo governo local. Em troca, pode continuar no país.

Imagine o escândalo se o "New York Times" fizesse acordo semelhante: seus correspondentes poderiam ficar em Pequim, desde que as reportagens que escrevessem não fossem críticas ao governo chinês. Ou se o jornal passasse dados de seus assinantes para a CIA.

Pois é o que aconteceu e acontece na nova "grande mídia". Enquanto isso, atualizamos nossos status, curtimos e compartilhamos. 

Fonte: Sérgio Dávila, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 14/7/13, p. 2.

Leia também:

domingo, 27 de janeiro de 2013 | | 0 comentários

De novo o Facebook...

Em menos de dez dias, o Facebook invadiu as conversas ao meu redor. Primeiro, um “imbroglio” envolvendo o que considero uma idiotice de “aceitar” e “excluir” (repare bem nos verbos e o peso que eles representam) alguém como “amigo”. Como se pudesse existir amizade por meio de uma rede social, mas esta é outra questão.

Depois, um outro problema envolvendo a necessidade das pessoas de fazerem do tal Facebook um diário. “Fui em tal lugar...”, “Estive com fulano...”. De repente, a vida de -  quase – todo mundo tornou-se de interesse público.

E tudo culminou no questionamento de uma conhecida. A pergunta inevitável: “Você não tem Facebook né?”. No que respondi: “Para quê? Para ficar fuçando a vida dos outros?”. E ela: “Ué, é exatamente isto. É legal!”.

Dispenso.

Não adianta você aí, fã do dito cujo, dizer que não é necessariamente assim porque está na essência do Facebook bisbilhotar o que outros escrevem. Daí à exposição exacerbada que se vê a todo momento é um pulo. A tal rede despertou, parece-me, alguns dos mais primitivos instintos humanos...

Confesso que não entendo o que motiva alguém a tornar pública sua agenda diária de compromissos.

Tampouco consigo entender a exposição fotográfica (muitas vezes de gosto duvidoso, quando não resvalando para o apelo erótico mesmo). Poses e mais poses, novos cortes de cabelo, mensagens inúteis, enfim.

De repente, a vida de – quase – todo mundo virou um livro aberto.

A vaidade humana é potencializada pela rede, sem dúvida. O ego fica lustrado. Quem não gosta de, ao postar uma foto, ler comentários do tipo “linda”, “fofa”, “bonita como sempre”? Ou mesmo receber cantadas como “está disponível?” e afins. Faz parte da natureza humana gabar-se com o elogio.

Não sou psicólogo, antropólogo ou algo do gênero para tentar explicar o fenômeno. Nem pretendo.

Só sei que me causa certa irritação esta exposição da vida alheia. E o interessse que isto desperta – porque desperta.

Aí um amigo me disse: “O problema não é o Facebook, são as pessoas”. Ele tem meia razão. Afinal, a tal rede foi criada para quem senão para o ser humano?

O fato é que, sem ter Facebook, em uma semana me vi diante de dois problemas ligados a ele.

Prefiro, pois, levar minha vidinha desinteressante. Acho melhor, como costumava brincar um colega, “reduzir-me à minha insignificância”.

A quem há de interessar, por exemplo, que acordei resfriado se não sou Frank Sinatra...?

segunda-feira, 30 de julho de 2012 | | 0 comentários

Sobre as amizades virtuais

Me despeço de minha amiga com um abraço apertado. "A gente se fala" - ela diz, enquanto se afasta de mim fazendo um gesto no meio do peito. Por um momento, achei que ela ia fazer um desses coraçõezinhos de polegares com que as pessoas andam "espalhando amor" por aí. Seria muito estranho, pois ela não é nada afeita a esse tipo de modismo.

Aos poucos fui detectando o que suas mãos diziam. Mexia freneticamente os polegares no novo gesto que tomou conta da humanidade: o digitar de mensagens. Minha amiga falou "a gente se fala" dizendo que a gente não ia exatamente se falar.

Por quê?! Por que é que depois de tão delicioso encontro só nos restava aquele tipo de comunicação? Por que não fez o tradicional polegar e mínimo na orelha? Não queria falar comigo? Ela me ama, bem sei que ela me ama. Por que não me ligaria?

Me dei conta do quanto fomos rapidamente tomados. Eu mesma já exibo uma destreza inacreditável naquele teclado mínimo que jurei não servir pra nada. Ao decodificar o gesto de minha amiga, percebi que eu também já ardia na febre dos torpedos.

Mas por que será que levamos um tempão digitando mensagens e não telefonamos? Uns dizem ser mais barato, outros, mais objetivo.

Falam ainda de respeito à privacidade, da liberdade de responder quando quiser, milhões de desculpas para o conforto do isolamento.

Vivo agora com o queixo no peito, nariz na tela e as mãos cada vez mais rápidas nesse tricô tecnológico que, na maioria das vezes, leva mais tempo do que se eu ligasse pra pessoa. Por que não ligo, santo Deus!? Economia?

No meu caso, confesso que não. Desconfio que algo maior se esconde por trás de nossas letras virtuais.

Bem sei que a vida escrita é mais charmosa que a vida falada, mas acho que estamos sendo destreinados para o convívio. Estaremos cada vez mais rápidos com nossos dedos e cada vez mais lentos para sair delicadamente de uma situação constrangedora, por exemplo. Viraremos as costas e mandaremos um e-mail no dia seguinte?

Tenho medo de, no futuro, saber detectar gestos como o de minha amiga, mas não conseguir ler nem lidar com uma baixada de olhar, um pigarro, um brilho no olho ou um sorriso burocrático. Códigos clássicos do sutil alfabeto das relações humanas.

Um outro amigo diz que o único desconforto do isolamento é o buraco que fica no peito do animal que foi feito pra viver em bando. Vou ligar pra minha amiga. Melhor, vou marcar um novo encontro.

Fonte: Denise Fraga, "A gente se fala", Folha de S. Paulo, Equilíbrio, 10/7/12.

segunda-feira, 16 de julho de 2012 | | 0 comentários

Vícios modernos

Viramos uma civilização de seres cabisbaixos, que se esbarram nas ruas encantados pela telinha luminosa. O vício em celulares inteligentes é tão forte como outros, segundo Leslie A. Perlow, professora de Harvard e autora de "Sleeping with Your Smartphone" (dormindo com seu celular).

Já existe até palavra para o medo de perder o aparelho: "nomofobia", do inglês "no-mobile phobia". Surgiu como resultado de um estudo que descobriu que 53% dos ouvidos sentem ansiedade semelhante à de ir ao dentista ao pensar em perder o celular, ficar sem bateria ou crédito.

Fonte: Sérgio Dávila, “Força no torpedo”, Folha de S. Paulo, Opinião, 15/7/12, p. 2 (para ler na íntegra, clique no link – é preciso ter senha do jornal ou do UOL).

quarta-feira, 30 de maio de 2012 | | 0 comentários

Ainda (e sempre...) o Facebook

Uma das perguntas a que mais tenho ouvido ultimamente é: “Você tem Facebook?”. E a reação que mais tenho visto quando respondo que “não” é um espantoso “ohhh!”.

Vou escrever em letras garrafais: EU NÃO TENHO FACEBOOK!

Minha opinião a respeito dele – e de outras redes sociais do gênero – já foi postada aqui e reproduzida aqui.

Hoje, diante de mais uma indagação (e mais uma resposta negativa de minha parte), uma colega de profissão sugeriu que eu criasse uma conta “fake” só para acessar informações. Um colega emendou: “Tem muita pauta no Facebook, hoje tudo acontece pelo Facebook”.

Eles até têm razão, mas na minha vida prefiro que as coisas aconteçam no mundo real.

Curiosamente, a mesma colega que me sugeriu criar uma conta “fake” veio me contar uma “fofoca” (não era bem uma fofoca no sentido de ser maldosa). Ou seja: ela corroborou minha tese a respeito do Facebook – a de que ele serve mais para bisbilhotar a vida alheia e para quem quer buscar “tilangos" e "tilangas” do que para qualquer outra coisa.

Em tempo: ainda que possa ser útil para “saber das coisas”, de que valia tem uma relação virtual? A “fofoca” contada pela minha colega era sobre a morte do filho de um conhecido. Quantas mensagens terá ele recebido via Facebook? Inúmeras. Quantas dessas pessoas terão ido ao velório ou à casa dele para consolá-lo, como fazem os AMIGOS?

A resposta ajuda a explicar porque tenho resistência ao Facebook. Prefiro as poucas – e boas e sinceras – amizades reais.

segunda-feira, 28 de maio de 2012 | | 0 comentários

Cuidado com o smartphone!

Para quem acha exagero dizer que as redes sociais e as ferramentas de acesso a elas são um estímulo para bisbilhotar a vida alheia, recomendo a leitura da reportagem publicada nesta segunda-feira pela “Folha de S. Paulo” a respeito do trabalho do norte-americano Christopher Soghoian.

A especialidade dele? Revelar a fragilidade de segurança justamente das redes sociais e das ferramentas de acesso, como os celulares.

Um trecho provocativo e emblemático: "Eles (smartphones) são um acordo com o diabo. Ganhamos esses aparelhos extremamente convenientes, mas eles não trabalham em nosso benefício. Aplicativos podem vasculhar dados e enviá-los sem nos consultar. As empresas podem pedir para nossos telefones indicarem onde estamos. O smartphone é como um agente secreto do governo, pelo qual pagamos”.

A reportagem na íntegra pode ser lida
aqui.

domingo, 20 de maio de 2012 | | 0 comentários

Jornais sem novidade

Sou um leitor assíduo de jornais – não, não sou da geração “y”. Meu nível de conexão com as redes sociais é baixíssimo (não tenho Facebook, Twitter, Orkut, nada dessas ferramentas que só nos desviam o foco, arrumam problemas por causa da “bisbilhotice” alheia e servem para quem quer ficar procurando “tilangos” e “tilangas” ou “amigos” virtuais).

Fiz esta introdução inútil para deixar claro que não sou um usuário inveterado da Internet. Esta observação é importante para o que pretendo comentar. Como leitor de jornais, tenho percebido certa inutilidade de muitas páginas (e não são de classificados...). Vou tentar ser mais claro: grande parte das notícias que recebo diariamente não me interessa (nem aos meus pais, que compartilham os jornais comigo). Pouco se salva em cada edição.

Notícias como “Aumenta a procura por peixes na Quaresma” ou “Finados deve atrair 20 mil aos cemitérios” não fazem mais sentido no mundo de hoje. Tenho focado minha leitura em análises (editoriais, opiniões, etc) e eventuais “furos” de reportagem (sejam denúncias relevantes ou histórias exclusivas, bem escritas e bem contadas).

O que isto significa? Que a maior parte do noticiário está disponível na Internet. Somos bombardeados a cada minuto por uma quantidade enorme de informação. E os jornais continuam reproduzindo – no dia seguinte! - muito do que já está nas redes, tornando-os quase desnecessários. Se continuarem assim, vão acelerar as previsões apocalípticas sobre o meio.


Recentemente, estive nos Estados Unidos e percebi como os grandes jornais (“The New York Times” e “Washington Post”, por exemplo) reduziram o tamanho de suas edições, principalmente durante a semana. Lá, onde o acesso aos aparelhos móveis e à banda larga é infinitamente maior que no Brasil, a crise na mídia impressa é séria e já causou falências e centenas de demissões (talvez milhares).
 
Trata-se, então, de um caminho sem volta?

Não, ao contrário. Encontrei nos jornais norte-americanos boas histórias, daquelas que não aparecem facilmente em todos os sites (ou em qualquer site). Ou as mesmas histórias, contadas de um jeito diferente, sob um prisma novo. É uma reação às mudanças, uma tentativa de sobrevivência.

Além disso, permanecem as análises de conjuntura e as crônicas. Este tipo de material não se encontra por aí, reproduzido aos montes em qualquer site de notícias. Já as informações sobre a “procura por peixes na Quaresma” ou o “público do Finados” podem ser lidas em qualquer lugar.

Caros colegas jornalistas: não entendam esta manifestação como crítica ou ressentimento porque deixei a mídia impressa há três anos. Ao contrário: abri este texto deixando claro que sou um leitor assíduo de jornais. Formei-me profissionalmente dentro de uma redação de veículo impresso, algo de que me orgulho. Nutro o maior respeito pelo meio.

Busco apenas fazer uma análise sincera do meio (e muito do que escrevi sobre os jornais e revistas vale também para a TV, cujo noticiário do dia-a-dia é praticamente igual em qualquer canal e sem novidades em relação ao que já se viu na Internet).

Onde estão as grandes reportagens, as boas histórias, os bons textos, as belas imagens? Isto atraiu, atrai e atrairá sempre leitores e telespectadores.

(Em tempo: isto exige investimentos em profissionais de qualidade e em infraestrutura.)

Tenho um projeto de jornal um tanto ousado. Ele focaria justamente nestes pilares que aqui mencionei – “fait divers” em pequenas colunas, as notícias do dia-a-dia em pequenas colunas, restando espaço para prestação de serviços (excluindo loterias, previsão do tempo e afins, disponível em qualquer site de notícias), boas reportagens sobre figuras e acontecimentos que fogem da pauta tradicional e eventuais denúncias, com investimento forte em apuração e pesquisa.

Confesso que não sei se há espaço para isso ainda. Tenho notado um certo receio dos donos de jornais em mudar o atual formato, que vai sobrevivendo às custas do baixo nível de educação do brasileiro e da banda larga de péssima qualidade que temos no país. Quando tudo isto mudar, acredito que as cenas vistas nos EUA, onde as pessoas lêem as notícias preferencialmente pelo celular ou tablet, vão se repetir por aqui. Aí, os jornais terão mesmo que se reinventar ou caminharão paulatinamente para o abismo anunciado.

PS: a foto - bastante significa - que ilustra esta postagem foi tirada no metrô de Nova York.

* Mais sobre este assunto neste blog: