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sábado, 1 de outubro de 2016 | | 2 comentários

Recordar é viver - Eleições 2012

Primeiro debate com os candidatos a prefeito de Limeira em 2012 - TV Jornal:



Segundo debate com os candidatos a prefeito de Limeira em 2012 - TV Jornal:

terça-feira, 6 de outubro de 2015 | | 0 comentários

"Saídas para a crise"

A TV Cultura promoveu recentemente uma série de ações visando discutir saídas para a atual crise política e econômica que assola o país. Programas especiais foram exibidos e um seminário de dois dias foi realizado em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, a Assembleia Legislativa paulista e um núcleo de estudos da Universidade de São Paulo (USP).

Para o "Jornal da Cultura", a equipe de jornalismo produziu uma série de 12 reportagens. Fiz a primeira e a última, ou seja, a abertura e o encerramento da série. Foram uma espécie de diagnóstico:





Depois, como encerramento da campanha, cobri os dois dias do seminários que debateu - na sede da OAB-SP - soluções para a crise:





Um livro está sendo elaborado com as sugestões apresentadas no seminário. Ele será encaminhado aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015 | | 0 comentários

A era de Aquário chegou à política?

Já fiz esta reflexão aqui, pós-eleição, e volto a fazê-la - ou lembrá-la: escrevi neste blog, na véspera do segundo turno presidencial do ano passado, que tinha a impressão de que quem saísse vencedor nas urnas na verdade perderia.

Não era preciso ser muito inteligente ou visionário para antever o atual cenário de dificuldades - com Dilma Rousseff ou fosse com Aécio Neves.

O vencedor das urnas assumiria num cenário de pouco legitimidade, com um país dividido.

Pois algo semelhante ocorre agora na Guatemala, segundo texto do jornalista Clóvis Rossi na "Folha de S. Paulo". Lá, como cá, a sociedade não tolera mais tantos escândalos de corrupção. Lá, como cá, os cidadãos não se sentem mais representados pela classe política. Lá, e não cá, ocorrem protestos seguidos há 18 semanas!

Tudo isto - e mais outros movimentos mundo afora (como o Podemos, na Espanha, e a renúncia do primeiro-ministro grego que se elegeu prometendo combater a política de austeridade imposta pela Europa e sete meses depois fez acordos com a chamada "troika", sem falar da tal Primavera Árabe) - indica que há uma significativa mudança em curso na humanidade (ou em boa parte dela) no que diz respeito à política. 

Ecos da era de Aquário?

Parece-me, contudo, que apenas os políticos ainda não entenderam os efeitos desta nova era digital.

Em tempo: a menção à era de Aquário é meramente retórica, para indicar mudanças. Não entendo nada do assunto e não sei quais são os preceitos desta tal era.

terça-feira, 2 de junho de 2015 | | 0 comentários

Constatação

Do jornalista Valdo Cruz, em coluna na “Folha de S. Paulo” de 1/6: "Diante da nova decepção em curso, fica provado que nunca teremos uma reforma política digna do nome enquanto seus autores forem apenas os atuais parlamentares. As ruas que despertem para tal fato".

sexta-feira, 17 de abril de 2015 | | 0 comentários

Somos classe média, e daí?

É má-fé ou ignorância (ou ambas as coisas juntas) satanizar a classe média pelas manifestações contra o governo.

Má-fé porque a classe média, como qualquer outro segmento, tem todo o direito de se manifestar, contra ou a favor do governo. É uma obviedade, eu sei, mas ter que escrever tão tremenda obviedade é um sinal da indigência do debate público brasileiro.

Ignorância porque a classe média foi o motor de TODAS as manifestações que a esquerda considerou épicas. Foi o tal de povo, por acaso, que esteve presente em massa nos atos pela anistia? Foi o tal de povo, por acaso, que se mobilizou pelas "diretas-já", o maior movimento de massas da história recente (e não tão recente)? (...)

Fonte: Clóvis Rossi, “Classe média à la carte”, Folha de S. Paulo, Mundo, 14/4/15.

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Frase

“Como um partido pode pedir impeachment antes de ter um fato concreto? Não pode.”
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República e líder do PSDB, sobre a possibilidade da oposição protocolar um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

quinta-feira, 16 de abril de 2015 | | 0 comentários

O homem que anunciou a morte de Tancredo Neves

Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda
Deve estar dentro do peito
Ou caminha pelo ar
Pode estar aqui do lado
Bem mais perto que pensamos
A folha da juventude
É o nome certo desse amor

Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora a cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê
Flor, flor e fruto

Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, coração
Juventude e fé
(“Coração de Estudante”, de Milton Nascimento e Wagner Tiso)


Entrevistar personagens que desempenharam papeis cruciais em momentos decisivos da história, ou que tiveram a oportunidade ao menos de acompanhar estes momentos, sempre me motivou de modo profundo.
Hoje, às vésperas de completar 30 anos da morte do presidente Tancredo Neves (o primeiro civil que comandaria o país após duas décadas de ditadura militar e que adoeceu momentos antes de tomar posse), tive a oportunidade de entrevistar o ex-governador do Rio Grande do Sul (1995-98) e secretário de imprensa da Presidência da República no futuro governo Tancredo, Antônio Britto Filho.

Afastado da política desde os anos 2000, Britto hoje é presidente-executivo da Interfarma, a Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica de Pesquisa. Ele recebeu a equipe da TV Cultura na sede da entidade e relembrou como foi o momento mais importante da história do país nos últimos 30 anos.

Um momento dramático e de forte comoção social, comparável apenas ao que se viu na morte do piloto Ayrton Senna. Tancredo, a figura que permitiria ao Brasil deixar as trevas, viu apagar sua luz naquele 21 de abril de 1985, jogando o país num mar de incertezas que ameaçava a frágil reconquista da democracia.

Naquele triste momento, Britto foi responsável por comunicar ao país oficialmente a morte do presidente – com palavras que, ele revelou na entrevista, estavam escritas já há alguns dias:

“Lamento informar que o excelentíssimo presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, faleceu esta noite, no Instituto do Coração, às dez horas e 23 minutos. 
Acrescento o seguinte: nos últimos 50 anos, a vida pública de Tancredo Neves confundiu-se com os sonhos e os ideais brasileiros de união, de democracia, de justiça social e de liberdade. Nos últimos meses, pela vontade do povo e com a liderança de Tancredo Neves, estes ideais se transformaram na Nova República. 
A emocionante corrente de fé e de solidariedade das últimas semanas, enquanto o presidente Tancredo Neves lutava pela vida, só fez crescer este sentimento de união que foi sempre ação, exemplo e objetivo de Tancredo Neves. Com a mesma fé, com a mesma determinação o Brasil haverá, a partir de agora, de realizar os ideais do líder que acaba de perder, Tancredo Neves.”


A seguir, a íntegra da entrevista – gravada a pedido da TVE-RS, parceira da TV Cultura. Uma entrevista que todo brasileiro deveria ler:

Como começou a sua relação política com o ex-presidente Tancredo Neves?
Antônio Britto – De uma forma absolutamente profissional. Eu era jornalista, trabalhava na época na Rede Globo, encarregado da cobertura de temas políticos de Brasília, e à época obviamente não havia como cobrir política sem estar em contato com o dr. Tancredo, como fonte, como entrevistado, e com as pessoas que o cercavam naquele momento muito especial da vida brasileira, em que se procurava fazer a transição que viesse a encerrar o regime militar.

O contato com os políticos era diferente? Os políticos eram diferentes naquela época?
Britto – Acho que é óbvio que há uma mudança grande. Em primeiro lugar porque à época a luta brasileira pela democracia, o sofrimento brasileiro com o regime militar transformava aquelas lideranças políticas em figuras altamente respeitadas. Pelo sacrifício, pela luta. Eram pessoas que, ao contrário de hoje, elas é que levavam a população às ruas e elas podiam não apenas estar nas ruas, mas serem festejadas pelas ruas. O Brasil vive uma situação muito curiosa porque nestes 30 anos a partir da morte do dr. Tancredo, temos 30 anos em que a democracia se consolidou, e este é o grande legado dos 30 anos, mas, ironicamente, a democracia brasileira consolidada como nunca respeita aos partidos políticos e aos próprios políticos de uma forma praticamente zero. Então, como é que a democracia pode se afirmar e os políticos puderam caminhar na direção contrária? Como é que a gente tem uma democracia que se afirma e partidos que se afundam? Onde é que a gente está errando?

O sr. mencionou a estabilidade democrática como grande legado destes 30 anos. O sr. atribui isto ao dr. Tancredo? Qual o legado dele?
Britto – A democracia não é a conquista de uma pessoa, é uma conquista da sociedade brasileira. De todo mundo que sofreu, que lutou para que o país se tornasse o que é hoje, um país com liberdade de expressão, liberdade de opinião, liberdade de voto. Eu gosto de dizer que o dr. Tancredo, portanto, não foi quem deu a democracia ao Brasil. A democracia viria sem ele. O que o dr. Tancredo foi é o atalho brasileiro para a democracia. Sem ele, não se sabe quanto tempo a mais a democracia demoraria e nem se sabe que custo adicional a conquista pela democracia imporia. O papel importante historicamente do dr. Tancredo me parece ter sido funcionar como um atalho que encurtou o tempo e reduziu o custo para a chegada do país à democracia. Nessa medida, graças ao fato de ele ser uma pessoa que conseguia encaminhar o Brasil em direção ao novo sem romper, sem assustar o velho, acabou se tornando a pessoal ideal para, derrotada a ideia das eleições diretas, encaminhar a solução. Acho que este é o grande papel histórico dele naquele episódio.

Um papel histórico num momento peculiar do país. E aí o primeiro presidente civil pós-ditadura não toma posse. O sr. acompanhou todos aqueles momentos de angústia nacional. Como foi?
Britto – Acho que ali havia na verdade a soma de duas angústias, da parte de todos os brasileiros. A primeira com o sofrimento que um ser humano chamado Tancredo Neves passou, naquele verdadeiro calvário de 38 dias. Mas havia um segundo sofrimento, uma segunda angústia, com a ironia do destino em relação ao processo brasileiro. Você tem 20 anos de regime militar, você luta para poder sair disso e o articulador, o atalho desse processo, acaba falecendo. O que gerava em todos nós uma grande insegurança sobre o que aconteceria sem ele. Porque dr. Tancredo tinha sido o construtor daquela arquitetura e aquela arquitetura era extremamente frágil. Até o último momento havia quem não quisesse o retorno à democracia. Então, acho que as duas angústias se sobrepunham. A angústia em relação ao que se passava com o cidadão Tancredo Neves, com o ser humano Tancredo Neves, mas também a angústia, a preocupação com o que poderia acontecer com o Brasil sem Tancredo Neves.

Em que momento naqueles 38 dias o sr. teve a informação, ou a convicção, de que o quadro de saúde do presidente era irreversível?
Britto – A imprensa noticiou isso exaustivamente à época, não há mistério, não há segredo sobre esse episódio todo. Portanto ela própria divulgou que a partir dos últimos dez dias apenas um milagre que a ciência não pudesse causar nem explicar permitiria uma recuperação do dr. Tancredo. Ali se criou aquela angústia, que é comum infelizmente em certas situações, de ter a repetição de esforços feitos pelos cientistas, pelos médicos, sem a correspondência da saúde do paciente.

Após a morte do presidente Tancredo, durante muitos anos surgiram várias dúvidas e suspeitas. Algo naquele momento foi informado diferentemente da realidade? Qual a real causa da morte do presidente?
Britto – Se tu chamas qualquer pessoa no mundo e diz que um presidente da República vai tomar posse às dez da manhã, vai para um hospital às nove da noite, dez da noite do dia anterior, e morre dentro do hospital depois de 38 dias, o episódio é tão absurdamente surpreendente, tão absurdamente fora de tudo que a lenda, o boato, a mentira correm soltos. Por quê? Porque a verdade é dura de aceitar. Isto é muito comum na vida de todos nós. Quando a verdade é muito dura de aceitar fica fácil o caminho para as outras coisas. E é o que aconteceu. A história do dr. Tancredo é extremamente simples: um senhor de 75 anos, com saúde frágil, está envolvido num trabalho superimportante. Começa a sentir alguma coisa e não cuida, continua sentindo e não cuida, quando vai cuidar não tem mais como cuidar. Cada um de nós conhece essa história dezenas de vezes. Agora, se eu contar a mesma história e disser que o nome daquela pessoa é Tancredo Neves e o trabalho dela é ser presidente da República depois de 20 anos de ditadura militar, todo mundo que acreditava até um minuto atrás já deixa de acreditar. Então é isso. A parte médica eu adotei, faria tudo de novo hoje, uma coisa que me parece óbvia, que eu aprendi no jornalismo, que é a minha profissão: não sou médico, não era médico, não entendo de medicina, não me cabia nem podia examinar o dr. Tancredo e diagnosticar o que ele tinha e o que não tinha. Logo, só poderia informar aquilo que eu fosse informado por quem fazia isso. Quem? Os médicos. E como é que eles informavam? Assinando e dando os boletins. À medida que os fatos foram avançando ficou claro para mim, até com o senso de repórter, e ficou claro de forma crescente para todo mundo que o que se esperava que fosse alguma coisa temporária era muito grave e que talvez não tivesse um bom desfecho. E aí eu entendi, porque seria também responsabilidade nossa, ao lado de todos que trabalharam nisso, sem perder a esperança de um milagre, entendi que era necessário preparar a população para o fato de que se havia a hipótese do milagre, havia também muito forte a hipótese de, não ocorrendo o milagre, haver um final trágico, que foi o que infelizmente acabou acontecendo.

A trajetória do dr. Tancredo o inspirou em sua carreira como deputado e depois como governador?
Britto – Quem convive com figuras como dr. Tancredo, dr. Ulysses (Guimarães), uma figura muito cara ao Rio Grande do Sul que é o governador (Leonel) Brizola, para citar apenas três exemplos, teve o privilégio de conviver com uma geração extraordinária de políticos com algumas características que são importantes. A característica, em primeiro lugar, do interesse público. Ou seja: acertaram ou erraram, mas errar ou acertar por entender que aquilo era o melhor para quem? O país. Minha origem na política é isso. Na política como na vida não há fórmula para acertar sempre. A questão que diferencia um político do outro é se ele erra ou acerta por estar tentando o interesse público ou se ele erra ou acerta, e geralmente vai errar, por considerar variáveis que não têm nada a ver com o interesse das pessoas, com o interesse da população e com o interesse público. Então eu acho que o grande legado que essa geração, e não apenas o dr. Tancredo, deixou ao Brasil é, em primeiro lugar, de uma grande visão do que seja o chamado interesse público. No caso específico do dr. Tancredo, a habilidade, que é uma forma de fazer política tentando buscar o consenso. No Rio Grande do Sul tem algumas pessoas que pensam que a briga é obrigatória. Não, não tem nenhuma lei que impediu que ao final de uma conversa as pessoas se acertem. E a política é o caminho de tentar conciliar posições quando possível. E nisso o dr. Tancredo era absolutamente imbatível.

O sr. falou de considerar outros interesses que não o interesse nacional. Com os rumos que a nossa democracia tomou, o sr. considera possível que um presidente manifeste suas convicções com sinceridade hoje?
Britto – Do ponto de vista partidário, o país hoje é muito mais complicado. O dr. Tancredo teve dificuldades para montar o ministério porque precisava conciliar todos que haviam apoiado a redemocratização. Nós fomos andando para trás nisso. Aumentamos o número de partidos, reduzimos a legitimidade dos partidos, aí tivemos que aumentar o tamanho dos governos, o que aumenta a briga para preencher os cargos no governo, e eu não estou falando do filme que está passando agora no cinema, estou falando do filme que é quase permanente no Brasil. Então, repetindo o que eu disse, estamos vivendo um paradoxo. A democracia brasileira é mais forte do que nunca, mas os personagens muito importantes, não são os mais importantes, mas muito importantes na democracia, que são os parlamentos, os partidos e os políticos estão mais frágeis do que nunca. Alguma coisa perigosamente está errada.

O sr. se recorda com exatidão das palavras do anúncio da morte do presidente? Quais sentimentos aquilo despertou no sr. na ocasião e o que desperta hoje?
Britto – Não saberia obviamente lembrar todas as palavras. À medida que a situação do presidente foi se agravando, eu pessoalmente, além do sofrimento, comecei a me dar conta que íamos entrar num processo, havendo o falecimento do presidente, primeiro de enorme comoção popular, o que é sempre algo difícil de administrar. Segundo, de enorme inquietação popular. O que acontece agora? Para onde a gente vai? E que seria muito importante que a gente pudesse transmitir os acontecimentos de modo a, sem deixar de expressar a tristeza, a dor que era de todos, ao mesmo tempo procurar ajudar a tranquilizar a população e acima de tudo procurar mostrar e a ajudar a mostrar que era preciso, após o falecimento do dr. Tancredo, honrar e dar continuidade. Então eu tinha essas três coisas na cabeça. Aí, refletindo no meio daquela tempestade toda: “eu vou fazer uma coisa que eu tenho que fazer, só eu posso fazer na circunstância, eu vou deixar pronto o papel que espero que eu nunca use”, mas cada vez mais achava que ia fazer. E aí comecei a fazer, mexia um pouco, etc, à mão, guardava com todo cuidado sempre preso dentro do bolso de dentro do casaco até o momento em que, infelizmente, foi necessário usar o tal do papel – que eu guardei e foi doado ao museu Tancredo Neves. E aí, quando enfim me cabia comunicar ao país que ele tinha falecido, a minha preocupação foi de ordem física. Era tão grande a dor, era tão grande o sofrimento com aquilo tudo que eu temia não ter respiração. Foi aí que eu decidi ao invés de descer de elevador, desci de escada o Incor (Instituto de Coração) porque achei que descendo de escada eu ia ajudando a respirar e tal. E o resto todo mundo sabe.

sexta-feira, 10 de abril de 2015 | | 0 comentários

Frases

“Não acho que os protestos sejam coisa de ‘coxinha’ ou da mídia. Já existia mídia no governo Lula e ele tinha 85% de aprovação.”
Cândido Vaccarezza, ex-deputado federal pelo PT-SP

“Porém, a sociedade não aceita sacrifício algum, até porque na campanha eleitoral do ano passado a maioria que votou em Dilma entendeu que não haveria sacrifício algum, caso ela fosse eleita.
Eduardo Guimarães, em artigo no "Blog da Cidadania", postado em 2/4/15

sexta-feira, 27 de março de 2015 | | 0 comentários

Palavras de um senador

A seguir, trechos do pronunciamento do senador Omar Aziz (PSD-AM) em sessão do último dia 12/3:

(...) Quem financia as campanhas no Brasil são as grandes empreiteiras. De todos os partidos, à exceção de um ou de outro. (...) Estão todos sob suspeita, independentemente de partido político. (...) Mas eles (empreiteiros) nos acham tão bonitos que nos dão dinheiro, para os partidos políticos. E aqui não há de tirar ninguém. Nós temos que investigar mesmo. Por isso que esse sistema de financiamento de campanha que existe hoje induz à corrupção. Quem tem mais dinheiro tem mais facilidade de ganhar. (...) 
Quando eu falo sob suspeita, falo de todos os partidos e não de A, B, ou C, não. Qualquer partido que recebeu recursos das empresas que estão sendo acusadas agora nessa Operação Lava Jato, para mim, está sob suspeita, porque não é possível que um partido receba R$ 60 milhões, R$ 70 milhões de uma empreiteira ou de várias empreiteiras – o outro, também, R$ 60 milhões – e distribua esse dinheiro por diretórios regionais para ganhar eleição. 
É por isso que os partidos fazem o maior número de deputados, o maior número de deputados federais, de senadores. Eles se fortalecem com o quê? Com recursos públicos! Tirando dinheiro do povo brasileiro! Aí o partido fica grande!

Diz mais o senador:

(...) E nós passamos, ontem, mais de 12 horas em uma sessão do Congresso. Depois de 12 horas, eu vi o esforço dos Parlamentares, mas o que nós contribuímos para o País, realmente, de fato, passando 12, 13, 14 horas dentro do Congresso debatendo? O que o povo brasileiro tirou de proveito daquilo, ganhou com aquilo? Melhorou a vida dos brasileiros com aquilo?

A resposta todos sabemos...


* Leia também:


- História da carochinha

sexta-feira, 20 de março de 2015 | | 0 comentários

A reforma necessária

Seria necessário aprovar uma cláusula de desempenho que impedisse o acesso facilitado de partidos quase sem voto ao horário eleitoral, ao dinheiro (público) do Fundo Partidário e aos debates entre candidatos em meio eletrônico (rádio e TV). 
 Esses partidos menores também não teriam mais o direito de aparecer a cada 6 meses na TV e no rádio, em rede nacional. Isso ocorre hoje, seja ano eleitoral ou não (e quem paga é o contribuinte, pois as emissoras são ressarcidas pelo horário cedido). Por fim, o acesso ao Fundo Partidário ficaria bem mais restrito.

A análise é do jornalista Fernando Rodrigues e foi publicada na "Folha de S. Paulo".

Seria necessário também estabelecer regras mais rígidas para a propaganda eleitoral e o cumprimento de planos de governo. O mecanismo de “recall” dos mandatos, que permite ao eleitor reavaliar os escolhidos após determinado período, talvez seja a saída para evitar “estelionatos eleitorais”.

Como registrou Eliane Cantanhêde em artigo, “as versões e o marketing valem mais do que os fatos e a realidade. São eles que determinam os rumos das eleições”. 

É preciso acabar com o instrumento da reeleição – embora teoricamente seja positivo, o Brasil ainda não possui maturidade política para que se possa separar ações político-partidárias-eleitorais das ações de governo e Estado.

É preciso ainda proibir o financiamento empresarial de campanhas (não há justificativa plausível para uma doação que não seja esperar algo em troca) ou, na pior das hipóteses, permitir que uma empresa faça doações para apenas uma campanha (de modo a forçá-la a buscar posições ideológicas, embora isto não impeça uma enxurrada de dinheiro apenas nas campanhas de quem é favorito).

Por fim, há que se estabelecer o voto distrital (misto) e acabar com as coligações nas eleições proporcionais.

Estas propostas, claro, não excluem outras, mas seriam um passo importantíssimo para forçar – junto de um forte investimento em educação – uma melhora do sistema político-eleitoral brasileiro.

Menos que isso seria enganar a plateia.

***

Como escreveu Ricardo Melo na “Folha de S. Paulo”: “Que uma reforma política é mais do que necessária, os fatos se encarregam de mostrar. Que do mato atual não vai sair coelho sadio, disso pode se ter certeza. Esperar que os parlamentares de turno façam alguma mudança séria num sistema que os levou ao poder é como esperar Papai Noel na chaminé. Num país em que um ministro do Supremo se dá o direito imperial de bloquear um mísero projeto de purificação do financiamento eleitoral, e seus colegas de corte se fingem de mortos, qualquer cenário é possível. Até que o povo e suas famílias percebam o custo da bandalheira institucionalizada”.

PS: último parágrafo acrescentado em 23/3.

quinta-feira, 19 de março de 2015 | | 0 comentários

Só para saber...

Atacado duramente pela esquerda durante os anos 1990 e início dos anos 2000, o chamado Consenso de Washington - o resumo das políticas ditas neoliberais - está "de volta" ao país? Trazido justamente por um governo supostamente de esquerda?

Será a evidência da vitória do neoliberalismo e da sua necessidade para a social-democracia? Para onde foi o socialismo da esquerda? Ou o PT não é mais esquerda?

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Além da crise política

A seguir, trechos de uma interessante entrevista do filósofo Vladimir Safatle ao jornal “Folha de S. Paulo”, na qual ele faz uma análise mais ampla e complexa (distante, portanto, do inútil e rasteiro “fla x flu” partidário que tomou conta do país:

Vivemos atualmente uma instabilidade política em meio a comemorações de 30 anos da redemocratização. A democracia brasileira está consolidada?
Safatle - (...) Apesar disso, é falso chamar de "democracia incompleta". O certo é dizer que é uma neodemocracia que gira em torno dos seus impasses há 30 anos. Do final dos anos 1980 até hoje a democracia não se aperfeiçoou, e os seus problemas ficaram mais evidentes, como a baixa participação popular, um sistema parlamentar que produz distorções no sistema representativo e perpetuação de castas que interferem no sistema, interferências econômicas inacreditavelmente altas nos processos eleitorais. Nesse momento da história, é necessário ter claro o fato de que a Nova República acabou, morreu.

O que isso quer dizer? Quais são os impactos disso para o sistema democrático e para o país?
Safatle - A Nova República foi, entre outras coisas, um modelo de construção pós-ditadura na qual a governabilidade era compreendida através da cooptação de uma parte da classe política que se desenvolveu na própria ditadura, e da gestão de toda essa massa fisiológica da política brasileira vinculada a interesses locais. Foi assim no governo de Fernando Henrique Cardoso, com apoio de Antonio Carlos Magalhães e do PFL, e foi assim no governo Lula, com Sarney. Nos dois casos, o PMDB era o grande gestor da fisiologia política. Esse modelo se esgotou completamente. A produção de grandes atores políticos, do PT e do PSDB, se desmontou. Esses dois núcleos se esgotaram por completo. Ninguém mais espera que o processo de modernização nacional possa ser feito a partir de propostas desses dois grupos. Os dois já foram testados e demonstraram limites muito evidentes. Ninguém vai conseguir fazer nada continuando este modelo. O trágico é que quando uma coisa termina, ela não acaba necessariamente logo, e pode continuar como zumbi, como morto-vivo, e o país fica paralisado por muito tempo. Nada está acontecendo, apesar de todos os embates atuais. O fim do modelo é trágico, e leva consigo os atores políticos, intelectuais e formadores de opinião. (...)

Em tempo: postei apenas dois trechos, como exigido pelo jornal, mas reforço que vale a leitura de toda a entrevista, cujo link está no início da postagem.

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Só para constar

No momento em que o Brasil celebra 30 anos de vida democrática, com a posse do primeiro presidente civil após duas décadas de ditadura miliar, faço um registro histórico necessário:

- o PT boicotou a eleição de Tancredo Neves, caminho de conciliação possível para a volta da democracia ao país e ameaçou até punir três deputados que votaram a favor de Tancredo na eleição indireta do Colégio Eleitoral (os três deixaram o partido para evitar a punição);

- o PT não aceitou votar a favor da nova Constituição de 1988;

- o PT não aceitou votar a favor do projeto que criou o Plano Real;

- o PT não aceitou votar a favor da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que significou um marco no combate ao descalabro das contas públicas no país (o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, chegou a fazer um "mea culpa" a respeito quando já estava no governo).

Não farei comentários. A história se encarrega disso.

domingo, 8 de março de 2015 | | 0 comentários

Doações eleitorais legais são uma falácia

O principal argumento para políticos e partidos (PT à frente) negarem envolvimento com o escândalo da Petrobras é que as doações eleitorais recebidas foram legais - registradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.

Ora, num olhar míope, efetivamente que foram. Entraram oficialmente e foram declaradas.

Ocorre que a origem dessas doações costuma ser ilícita. A matemática é simples: a empresa superfatura o valor de um contrato com uma estatal. O valor a mais aparece como um lucro da empresa e acaba sendo "doado" legalmente a partidos e políticos (bem como parte dele é repassado a troco de propina para gestores da estatal, conforme as delações obtidas na Operação Lava Jato).

Argumentar, portanto, que houve doações legais é mais do que uma desculpa, é chamar o brasileiro de idiota.

Se a origem do dinheiro é sabidamente ilícita, segundo os depoimentos surgidos até aqui, ilícita também deve ser considerada a doação. E, da mesma forma, deveriam ser as campanhas que este dinheiro financiou - vitórias eventualmente construídas a partir de dinheiro sujo.

- Leia também (acrescentado em 10/3):

* Doação eleitoral é falácia

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015 | | 0 comentários

Triste diagnóstico

(...) Os estelionatos dos governos federal e paulista, além da corrupção ciclópica, causam escárnio, cinismo ou nojo deprimido entre elites diversas, petistas, tucanas, neutras ou indiferentes a partidos. Mas nada sabemos como o grosso do povo ou os centros nervosos e neuróticos do país (como São Paulo) vão reagir à primeira crise socioeconômica duradoura dos anos petistas, de resto simultânea a um pico alto de desfaçatez dos governantes e à degradação íntima da vida cotidiana.

(...) Nem sabemos o que fazer da provável revolta, maior ou menor. Não temos Syriza, Podemos ou mesmo neofascistas, alternativas europeias que brotaram de uma crise que ainda não vivemos. Afora PT e PSDB, em putrefação, há PMDBs e nenhum movimento social ou político grande ou em formação para captar e dar forma à onda de indignações.

Fonte: Vinicius Torres Freire, “Nojo grande, política pequena”, Folha de S. Paulo, Mercado, 1/2/15.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015 | | 2 comentários

3 anos após cassação, Félix diz que apostava na absolvição

Em razão do trabalho, fui ao MIS (Museu da Imagem e do Som), na badalada avenida Europa, em São Paulo, no último dia 23 de janeiro. Eram dez horas da noite quando disse o tradicional "É com você no estúdio" com o qual encerro minhas entradas ao vivo no "Jornal da Cultura". Mal me despedi e vi, à direita, uma figura familiar. Os milésimos de segundo que separaram a dúvida da certeza se deveram unicamente à quase impossibilidade de encontrar tal pessoa naquele momento e lugar. Mas estava lá: Silvio Félix da Silva.

O ex-prefeito de Limeira chegara naquele momento, meio perdido, manifestando a intenção de visitar a exposição que celebrou os 20 anos do "Castelo Rá-Tim-Bum", programa infantil exibido com sucesso pela TV Cultura. Disse-me que tinha ouvido que a mostra ficaria aberta de madrugada. Expliquei que isto ocorreria apenas no fim de semana, e não naquela sexta-feira.

Antes, naturalmente, ocorreram tradicionais e educados cumprimentos, com manifesto espanto de parte a parte pela surpresa do encontro. O prefeito cassado explicou que tinha acabado de deixar a Assembleia Legislativa, onde a esposa e ex-primeira-dama Constância dava expediente como futura deputada-tampão. Como primeira suplente do PDT na eleição de 2010, ela assumiu no último dia 1° de fevereiro uma vaga no Parlamento estadual no lugar do então deputado Major Olímpio (PDT) - que tomou posse na Câmara Federal.

Como a posse dos estaduais ocorre apenas em 15 de março, Limeira voltou a ter, mesmo que por apenas 45 dias e de modo meramente protocolar, um representante na Assembleia após 16 anos. "Ela está lá no gabinete dele (Olímpio)", citou Félix.

Foi a deixa para que eu entrasse nos assuntos políticos. Tinha duas curiosidades. A primeira era saber se o prefeito cassado ainda tinha disposição para permanecer na política. Ele não negou de imediato e com a veemência que eu imaginava. "Ainda estou filiado ao PDT", respondeu. A saída pela tangente na prática quis dizer que ele não pensa em "pendurar a chuteira".  

Contudo, Félix foi claro ao dizer que sua prioridade é se defender na Justiça das acusações de improbidade administrativa e enriquecimento ilícito da família - que levaram à perda de seu mandato na fatídica e tumultuada noite de 24 de fevereiro de 2012. “Minha maior vitória neste momento é na Justiça, não na política”, disse.

Félix contou que acabara de vencer um processo envolvendo a contratação da empresa Prime durante seu governo. Afirmou que há outras ações em que ainda se defende. Para minha surpresa, reconheceu o papel do Ministério Público na avalanche que atingiu sua carreira política e, de modo direto, sua vida. “O Ministério Público fez o papel dele, o meu agora é me defender, é assim que as coisas têm que ser”, comentou.

O ex-prefeito lembrou, num misto de sobriedade e resignação, que está inelegível até 2020 em razão da suspensão dos direitos políticos decorrente da cassação do mandato. Depois disso, resolvidas as pendências judiciais, disse com bastante cautela que pode até pensar em se candidatar a algum cargo. É novo, terá apenas 56 anos quando a punição se encerrar.

Minha segunda curiosidade era a que mais me aguçava. Diante do quadro que se desenhou nos dois dias que durou a sessão de julgamento pela Câmara Municipal, perguntei a Félix se ele realmente acreditava que poderia ser absolvido.

Parêntese necessário: a cassação dependia de dez votos de um total de 14 vereadores, sendo que a base governista, como regra no país, era maioria no Legislativo, embora esfacelada diante do escândalo político que envolveu até a prisão da primeira-dama e dos dois filhos do então prefeito na manhã de 24 de novembro de 2011.

Outro parêntese necessário: a pergunta martelava na minha cabeça por causa da reação de absoluta decepção do então prefeito diante do voto de um dos vereadores – Carlos Rossler, um dos dissidentes da base governista na ocasião. Quinto a votar naquela noite de 24 de fevereiro, Rossler bradou – para delírio da plateia que lotava o auditório da Câmara Municipal – um sonoro e histórico “Não!!!” (que significava sim à cassação). Em tese, Félix ainda teria chances, mas preferiu abandonar o plenário naquele momento, sem esconder seu inconformismo com o que considerou uma traição, tendo deixado de imediato o Legislativo sem esperar o resultado final da votação que lhe tirou o comando da prefeitura.

Não sei exatamente a razão, mas a resposta do ex-prefeito mais uma vez me surpreendeu. “Sim. Eu achava que teria mais dois votos”, falou. Perguntei se ele se referia ao então vereador Antônio Braz do Nascimento, o Piuí, peça-chave na cassação. “Sim, e também o Rossler”, acrescentou.

Comentei com Félix que Rossler havia contado à imprensa na ocasião que, momentos antes da votação, durante breve encontro na sala de reuniões atrás do plenário, ele havia dado ao então prefeito um sinal de positivo. Foi, segundo o então vereador, um “truque” para esvaziar uma eventual pressão que poderia ser feita contra ele – a estratégia parece ter dado certo, já que Félix admitiu que contava com o voto de Rossler.

O ex-prefeito comentou que a posição de Piuí poderia ser compreendida diante de suposta ameaça (ou coação) que teria sido feita por promotores dias antes da sessão de julgamento na Câmara contra o então vereador governista (que havia, inclusive, votado a favor do prefeito na Comissão Processante que antecedeu o julgamento da cassação). “Isto está com o Rodrigo Janot (procurador-geral da República) em Brasília, está sendo investigado”, contou Félix. “Foi você que denunciou?”, perguntei. “Sim”, respondeu o ex-prefeito.

Durante os cerca de 15 minutos do inusitado encontro, houve tempo para comentar a situação de Americana, que também teve o prefeito Diego de Nadai cassado e vive um caos administrativo após nova eleição tampão. Tempo suficiente para Félix, mais uma vez, de modo surpreendente, elogiar o Ministério Público de Limeira. “Se em Americana tivesse os promotores de Limeira não tinha acontecido isso lá”.

***

E como manifestações surpreendentes não faltaram naquela noite no MIS, Félix se despediu dizendo que, "apesar das desavenças", estava muito feliz em me reencontrar...

terça-feira, 2 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

O fim ou a salvação do PT

Encontrei dia desses um conhecido economista, da lista dos "bã-bã-bãs" que sempre aparecem na mídia, e comentei que a indicação de Joaquim Levy para o ministério da Fazenda representaria, a média prazo, o fim do PT.

Obviamente, não uma extinção de direito, mas de fato - fruto do "estelionato" eleitoral decorrente da guinada definitiva à direita, em direção oposta à origem das bandeiras petistas.

A resposta que ouvi desse economista é bastante interessante e vai no sentido oposto: "O Joaquim Levy vai salvar o PT!".

Tendo a achar que os dois movimentos não são excludentes.

É esperar para ver...

domingo, 23 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Que ministério é este, Dilma?

Brincadeira ouvida na última sexta-feira (21/11): o senador Aécio Neves (PSDB-MG) jogou no lixo o rascunho do ministério que pretendia montar caso vencesse as eleições presidenciais. Reeleita, a presidente Dilma Rousseff (PT) foi lá, pegou o rascunho para fuçar – e gostou do que viu...

Claro que a brincadeira carrega uma gigante dose de ironia, mas o que dizer de um ministério supostamente de esquerda (ou de centro-esquerda, como queira) com a senadora Kátia Abreu (PMDB-GO), representante maior do agronegócio, à frente do Ministério da Agricultura e com Joaquim Levy, provável ex-Bradesco e ex-secretário da área econômica nos governos Fernando Henrique Cardoso, na Fazenda?

Nem Aécio faria melhor...

“O primeiro movimento para o novo governo parece feito em marcha a ré”, registrou Janio de Freitas em coluna na “Folha de S. Paulo”. Para o jornalista Clóvis Rossi, também em artigo na “Folha”, trata-se de um “estelionato eleitoral”.

Em tempo: quando escrevo esta postagem, a imprensa já noticia reações contra a possível indicação de Kátia Abreu e pressões sobre a presidente Dilma para rever a escolha.

PS (acrescentado em 25/11): para reforçar o que escrevi, o jornalista Ricardo Melo (que aparenta nutrir certo apreço pelo petismo) sentenciou em recente coluna na "Folha":
(...) A política de agradar a Deus e ao Diabo encontra seus limites no sistema capitalista - embora no Brasil nem tarefas democráticas básicas, como a reforma agrária, ainda tenham sido cumpridas. 
 Mesmo com todas estas condicionantes, o triunvirato econômico que se dá como fechado para o próximo governo extrapola os limites da moderação. Na fase final da campanha, Dilma Rousseff abraçou o slogan de governo novo, ideias novas. Nada mais velho e cheirando a mofo do que os nomes aparentemente indicados para o núcleo duro da economia. (...)

Outro jornalista, Valdo Cruz, também em artigo na "Folha", acrescenta duas observações importantes:
(...) Total incoerência com o discurso eleitoral, daí a tristeza no mundo petista. Pior, porém, seria insistir nos erros que estavam levando o país a um quadro de estagflação. 
Agora, depois dos bons sinais na escolha da nova equipe, é preciso saber como Dilma Rousseff exercerá seu papel de árbitra da economia.

A última observação só o tempo irá responder...

PS (acrescentado em 28/11): a menção a Marina Silva existente nesta postagem, agora eliminada, estava incorreta. Ao contrário do que foi mencionado, ela nunca ocupou o ministério da Agricultura no governo Lula, e sim o do Meio Ambiente.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Era Dilma 2: futuro incerto

O prognóstico foi feito neste blog um dia antes do segundo turno.

Com menos de um mês pós-eleição, ele começa a se desenhar.

No campo econômico, a reeleita Dilma Rousseff (PT) enfrenta um desafio sem tamanho: em uma semana ela viu sua equipe adotar medidas duras que atribuía ao adversário, como o aumento dos juros e do preço dos combustíveis, sem contar a manobra para esconder o rombo nas contas públicas.

Considere-se ainda um ministro da Fazenda demitido há dois meses, em plena campanha, mas que segue no cargo. E um futuro ministro que mostra-se cada vez mais incerto, já que as sondagens presidenciais não têm encontrado eco diante do pouco espaço que o caráter de Dilma costuma conferir aos seus auxiliares.

Some-se ainda a artilharia da senadora petista Marta Suplicy, que deixou o Ministério da Cultura criticando a política econômica de Dilma e a falta de credibilidade do governo.

Na política, a presidente enfrenta desafios tão ou mais delicados. Na Câmara Federal, vê seu inimigo Eduardo Cunha (RJ), do “aliado” PMDB, assumir a dianteira na disputa pela presidência da Casa.

No ministério, críticas públicas de Marta e do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho – ambos lulistas de carteirinha.

A esquerda petista (sim, ainda existe esquerda no PT) também fez uma cobrança pública em carta aberta a Dilma, Lula e ao comando do partido:

Vencemos a batalha eleitoral pela reeleição da presidência da república, mas é evidente que as massas trabalhadoras e a juventude sancionaram severamente nosso partido nas urnas. (...) 
 Apesar de todos os erros do nosso partido e do Governo, a classe trabalhadora deu mais uma chance ao PT. Mas, um partido que ganha a eleição e perde nos centros políticos e econômicos do país está fadado ao fracasso. Para reverter este processo é preciso parar com a agitação sobre uma suposta constituinte e reforma política, que é uma forma de contornar os problemas concretos atuais e remeter sua resolução para um futuro nebuloso, e finalmente não levará a nada. Sem esperar mais, já, imediatamente, é preciso retomar a iniciativa política governando para as massas e atendendo às suas reivindicações (...).

A fatura eleitoral começa a ser cobrada (vem aí Gilberto Kassab como ministro...).

E tem ainda o escândalo da Petrobras a rondar o Planalto.

O que vai ser daqui pra frente é incerto, daí ser prematura qualquer previsão a respeito do futuro de Dilma.

Um fato, porém, é inegável: nenhum presidente (nem Fernando Collor) assumiu o mandato num clima tão desfavorável como Dilma fará a partir de 1° de janeiro.

***

Conforme a carruagem andar, a reeleição de Dilma poderá decretar o fim do PT. Se não oficialmente, ao menos em razão do desempenho nas urnas - hipótese apresentada pelo jornalista Igor Gielow em coluna na “Folha de S. Paulo”:

(...) O escândalo da Petrobras ameaça a todos, mas só um partido corre risco existencial com ele: o PT. 
 Em seus governos, o partido colocou a estatal no topo da agenda; fez controle inflacionário ao represar reajustes de combustível, enquanto Lula embebia as mãos com petróleo, à Getúlio. Para cada descoberta no pré-sal, contudo, parece ter havido uma contrapartida obscura. 
 PMDB, PP e outros estão citados, mas o PT tinha o leme. Depois de sobreviver ao mensalão e sofrer derrotas apesar de reeleger Dilma, o que sobrará do partido se o que se insinua na Lava Jato for comprovado?

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sexta-feira, 31 de outubro de 2014 | | 0 comentários

Ensaio sobre o futuro governo DIlma

O tamanho dos desafios do segundo mandato de Dilma já foi dado apenas uma semana após a reeleição.

Na economia, elevação dos juros pelo Banco Central devido aos riscos de aumento da inflação.

Na política, derrota na Câmara Federal em um dos projetos mais simbólicos do governo, o decreto que criava os polêmicos conselhos populares.

Derrota, registre-se, capitaneada pelo aliado de primeira hora PMDB, do vice Michel Temer - o que mostra que não virão da oposição as principais dores de cabeça da presidente no Congresso e sim de sua própria base aliada, como tem sido até agora. Os partidos da base, PMDB à frente, prometem cobrar a fatura do apoio reeleitoral

* Leia também:

- Lula e o pé na porta