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sexta-feira, 4 de abril de 2014 | | 0 comentários

Geração de transição

(...) Fiquei pensando que faço parte de uma geração de transição: nasci analógica, cresci elétrica e amadureci eletrônica. Mas isso é bobagem. Minha geração ensinou os pais a programar videocassete e a usar controle remoto antes de ensinar a usar o computador e o e-mail. E a geração dos meus pais deve ter ensinado a geração dos meus avós a fazer outras coisas. Pensando bem, todas as gerações são de transição.

Exceto a última, a derradeira, a que estiver por aqui quando o mundo acabar. Um dia, quando a humanidade acabar, esse mundo tecnológico não vai mais ter importância nenhuma. Tanto esforço para nada. Tanta informação para nada. Puf. Baubau. Acabou. (...)

Fonte: Marion Strecker, “Transição”, Folha de S. Paulo, Tec, 31/3/14.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014 | | 0 comentários

"Contra o Facebook"

O fato é que sumi com o aplicativo do Facebook. Senti uma sensação boa. Aproveitei o entusiasmo e apaguei também os aplicativos do LinkedIn, do Lulu (que instalei para testar e achei simplesmente péssimo) e até do Viber (algo entre o Skype e o WhatsApp). Combinei comigo mesma que vou observar o que acontecerá com as minhas mãos da próxima vez que ficar à toa com o telefone na mão. Será que vou tremer? Será que entrarei na App Store e baixarei tudo de novo? Ou vou me esquecer aos poucos dessa mania de ficar fazendo a ronda na internet, checando as atualizações das redes e esperando reações a cada coisa que publico, nem sei bem por quê?

Sério mesmo: o Facebook é a maior perda de tempo que conheci na vida. Quanto mais amigos eu "faço", mais me distancio das pessoas que são realmente importantes para mim. A fatalidade é que sempre perco informações de quem me importa no meio da balbúrdia da multidão a que estou conectada.

Fonte:
Marion Strecker, “Folha de S. Paulo”, Tec, 3/2/14 (íntegra aqui).

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013 | | 0 comentários

Reflexões sobre o ato de viver no mundo atual

(...) Olho minha filha de 14 anos, e ela está muito mais viciada que eu no seu iPhone. Usa Facebook, Twitter, WhatsApp, Instagram, essas coisas. Os amigos são tudo para ela. Para mim também. Tento alertá-la de que está passando horas demais com o aparelho. Sugiro um livro. Às vezes ela aceita, outras não. Tenho certeza de que ela, como eu, perde um tempo imenso em papo furado nas praças virtuais do planeta.

OK, papo furado faz parte da vida. Por que não faria na internet? Minha preocupação não é o papo furado. Minha preocupação é a angústia, a ansiedade que a internet é capaz de produzir. Eu conheço esse estado bem demais. É como andar de bar em bar, procurando algo que não se vai encontrar. É intoxicante. Faz mal à saúde. (...)

Fonte: Marion Strecker, "Vício", Folha de S. Paulo, Tec, 7/1/13.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012 | | 0 comentários

"Os jornais vão, sim, acabar"

Podem me chamar de Cassandra. Eu não ligo. Essa figura mítica grega, a quem Apolo ensinou os segredos da profecia, passou a ser tida por louca quando tentou comunicar aos troianos suas previsões de catástrofe e desgraças, todas realizadas.

Depois que Cassandra se negou a dormir com Apolo, o deus vingativo lançou-lhe a maldição de que ninguém jamais viesse a acreditar na profetisa.

O nome de Cassandra surgiu na semana passada no debate promovido pelo jornalista Alberto Dines durante o programa "Observatório da Imprensa", na TV Brasil. A discussão era a morte dos jornais, assunto que voltou à baila com a recente extinção do paulistano "Jornal da Tarde" e com a decisão da revista norte-americana "Newsweek" de prosseguir atividades apenas on-line, não mais em papel.

Escrevi que podem me chamar de Cassandra, pois minha previsão é que os jornais vão, sim, acabar. Aliás, já estão acabando. Centenas sumiram nos últimos anos. Sinto muito, pois eu adoro jornais. Além disso, eles têm uma função política fundamental na defesa do interesse público e na sustentação da democracia, frequentemente superior ao desempenho de outros meios de comunicação especializados em notícias ligeiras, com pouca investigação.

Mas os tempos são de mudança. Quem quer comprar um jornal que não traz o resultado da eleição norte-americana, ocorrida na véspera? Quem, entre os usuários da internet, quer abrir mão de enviar artigos por e-mail, compartilhar notícias em redes sociais, comentar ou discutir um texto com o seu autor on-line, consultar arquivos na hora? Os jovens é que não são.

Ainda tenho o fetiche de empunhar um jornal e sentir o mundo nas mãos. Gosto da sua organização, da sua periodicidade, do seu material. Cresci com eles ao meu redor. Leio diariamente, com prazer e afinco.

Mas vejo que existe hoje um fetiche bem maior por iPhones, iPads, Galaxys e similares. Todos eles suportes possíveis para o bom jornalismo.

Então prever o fim dos jornais não é sinônimo de prever o fim do jornalismo, bem entendido.

Não faço parte das turmas que tentam vender a ideia de que jornalistas são dispensáveis num mundo em que qualquer um pode publicar o que quiser na internet.

O que me salta aos olhos na internet são outros mitos gregos: Eco e Narciso.
Narciso é um jovem magnífico que se apaixona pela própria imagem refletida na água. Acabou consumido pelo amor próprio e se tornou o nome da flor encontrada onde ele desapareceu.

Somos todos Narcisos no Facebook, no Orkut ou no Instagram, quando publicamos fotos dos nossos sorrisos e melhores momentos.

Eco é uma ninfa que amava os bosques e os montes, mas tinha um defeito: falava demais e sempre queria ter a última palavra em qualquer discussão.

Como Eco fez o papel de distrair Hera enquanto Zeus se divertia com outras ninfas, ela recebeu um castigo. Perdeu o direito à própria voz, que tanto amava. Foi condenada a repetir eternamente a última palavra do que os outros falassem.

Pois são muitos ecos que encontro no Twitter e em outras redes sociais. Repetições contínuas, em vez de um mar de palavras originais.

Fonte: Marion Strecker, “Três mitos gregos”, Folha de S. Paulo, Tec, 12/11/12, p. F6.

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