Mostrando postagens com marcador memória. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador memória. Mostrar todas as postagens

sábado, 20 de agosto de 2016 | | 0 comentários

Memorial da Resistência

Na exposição temporária, a história do prédio de 1914 criado como armazém e escritório da antiga estrada de ferro sorocabana e que sediou a partir de 1940 o temido Dops. Um lugar marcado pelo sangue de muitos brasileiros, como cita a placa. 


No vídeo, a trajetória de um dos principais órgãos de polícia política do país, criado em 1924 e extinto no fim do regime militar. “Ele foi inaugurado em 2002 como Memorial da Liberdade, mas como não havia atividades educativas e culturais, mais ou menos em 2006, 2007 os ex-presos políticos solicitaram ao governo do Estado que o lugar fosse melhor aproveitado em termos educativos e culturais. Nós queríamos, de fato, trabalhar neste lugar de memória um conceito de resistência, porque ela não pode ficar só lá no passado, é uma coisa atual e que deve continuar no futuro. Neste lugar as pessoas podem tomar conhecimento de fatos que aconteceram no Brasil recente, então ela pode se educar para cidadania, para valorização dos princípios democráticos, do respeito aos direitos humanos”, diz Katia Regina Neves, coordenadora do memorial.

Em uma sala, uma linha do tempo histórica mostra casos de repressão e resistência desde a proclamação da República, em 1889. Episódios que nem a redemocratização do país impediu, como o assassianto do líder seringueiro Chico Mendes em 1988, as chacinas do Carandiru, em 92, da Candelária e de Vigário Geral em 93 e o massacre de Eldorado dos Carajás em 96.

O ponto alto da visita são as celas que abrigaram presos políticos. Uma delas reproduz o ambiente na época da ditadura. Os rabiscos na parede são atuais, um grito silencioso de quem sobreviveu. Nas celas, o som da abertura da porta indicava o destino de cada um. 





As máscaras representam 436 desaparecidos políticos. “Muitas continuam desaparecidas até hoje. E outras morreram em consequência da tortura." Aqui, como diz o painel, lembrar é resistir. 


“Isso é tão impressionante porque eu acho que as pessoas , quando elas visitam o memorial, conseguem entender isso, se a gente olhar, por exemplo, no livro de visitas que as pessoas deixam comentários, falam assim: ‘as pessoas falam que deveria voltar a ditadura porque não conheceram este lugar, eles não falariam um absurdo desses’. É impossível uma pessoa sair de um lugar como este, se ela tiver disponibilidade para aprender, e para perceber o que é você viver numa ditadura, etc, que ela não se eduque para ser um cidadão de fato, que exija seus direitos, mas também que respeite o direito dos outros”, fala Katia.
 
 

O Memoria da Resistência fica no largo General Osório, 66, junto da Estação Pinacoteca. A entrada é grátis. 
* Texto de reportagem feita para o programa “Ordem do Dia” (TV Cultura, sex. 23h30, sáb. 8h30)

sábado, 19 de abril de 2014 | | 0 comentários

Luciano do Valle: o último encontro

Vi Luciano do Valle pela última vez na semifinal do Paulistão, na Vila Belmiro, em Santos, no último dia 30/3. Ele estava já posicionado para uma entrada ao vivo na cabine da Band quando eu passei. Dei um alô com a mão, respondido da mesma forma. Em seguida, um jovem parou com o pai pouco adiante da porta da cabine e fez uma foto.

Devia ter tirado uma foto também e postado no Facebook – ah, não tenho Facebook, Instagram ou qualquer coisa do gênero. Mas devia ter feito a foto.

Quem, porém, há de imaginar a morte repentina, embora fosse público que Luciano já exibia algumas dificuldades em razão de sua saúde?

Na cabine, lá estava ele, postura profissional, meio sorridente e iluminado (não se trata de nenhum elogio “post mortem”; refiro-me à iluminação da TV mesmo).

Foi curioso cruzar com Luciano ali, praticamente dividindo o mesmo espaço de trabalho. Vinte e cinco, trinta anos atrás, eu era apenas um garoto que sonhava ser jornalista e imaginava trabalhar em televisão. Eu era apenas um garoto apaixonado por esportes e torcedor da Inter de Limeira. Eu era apenas um garoto que tinha em nomes como Luciano do Valle e Osmar Santos um espelho (não que eu pretendesse ser narrador de futebol, não tenho voz para isto, mas ambos eram figuras que eu admirava).

Luciano e Osmar Santos imprimiam às transmissões uma emoção jamais vista – e até hoje inigualada.

Que me perdoem os mais novos, mas eu cresci vendo estas feras narrando esportes – principalmente Luciano do Valle, qualquer tipo de esporte. Narrando e promovendo. Das lutas de boxe com Maguila à Copa do Mundo de Futebol Master, na qual ele assumia a função de técnico do Brasil; das conquistas no basquete e vôlei às curvas das fórmulas 1 e Indy.

“Cesssssssssssssssta do Brasilllllllllllllll!!!!!!!!!!!!!”, era assim que Luciano do Valle narrava cada bola que passava pela cesta adversária, culminando com a histórica transmissão da medalha de ouro no Pan-Americano de 1987, nos Estados Unidos, quando a geração de Oscar & cia. venceu os norte-americanos, pela primeira vez derrotados dentro de casa.

Ou, então, na também histórica vitória de Emerson Fittipaldi nas 100 Milhas de Indianápolis, a primeira de um brasileiro, certamente a principal etapa da Fórmula Indy que Luciano do Valle ajudou a popularizar no Brasil.

Lembro bem das madrugadas em que ele comandava o “Apito Final”, um programa delicioso que unia esporte e cultura, além de um time magistral, com Armando Nogueira, Toquinho, etc, em comentários durante a Copa do Mundo de 1990, na Itália (o formato foi reeditado em outros eventos).

Não sei quais lições Luciano do Valle deixa, só sei que seu estilo certamente fará falta (já faz falta). Hoje, as narrações ganharam uma “tecnicidade” chata, estão repletas de comentários inúteis ou excessivamente técnicos, interrompendo a todo momento a razão de ser de tudo, a emoção do espetáculo. Uma emoção que poucos souberam imprimir tão bem com a voz quanto Luciano do Valle.

Em tempo: devo ter guardado um autógrafo do narrador durante alguma passada dele pelo estádio “Major José Levy Sobrinho”, o Limeirão. Eu costumava pedir autógrafos para todo mundo (do Osmar Santos tenho certeza que guardei).

Infelizmente, minha antiga e amarelada coleção ficou na casa dos meus pais. Portanto, sabe-se lá quando poderei revê-la e, quem sabe, “reencontrar” com Luciano.

Ah: eu devia ter tirado uma foto...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013 | | 0 comentários

Jornalismo e história

Então professor do Departamento de História da USP (Universidade de São Paulo), Marcos Silva esteve na Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Bauru, em meados dos anos 1990, para uma palestra sobre ensino de história.

Na ocasião, ele fez uma interessante ligação entre o historiador e o jornalista. “O jornalismo é um tipo de conhecimento histórico. O jornalista analisa seu momento. O historiador divide com o jornalista preocupações”, afirmou.

Ele fez questão de salientar que, ao contrário do que muitos pensam, história não é a “ciência do passado”. Segundo Silva, história é o estudo do ser humano e suas ações no tempo indeterminado – inclusive na atualidade.

Durante a palestra, o professor fez uma crítica ao “modus operandi” da imprensa tradicional. De acordo com ele, o jornalismo trabalha pouco com o homem comum. “O procedimento da imprensa deve ser refletido”, afirmou.

Na ocasião, fiz duas perguntas ao professor, que gostaria de reproduzir:

Pergunta – O Brasil é um país sem memória, como diz o senso-comum?
Marcos Silva – Discordo. Tem uma memória muito consolidada, muito forte. Temos muita dificuldade de viver dentro desse esquema. A memória da elite é muito forte. Basta ver o Duque de Caxias, o “pacificador”. O Brasil possui uma memória poderosíssima. Apagou-se a memória dos movimentos sociais. Existe uma memória determinada.

Pergunta – O povo brasileiro não tem memória, como afirmam?
Silva – Existem ponderações de “desmemória”. As pessoas não esqueceram das coisas, foram levadas a não se lembrar. A grande imprensa participou muito desse esquecimento. O grande mal é ser unidirecional.

Importante salientar novamente que a palestra (e, portanto, as opiniões) foi dada em meados dos anos 1990.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012 | | 0 comentários

A ausência escancarada*

A arte é pródiga em produzir efeitos de uma forma lúdica. Aliás, esta é a sua essência. Quando trata de temas delicados, esta característica torna-se ainda mais evidente.

Um bom exemplo é a exposição "Ausências Brasil", aberta no último dia 10 no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Ela mostra - por meio de fotos aparentemente singelas, mas de uma dor e uma verdade impressionantes - famílias que tiveram parentes mortos pela repressão do regime militar (1964-85).

A exposição funciona assim: fotos antigas de família, nas quais aparece o parente morto pela ditadura ou desaparecido, são colocadas lado a lado de imagens atuais, feitas com as mesmas pessoas e no mesmo cenário. É quando a tal "ausência" que dá título ao projeto revela-se, desnudando também a face mais sangrenta e sombria do regime miliar. Evidencia-se um vazio dolorido, cruel, exposto de forma nua, embora delicada.

As imagens atuais foram captadas pelo 
fotógrafo argentino Gustavo Germano.



A mostra é promovida pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e organizada pela ONG Alice (Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação). Uma versão do mesmo projeto já foi feita na Argentina, onde a ditadura deixou cerca de 30 mil mortos, conforme entidades como a Anistia Internacional.

“É um projeto político e estético ao mesmo tempo, algo que faltava no país”, disse Luciano Piccoli, coordenador do projeto na Alice, segundo notícia divulgada no site do Arquivo Público do Estado.

A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9 às 17h, e uma vez por mês no sábado. A entrada é livre. O Arquivo Público do Estado fica na Rua Voluntários da Pátria, 596, ao lado da estação Tietê do metrô, em São Paulo.

* O título desta postagem é uma referência à obra "A ditadura escancarada", do brilhante jornalista Elio Gaspari, parte da trilogia sobre o regime militar brasileiro que tem ainda: "A ditadura revelada" e "A ditadura encurralada".

** As fotos foram retiradas do site do Arquivo Público do Estado. A primeira é de 1967 e traz Suzana Keniger Lisboa, Milke Waldemar Keniger e Luiz Eurico Tejera Lisboa. Em 2012, a foto sem Luiz Eurico.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012 | | 0 comentários

"Meninos, eu vi": o gol antológico de Dener

No final dos anos 1980, a TV Globo levou ao ar uma novela chamada “O Salvador da Pátria”. Nela, havia um personagem – pelo que me lembro um radialista – que usava um bordão que se tornou famoso. Ele dizia: “Meninos, eu vi!”

Estou contando esta breve história em razão de uma notícia que li nos portais. A Portuguesa, tradicional clube paulistano, está lançando uma camisa para homenagear um gol antológico feito pelo meia-atacante Dener, um dos craques da história da equipe.

Foi numa noite de 14 de novembro de 1991, véspera de feriado, no Canindé, o estádio da Portuguesa, às margens da Marginal Tietê, em frente ao Shopping Center Norte. A partida valia pelo quadrangular semifinal do Campeonato Paulista. O grupo tinha, além da Lusa, o Corinthians, o Santo André e a Internacional de Limeira.

Era a segunda rodada. Jogavam Portuguesa e Inter. Os dois times precisavam da vitória. O tempo corria e o placar apontava um empate sem gols. O jogo se aproximava dos 40 minutos da etapa final quando a equipe de Limeira teve um escanteio a seu favor. Eis que a bola sobrou para Dener pouco além da entrada da grande área da Portuguesa. Um passe vindo da direita. Ele dominou, driblou um, dois, três, quatro, cinco – incluindo o famoso drible da vaca no zagueiro Lica.

Aquilo parecia inacreditável. Mágico. Super-humano. Do além. Quando restou o último jogador da Inter, viu-se uma tentativa em vão de um carrinho quase criminoso para derrubar o meia-atacante. E aí a tensão: será que Dener conseguiria fazer o gol? Sim, ele conseguiu. Os “deuses” do futebol não permitiriam outro final para aquele momento. Um verdadeiro gol de placa, lembrado mais de duas décadas depois.

Na arquibancada, a pequena torcida lusa foi à loucura. Nos camarotes, a “portuguesada” (como eu costumava me referir aos carrancudos portugueses diretores da Lusa) pulava eufórica. Os diretores trocavam abraços, gritavam, aclamavam o craque do time: “Ele é um gênio!”, diziam – com razão, admitíamos forçosamente os torcedores da Inter.

Naquele dia, após o jogo, algumas pessoas abordaram o zagueiro Lica questionando a razão dele não ter cometido uma falta em Dener para barrar a jogada – e, consequentemente o gol e a derrota que, àquela altura, praticamente eliminava a Inter da disputa. Ele temeu levar o cartão vermelho e ser expulso. Havia, ainda, a esperança do atacante fracassar ou do goleiro barrá-lo. Enfim, milionésimos de segundo para tomar uma decisão.

A derrota da Inter nos entristeceu. Pensando com a distância e a frieza do tempo, porém, como foi bom Lica não ter derrubado Dener. E a tentativa de um carrinho criminoso não ter passado disso, uma tentativa. O jogador merecia aquele gol. O futebol merecia aquele gol.

Foi, sem dúvida, o gol mais bonito que eu já vi em toda a vida. Porque sim, eu estava lá naquela noite no Canindé.

“Meninos, eu vi!”

PS: infelizmente, as imagens disponíveis na Internet referentes a este gol não mostram o brilho de toda a jogada, desde o escanteio.

sábado, 6 de outubro de 2012 | | 0 comentários

A memória do jornalismo brasileiro

Há 20 anos, pesquisando na Biblioteca Nacional para um livro que se chamaria "O Anjo Pornográfico", precisei consultar a coleção do "Correio da Manhã" referente ao ano de 1967. A funcionária da seção de periódicos levantou a ficha do jornal e me informou que não dispunham do "Correio" daquele ano - mas que, segundo a ficha, os exemplares seriam "brevemente fornecidos pela Biblioteca do Congresso dos EUA".

Aconteceu que, procurando melhor, descobriu-se que os americanos já haviam fornecido os exemplares, não só de 1967, mas também dos anos imediatamente anteriores, idem em falta - a ficha é que não fora atualizada. Com isso, pude mergulhar na riquíssima coleção daquele jornal fundado em 1901 e morto pelo AI-5 em 1968, mas só sepultado em 1974 e, desde então, ignorado pelos pesquisadores, para os quais só existiu o "Jornal do Brasil".

Bem, agora não há mais desculpa. Fuad Atala e Bertholdo de Castro, colegas dos tempos do "Correio" e guardiães de sua memória, acabam de me mandar um presentaço: o "Correio da Manhã" digitalizado, do primeiro ao último número, pela Biblioteca Nacional (entre em hemerotecadigital.bn.br e escreva o nome do jornal no espaço "Buscar").

Por quase 70 anos, o "Correio da Manhã" abrigou os maiores nomes do jornalismo e da literatura. Ditou normas da imprensa, ajudou a derrubar ministros e presidentes, enfrentou truculentos de vários calibres e influiu decisivamente na vida nacional. Mas pode ser coincidência que seus anos de lacuna na Biblioteca Nacional fossem os de sua maior oposição à ditadura militar.

Lacuna afinal preenchida pelos exemplares da assinatura da antiga Embaixada dos EUA no Rio, cujo endereço impresso se lê ao lado do cabeçalho nesse fabuloso "Correio" digital - pronto para servir de novo à história do Brasil.

Fonte: Ruy Castro, "O 'Correio' digital", Folha de S. Paulo, Opinião, 6/10/12, p. 2.

sábado, 21 de julho de 2012 | | 0 comentários

Brasil, acerte as contas com sua história!

O Brasil realmente tem dificuldade em lidar com sua história. Enquanto os vizinhos sul-americanos estão levando ao banco dos réus (e condenando!) ditadores e colaboradores do regime militar, o máximo que o Brasil conseguiu fazer foi criar a tal Comissão da Verdade, cuja missão principal é investigar os fatos ocorridos entre 1946 e 1988, mais especificamente durante os 21 anos de ditadura.

Sobre eventuais punições, nada se fala.

A redemocratização já caminha para seu trigésimo aniversário e a principal via que liga as duas maiores metrópoles brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo, ainda carrega o nome de um dos presidentes do regime militar – a Via Dutra. E sequer se cogita dar um outro nome que mereça maior consideração dos brasileiros.

A mais recente polêmica envolve o nome do estádio construído no Rio para os Jogos Pan-Americanos de 2007. Apelidado de “Engenhão”, ele tem como patrono o ex-presidente da CBD (atual CBF, a Confederação Brasileira de Futebol) e da Fifa (Federação Internacional de Futebol), João Havelange.

Ocorre que Havelange é, junto com seu ex-genro e ex-presidente da CBF, Ricardo Terra Teixeira, um dos citados no
processo judicial que tramitou na Justiça suíça a respeito do pagamento de propina da falida ISL a dirigentes da Fifa.

No processo (disponível
aqui, em inglês), Havelange e Teixeira assumiram o envolvimento no caso de corrupção e se comprometeram a pagar uma certa quantia em dinheiro como acordo para não ter os nomes divulgados.

Desde que o processo veio a público, na última semana, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), é pressionado para que troque o nome do estádio.

Por enquanto, nenhuma palavra – até porque, como citado, o Brasil tem dificuldade em passar a limpo sua história.

Enquanto isso, Dutras e Havelanges vão ganhando honrarias e homenagens país afora. Algo a que, definitivamente, eles não fazem jus.

Leia também:

sábado, 1 de outubro de 2011 | | 0 comentários

Um pedaço da história da TV no Brasil

Recentemente, estive na casa de um dos ícones da televisão brasileira, a atriz Vida Alves. Lá, no bairro do Sumaré, em São Paulo, funciona o Museu da TV. Trata-se de uma iniciativa da Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira (a Pró-TV), entidade criada por Vida, há quase 20 anos.

Ela teve a iniciativa de coletar - junto de colegas que trabalharam nos primórdios da TV -imagens e objetos a fim de criar o museu e, acima de tudo, preservar a memória do principal veículo de massa do Brasil.

O acervo não é tão grande porque, como a própria Vida Alves explica, na época não se tinha a preocupação de guardar os registros dos trabalhos. Ainda assim, vale a pena ser visto. O museu também possui gravações de relatos de mais de uma centena de personagens que ajudaram a construir o que a televisão brasileira é hoje – uma das melhores do mundo.

Detalhes sobre o museu e sobre o trabalho da Pró-TV podem ser conferidos no site oficial.


 




Em tempo: Vida Alves ficou famosa por protagonizar o primeiro beijo da televisão. Foi na novela “Sua Vida me Pertence”, em 1951, na antiga TV Tupi, numa cena com Walter Forster, da qual não sobrou nenhum registro. Foi dela também o que se pode considerar o primeiro beijo gay. Foi na década de 1960 no teleteatro “Calúnia”, numa cena com a atriz Georgia Gomide.

segunda-feira, 21 de junho de 2010 | | 0 comentários

Vítimas do "progresso"

Na definição do famoso Dicionário Houaiss, progresso é um substantivo masculino que significa “mudança considerada desejável ou favorável; avanço, melhoria, desenvolvimento; incorporação, no dia-a-dia das pessoas, das novas conquistas no campo tecnológico, da saúde, da construção, dos transportes etc.”. Quem, porém, há de classificar qual mudança é favorável, o que é melhoria?

No mundo moderno, a prática deu a essa palavra uma conotação positiva, independentemente de qual ação ela represente. Progresso é progresso, algo inexoravelmente bom e ponto. Logo, tudo que se faz em nome dele se justifica. Ou não?

Nossas cidades estão repletas de marcas do “progresso”. Um progresso que costuma apagar o passado, a história, a memória. Talvez por isso tenham surgido em muitas cidades uma espécie de contracultura do progresso, um movimento que, mais do que simplesmente negar o “avanço”, busca inseri-lo no contexto histórico de modo planejado.

Em Buenos Aires, provavelmente a mais bela capital sul-americana, esse movimento ganhou um título que pode muito bem servir de grito de resistência: “Basta de demoler” (basta de demolir, em português) – ou simplesmente b!d. Trata-se de uma organização não governamental (ONG) surgida em abril de 2007 com o objetivo de “defender o patrimônio urbanístico da cidade”.

O grupo começou sua atuação “convocando os cidadãos a manifestar-se publicamente contra as demolições de edifícios de valor arquitetônico e histórico; depois empreendeu diversas estratégias na defesa do patrimônio e estendeu sua ação aos parques, ruas e veredas históricas, mobiliário urbano”.

No site do movimento, um artigo do jornal “Clarín” aborda uma discussão atual na capital portenha: uma proposta que cria novas áreas protegidas na cidade. Conforme o b!d, o centro histórico de Buenos foi incluído pela World Monuments Fund na lista de 100 lugares históricos que correm risco.

Um mapa disponível no site mostra os lugares históricos de Buenos Aires e a situação de cada um deles. Em amarelo são os edifícios em perigo; em vermelho, os que estão em risco iminente de demolição; em azul, os prédios já demolidos; e em verde os demolidos com valor histórico. Pelo mapa, a situação é temerária.

Na capital paulista, surgiu um movimento semelhante. O “São Paulo Abandonada & Antiga” – ou simplesmente SPa - lista em seu site bairros, casas, monumentos e até cidades alvos de degradação e abandono. Nas imagens, um misto de beleza fotográfica e artística e tristeza histórica. Há artigos e uma seção interessante que mostra regiões antes e depois do “progresso” (desregrado), como a Santa Ifigênia de 1912 e 2010 nas fotos a seguir. A galeria do projeto no Flickr é imperdível.


Tal como no b!d, o SPa também oferece um mapa com 258 pontos – entre imóveis e monumentos – que merecem atenção por seu valor histórico e arquitetônico.

No caso do SPa, o objetivo principal não é tanto um “grito de resistência” (embora o trabalho tenha também este efeito), mas sim fazer um registro fotográfico e histórico de uma metrópole em constante mudança (e que costuma não perdoar o passado em nome do “progresso”).

Limeira também foi, à sua medida, vítima do “progresso”. Há alguns anos, havia cerca de 200 imóveis na cidade listados pelo Conselho Estadual de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). Em 1997, cerca de 120 foram identificados e fotografados. No ano 2000, restavam 60, segundo o Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico (Condephali). Hoje, já não se sabe quantos são.

De acordo com o Condephali, o único imóvel tombado pelo órgão estadual em Limeira é o prédio da antiga escola Coronel Flamínio Ferreira, no Centro, que abrigava o museu e está em reforma (ele não consta da lista de bens tombados no estado, disponível no site do Condephaat).

Da região, estão no site a sede da Fazenda Salto Grande (Americana), o Fórum de Araras, a sede da Fazenda Morro Azul (Iracemápolis), a Casa de Prudente de Moraes, a Casa do Povoador, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, o edifício da antiga escola Normal e o Passo da Via Sacra São Vicente de Paula (todos em Piracicaba), além da estação ferroviária, o Gabinete de Leitura, o Horto e Museu “Edmundo Navarro de Andrade”, a sede da Fazenda Grão Mogol e o Sobrado do Barão de Dourados (em Rio Claro).

Há, porém, muito o que se preservar em Limeira. Alguns imóveis já foram tombados (leia aqui). E só tombados. Neste blog, já citei a estação ferroviária do Tatu (leia aqui). Tem ainda o Casarão do Tatu, o Palacete Levy, a Capela de Cubatão, todos necessitando no mínimo de cuidados, como se vê pelas fotos. Isso sem contar várias residências.

O governo Silvio Félix (PDT) já anunciou alguns projetos de restauro, mas por enquanto só a estação ferroviária do Centro foi revitalizada. É preciso mais, muito mais, para tentar manter o pouco da história que ainda resta – e que está se perdendo, como os números do Condephaat indicam.





Afinal, por que proteger o patrimônio? Simplesmente porque ele ajuda a contar a nossa história. Porque as próximas gerações têm o direito de conhecer o passado para, assim, melhor projetar o futuro.

quarta-feira, 7 de abril de 2010 | | 0 comentários

Memória preservada

Além da Editora Unesp (leia postagem aqui), o Arquivo Público de São Paulo também tomou uma atitude exemplar. Em tempos de Internet e de transparência, o órgão – criado em 1721 – decidiu digitalizar e disponibilizar na rede mundial de computadores parte de seu acervo (que tem mais de 1,5 milhão de imagens, 39 mil livros e 1,2 mil jornais).

Alguns destaques do acervo digital são os projetos “Viver em São Paulo”, “
Imigração em São Paulo”, “Memória da Imprensa”, “Memórias Reveladas” e “Última Hora”.

A parte reservada à imprensa traz uma seleção de jornais e revistas que “revela as facetas variadas do jornalismo brasileiro em momentos distintos da nossa história”, aponta o governo do Estado. "Os pesquisadores poderão acessar desde publicações que marcaram época, como a revista 'A Cigarra' (1914-1975) e o jornal 'Última Hora' (1951-1971), até títulos menos conhecidos, como o jornal sindical 'Notícias Gráficas' (1945-1964) e o anarquista 'La Barricata' (1912-1913)", informa - via assessoria de imprensa - o coordenador do Arquivo Público, Carlos de Almeida Prado Bacellar (leia mais aqui).

Ainda no setor referente à imprensa, é possível rever “nove títulos de jornais do século 19, num total de 1.670 páginas”. São exemplares de 1827 a 1888, “em que se destaca ‘O Farol Paulistano’ (1827-1833), o primeiro jornal impresso e editado na província de São Paulo” (leia mais
aqui).

Na parte destinada à imigração, são 40 mil páginas de documentos, como os nomes de 570 imigrantes de diversas nacionalidades que se estabeleceram em Limeira e a lista de moradores da Colônia de Cascalho, hoje um bairro de Cordeirópolis (onde, aliás, viveram meus antepassados da família Piscitelli, uma das formadoras daquele núcleo, doadora de terras para a igreja e da coroa – furtada – da santa padroeira do templo local). Há também galerias de imagens e listas de bordo dos navios que trouxeram imigrantes para o Estado.


* A foto e o áudio acima são de divulgação do governo do Estado.