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sexta-feira, 10 de abril de 2015 | | 0 comentários

Reduzir maioridade para quê?

(...) Indiferente a soluções verdadeiras para interromper a vergonhosa taxa anual de 55 mil homicídios, a chamada bancada BBB - Boi, Bíblia e Bala - prossegue sua blitzkrieg retrógrada. Menos de 1% dos assassinatos são cometidos por jovens de 16 e 17 anos. Já os adolescentes representam 36% das vítimas. Basta tais números para perceber a manipulação demagógica do debate da maioridade penal.

Uma sugestão: em vez de caçar menores, por que não endurecer, por exemplo, as regras de prescrição de delitos de adultos? (...)

Fonte: Ricardo Melo,
“Retrocesso trabalhista”, Folha de S. Paulo, Poder, 6/4/15.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014 | | 0 comentários

"Liberdade, igualdade, rolezinhos"

(...) Vivemos num estágio de civilização em que já não se admitem mais algumas modalidades de discriminação racial e social. É verdade que ninguém advoga pelo direito de mendigos frequentarem shoppings, mas revolta-nos pensar que pessoas sejam impedidas de entrar num deles apenas em virtude da cor de sua pele ou de seus rendimentos. Exigimos certa igualdade jurídica entre cidadãos.

(...) A moral da história é que liberdade e igualdade, embora tenham inspirado a Revolução Francesa, são princípios incongruentes. Se os agentes são livres para buscar seus interesses, alguns acumularão mais bens do que outros e darão tratamento privilegiado a seus familiares, amigos e clientes, o que mina, na teoria e na prática, a ideia de igualdade.

Fonte: Hélio Schwartsman, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 21/1/14, p. 2 (íntegra aqui).

Leia também:

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014 | | 0 comentários

O tsunami dos rolezinhos

É incrível como, de tempos em tempos, expressões e comportamentos invadem nosso cotidiano do nada, como um tsunami, que chega sem avisar.

Há um mês quase ninguém tinha ouvido falar dos tais “rolezinhos” ou deles tinha conhecimento. De repente só se fala nisso. Viraram assunto nacional – inclusive com reuniões no Palácio do Planalto.

Não pretendo dizer aqui que a questão é irrelevante. Acho sempre válido o debate, seja qual for o tema.

Apenas registro o aspecto curioso dos modismos.

Quando eu era adolescente, as meninas eram gatas. Hoje são “mina” – “as mina pira”, como me “ensinou” certa vez um jovem cinegrafista da TV onde eu trabalhava.

As mais abusadas eram “galinha”. Hoje são “periguete” (ou é “piriguete”?).

Biscate era biscate mesmo, hoje uma categoria quase em desuso. Só sobraram as putas.

Nossa diversão era se encontrar nos “points” (às vezes chamados de “domingueira”). E na “boate”. Não havia “balada”.

Muito menos “rolê”. Dar uma volta (de carro ou a pé) era dar uma volta mesmo. Depois surgiu o “dar um giro”.

Agora vem esse tal de rolezinho. O que seria? Um “rolê” versão reduzida, como o nome sugere?

A discussão chegou a tal ponto que a velha história da disputa de classes entrou em cena (“na boa”, para usar uma expressão atual, quem disse que os shoppings são templos da elite? Vá 90% dos shoppings de São Paulo e do interior e verá muito mais gente simples e classe média do que a dita elite, que frequenta os seus próprios – e quase inacessíveis – centros de compras).

Foi o que bem disse Reinaldo Azevedo em sua coluna nesta sexta-feira (17/1) na “Folha de S. Paulo”:

Setores da imprensa e alguns subintelectuais, com ignorância alastrante, tentaram ver o "rolezinho" como manifestação da luta de classes. Os shoppings, chamados de "templos de consumo" por bocós dos clichês superlativos, seriam a expressão mais evidente e crua do "fetichismo da mercadoria", uma estrovenga que "sedizentes" marxistas não conseguem definir sem engrolar incongruências e abstrações inanes. Deu errado. Boa parte dos shoppings está nas periferias e é frequentada por pobres. Quando a luta de classes falha, é o caso de convocar a guerra racial.

Seja como for, li na Internet alguns depoimentos de quem frequente os tais “rolezinhos”. E o que me pareceu nada mais é do que a simples e velha busca por diversão e paquera, coisa típica da adolescência e juventude em qualquer época, em qualquer geração, tenha isto o nome de passeio, “giro”, “rolê” ou “rolezinho”.

Ou, numa visão pós-moderna, como escreveu Azevedo:

Jovens que aderem a eventos por intermédio do Facebook não são excluídos sociais, mas incluídos da cultura digital, que já é pós-shopping, pós-mercadoria física e pós-racial. O que mais se troca nas redes sociais são bens simbólicos, são valores, que definem tribos e grupos com pautas cada vez mais específicas.

Se eventualmente há violência, que se coíba como se deve coibir em qualquer lugar, seja num clube, na igreja ou numa praça. Mais que isto me parece... deixa pra lá.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013 | | 0 comentários

Os retratos de uma geração

Larry Clark é considerado um dos mais importantes e influentes fotógrafos de sua geração. Nascido em 1943 na cidade de Tulsa, em Oklahoma (EUA), sofreu influência da mãe - fotógrafa itinerante de bebês. Contudo, e isto foi determinante em sua carreira, mudou o foco: do inocente trabalho materno para algo profundo e, sob certo aspecto, antropológico.

Clark retrata de modo nu (literalmente) e cru a realidade de sexo, violência e uso de drogas pela juventude norte-americana entre as décadas de 1960 e 90, primeiro em fotos e depois no cinema. Como cita o vídeo incluído nesta postagem, "um retrato devastador de uma tragédia americana".

Seu livro mais renomado, "Tulsa", traz uma série de fotos feitas entre 1963 e 71 mostrando atividades do seu círculo de amigos em sua cidade natal. É a trajetória de três jovens "do idealismo e êxtase ao trauma e paranoia durante tardes desoladas" nos EUA da era Vietnã, segundo Brian Wallis, curador de uma exposição sobre o fotógrafo no ICP Museum - o Centro Internacional da Fotografia, em Nova York (EUA).

Larry Clark // Tulsa from haveanicebook on Vimeo.

As imagens, explícitas, podem chocar olhos mais sensíveis. Elas combinam "um estilo de documentário e narrativa sequencial de um ensaio da tradicional revista 'Life' com uma surpreendente intensidade emocional e íntima", conforme definição feita para a exposição do ICP.


Em "Teenage Lust", livro no qual volta a mostrar - com fotos feitas entre 1960 e 80 - cenas de sexo e drogas, Clark mergulha no seu passado e faz um trabalho quase autobiográfico a partir da imagem de outros.



Na década de 1990, o renomado fotógrafo transportou sua temática para as telonas, tornando-se diretor de cinema. Seu filme mais famoso é o polêmico "Kids", de 1995.

No Brasil, alguns trabalhos de Clark podem ser vistos no Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG). Lá estão cem fotos da série "Teenage Lust" e dez da série "Tulsa".




A temática e o estilo de Clark me remeteram à obra de Jack Kerouac, ícone e gênio da geração "beat", que se notabilizou também por uma obra (no caso literária) bastante autobiográfica (ainda que recorrendo às vezes a personagens amigos seus), realista, íntima e profunda. 

Com traços existencialistas em seus trabalhos, ambos - Clark e Kerouac - fizeram, sem dúvida, o retrato de uma geração. Ou de parte dela, uma parte significativa.

Mais informações sobre o fotógrafo-diretor podem ser obtidas aqui.

* As imagens foram retiradas dos sites lincados nesta postagem

quarta-feira, 1 de maio de 2013 | | 0 comentários

E aí, "pegou"?

Costumo brincar com os amigos dizendo que sou velho. De fato estou a caminho – sem querer aprofundar o sentido de “velho”. Estou mais perto da terceira idade do que da adolescência. Pronto.

Sendo velho, tenho dificuldade para entender os modismos juvenis. Não compreendo, por exemplo, as paqueras pelo Facebook – embora eu saiba que elas funcionem e resultem até em transas ocasionais e casamentos.

Tinha dificuldade também para entender o sentido de “pegar”. No “meu tempo” esta expressão não existia.

De uns tempos para cá, surgiram o “ficar”, o “dar uns amassos” e o “pegar”.

Certa vez, perguntei para dois conhecidos: o que, afinal, significa “pegar”? Beijar? Transar? Enamorar-se?

Cada um deu sua resposta – e talvez esteja aí o segredo: você fala que “pegou” e cada um interpreta como quiser.

Ainda assim o termo sempre me incomodou um pouco. Não sabia bem o motivo (ou melhor, não conseguia processá-lo). Até que li uma reportagem na “Folha de S. Paulo” que traduz exatamente o que me incomoda na expressão: a vulgaridade e a redução do papel da mulher a simples objeto.

“Muitos desses estímulos não são positivos, segundo Antonio Carlos Egypto, psicólogo especialista em orientação sexual. Basta assistir a um programa de humor ou a peças publicitárias para perceber que ‘a imagem da mulher-objeto é usada de maneira escancarada’, diz ele.

‘Os adolescentes falam que vão pegar alguém. A gente só pega objetos’, complementa (a psicóloga Rosely) Sayão.

A desvalorização da mulher é reforçada pela família e pela escola mesmo sem saber, segundo Renata Libório: os pais valorizam o comportamento garanhão dos meninos e a escola pensa estar prevenindo a violência aconselhando as meninas a usar roupa larga e saia comprida.”

Como minha opinião não vale nada, os jovens continuarão “pegando” e eu seguirei não entendendo – e não gostando do termo. Tudo bem, afinal sou mesmo velho...

terça-feira, 30 de abril de 2013 | | 0 comentários

Violência e juventude: o problema real

A necessidade e a urgência de bloqueio ao uso de menores por bandidos e monstros como os incendiários da dentista indefesa Cinthya de Souza, em São Paulo, não podem continuar pendentes da discussão tergiversante sobre a menoridade penal. A menos que se continue admitindo, com estupor mas passivamente, que crimes se propaguem amparados na pena máxima de três anos de "reeducação" para o falso principal autor.

O truque adotado pela bandidagem é inteligente. Suas ações passaram a ter, como norma, a presença de um menor de 18 anos. No caso de mau resultado final do crime, a gravidade maior do ato é atribuída ao "dimenor" e, como passaporte para o primeiro nível da bandidagem, por ele assumida. Não considerado criminoso e preso, como de fato é, mas como "apreendido" para reeducação nos tais três anos máximos, proporciona aos criminosos "dimaior" penas muito mais leves, como coadjuvantes. E saídas da prisão muito mais cedo, com os benefícios presenteados pela lei.

(...) À parte a idade penal, as autoridades ditas responsáveis, nos governos e no Congresso, e mesmo nas polícias, precisam remediar o problema já. Ou ser pressionadas a fazê-lo. Agravante de corrupção de menor, agravar pesadamente a prática de crime de adulto acompanhado de menor, levando a pena a ultrapassar a vantagem do truque, são exemplos de providências adotáveis com rapidez. Mesmo que o marginal de 17 ou 18 anos em nada se diferencie do marginal de 20 ou mais, e mesmo que seu aprendizado criminal nos presídios não seja maior do que o aprendizado fora, não é possível perder mais tempo discutindo idades. (...)

Fonte: Janio de Freitas, “Protetores do crime”, Folha de S. Paulo, Poder, 30/4/13, p. 6.