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terça-feira, 20 de maio de 2014 | | 0 comentários

Vida visualizada - uma crítica sobre as redes sociais

"I forgot my phone", escrito por Charlene deGuzman e dirigido por Miles Crawford:



"Look up", dirigido por Gary Turk:



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- Retrato de uma juventude

segunda-feira, 6 de agosto de 2012 | | 0 comentários

Telejornalismo em questão

Renovar o jornalismo de TV, ousar, enlouquecer a concorrência, incomodar poderosos, remar na contracorrente. Essas são as intenções de um telejornal fictício, base da trama do seriado americano "The Newsroom", sensação nos EUA, agora na TV a cabo do Brasil.

Criação de Aaron Sorkin, o mesmo da série "The West Wing" e do filme "A Rede Social", "The Newsroom" não deixa ninguém indiferente. É cultuado com intensidade, e odiado também. Para jornalistas, assisti-lo vira hábito compulsivo (ainda mais para os de TV, meu caso).

Mas "The Newsroom" não surgiu do nada, a partir de algum "insight" genial do criador Sorkin (sujeito intragável, garante quem já esteve frente a frente com ele). Deve muito, e não sei se isso foi devidamente notado, a uma série inglesa exibida em 2011 pela BBC: "The Hour".

Assim como em "The Newsroom", em "The Hour" uma equipe de jornalistas muito jovens, chefiados por uma mulher, é chamada a criar uma atração inovadora. Em "The Newsroom", um telejornal diário. Em "The Hour", um programa semanal, com as principais notícias do período.

(...) Em "The Hour", os jornalistas repetem em todo episódio: "Não queremos entediar o espectador". O que não significa apelar para sensacionalismo ou banalidades. Vivem em tempos turbulentos, perfeitamente refletidos no programa. Falam da crise do canal de Suez, da invasão da Hungria pelas tropas soviéticas, dos titubeios do governo conservador de Anthony Eden.

No jornal fictício de "The Newsroom", a série americana, não há preocupação com formatos atraentes. Seus jornalistas se veem como arautos de uma missão que julgam civilizadora. "Notícia importante é notícia útil na hora de votar", sentencia, logo no primeiro capítulo, a editora-chefe. Ou seja: só cobrem política e economia, e na base de muita falação.

Fonte: Álvaro Pereira Júnior, "Notícias na TV", Folha de S. Paulo, Ilustrada, 4/8/12.

***

Não, os Estados Unidos não são o melhor país do mundo. Estão em sétimo lugar em taxa de alfabetização, 27º em conhecimento de matemática, 22º em ciência, 49º em expectativa de vida, 178º em mortalidade infantil, terceiro em renda per capita, quarto em força de trabalho e exportações.

Lideram o mundo apenas em três categorias: porcentagem de cidadãos encarcerados, número de adultos que acreditam que anjos são reais e em gastos de defesa -despendem mais que os 26 países seguintes somados, 25 dos quais são seus aliados.

A ideia acima é do personagem Will McAvoy, exposta durante palestra a estudantes de jornalismo. Até ali um âncora anódino, chamado pelos pares de "Jay Leno do jornalismo" por sua capacidade de não desagradar ninguém, ele resolve se despir da mediocridade e começar a fazer telejornalismo para valer.

Assim se inicia a série "The Newsroom" (a Redação, em inglês), que o canal de TV paga HBO passa a exibir aos domingos no Brasil a partir de hoje, às 21h. Criada por Aaron Sorkin, de "The West Wing" e roteirista do longa "A Rede Social", conta os bastidores de um telejornal fictício com notícias de verdade.

No primeiro episódio, fala-se do vazamento de óleo no golfo do México, de abril de 2010. No terceiro, da ameaça de explosão de um carro-bomba na Times Square, em Nova York, no mês seguinte.

As situações reais são pano de fundo para que a qualidade do telejornalismo dos EUA seja discutida de maneira criativa e provocadora. A tese de Sorkin é que, ao buscar audiência a qualquer preço, os programas se tornaram mais superficiais e emburreceram os espectadores.

Num dos episódios, depois de fazer um comentário engraçadinho sobre a política Sarah Palin, McAvoy (Jeff Daniels) pede desculpas no ar. Não apenas pelo erro, mas por anos de desinformação:

"Sou líder numa indústria que errou resultados de eleições [Bush x Gore, 2000], exagerou ameaças terroristas [Guerra do Iraque, 2003], inflou controvérsias e deixou de noticiar mudanças tectônicas em nosso país, do colapso do sistema financeiro [em 2008] a quão fortes nós realmente somos diante dos desafios que temos".

Fonte: Sérgio D´Ávila, "No calor da hora", Folha de S. Paulo, Ilustrada, 5/8/12.

domingo, 16 de janeiro de 2011 | | 3 comentários

Sobre a tragédia causada pelas chuvas

Como mostrou ontem o repórter Evandro Spinelli na Folha, o risco de um desastre de grandes proporções na belíssima região de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo foi detectado há dois anos por um estudo técnico encomendado pelo próprio governo do Rio.

E o que o governo fez com o resultado? Largou às traças, deixou pegando poeira na burocracia, empurrou para a gaveta ou simplesmente jogou no lixo -junto com o dinheiro público que o pagou.

Horas antes, as autoridades tiveram nova chance de não dar asas ao azar: o novo radar da Prefeitura do Rio e o Instituto Nacional de Meteorologia identificaram previamente a formação da tempestade.

E o que foi feito? Nada. Os órgãos atuaram isoladamente, não como um sistema integrado, em que o alerta se reproduz entre as várias instâncias, tem consequências e salva vidas. Mas não. É como se o radar fosse de enfeite, e o Inmet, só para inglês ver.

Num ótimo artigo, o colega Marcos Sá Correa defendeu que o remédio é responsabilizar homens públicos - e não abstratamente o Estado - pelos crimes que cometem contra a vida. É crime dar levianamente alvará de construção e "habite-se" para imóveis em encostas, fechar os olhos para casas em áreas de risco, desprezar alertas de tempestades e de outras intempéries.

Para complementar a sugestão do Marcos, a Polícia Federal deveria investigar também esse tipo de crime que pode resultar em 500, 600 mortes, famílias inteiras destruídas, casas despedaçadas, bilhões de prejuízos aos bolsos particulares e aos cofres públicos.

Se não vai por bem, vai por mal -na base da ameaça. Mais ou menos como no caso do cinto de segurança: todo mundo só passou a usar depois de criada a multa.

No rastro da Satiagraha, da Sanguessuga, da Castelo de Areia, fica aí a sugestão para o novo diretor-geral da PF, Leandro Coimbra: a operação "Desleixo Assassino".

Fonte: Eliane Cantanhêde, Desleixo assassino, "Folha de S. Paulo", Opinião, p. 2, 16/1/11.

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No caso da tragédia do Rio, é só somar 1+1+1 e o resultado inexorável será a incompetência do poder público e o retrato de um país que tem mais de submergido que de emergente.

Primeiro 1 - O "Jornal Nacional" de quinta-feira mostrou que choveu mais em Portugal e na Austrália do que no Rio de Janeiro. Mas o número de mortos no Rio foi esmagadoramente superior.

Segundo 1 - O serviço de meteorologia emitiu aviso especial sobre a iminência de fortes chuvas precisamente nas áreas que acabaram sendo devastadas. Uma das prefeituras reconheceu ter recebido o aviso cinco horas antes da explosão. Nada foi feito.

Terceiro 1 - A manchete desta Folha, ontem, mostra que desde 2008 o Rio de Janeiro sabia perfeitamente que havia riscos tremendos nas cidades que foram as principais vítimas.O que foi feito? Nada.

Tudo somado, o que se tem é o óbvio fato de que chuvas torrenciais podem acontecer, deslizamentos formidáveis também - e, até aí, a culpa é só da natureza -, mas falta, no Brasil, acontecer a prevenção.

Já nem digo a prevenção original, a de proibir construções em áreas de risco. A incompetência do poder público impediu que essa providência fosse tomada e, se fosse, seria inócua. Falta fiscalização.

Refiro-me à prevenção de, diante da iminência da catástrofe, minimizar os danos ou, ao menos, as mortes, os danos mais terríveis, mesmo nesta era de predominância da finança sobre a vida.

Posto de outra forma, o poder público não está presente nem antes, nem durante e nem depois da tragédia. Chama a atenção, pelo menos de longe, o fato de repórteres chegarem a locais aos quais, segundo informam, nenhum socorro conseguira chegar.

Em vez de emergente, o Brasil parece mais país em construção. Precária, muito precária.

Fonte: Clóvis Rossi, O emergente submergiu, "Folha de S. Paulo", Opinião, p. 2, 16/1/11.

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Dois textos para aqueles que consideram um exagero culpar o Poder Público pelas tragédias naturais...