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quinta-feira, 29 de outubro de 2015 | | 0 comentários

Sobre a felicidade e a depressão

De qualquer forma, o extraordinário sucesso da depressão e dos antidepressivos não existiria se nossa cultura não atribuísse um valor especial à felicidade (da qual a depressão nos privaria). Ou seja, ficamos tristes de estarmos tristes porque gostaríamos muito de sermos felizes.

Coexistem, na nossa época, dois fenômenos aparentemente contraditórios: a depressão e a valorização da felicidade. Será que nossa tristeza, então, não poderia ser um efeito do valor excessivo que atribuímos à felicidade? Quem sabe a tristeza contemporânea seja uma espécie de decepção".

Fonte: Contardo Calligaris,
“A felicidade é deprimente”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 29/10/15.

segunda-feira, 16 de maio de 2011 | | 0 comentários

Felicidade tem preço?

Você por acaso conhece os segredos de uma vida feliz? Pois é, eles foram tema no ano passado de uma reportagem na “FT Magazine”, a revista do renomado jornal “Financial Times”. E chamaram a atenção de muita gente.

Assinada por Nick Powdthavee – um economista comportamental, autor do livro “The Happiness Equation” (“A Equação da Felicidade”) - e Carl Wilkinson, a reportagem cita que “a maioria de nós tem dificuldade em prever como vamos reagir quando confrontados com muitas das experiências da vida”. Por isso, tendemos a superestimar o impacto de muitas experiências.

Contudo, conforme indica a reportagem, a felicidade pode estar justamente nas coisas mais simples. Segundo o texto, uma nova pesquisa sugere que a resposta para a pergunta "Onde encontrar a felicidade?" está no que já temos: amigos, familiares, etc. “O segredo para ser feliz é simplesmente dedicar mais do nosso tempo e atenção a essas experiências ricas e gratificantes de felicidade”.

A reportagem traz inclusive uma tabela do que seria o “preço da felicidade”. Pela tabela, baseada num estudo, ter saúde representaria um ganho de 1,3 milhão de libras (cerca de R$ 3,9 milhões), enquanto a morte de um amigo equivaleria à perda de oito mil libras (R$ 24 mil). Soa matemático demais, não...?

Conforme a reportagem, os sete segredos de uma vida feliz são:

1) O dinheiro compra pouco a felicidade;
2) Amigos valem mais do que uma nova Ferrari;
3) Ganhar na loteria não vai fazê-lo instantaneamente feliz;
4) Perder o emprego o faz infeliz - mas não tanto quando outros também perderam;
5) Amigos gordos o fazem mais feliz do que os magros;
6) O divórcio pode fazê-lo feliz; 
7) A felicidade é contagiosa.

Alguns itens são estranhos (como o segundo); outros, curiosos (como o quinto). Uns são previsíveis (como o sétimo); outros, surpreendentes (como o sexto).

Por exemplo: ao estabelecer que o dinheiro compra menos a felicidade do que imaginamos, o economista Richard Easterlin explica na reportagem que isso se deve em parte ao fato de que nos preocupamos muito mais com quanto os outros ganham do que com quanto nós ganhamos.

Já a comparação da amizade com a Ferrari exige uma conta exata demais para algo tão subjetivo e abstrato como a felicidade. De acordo com a reportagem, na Grã-Bretanha, um aumento salarial de mil libras equivale a um aumento na felicidade de 0,0007 ponto. Ver os amigos com mais frequência, por sua vez, representa um aumento de 0,161 ponto. Isso significa dizer que ter uma vida mais sociável equivaleria a um aumento salarial de 230 mil libras – mais do que custa uma nova Ferrari 612 Scaglietti.

Para quem ficou interessado, a reportagem completa (em inglês) está disponível no site da “FT Magazine” e pode ser acessada aqui.

* A imagem que ilustra esta postagem foi retirada da própria reportagem.

sexta-feira, 11 de março de 2011 | | 0 comentários

"Deus me livre de ser feliz"

Deus me livre de ser feliz. Existem coisas mais sérias que a felicidade. Algum sabichão por aí vai dizer, sentindo-se inteligentinho: "Existem várias formas de felicidade!". E o colunista dirá: "Sou filósofo, cara. Conheço esse blá-blá-blá de que existem vários tipos de felicidade, mas hoje não estou a fim".

Um bom teste para saber se o que você está aprendendo vale a pena é ver se o conteúdo em questão visa te deixar feliz.

Se for o caso e você tiver uns 40 anos de idade, você corre o risco de sair do "curso" engatinhando como um bebê fora do prazo de validade. A mania da felicidade nos deixa retardados.

Querer ser feliz é uma praga. Quando queremos ser felizes sempre ficamos com cara de bobo. Preste atenção da próxima vez que vir alguém querendo ser feliz.

Mas hoje em dia todo mundo quer deixar todo mundo feliz porque agradar é, agora, um conceito "científico". Quem não agrada, não vende, assim como maçãs caem da árvore devido à lei de Newton.

Mas eu, talvez por causa de algum trauma (fiz análise por 20 anos e acho que Freud acertou em tudo o que disse), não quero agradar ninguém.

Não considero isso uma "vantagem moral", mas uma espécie de vício. Claro, por isso tenho poucos amigos. Mas, como dizem por aí, se você tiver muitos amigos, ou você é superficial, ou eles são, ou os dois.

Quanto aos meus alunos e leitores, esses eu nunca penso em deixar felizes, graças a Deus.

Desejo para eles uma vida atribulada, conflitos infernais com as famílias, dúvidas terríveis quanto a se vale a pena ou não ter filhos e casar.

Desejo que, caso optem por não ter família, experimentem a mais dura solidão da existência humana, porque, no fundo, não passam de egoístas. Mas se tiverem família, desejo que percebam como os filhos cada vez mais são egoístas porque querem ser felizes e livres.

Desejo para eles pressões violentas no mercado de trabalho. E jantares à meia-noite diante de um trabalho que não pode ficar para amanhã porque querem viajar e ter grana para gastar.

Quem quiser ser livre, que aguente a insegurança da liberdade. Quem for covarde e optar por uma vida miseravelmente cotidiana que veja um dia sua filha jogar na sua cara que você foi um covarde.

Especialmente, desejo um futuro cruel para quem acredita que "ser uma pessoa de bem" a protege de ser infiel, infeliz, abandonada e invejosa.

Espero que um dia descubram que, sim, eles têm um preço (apenas desejo que seja um preço alto) e que se vendam.

Espero que percebam que seus pais não foram santos e parem com essa coisa de gente brega de classe média que tenta inventar uma "tradição ética familiar" que só engana bobo.

E por que digo isso? Porque hoje todos nós estamos um tanto infantilizados e só queremos que nos digam o que achamos legal.

O resultado é uma massa de obviedades. A tendência é transformar o pensamento público em autoajuda ou em "compromisso com um mundo melhor", o que é a mesma coisa.

Quem quer agradar é, no fundo, um frouxo. Vejamos alguns exemplos do produto "querer ser feliz". Comecemos por quem acha que o seu "querer ser feliz" é superior e espiritualizado.

Talvez você queira virar luz quando morrer porque ser luz é legal (risadas). Deus me livre de querer virar luz quando morrer. Prefiro as trevas.

Se for para continuar vivendo depois de morto, prefiro viver no "meu elemento", as trevas, porque sou cego como um morcego.

Normalmente, quem quer virar luz quando morrer é gente feia ou magra demais. Mulheres bonitas vão para o inferno, logo...

E gente que acha que frango tem mãe (só porque ele "descende" do ovo de uma galinha, e ela de outro...) e por isso é crime matá-los? Trata-se de uma nova forma de compromisso com a "felicidade social e política".

Entre esses "felizes que desejam a felicidade para os frangos" existem pessoas de 40 anos com cérebro de dez e pessoas de dez anos que um dia terão 40, mas com o mesmo cérebro de dez. Não creio que mudem.

Hoje é Carnaval. Espero que você não tenha pegado aquele trânsito idiota de cinco horas para ser feliz na praia.


Fonte: Luiz Felipe Pondé, "Folha de S. Paulo", Ilustrada, 7/3/2011.