Mostrando postagens com marcador Washington Post. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Washington Post. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 4 de maio de 2015 | | 0 comentários

"Jornalismo aprofundado e sério tem um mercado enorme"

É impossível - repito, em caixa alta, IMPOSSÍVEL - fazer jornalismo de qualidade sem investimento. 

A velha lição, esquecida por quase todas as empresas e redações, foi reforçada numa interessante entrevista do editor do "Washington Post", Marty Baron ao jornal "Folha de S. Paulo", publicada em 3/5/15. 

Veja algumas pitacos a seguir:

(...) Há um investimento enorme em medir o comportamento do leitor digital: o que ele lê, o que ignora, quanto tempo gasta por reportagem. Qual foi a maior surpresa?

Vários clichês foram confirmados. A porcentagem de quem lê um texto até o final é muito menor do que a gente pensa. Uma típica reportagem é lida até o final por 1%, 2% dos leitores. Mas há dois lados da moeda. Várias reportagens longas, bem-feitas, estão entre as mais lidas. Há um enorme número de gente que gasta muito tempo em narrativas aprofundadas. Não é verdade que texto longo afaste leitor.

Assuntos popularescos que fazem barulho na internet espantam o leitor tradicional?
Há um enorme mercado para assuntos sérios. Mas não é porque são sérios que precisam ser chatos. Na nossa profissão, se a história parecer interessante demais, tem gente que acha que está sacrificando a seriedade. Mas contar uma história séria de forma envolvente é um enorme desafio. Essas são as mais lidas.

(...) Além da tecnologia, o que pode melhorar no jornalismo e na maneira de contar histórias?
A narrativa mudou muito com a interatividade. O mais interessante é a integração das ferramentas em um único texto, nos lugares apropriados, dar o contexto. Se numa reportagem você narra a gafe de um político ou uma violência policial e tem o vídeo, pode mostrar ali, na hora. Coloque o gráfico, a cópia do documento para quem quiser se aprofundar. Não separado, em outro lugar, como acontecia muito no passado. Tem que estar tudo bem trançado. É para isso que investimos tanto em tecnologia.

(...) Com esses investimentos, como o conteúdo está mudando?
Falei muito de negócios, mas a minha paixão, o que me mantém nesse meio, são o jornalismo e a reportagem, e temos muito do que nos orgulhar. O Pulitzer deste ano foi para uma reportagem nossa sobre falhas do Serviço Secreto - como o nome diz, é secreto, e nossa repórter conseguiu desvendá-lo. As revelações de Snowden sobre a NSA foram revolucionárias. Temos feito reportagens sobre pobreza, drogas, saúde mental, temas ainda evitados na mídia e na sociedade. Gosto do jornalismo que explica o mundo, explica assuntos com nuances. Tudo o que puder fugir de slogans de políticos, de comentaristas com frases feitas.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013 | | 0 comentários

Boa notícia: o “Washington Post” já era

Calma, eu explico: o título desta postagem não se trata de nenhuma manifestação de desejo ou profecia pessimista. Até porque, como se sabe, o principal jornal da capital norte-americana e um dos principais diários do mundo não acabou – nem está prestes a acabar. Foi apenas vendido: por US$ 250 milhões passou das mãos da tradicional família que o controlava há décadas para a do novo rico Jeff Bezos, dono da Amazon.

O negócio pegou quase todo mundo de surpresa e virou um dos principais assuntos do noticiário nos últimos dois dias. Várias análises já foram feitas, principalmente porque envolve um setor considerado crucial para a vida democrática de qualquer sociedade: a imprensa.

Ao mesmo tempo, envolve questões até hoje sem respostas. A principal delas é: qual o futuro dos jornais?

Será a venda do "WP" um prenúncio do fim? Ou de um (re)começo?

A depender das palavras – e do perfil executivo – do novo proprietário, o “WP” pode ser a resposta para a perturbadora pergunta sobre o futuro dos jornais.

Sinais para isto já existem. Em carta aos funcionários do “WP”, Bezos fez questão de avisar que o diário passará por mudanças nos próximos anos. Mudanças que ele chamou de “experimentação”.

A carta, aliás, é uma boa lição de jornalismo, ou de seus princípios, muitos dos quais abandonados por grande parte da imprensa atual (residirá aí um dos motivos da crise da mídia impressa?):

"O jornal vai continuar servindo os interesses de seus leitores, e não os interesses particulares de seus donos. 

Vamos continuar a seguir a verdade, onde quer que ela nos conduza, e vamos trabalhar duro para não cometer erros. Quando os cometermos, vamos reconhecer o fato rapidamente e por completo. 

(...) Haverá mudanças no 'Post' nos próximos anos, é claro. Isso é essencial e teria acontecido com ou sem novos proprietários. A internet está transformando quase todos os elementos do setor dos jornais: encurtando os ciclos de notícias, erodindo fontes de renda que foram constantes durante anos e possibilitando novos tipos de concorrência, alguns dos quais arcam com pouco ou nada dos custos da produção de notícias. Não existe mapa, e não será fácil mapear o caminho a seguir. 

Precisamos inventar, o que significa que teremos que fazer experimentos. Nossa pedra de toque serão os leitores, entender o que interessa a eles - política, líderes locais, aberturas de restaurantes, tropas de escoteiros, empresas, organizações beneficentes, governadores, esportes - e trabalhar com base nisso. Estou animado e otimista com a oportunidade de invenção."

Ao citar expressamente a Internet, Bezos fala de uma área que conhece bem. Foi por meio da rede mundial de computadores que ele revolucionou o mundo da venda de livros num primeiro momento e posteriormente o do varejo em geral ao criar o maior site de compras do mundo.

Portanto, quando Bezos fala em experimentar e inventar, pode-se presumir que o “WP” será campo de nada menos do que uma revolução no meio jornal. Esta é a expectativa.

Se os experimentos trarão resultados positivos é algo que sequer o novo dono se arrisca a dizer. O que não se pode negar é o faro dele para os negócios e a coragem e a ousadia necessárias para buscar novos caminhos num setor em franca decadência financeira nos EUA.

Decadência causada em grande parte por novidades como a rede mundial de computadores e suas infinitas possibilidades. “É simbólico que o ‘Post’, ícone do jornalismo impresso, acabe nas mãos da Amazon, que ajudou a tirar do mercado milhares de livrarias dos Estados Unidos”, escreveu o jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva em artigo publicado na “Folha de S. Paulo”.

Em recente entrevista ao jornal alemão “Berliner Zeitung”, Bezos não mediu as palavras ao prenunciar o fim dos jornais tal como os conhecemos num futuro breve.

Não parece ser mesmo de meias palavras o novo dono do “WP”. Embora suas intenções ao comprar o jornal não sejam claras (há muita especulação; para o assunto, recomendo a leitura dos links ao final desta postagem), é bom ficar de olho no que o “Washington Post” fará a partir de agora. Pode estar aí a chave para um novo jornalismo. Ou melhor: uma nova ferramenta e um novo jeito para o bom e velho jornalismo.

Em tempo: você pode pensar o que temos no Brasil a ver com isto. Muito. Espera-se que eventuais novidades introduzidas pelas experimentações anunciadas por Bezos no “WP” possam influenciar os jornais brasileiros, cada vez mais chatos e com menos utilidade diante das novas ferramentas virtuais.

Sobre isto, recomendo a leitura do artigo de Pedro Katchborian para o "youPIX".

Leia também: