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sexta-feira, 19 de junho de 2015 | | 0 comentários

O papa, o ambiente e o futuro

O papa Francisco acertou o alvo ao escrever sua nova encíclica, a primeira que assina sozinho (a anterior foi feita a quatro mãos, já que fora iniciada pelo antecessor, o hoje papa emérito Bento 16). 

Ao trazer a questão ambiental para o centro do debate religioso, Francisco mostra - como bem registrou o jornalista André Trigueiro em seu blog no G1 - ser "um homem à altura do seu tempo, do seu cargo, e do discurso que vocaliza em favor de um mundo melhor e mais justo".

É uma pena que encíclicas papais não passem de bons textos para reflexão. É uma pena que não ecoem nas práticas das nações, limitando-se a receber palavras elogiosas, porém sem efeito prático, dos governantes.

Não me arriscarei a comentar de modo mais profundo a nova encíclica. Primeiro porque não tenho conhecimento suficiente para isto. Segundo porque Trigueiro já o fez - certamente de modo muito mais competente que eu, porque antes de tudo é um conhecedor da causa ambiental.

Escreve o jornalista:


(...) O Papa explicita "a relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta ", num mundo onde o modelo de desenvolvimento concentra renda, polui o ar e as águas, agrava o efeito estufa e reduz a qualidade de vida das atuais gerações e, principalmente, das gerações futuras. Em resumo: o modelo vigente castiga o planeta e agrava a exclusão. (...)

Recomendo, portanto, a católicos e não católicos, cristãos e ateus, lerem com atenção a análise feita por Trigueiro. E, a quem se interessar, a leitura da própria encíclica.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014 | | 0 comentários

O papa falou - e reafirmou o que eu sempre disse

escrevi neste blog, quatro anos atrás, que sempre duvidei da história de Adão e Eva, da criação do homem e do mundo. Ou melhor, sempre considerei o Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, chamado de livro da Criação, como uma alegoria. Ou pedagogia da Igreja, como disse certa vez um padre.

Mesmo com a palavra de um religioso, explicada no post cujo link está acima, continuei ouvindo defesas radicais do criacionismo tal qual citado no Gênesis. E, diante de meus questionamentos ou argumentos, continuei sendo acusado de "homem de pouca fé" - ou nenhuma fé, já que duvidar da Criação tal qual citada na Bíblia seria duvidar do próprio Deus.

Pois bem: precisou que um papa progressista e revolucionário, como Francisco, dissesse a mesma coisa para que a comunidade católica entendesse meu ponto de vista: crer no evolucionismo ou na teoria do "Big Bang", a grande explosão que deu origem ao universo, em nada contradiz a crença em Deus como poder criador do universo.

Ao contrário, a reforça - como salientou o papa.

Será que agora, finalmente, poderei defender meu ponto de vista em paz? Ou alguém ainda vai querer reclamar com o bispo - porque com o papa não vai adiantar...

Em tempo: estive recentemente no Cern (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares), o maior centro de pesquisas de física de partículas do mundo, na divisa da Suíça com a França. Foi lá que descobriram a chamada "partícula de Deus", o bóson de Higgs (mais detalhes aqui).

Ao conversar com os cientistas do Cern, perguntei se a teoria do "Big Bang" já estava consolidada para explicar a origem do universo. Disseram que sim. Daí questionei se a ciência já consegue explicar o que deu origem ao "Big Bang" e o que havia antes da tal grande explosão. E a resposta foi: não sabemos.

É neste vácuo científico onde, para os que creem, entra o poder de Deus.

* Leia também (acrescentado em 30/10):

- Bíblia não nos dá pistas claras sobre existência de Adão e Eva

quarta-feira, 2 de outubro de 2013 | | 0 comentários

Frase

“Um Deus Católico não existe... Eu acredito em Jesus Cristo, em sua encarnação. Jesus é meu mestre e meu pastor, mas Deus, o pai... é a luz e o criador. Esse é o meu ser.”
Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, em entrevista para o editor do jornal “La Repubblica”

quinta-feira, 22 de agosto de 2013 | | 0 comentários

O segredo de Fátima em detalhes

Certamente, muitas pessoas já ouviram falar dos segredos de Fátima, as mensagens que - creem os católicos - foram transmitidas diretamente pela mãe de Jesus, Nossa Senhora, a três crianças portuguesas em 1917.

O primeiro e o segundo segredos eram conhecidos há décadas. A manutenção do terceiro segredo por anos fez surgir uma série de lendas e cercou o fato de mistério até que, no ano 2000, o então papa João Paulo 2° decidiu torná-lo público.

Para minha surpresa, o relato dos segredos e o tratamento dispensado a eles pela Igreja Católica desde que se revelaram aos pastorinhos portugueses estão detalhadamente contados, inclusive com reprodução dos documentos originais, no site do Vaticano.

Estão lá, além das páginas manuscritas pela irmã Lúcia, uma das pastorinhas, a carta do papa a ela, datada de 19 de abril de 2000; uma descrição do colóquio que houve com ela em 27 de abril daquele mesmo ano; a comunicação lida pelo cardeal Ângelo Sodano, então Secretário de Estado, em Fátima no dia 13 de maio de 2000; e o comentário teológico da terceira parte do “segredo” feito pelo cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e posteriormente eleito papa Bento 16. 

Segundo a Igreja, “Fátima é, sem dúvida, a mais profética das aparições modernas”.

“A primeira e a segunda parte do ‘segredo’ (...) dizem respeito antes de mais à pavorosa visão do inferno, à devoção ao Imaculado Coração de Maria, à segunda guerra mundial, e depois ao prenúncio dos danos imensos que a Rússia, com a sua defecção da fé cristã e adesão ao totalitarismo comunista, haveria de causar à humanidade.



Em 1917, ninguém poderia ter imaginado tudo isto: os três pastorinhos de Fátima veem, ouvem, memorizam, e Lúcia, a testemunha sobrevivente, quando recebe a ordem do Bispo de Leiria e a autorização de Nossa Senhora, põe por escrito”. 

As duas primeiras partes do “segredo” foram redigidas por Lúcia em 1941 (o original está nas imagens acima); a terceira e misteriosa parte foi escrita em 3 de janeiro de 1944 (a parte inicial do original está na imagem abaixo). 


De acordo com o Vaticano, só há um manuscrito. “O envelope selado foi guardado primeiramente pelo Bispo de Leiria. Para se tutelar melhor o ‘segredo’, no dia 4 de abril de 1957 o envelope foi entregue ao Arquivo Secreto do Santo Ofício. (...)

Segundo apontamentos do Arquivo, no dia 17 de agosto de 1959 (...), o Comissário do Santo Ofício, Padre Pierre Paul Philippe OP, levou a João 23 o envelope com a terceira parte do ‘segredo de Fátima’. Sua Santidade, ‘depois de alguma hesitação’, disse: ‘Aguardemos. Rezarei. Far-lhe-ei saber o que decidi’.

Na realidade, a decisão do Papa João 23 foi enviar de novo o envelope selado para o Santo Ofício e não revelar a terceira parte do ‘segredo’. 

Paulo 6° leu o conteúdo (...) a 27 de março de 1965, e mandou novamente o envelope para o Arquivo do Santo Ofício, com a decisão de não publicar o texto. 

João Paulo 2°, por sua vez, pediu o envelope com a terceira parte do ‘segredo’, após o atentado de 13 de maio de 1981. (...) No dia 11 de agosto seguinte, o Senhor D. Martínez Somalo devolveu os dois envelopes ao Arquivo do Santo Ofício.”

A terceira parte do segredo só viria a ser revelada ao mundo quase 20 anos depois.

A seguir, reproduzo-a tal como descrita no original:

“A terceira parte do segredo revelado a 13 de julho de 1917 na Cova da Iria-Fátima. 
Escrevo em acto de obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe. 
Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fôgo em a mão esquerda; ao centilar, despedia chamas que parecia iam encendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: PenitênciaPenitênciaPenitência! E vimos n'uma luz emensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Varios outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de juelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam varios tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, n'êles recolhiam o sangue dos Martires e com êle regavam as almas que se aproximavam de Deus. 

Tuy-3-1-1944”. 

Para saber mais sobre toda esta história, basta clicar aqui.

* As imagens foram retiradas do site do Vaticano

terça-feira, 23 de julho de 2013 | | 0 comentários

Franciscos e Dilmas

Dois textos necessários publicados nesta terça-feira na "Folha de S. Paulo" (a íntegra está disponível nos links):

"(...) quais das autoridades que foram atrás de fotos e bênçãos do papa franciscano poderiam se dar ao luxo de passear pela avenida Rio Branco com os vidros do carro (não blindado) abertos? (...)"
Vera Magalhães, “De vidros abertos”, Opinião, 23/7/13, p. 2.
  
"(...) Digamos que Francisco foi Francisco, Dilma foi Dilma. Um foi o papa despretensioso, que dispensa ouro, capas de veludo e pompas para se colocar cada vez mais próximo do povo. A outra foi a presidente de expressão arrogante, num momento em que está acuada, precisa se justificar e luta bravamente para recuperar a popularidade perdida. (...)"
Eliane Cantanhêde, "Discurso errado no hora errada"Opinião, 23/7/13, p. 2.

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Frase

“Aprendi que, para ter acesso ao povo brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo!”
Francisco, papa, em discurso na chegada ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude

domingo, 17 de março de 2013 | | 0 comentários

Frase

"A misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo. (...) Somos nós que nos cansamos de perdoar."
Papa Francisco, no primeiro Angelus (oração especial dos católicos) de seu pontificado

terça-feira, 12 de março de 2013 | | 0 comentários

Sinais

Muitas vezes as pessoas dão sinais de decisões que tomarão na vida, mas os que estão em volta não se atentam. 

Assim ocorreu com o agora papa emérito Bento 16. Durante visita a Áquila, cidade italiana devastada por um terremoto em 2009, ele fez questão de orar no túmulo do papa Celestino 5°, um dos poucos a renunciar voluntariamente, aos 84 anos, em 1294.

Ao ler uma edição de janeiro da revista "Veja", deparei-me com uma reportagem sobre o pontífice cujo título era "O último trecho da jornada". Na matéria, uma fala do papa a brasileiros responsáveis pela organização da Jornada Mundial da Juventude, que ocorrerá este ano no Rio de Janeiro: "O papa estará presente. Seja eu ou o próximo".

Na chamada da reportagem, a revista registrou: "Sua debilidade física está evidente e ele já fala em tom de despedida".

Apesar de tudo, ninguém ousou cogitar a renúncia. 

Obviamente, tratava-se de uma hipótese até então surreal, quase absurda, impensável, mas que Bento 16 deu vários sinais da decisão que tomaria é fato.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013 | | 0 comentários

Frase

"Tenho sentido, e sinto neste momento, que ganhamos nossa vida precisamente quando a oferecemos."
Joseph Ratzinger, o papa Bento 16, em seu discurso de despedida no dia da renúncia ao papado, no Vaticano

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013 | | 0 comentários

O dia em que o papa morreu (e a lição de Ratzinger)

Lembro bem da cobertura que coordenei - como editor-chefe do "Jornal de Limeira" - a respeito da morte do então papa João Paulo 2°.

Tendo o terceiro mais longo pontificado de todos os tempos (27 anos), ele vinha apresentando piora do seu estado de saúde mês a mês. Diante disso (não estranhe, a imprensa funciona assim), havia dois anos que o JL tinha adquirido da Agência Estado um caderno especial para a ocasião da morte do pontífice. 

Na Páscoa de 2005, em 27 de março, o papa apareceu muito debilitado. Católicos ficaram assustados. Cresciam os rumores a respeito de sua frágil saúde. Jornalistas de todo o mundo dirigiram-se para o Vaticano. Nos dias seguintes, a angústia aumentava diante das escassas informações oficiais e da boataria reinante. 

Até que chegou a sexta-feira 1° de abril. Diante das informações que recebíamos sobre o papa, convoquei uma reunião no jornal e tomei a decisão: era hora de montar o caderno especial. E assim foi feito.

No sábado, 2, segui minha rotina: cheguei no jornal por volta de 8h30 e iniciei o fechamento da edição dominical. O dia avançava e nada de oficial a respeito do papa. Ainda na sexta-feira, alguns veículos de imprensa chegaram a anunciar a morte do religioso, mas depois tiveram que desmentir.

O trabalho no JL se aproximava da finalização. Todas as páginas já estavam fechadas, como se diz no jargão jornalístico, e restava apenas a primeira página para ser montada, a mais importante de um jornal. Era por volta de 16h30. Foi quando a TV anunciou: o papa morreu.

Minha reação, embora mórbida, saiu espontânea: "Graças a Deus! Na hora certa". Lembro que a este infeliz comentário, acrescentei: "Coitado dos colegas na Itália. Lá são mais de nove da noite e os jornais estão praticamente fechados. Vão ter que mexer na edição...".

Lendo agora parece frio e calculista, mas acredite: nós, jornalistas, na lida diária, somos assim muitas vezes.  Editar um jornal tendo a pressão do tempo não é tarefa fácil.

O caderno especial do papa foi uma surpresa para os leitores e um "gol" marcado perante a concorrência, que não tinha material semelhante. A primeira página do jornal, planejada com calma e especialmente para a ocasião, foi das mais bonitas que já elaborei. Bela e serena, como a ocasião exigia e o papa merecia (infelizmente, o arquivo digital do JL disponibiliza as edições a partir de 2007).


Em poucos dias, o mundo assistia à ascensão de um novo papa. Para mim, fato inédito: nunca tinha acompanhado um conclave (o processo secular pelo qual um novo pontífice é escolhido). O cardeal alemão Joseph Ratzinger, então chefe da Congregação para a Fé, um dos braços mais importantes e poderosos da Igreja Católica Romana, iniciava seu papado como Bento 16.

***

Toda esta história me veio à mente em razão da surpreendente notícia da renúncia de Ratzinger ao papado nesta segunda-feira (11/2).

Eleito papa aos 78 anos (e prestes a completar 86), Ratzinger foi considerado - já em 2005, ano de sua eleição - um pontífice de "transição". Era uma escolha proposital da Igreja: após um papado de um quarto de século, portanto muito marcante, era necessário um período mais brando até que um outro pontífice pudesse dar novas marcas ao catolicismo. 

A missão de Ratzinger, portanto, era levar a Igreja adiante sem muitos percalços.

Bento 16, porém, deixará seu pontificado com marcas fortes: a principal delas é o reforço dogmático e da fé. Natural para alguém oriundo justamente do braço da Igreja responsável por resguardar estes dois aspectos. 

Considerado conservador, o papa que agora renuncia fez questão nos seus oito anos de pontificado de reforçar princípios da Igreja Católica.

Quando se esperava abertura, ele acentuou a clausura. Criou polêmica ao assumir tal postura. 

Pode-se até discordar dele, mas não se pode dizer que tenha fugido aos seus princípios. Fez certamente o que dele se esperava quando foi eleito.

Análise teológica à parte, eu passei a admirar Ratzinger como ser humano em razão da renúncia. Ou mais precisamente em razão da coragem, firmeza e humildade para reconhecer sua fraqueza diante da missão que lhe cabia. 

Não é pouca coisa. Para alguns desavisados, pode parecer fraqueza o que, na verdade, foi um ato de grandeza.

Poucos homens são capazes de tal atitude, a do desprendimento. Principalmente quando se ocupa um dos postos mais poderosos do mundo, o de chefe de Estado respeitado por todos os demais e o de líder de bilhões de católicos ao redor do globo.

Abrir mão do "trono de são Pedro" fez de Ratzinger, sem dúvida, mais humano (a infalibilidade papal é um dos dogmas da Igreja Católica). Talvez seja essa uma das suas principais contribuições como papa. A lição está dada.

quinta-feira, 15 de abril de 2010 | | 0 comentários

O Arquivo Secreto do Vaticano

“Interim vero Deum Optimum Maximum, quem ipsam esse veritatem certissimo testimonio cognoscimus, comprecabimur, ut Sanctitatis Vestre consilia ita informare atque dirigere dignetur, ut quod sanctum, iustum ac verum est a Vestre Sanctitatis auctoritate obtinentes, ab omni alia assequende veritatis molestia liberemur.”
Trecho da carta (foto abaixo) do rei Henrique 8°, da Inglaterra, ao papa Clemente 7°, no qual o soberano pede que a Igreja Católica declare nulo o casamento dele com Catarina de Aragão. Era o início do cisma anglicano. A carta é datada de 13 de julho de 1530

Polêmicas e religião à parte, ninguém há de duvidar que o Vaticano é um dos maiores depositários da história documental da humanidade. Uma visita aos seus museus, arquivos e bibliotecas leva a uma volta ao passado, um passado de reis e papas, um passado que ajuda a contar parte da nossa história.

Para nossa felicidade, parte do acervo do Vaticano está disponível para consulta na Internet. Pelo site oficial da sede principal da Igreja Católica (ou, para quem preferir, de um dos menores Estados do mundo), é possível acessar documentos papais e reais, materiais preciosos e afrescos dos mais ricos da história da arte.

Pintura que mostra o rei francês Carlos Magno (768-814) confirmando ao papa Adriano 1° (772-795) uma doação dos territórios feita pelo seu pai Pepino, o Breve

Para quem gosta de arte, por exemplo, o site oferece uma navegação por dentro da Capela Sistina, onde são realizados os conclaves.

Entre todos os setores do Vaticano, um em especial chama a atenção: o Arquivo Secreto. Só pelo nome ele desperta grande interesse universal. O local guarda desde documentos relativos à história geral do cristianismo até os primeiros documentos de muitas nações.

Se fosse colocado em linha reta, o acervo do Arquivo Secreto atingiria 85 quilômetros em estantes, que contam mais de 800 anos de história. O documento mais antigo é do final do século 8.

Não custa registrar que todo esse patrimônio que agora está na Internet, ao alcance de todos, só foi aberto à consulta de estudiosos em 1881 por ação do papa Leão 13.

Dos principais documentos disponíveis na Internet, estão os dos concílios ecumênicos de 1245 (de Leão 1°), de 1439 (com o decreto da união entre as igrejas grega e latina) e de 1961 (Vaticano 2°); os das grandes universidades do mundo, desde 1254 (Oxford) até 1410 (Budapeste), passando por Avignon (1303) e Cambridge (1318); dos soberanos, como o francês Luís 14 (1693); de eventos célebres, como o Diploma de Otón 1° (de 962) e os Templários (1308); de confissões cristãs, como a excomunhão de Martinho Lutero (1521) e o divórcio do inglês Henrique 8° (1530), que mudaram os destinos da igreja e da humanidade; de figuras ilustres da arte, literatura, música, ciência, política e religião, como um tal Miguel Ángel (1535 e 1550), Mozart (1770), São Francisco de Assis (1223) e Galileu Galilei (1616-33).

Em alguns casos, o site oferece uma ferramenta que permite dar “zoom” nos documentos a ponto de ver os detalhes.

Sem dúvida, é um passeio virtual que vale a pena, independentemente de religião.

A bula “Decet Romanum Pontificem”, na qual o papa Leão 10 excomunga Martinho Lutero, líder da revolta protestante, datada de 3 de janeiro de 1521

Parte do processo contra Galileu (no detalhe, a assinatura do cientista renascentista)

Neste documento, de 1° de setembro de 1535, o papa Paulo 3° chama Michelângelo de “glória do nosso século” e define para o artista uma renda vitalícia de 1.200 escudos de ouro por ano

Detalhe da assinatura de Michelângelo Buonarroti numa carta ao bispo de Cesena, datada de janeiro de 1550

Detalhe do documento do imperador João Comneno 2° (do Império Romano do Oriente ou Bizantino) ao papa Calixto 2° sobre a união das igrejas, enviado de Constantinopla (atual Istambul) em junho de 1139

Em tempo: um dos motivos que faz o Arquivo Secreto despertar tantas curiosidades é, antes de tudo, seu nome. A designação dá a ideia de que o local guarda segredos que podem mudar os rumos da humanidade. Segundo o Vaticano, porém, a origem do nome é muito mais simples e está baseada na língua.

No século 15, chamava-se de secreto (do latim secretum) – tanto nas cortes reais como eclesiásticas – as pessoas ou instituições muito próximas (ou as mais próximas) do príncipe (ou no caso do papa) e sua família. Daí vem o termo secretário (secretarium), nome dado aos auxiliares mais próximos dos monarcas e líderes da igreja, aqueles que detinham a confiança para tratar dos assuntos mais reservados.

Portanto, tudo o que era mais próximo do príncipe ou do papa – fosse a biblioteca, a sala de estar, a cozinha, o jardineiro, etc – recebia o nome de “secreto”.