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quinta-feira, 24 de setembro de 2015 | | 0 comentários

A tecnologia e o tempo

A “Folha de S. Paulo” publicou no caderno “Ilustríssima”, no fim de semana, uma interessante entrevista com a pensadora australiana Judy Wajcman, da área de sociologia da “London School of Economics and Political Science”. Ela fala sobre seu novo livro, "que discute a influência da tecnologia no ritmo da vida contemporânea”.

A seguir, reproduzo um trecho (e recomendo a leitura na íntegra a partir do link acima - é preciso senha da "Folha" ou do UOL):

Folha - Como a senhora responde à questão central do livro: por que as pessoas procuram os aparelhos digitais para aliviar a pressão do tempo, mas ao mesmo tempo culpam essas mesmas tecnologias por se sentirem mais pressionadas?
Judy Wajcman -
Esse é o paradoxo. E acho que é realmente verdade. Em todas as pesquisas que você conduz, particularmente em empregos gerenciais, mas entre todo mundo, as pessoas sentem que a vida é muito ocupada e acreditam completamente que parte da solução é usar mais o e-mail e ter mais "gadgets", de forma a aproveitar o tempo livre.

Creio que as tecnologias sejam muito contraditórias em seus efeitos. Não quero dizer que as pessoas têm uma falsa consciência, porque elas têm consciência. Acho que seres humanos são muito capazes de manter visões e experiências contraditórias, e para mim as tecnologias expressam isso. As pessoas vivenciam as tecnologias como algo que toma muito tempo, reclamam da quantidade de e-mails que têm de responder e se queixam das ligações para o celular, mas estão o tempo todo escrevendo e-mails e fazendo ligações.

Também penso que, numa perspectiva de longo prazo, essas tecnologias são ainda muito novas e precisamos levar isso em consideração. Quando comecei a me dedicar às tecnologias, eu trabalhava com a parte industrial, nas fábricas, e alguém me perguntou sobre o telefone fixo – e eu nunca nem tinha pensado sobre isso. Eu dava a existência do telefone como um fato, era parte da vida cotidiana, e nunca poderia teorizar sobre ele, não pensava que fosse um objeto para a sociologia.

Acho que e-mails e celulares – têm o quê, 15 anos de idade? – são coisas incrivelmente novas. Se tivéssemos essa conversa daqui a outros 15 anos, provavelmente teríamos uma outra percepção. Acho que a novidade é parte da dificuldade para analisá-los. (...)

terça-feira, 4 de agosto de 2015 | | 0 comentários

Nós, os imbecis (?)

(...) O escritor italiano (Umberto Eco) não tem boas palavras para as redes sociais. Há um mês, ao receber o título de doutor honoris causa na Universidade de Turim, disse que "a mídia social dá voz a uma legião de imbecis, que antes falava apenas no bar depois de beber uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade".

"Hoje eles têm o mesmo direito de palavra de um Prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis", afirmou, no discurso de agradecimento. "O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade."

As palavras soam duras e reducionistas. O saldo da popularização da internet e da facilidade de divulgação de opiniões que dela advém é mais positivo que negativo. Hoje, qualquer pessoa com uma conexão ou um celular diz em poucos segundos o que pensa sobre qualquer tema e, em países como a Itália ou o Brasil, sem censura.

O problema é que, assim como nos bares, no Facebook, no Twitter e no Instagram os imbecis fazem mais barulho que os sensatos. (...)

Fonte: Sérgio Dávila,
“Os imbecis estão ganhando”, Folha de S. Paulo, Opinião, 12/7/15.

***

(...) Segundo estudo recente da consultoria americana A.T. Kearney, o Brasil é o país com maior porcentagem de pessoas na faixa mais alta de permanência on-line: 51%, ante 37% do segundo colocado, a Nigéria, e 25% dos americanos. Somos um povo conectado/ disponível/on-line.

Isso tem implicações. Uma delas o canadense Michael Harris chama de "o fim da ausência", no poético título de livro recém-lançado nos EUA ("The End of Absence", Penguin). Estamos o tempo todo não só acessíveis virtualmente como compartilhando tudo o que vivemos. Isso faz com que tenhamos pouco tempo para digerir nossas experiências – para viver. (...)

Fonte: Sérgio Dávila,
“A gente somos ‘smupids'", Folha de S. Paulo, Opinião, 26/7/15.

* Leia também:


sexta-feira, 19 de junho de 2015 | | 0 comentários

Preconceito é sintoma de uma sociedade doente

Para quem acha que preconceito é uma palavra superada na sociedade atual, não é preciso recorrer aos eventos de Baltimore ou Charleston, nos EUA (tema sobre o qual já escrevi neste blog). No Brasil, não faltam exemplos de intolerância racial, religiosa, sexual, política e afins.

Exemplo recente é a pichação na rua contra o humorista Jô Soares. Tudo por causa de uma entrevista feita por ele com a presidente Dilma Rousseff, considerada "dócil demais". 

Discordo radicalmente de 99% das medidas adotadas por Dilma em seus mandatos (aprovo algumas, como o corajoso debate a respeito dos limites da Previdência Social), mas tampouco posso considerar normal o nível de radicalismo que tomou conta de alguns oposicionistas no país (e não me refiro apenas à oposição formal, partidária).

E o que falar da exigência feita por um famoso clube da elite paulistana de que babás usem roupas brancas no local? Por sorte, neste caso o Ministério Público entrou na história - que repercutiu até na Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Também recentemente, uma menina de apenas 11 anos foi atingida por uma pedra ao sair de um culto de candomblé no Rio de Janeiro. Não sei se há relação de causa-efeito, mas desconfio que a onda conservadora (parte dela apoiada por alas cristãs extremistas) que tomou conta do Congresso Nacional possa servir de estímulo para que pessoas ou grupos ajam de forma criminosa contra alguém que é apenas diferente.

Esta semana, ao entrevistar para o "Jornal da Cultura" (TV Cultura, seg. a sáb., 21h) um especialista em recrutamento de pessoas, ouvi que uma determinada empresa o contratou para intermediar o preenchimento de uma vaga de trabalha. Recomendação importante: o contratado não poderia ser obeso ou homossexual. "Às vezes nem acredito no que eu ouço", observou o especialista.

Neste último caso, o preconceito se dá de forma velada, ou indireta, ou encoberta, porque só o recrutador toma conhecimento, mas não deixa de ser grave da mesma forma.

Ao ver tantos episódios no intervalo de alguns dias, fico me perguntando se estamos mesmo no século 21...

Em tempo: creio que a onda do "politicamente correto" tenha também alguma relação com o conservadorismo latente. Como explicar as críticas a uma propaganda de remédio feminino e à nova novela da TV Globo

Falta de humor é outro sintoma de uma sociedade doente.

sexta-feira, 17 de abril de 2015 | | 0 comentários

Somos classe média, e daí?

É má-fé ou ignorância (ou ambas as coisas juntas) satanizar a classe média pelas manifestações contra o governo.

Má-fé porque a classe média, como qualquer outro segmento, tem todo o direito de se manifestar, contra ou a favor do governo. É uma obviedade, eu sei, mas ter que escrever tão tremenda obviedade é um sinal da indigência do debate público brasileiro.

Ignorância porque a classe média foi o motor de TODAS as manifestações que a esquerda considerou épicas. Foi o tal de povo, por acaso, que esteve presente em massa nos atos pela anistia? Foi o tal de povo, por acaso, que se mobilizou pelas "diretas-já", o maior movimento de massas da história recente (e não tão recente)? (...)

Fonte: Clóvis Rossi, “Classe média à la carte”, Folha de S. Paulo, Mundo, 14/4/15.

segunda-feira, 23 de março de 2015 | | 0 comentários

A questão das TVs públicas: um debate necessário

Dois livros recém-lançados no Brasil debatem uma questão cada vez mais premente na sociedade: o papel das TVs públicas.

Consideradas modelos bem sucedidos em vários países (o Reino Unido, com a BBC, talvez seja o melhor exemplo no que diz respeito à gestão, financiamento e conteúdo), as TVs públicas brasileiras vira e mexe vão parar no noticiário, seja pela qualidade de algum produto ou pelas costumeiras interferências políticas e/ou baixa audiência.

Segundo o jornalista Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás e autor de “O Estado de Narciso”, o problema “começa na submissão das emissoras às autoridades de plantão, que controlam verbas e indicam diretores”, conforme resenha assinada pelo jornalista Bernardo Mello Franco na “Folha de S. Paulo”.

Já Ernesto Rodrigues em “O traço da Cultura” analisa especificamente o caso da TV Cultura de São Paulo, emissora da qual foi ombudsman por três anos (em tempo: a experiência de ter um ouvidor foi encerrada na Cultura – emissora da qual estou funcionário).

Para ele, a TV pública paulista é um “parque de diversões da elite cultural paulistana em que todos trabalhavam de costas para o público, sem querer saber se ele estava satisfeito. Ou mesmo presente”.

Conforme resenha feita pelo crítico de TV do UOL, Mauricio Stycer, Rodrigues defende para a Cultura (o que, no caso do Brasil, vale para outras emissoras públicas) “a inclusão de conteúdos, personagens e temáticas ‘mais populares’ na grade. Na sua visão, isso não significa ‘abrir mão do senso crítico ou adotar a mediocridade como parâmetro cultural ou jornalístico’”.

Este debate sempre teve sua particular relevância, acentuada neste momento em que parte da sociedade coloca em xeque a independência dos meios de comunicação e que o partido do governo cobra a aprovação no país de uma nova lei de mídia.

Leia também:

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015 | | 0 comentários

Reforma ou ruptura?

Por vezes, ao pensar nos problemas políticos ou esportivos do Brasil - ou mais precisamente na solução destes problemas (que, na minha visão, passa necessariamente pela troca das figuras que hoje protagonizam estes setores) - chego à conclusão de que não haverá mudança se não houver ruptura.

Por ruptura, entenda-se um processo radical, que pode incluir certo grau de violência (refiro-me a invasões, não a agressões). Talvez o exemplo mais próximo do que imagino seja a Revolução Francesa (embora nela cabeças tenham literalmente rolado).

Afinal, não se imagina mudar a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) ou o Congresso Nacional sem que o povo tome o poder (algo próximo do que assistimos nas Jornadas de Junho, em 2013). Na ocasião, defendi que não se fazia mudanças com protestos organizados (hora e local marcado, sem ameaças ou prejuízos). Argumentava que o poder político só se sentiria pressionado pelo poder econômico e este, por sua vez, só pressionaria se tivesse prejuízos.

Em resumo, defendia o radicalismo no lugar do diálogo para situações que considero aparentemente sem solução.

Pois dia desses, conversando com o sempre provocativo filósofo Luiz Felipe Pondé, comecei a mudar de opinião. Pondé comparou a evolução histórica de França e Inglaterra para indicar que a reforma, e não a ruptura, pode levar a mudanças efetivas e estáveis. Demora mais (muito mais), mas cria bases sólidas - e, portanto, duradouras.

Em dado momento da história, os dois países enfrentaram desafios semelhantes - questionamentos aos abusos do absolutismo. Ambos tinham longa tradição monárquica. A França, como já registrado, optou pela revolução. Guilhotinou rei e rainha, entre outros, e derrubou o regime. Como consequência, o país viveu décadas de instabilidade política, com um vai-vem sem fim, ora restaurando-se a monarquia, ora a república.

Sem contar que a ruptura criou um vácuo de poder instantâneo, disputado forte e violentamente por grupos distintos, antes unidos contra um mesmo inimigo - a monarquia. Uma instabilidade que, de certo modo, avançou até o século 20 (não é preciso lembrar as várias convulsões sociais em solo francês).

Já a Inglaterra buscou outra solução. Reduziu poderes reais, mas manteve o regime. Num primeiro momento, o diálogo entre forças da sociedade pode ter transmitido a impressão de falsa mudança. Afinal, o símbolo maior dos abusos - a realeza - permanecia tal e qual (aparentemente). Mas as mudanças de modo lento e progressivo deram ao país uma certa estabilidade que o fez atravessar as décadas seguintes de modo mais seguro - e assim seguiu no século 20.

Segurança institucional que, neste caso, é pré-condição para o desenvolvimento.

Aliás, o processo econômico está intimamente ligado ao político, como bem explicado pelo renomado economista francês Thomas Piketty em “O capital no século XXI”: “No Reino Unido, as coisas foram diferentes – mais lentas e sem tanto fervor” (p. 134).

Para ser justo, em nenhum momento Pondé taxou um modelo como adequado ou melhor que outro. Apenas registrou, nas experiências bastante conhecidas de Inglaterra e França, que às vezes a reforma pode se mostrar, na distância do tempo, mais eficaz do que a ruptura.

No Brasil, portanto, terá que ser mesmo no voto - o que dependerá da qualidade da educação das futuras gerações.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015 | | 0 comentários

Na prisão de "bacanas", a hipocrisia da sociedade

Como a sociedade é hipócrita - principalmente em lugares provincianos como Limeira.

Quando a polícia prende gente desconhecida (eventualmente pobre), recebe aplausos e pedidos de "quero mais".

Quando prende "habitués" de colunas sociais, surgem comentários do tipo "é preciso orar por eles", "todo mundo comete erros", "não devemos julgar" e daí por diante.

HIPOCRISIA!

Estava certo o então promotor da Cidadania em Limeira, Cleber Rogério Masson, que um dia me disse numa entrevista que a mesma sociedade que condena um menor que roubou (e muitas vezes pede a pena de morte) aprecia sair em fotos com corruptos de alta patente.

Será muito pedir que a todos sejam dadas a lei e a Justiça? 

Apenas isto.

sábado, 24 de janeiro de 2015 | | 0 comentários

Que civilização é esta?

A Federação Paulista de Futebol (FPF) se vê obrigada a levar para o interior um clássico da capital – Corinthians x São Paulo – por um torneio de juniores para evitar violência de torcidas.

Mais: a mesma FPF decide cobrar ingresso especificamente para essa partida numa copa em que todos os jogos são tradicionalmente de graça. Mais uma vez para tentar espantar a torcida.

E mais: ao levar o jogo para o interior (Limeira), a Polícia Militar determina que as torcidas dos dois times sigam (escoltadas, registre-se) cada qual por uma rodovia (Anhanguera e Bandeirantes).

Ao final da partida, a mesma PM determina que, por segurança, a torcida do São Paulo aguarde 30 minutos após a saída dos corintianos para evitar confrontos – inevitáveis há anos (alguns descumpriram a determinação e provocaram um tumulto ao redor do estádio).

Tantas medidas assim para separar seres humanos (racionais?) que apenas cometem o erro e a heresia de torcerem para times diferentes.

Será a falência absoluta da sociedade?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015 | | 0 comentários

O que escrevem de você e o que você compartilha

A Corte de Justiça da União Europeia tomou no ano passado uma decisão extremamente relevante e polêmica: permitiu que um cidadão tivesse apagados registros no Google referentes ao seu passado. É o chamado “direito de ser esquecido”.

Esta é, sem dúvida, uma questão dos tempos modernos – e que veio para ficar.

"A decisão confirma a necessidade de trazer as normas atuais de proteção de dados da idade da pedra digital para o mundo da computação moderna", registrou Viviane Reding, comissária da Justiça da UE.

"Serviços de busca não armazenam informações, e tentar levá-los a censurar conteúdo legal em seus resultados é a abordagem incorreta. A informação precisa ser resolvida na fonte (…)", disse Emma Carr, diretora de uma organização pró-direitos de privacidade.

A polêmica coloca em pauta também os direitos (constitucionais em grande parte das democracias) às liberdades de imprensa e de acesso à informação.

No Brasil, a Constituição registra em seu artigo 5° que:

IX - é livre a expressão da atividade (...) de comunicação, independentemente de censura ou licença; 

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

Para o jurista Paulo Rená, “garantir o esquecimento, a fim de proteger a intimidade, pode abrir as portas para o crescimento da censura privada”. Em artigo para a “Folha de S. Paulo”, ele anotou:

Na Europa, foi ressalvado que o interesse público em acessar a informação supera a eliminação de dados considerados "inadequados, irrelevantes ou excessivos". 

E se fosse um livro, ou um filme, a palavra final sobre o que pode ou não ser narrado cabe ao desejo particular ou à Justiça?

A Internet, porém, além de complexa e instigante, por vezes é paradoxal. Como chamou a atenção Marcelo Coelho, também em artigo na “Folha”:

Como a internet funciona por ondas, um velho boato ou uma antiquíssima besteira renascem, meses depois de terem sido arquivadas. A mentira pode ter pernas curtas, mas volta sempre. 

Há ao mesmo tempo uma hipertrofia da memória --tudo pode ser lembrado-- e uma atrofia da memória, porque tudo será esquecido. Na política, Fulano denuncia um caso de corrupção, que equivale ao outro em que ele próprio estava envolvido.

Vê-se, portanto, que lembrar e esquecer são verbos intrínsecos à rede mundial.

Outro problema trazido à tona pela modernidade e que chegou à Justiça envolve os crimes de injúria, calúnia e difamação cometidos via redes sociais. Quando a autoria é conhecida, a possibilidade de processo é normal, bem como a chance de sucesso. A novidade apresentada no final de 2013 por uma decisão da 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo é o risco de condenação de quem compartilhar ou curtir eventuais ofensas.

O caso envolveu duas moradoras de Piracicaba e um veterinário da cidade. Uma das mulheres postou mensagens no Facebook consideradas em primeira instância ofensivas ao profissional. A outra as compartilhou. Ambas tiveram a condenação confirmada pelo TJ em decisão dos desembargadores José Joaquim dos Santos e Álvaro Passos, além do relator José Roberto Neves Amorim.

Apontou o relator:

Ora, por certo é direito de todos a manifestação do livre pensamento, conforme artigo 5º, IX, da Constituição Federal, contudo, caminha com este direito o dever de reparar os danos dela advindos se estes violarem o direito à honra (subjetiva e objetiva) do autor, direito este também disposto na Constituição Federal em seu artigo 5º, V e X. 
Se por um lado o meio eletrônico tornou mais simples a comunicação entre as pessoas, facilitando também a emissão de opinião, sendo forte ferramenta para debates em nossa sociedade e para denúncias de inúmeras injustiças que vemos em nosso dia-a-dia, por outro lado, trouxe também, a divulgação desenfreada de mensagens que não condizem com a realidade e atingem um número incontável de pessoas, além da manifestação precipitada e equivocada sobre os fatos, dificultando o direito de resposta e reparação do dano causado aos envolvidos. 

(...) Há responsabilidade dos que “compartilham” mensagens e dos que nelas opinam de forma ofensiva, pelos desdobramentos das publicações, devendo ser encarado o uso deste meio de comunicação com mais seriedade e não com o caráter informal que como entendem as rés.

Para quem tiver curiosidade, a sentença de primeira instância pode ser lida aqui, bem como o acórdão do TJ.

Portanto, mais cuidado com seus cliques. As redes sociais são parte da sociedade e estão sujeitas às mesmas regras legais, como tem confirmado a Justiça.


* Leia também (acrescentado em 15/6/15):

- Deixando as digitais

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

São Paulo, entre a opressão e a exuberância

São Paulo é uma cidade que testa a natureza humana. Um lugar de contrastes - capaz de abrigar numa mesma área o luxo frio do Morumbi e a pobreza vibrante de Paraisópolis - não pode passar incólume por ninguém.

Andar pela capital paulista e não se indignar com retratos seguidos e frequentes da mais cruel falta de dignidade humana, exposta como ferida nas suas calçadas e jardins, embaixo de pontes, passarelas e viadutos, homens mulheres e crianças em situação de extrema pobreza ou, o que é mais comum, vencidos pelo vício da bebida e das drogas (com destaque para o crack), é chocante. (Um cenário bem diferente daquele apresentado na propaganda da prefeitura na TV ou citado em recente artigo de um vereador petista da capital).

Neste sentido, São Paulo é uma cidade feia, difícil, dura, que amargura, deprime e entristece todos os que ainda têm a capacidade de sentir.

Ao mesmo tempo, e paradoxalmente, esta mesma cidade abriga as mais pulsantes manifestações artísticas e de criatividade nas mais diversas áreas do conhecimento humano (social, ambiental, arquitetônico, etc). O sangue pulsante do que se define como cidade, ou seja, o lugar do convívio social coletivo e público, passa pelas ruas da capital. Como metrópole que é, recebe gente dos quatro cantos do globo – que vêm para mostrar seu trabalho, sua arte ou simplesmente para passear.

Neste aspecto, São Paulo emana uma energia diferente, comparável à mesma energia que move a vida. Uma energia que contagia, alegra, estimula e desperta a alma e o coração de todos os que ainda têm capacidade de sentir.

Lidar, porém, com estas duas cidades (ou estas duas realidades) misturadas num mesmo ambiente exige um certo distanciamento. Porque por mais que a capital paulista também tenha segregado à periferia o seu lado mais sombrio no que diz respeito à pobreza e à ausência do estado, não existem nela muros capazes de separar estes dois mundos.

E tal como na junção de Paraisópolis com o Morumbi, a região da estação da Luz (onde fica a Sala São Paulo, reduto cultural da elite paulistana) abriga o que há de mais belo e de mais horrendo nas paragens de Piratininga. A arquitetura monumental e histórica da antiga estação Júlio Prestes e do antigo prédio do Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo), São Paulo é tudo isto, tudo junto e misturado. Um cardápio de tristezas e possibilidades. 

Um lugar falido e que renasce (ou resiste) a cada dia. Uma cidade pela qual todos os que ainda têm a capacidade de sentir simplesmente sentem – a alegria da maior metrópole do hemisfério sul e a mais rica da América Latina e a vergonha das entranhas expostas de um país fadado ao fracasso (e que tenta lutar bravamente contra esse destino).

PS: tive que voltar o tema, mesmo após escrever sobre o lado“A” e o lado “B” de São Paulo em postagens anteriores.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

"Bolsonaro somos nós"

(...) Achamos que tudo aqui termina em suaves consensos. Minimizamos a escravidão e continuamos racistas. Legitimamos as ditaduras e permanecemos entusiastas das torturas cometidas diariamente no país.

Ao defender o regime militar, nas ruas ou covardemente na internet, os Bolsonaros dão seu apoio à tortura. Não é tácito, é explícito, pois não há meio termo nesse assunto. (...)

Fonte: Luiz Fernando Vianna, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 12/12/14, p. 2 (íntegra
aqui).

sábado, 6 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

Questões para refletir...

(...) É estranho, considerando o cenário político atual, ouvir alguns dos hinos que foram entoados por gente que clamava por democracia e ver o que aconteceu com alguns dos ícones daquela geração. Foi inevitável a sensação de que algo saiu fora do script. "O que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer." (...)

Fonte: Renato Andrade,
“Falso brilhante”, Folha de S. Paulo, Opinião, 6/12/14, p. 2.

***

(...) A gente sempre se pergunta o que um partido quer com a nomeação de um diretor de banco estatal. Implementar suas políticas de ampliação de crédito, discutir a adequação do banco às normas de Basileia, incrementar a bancarização? (...)

Fonte: Vinicius Torres Freire,
“Dilma e seus inimigos ocultos”, Folha de S. Paulo, Mercado, 4/12/14.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

A teoria do egoísmo responsável

Ao fazer recentemente uma reportagem sobre o antropoceno, período geológico no qual o homem causa os problemas do planeta e é também responsável por encontrar as soluções, passei a refletir sobre o futuro. E desenvolvi uma teoria: a do egoísmo responsável.

Trata-se, como o nome indica, de uma alternativa (ou de uma saída) para viver sem preocupações coletivas complexas (que tornariam a vida um tormento, conforme esta teoria) e, ao mesmo tempo, buscar contribuir da forma que for possível.

O diagnóstico é mais ou menos claro, seja qual for o ramo de estudo (do clima e as alterações causadas pelo aquecimento global ao esoterismo e a teoria Gaia): estamos destruindo o planeta, um processo que ganha velocidade cada vez maior.


De acordo com o filósofo Luiz Felipe Pondé, o ser humano desenvolveu tecnologia e conhecimento que lhe permitem viver mais (a expectativa de vida aumentou de 30 a 40 anos ao longo dos últimos séculos) e estabeleceu uma sociedade baseada na riqueza – modelo que ele considera irreversível, já que sistemas alternativos fracassaram.

Está posto o problema: a insustentabilidade do desejo. Como associar nossos desejos de felicidade e consumo com os limites de recursos do planeta?

(Pondé alerta para o risco de uma espécie de fascismo verde ao se pensar em estabelecer limites por meio de uma governança global, mas isto é outra discussão.)

Na equação da vida, a soma de felicidade (consumo) e direitos resulta em degradação. Segundo o filósofo, o ser humano sonha ter o nível de consumo dos Estados Unidos e o de bem-estar social da Suécia, uma conta que definitivamente não fecha num mundo com mais de sete bilhões de pessoas.

O desejo humano, portanto, é perigoso. Corre-se o risco de se materializar o mundo pensado pelo filósofo inglês Thomas Hobbes da guerra de todos contra todos – vejamos a atual crise da água...

Ao refletir sobre estas questões, concluí que criamos uma armadilha. A não ser que ocorra uma catástrofe planetária, o mundo não vai aguentar.

O nível crescente de consumo (pense no seu celular e em quanto tempo você deseja trocá-lo por um novo) não é compatível com os recursos disponíveis. A população mundial segue crescendo em ritmo acelerado. Se o apocalipse não vier dos céus, virá da ação humana. Inevitável.

Contudo, por mais que este processo esteja acelerado, ainda levará algumas gerações para chegar ao ponto limite em que a vida humana se tornará insustentável. O que fazer, então?

Martirizar-se com uma preocupação coletiva – “o que estamos fazendo?” - ou mudar radicalmente de vida (abandonar quaisquer traços de consumo, passar a viver em meio a natureza, estabelecendo novos hábitos alimentares e abrindo mão de uma série de prazeres - viajar, por exemplo, que implica na queima de combustíveis fósseis, um dos principais elementos do aquecimento global)?

Daí surge a teoria do egoísmo responsável. Egoísmo porque pressupõe a preocupação individual – já que não viverei o fim, a extinção, o apocalipse, levarei minha vida normalmente sem maiores preocupações coletivas globais. Darei-me o direito dos pequenos prazeres cotidianos (um “fast food”, um carro, um celular, uma viagem...), etc.

Ao mesmo tempo, como parte desta escolha (de fazer parte da inevitável sociedade de consumo), terei ações responsáveis ao meu alcance: reciclarei o lixo, buscarei alimentos orgânicos, terei uma vida mais civilizada, não jogarei resíduos na rua, evitarei o desperdício de recursos, procurarei fontes sustentáveis de energia, etc. Será a minha contribuição – como na história do passarinho, de cada um, com pequenos gestos, fazer a sua parte.

Egoísmo responsável!

Em tempo 1: se alguém topar, será um prazer refletir se, de fato, criamos uma sociedade sem volta, um caminho inexorável. Criamos?

Em tempo 2: outro filósofo, Hélio Schwartsman, mostrou em recente coluna na “Folha de S. Paulo” como a melhoria de vida alcançada nas últimas décadas criou novos desafios para o ser humano no campo da saúde – “Estamos ficando mais saudáveis, mas isso apenas nos empurra para mortes mais sofridas”. E assim será, sempre.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014 | | 0 comentários

A questão do racismo e a política de cotas

Dia desses, conversava numa mesa de bar com outras três pessoas a respeito do racismo. O trio criticando as cotas raciais e a costumeira posição de que os negros são os mais racistas de todos. Mencionavam, como de praxe, o falacioso argumento da camisa “100% branco”.

Contra-argumentei que tais manifestações ignoravam ou desconsideravam todo um processo histórico e só podiam partir de quem estava numa cômoda posição de não viver tais infortúnios – os do racismo.

Citei dados que corroboravam as marcas ainda profundas do racismo nas sociedades em geral. E defendi com vigor que aquela torcedora do Grêmio flagrada xingando o goleiro Aranha, do Santos, de “macaco” merecia uma punição rigorosa, nos limites da lei. Porque ela poderia tê-lo xingado de qualquer outra coisa, mas escolhera sim uma manifestação sabidamente – e conscientemente – racista.

Pois esta semana li um artigo do jornalista Clóvis Rossi na “Folha de S. Paulo” que reforçou minhas convicções e trouxe detalhes do que eu argumentara na ocasião da conversa.

(...) Os números mostram os motivos da divisão: os negros são 13% da população total (dos EUA), mas formam 40% da população carcerária; 3% de todos os homens negros estavam presos no fim de 2013, quando a taxa entre brancos era de apenas 0,5%. 

Em 2011, 1 de cada 15 afro-americanos tinha o pai preso; entre brancos, a proporção era de 1 para 111. (...)

Rossi cita uma pesquisa a respeito de um recente episódio da morte de um garoto negro por um policial nos EUA segundo a qual “62% dos afro-americanos dizem que o policial (branco) Darren Wilson errou ao atirar no negro Michael Brown, opinião que apenas 22% dos brancos compartilhavam”.

E concluía:

(...) Foi esse sentimento desumano que plasmou toda uma legislação segregacionista durante séculos. 

O fato de ela ter sido derrubada aos poucos não bastou para matar todos os demônios racistas que habitam os seres humanos. 

Será preciso toda uma revolução cultural e mental, por meio de uma ativa educação à convivência, para que um negro possa sentir-se tão à vontade nos EUA como um afegão. (...)

Numa entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, publicada em abril último, o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, manifestou-se no mesmo sentido:

As estatísticas ainda mostram que a raça faz uma grande diferença. Afro-americanos e hispânicos não só são comparativamente mais atingidos pela pobreza como são muito mais passíveis de serem presos do que outras pessoas. Desde que saí da Casa Branca, 800% mais mulheres negras estão encarceradas. A maioria das pessoas que estão na prisão por um longo tempo são hispânicos, negros ou mentalmente deficientes. A conclusão é que, considerando as pessoas que escrevem as leis, administram as leis e as aplicam, as demais são excluídas de qualquer tratamento igualitário no sistema de Justiça.

As políticas afirmativas, como a de cotas, são de fato polêmicas. Na minha visão, devem ter prazo determinado. São, porém, uma alternativa possível – talvez não a melhor, mas uma alternativa. Que é, indubitalvemente, melhor do que a inação.

É dever do Estado corrigir mazelas que ele mesmo criou ao longo dos anos, ainda que alguém pague indevidamente o preço do que não fora causado em seu tempo.

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A sociedade custa caro

Custo mundial da obesidade*: US$ 2 trilhões (2,8% do PIB global)
Custo mundial do cigarro: US$ 2,1 trilhões
Custo mundial das guerras, conflitos e terrorismo: US$ 2,1 trilhões

Total: US$ 6,2 trilhões (ou R$ 15,5 trilhões – três vezes o PIB do Brasil)

* “A estimativa se baseia em perda de produtividade econômica, custos para os sistemas de saúde e investimentos necessários para mitigar o impacto da obesidade”, segundo reportagem da “Folha de S. Paulo.

terça-feira, 25 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Quem, afinal, é este tal de mercado? - uma reflexão

(...) Não estou afirmando que não caibam críticas morais aos resultados produzidos pelo mercado. Elas são muitas e muito pertinentes. É fundamental, contudo, que a indignação que possamos experimentar não contamine nossa capacidade de compreender como as engrenagens econômicas funcionam no mundo real. Se isso ocorrer, o resultado são barbeiragens. Foi exatamente o que se deu na primeira gestão de Dilma.

Quanto à lista de injustiças do mundo, ela até pode ser encabeçada pelos lucros exorbitantes de banqueiros, mas não se limita a eles. Por que um sujeito que teve a sorte de jogar bem futebol ou a mulher que por acaso nasceu bonita merecem ganhar milhares de vezes mais do que pernas de pau ou feias? Como mostrou John Rawls, quase tudo o que valorizamos é um prêmio indevido.

Fonte: Hélio Schwartsman, "O tal de mercado", Folha de S. Paulo, Opinião, 25/11/14, p. 2.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014 | | 0 comentários

São Paulo, Brasil

Talvez nenhum outro lugar no Brasil sintetize e simbolize tanto nossas gritantes desigualdades e nosso fracasso do que São Paulo. A maior cidade do hemisfério sul guarda exemplos do luxo e do lixo:

 





São Paulo desperta - ou deveria - sentimentos tão diversos quanto a diversidade que ela abriga e representa. Nessa cidade, a humanidade de qualquer ser está na capacidade de admirar o belo e de se indignar diante das injustiças e do abandono.

terça-feira, 11 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Uma reflexão sobre nosso mundo virtual

Acabei de ler um livro muito especial para mim (história já narrada neste blog): “The virtual self – how our digital lives are altering the world around us” (algo como “O ser virtual – como nossas vidas digitais estão mudando o mundo ao nosso redor”), de Nora Young.

A obra aborda um tema extremamente atual. A autora canadense faz um diagnóstico e, a partir dele, introduz complexas discussões suscitadas pelo “adorável mundo novo” da tecnologia.

A seguir, algumas anotações que fiz a partir da leitura (importante: os trechos não são traduções literais).

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Somos uma sociedade viciada em números, mas ainda não definimos bem o que pode ser feito com eles, o que significa afinal viver num mundo digital e ser cidadão.

Tudo começou com o autorrastreamento de dados, que decolou com a popularização de equipamentos dotados de sensores eletrônicos, cada vez menores e melhores. A facilidade de uso se somou à possibilidade de compartilhar os dados, criando uma espécie de “superinteligência global”.

“É uma espécie de jogo que jogamos com nós mesmos para aprender sobre nós mesmos”, disse Carlos Rizo, do projeto “Quantified Self Toronto” (mais aqui).

Ou seja: o virtual ajuda a conhecer o real – e produz efeitos colaterais, já que ter consciência do que se faz é o primeiro passo para mudar comportamentos (imagine, por exemplo, no rastreamento de dados sobre suas atividades físicas).

Como disse Ben Franklin: cria-se um perfeito e detalhado retrato de nós mesmos que, usado apropriadamente, permite checar nosso comportamento. O risco é tornar o corpo um objeto. E o desafio é não perder contato com nosso interior e o mundo real.

Podemos conhecer pessoas e aprender sobre elas sem estar perto fisicamente. O lado ruim é que perdemos contato pessoal, até com aqueles de quem gostamos.

E não pense que é possível escolher participar deste “mundo novo”: só de usar ferramentas digitais você está envolvido numa rede de dados.

O ser humano é, por si, uma criatura compulsivamente social. A diferença hoje é que temos ferramentas para compartilhar informações facilmente. E isto - feito por milhares de pessoas - transforma o mundo.

Atualmente, é possível fazer o que só sofisticados serviços de inteligência conseguiam: saber exatamente onde as pessoas estão e deduzir o que estão fazendo. Isto muda a compreensão de nossa relação com o mundo.

Contudo, o uso das novas tecnologias envolve complexas regras sociais e há pouca discussão a respeito. Afinal, é possível que os dados que fornecemos falem mais de quem realmente somos do que as histórias que contamos.

Dados sobre nossas vidas são importantes para nós, mas também para outros. A questão que se coloca é: quem vai usar esses dados e como? Eu tenho direito de guardar e usar uma conversa, por exemplo?

Estamos diante de uma sociedade que pode ser muito mais transparente e também mais invasiva. A natureza fácil e automática de muitas ferramentas significa que não precisamos saber como elas funcionam para usá-las. Mas se não sabemos como funcionam, podemos estar usando-as sem cuidado.

Informações colhidas num contexto, por exemplo, podem ser usadas em outro – e isto pode ser benéfico ou perigoso.

Por isso, um desafio é criar aplicações úteis para o uso dos dados.

O fato é que criamos dados e eles produzem valor.

Atualmente, o compartilhamento de dados não é só a chave do “network social”, mas também dos negócios.

Há, porém, uma diferença (quase ética) entre dados que geramos propositalmente e os que fornecemos inadvertidamente.

Precisamos balancear os modelos de negócio das companhias que querem usar nossos dados, o valor social dessa informação e, o mais importante, nossos direitos.

As companhias têm que ser transparentes sobre como estão usando nossos dados – uma relação hoje restrita aos “termos de serviço” ou “termos de uso” que geralmente avalizamos sem ler.

Este novo ecossistema de informações exige uma nova política de dados – algo como  o Marco Civil da Internet, aprovado este ano pelo Congresso brasileiro e considerado referência.

Mas é preciso considerar que a lei é absolutamente lenta para lidar com a evolução tecnológica. “Precisamos de um ‘new deal’ de dados”, diz Alex Pentland, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

Uma outra tarefa interessante é pensar em iniciativas não só para tornar dados públicos, mas também para o público criar dados úteis. Isto pode ser uma nova forma de democracia e de tornar mais inteligente a vida nas cidades. Uma espécie de “data democracy”.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Caso Adnet: público, privado, imprensa e sociedade

(...) Na verdade, acho muito mais feio o comportamento do paparazzo que seguiu Adnet até conseguir as fotos comprometedoras. Claro que eu sei que o cara estava trabalhando - mas há alguma coisa errada numa sociedade onde uma atividade dessas rende dinheiro.

Fico igualmente incomodado com a enxurrada de comentários agressivos, e também com os portais e sites que repercutiram a notícia. (...)

Mas me pergunto: será que não estamos indo longe demais?

Fonte: Tony Goes, “Estamos indo longe demais no caso de Marcelo Adnet?”, postado no F5/UOL, em 10/11/14.

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(...) os brasileiros parecem muito à vontade para discutir a vida privada de atores ou celebridades. O frenesi recente, causado pela foto, obtida por um paparazzo, do humorista Marcelo Adnet beijando uma mulher que não a sua, mostra isso claramente.

Tenho uma dúvida: qual é a diferença? Por que expor a intimidade de um ator parece normal, corriqueiro, e tratar abertamente da vida privada de um político dá a impressão de ser tão chocante? Qual das duas atitudes está errada?

Fonte: Mauricio Stycer, “Por que a exposição da intimidade de Adnet foi aceita e a de Aécio não?”, Blog do Mauricio Stycer/UOL, postado em 10/11/14.

Leia também:

segunda-feira, 27 de outubro de 2014 | | 0 comentários

A arte de ensinar brincando

Conheci tempos atrás uma loja de bonecas diferente em São Paulo. Ela vende apenas produtos feitos à mão e com foco na diversidade e inclusão social. A ideia partiu de três irmãs - que, aliás, são bastante simpáticas. 

Na "Preta Pretinha", as bonecas reproduzem os diferentes matizes da raça humana: tem modelo gorda, magra, albina, negra, com síndrome de Down, portadora de deficiências físicas, cega, de todos os tipos, uma mais bonita do que a outra.





É, como se diz atualmente, uma loja-conceito - que trabalha com uma das questões mais relevantes dos tempos modernos, as minorias. Sem pedantismo ou qualquer intuito de catequisação. De forma pedagógica, criativa e lúdica, a "Preta Pretinha" ensina brincando. Ou brinca ensinando.

Vale a pena ir até lá nem que seja só para conhecer, como eu fiz. A loja fica na rua Aspicuelta, 474, no coração da vila Madalena.