Mostrando postagens com marcador racismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador racismo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 29 de julho de 2015 | | 0 comentários

O que aconteceu, Nina Simone?

The name of this tune is Mississippi Goddam
And I mean every word of it

Alabama's gotten me so upset
Tennessee made me lose my rest
And everybody knows about Mississippi Goddam

Can't you see it
Can't you feel it
It's all in the air
I can't stand the pressure much longer
Somebody say a prayer

This is a show tune
But the show hasn't been written for it, yet

(...)

Picket lines
School boycotts
They try to say it's a communist plot
All I want is equality
for my sister my brother my people and me

Yes you lied to me all these years
You told me to wash and clean my ears
And talk real fine just like a lady
And you'd stop calling me Sister Sadie

Oh but this whole country is full of lies
You're all gonna die and die like flies
I don't trust you any more
You keep on saying "Go slow!"
"Go slow!"

But that's just the trouble
"do it slow"
Desegregation
"do it slow"
Mass participation
"do it slow"
Reunification
"do it slow"
Do things gradually
"do it slow"
But bring more tragedy
"do it slow"
Why don't you see it
Why don't you feel it
I don't know
I don't know

You don't have to live next to me
Just give me my equality
Everybody knows about Mississippi
Everybody knows about Alabama
Everybody knows about Mississippi Goddam

That's it!
("Mississippi Goddam", de Nina Simone)


Não conhecia Nina Simone, confesso – agora isto me soa como uma heresia. O nome da maior cantora de jazz/blues dos Estados Unidos apareceu à minha frente numa coluna no blog do jornalista Zeca Camargo. De início, não me interessei muito pela história.

Contudo, no fim de semana, ao zapear pelo Netflix em busca de algum documentário, minha cunhada jornalista e eu nos deparamos com “What happened, Miss Simone?”. Na hora, lembrei do texto do Zeca e comentei com minha cunhada que a história poderia valer a pena. Estava certo!


Com igual intensidade relatada por Zeca Camargo (sem as lágrimas), fomos abduzidos pela trajetória e pelo talento desta cantora e ativista dos direitos civis. Fiquei chocado ao ver (coisa que ainda não tinha feito) imagens duras e cruas dos confrontos entre negros e brancos em meados do século 20 nos Estados Unidos. Casos como o famoso ataque de 15 de setembro de 1963 em Birmingham, no Alabama.

No documentário, costurado com trechos de apresentações marcantes e entrevistas por vezes chocantes de Nina e de pessoas próximas a ela, aquele momento da história do país se mistura à da ativista negra que sofreu com a discriminação desde pequena (e se revoltou contra isso, num mergulho quase sem volta que de certa forma destruiu sua vida e sua carreira).

Tão marcante quanto isto foi analisar as imagens chocantes do ataque de Birmingham e lembrar que apenas 50 anos nos separam de tamanha ignorância num país que é considerado um exemplo de democracia e de direitos. Mais impactante ainda é constatar que aquele horrendo ataque volta a se repetir nos dias atuais, como o recente caso ocorrido em Charleston, na Carolina do Sul.

Evoluímos? O grito e a luta radical de Nina Simone valeram a pena?


Em tempo: não quero comentar mais a respeito do documentário e do talento de Nina porque não tenho competência para isto. Além disso, Zeca Camargo já fez este trabalho brilhantemente, com a emoção que a personagem merece, num texto apropriadamente chamado de “A artista”. Simples assim! (O link já foi colocado nesta postagem.)

sexta-feira, 19 de junho de 2015 | | 0 comentários

Preconceito é sintoma de uma sociedade doente

Para quem acha que preconceito é uma palavra superada na sociedade atual, não é preciso recorrer aos eventos de Baltimore ou Charleston, nos EUA (tema sobre o qual já escrevi neste blog). No Brasil, não faltam exemplos de intolerância racial, religiosa, sexual, política e afins.

Exemplo recente é a pichação na rua contra o humorista Jô Soares. Tudo por causa de uma entrevista feita por ele com a presidente Dilma Rousseff, considerada "dócil demais". 

Discordo radicalmente de 99% das medidas adotadas por Dilma em seus mandatos (aprovo algumas, como o corajoso debate a respeito dos limites da Previdência Social), mas tampouco posso considerar normal o nível de radicalismo que tomou conta de alguns oposicionistas no país (e não me refiro apenas à oposição formal, partidária).

E o que falar da exigência feita por um famoso clube da elite paulistana de que babás usem roupas brancas no local? Por sorte, neste caso o Ministério Público entrou na história - que repercutiu até na Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Também recentemente, uma menina de apenas 11 anos foi atingida por uma pedra ao sair de um culto de candomblé no Rio de Janeiro. Não sei se há relação de causa-efeito, mas desconfio que a onda conservadora (parte dela apoiada por alas cristãs extremistas) que tomou conta do Congresso Nacional possa servir de estímulo para que pessoas ou grupos ajam de forma criminosa contra alguém que é apenas diferente.

Esta semana, ao entrevistar para o "Jornal da Cultura" (TV Cultura, seg. a sáb., 21h) um especialista em recrutamento de pessoas, ouvi que uma determinada empresa o contratou para intermediar o preenchimento de uma vaga de trabalha. Recomendação importante: o contratado não poderia ser obeso ou homossexual. "Às vezes nem acredito no que eu ouço", observou o especialista.

Neste último caso, o preconceito se dá de forma velada, ou indireta, ou encoberta, porque só o recrutador toma conhecimento, mas não deixa de ser grave da mesma forma.

Ao ver tantos episódios no intervalo de alguns dias, fico me perguntando se estamos mesmo no século 21...

Em tempo: creio que a onda do "politicamente correto" tenha também alguma relação com o conservadorismo latente. Como explicar as críticas a uma propaganda de remédio feminino e à nova novela da TV Globo

Falta de humor é outro sintoma de uma sociedade doente.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014 | | 0 comentários

A questão do racismo e a política de cotas

Dia desses, conversava numa mesa de bar com outras três pessoas a respeito do racismo. O trio criticando as cotas raciais e a costumeira posição de que os negros são os mais racistas de todos. Mencionavam, como de praxe, o falacioso argumento da camisa “100% branco”.

Contra-argumentei que tais manifestações ignoravam ou desconsideravam todo um processo histórico e só podiam partir de quem estava numa cômoda posição de não viver tais infortúnios – os do racismo.

Citei dados que corroboravam as marcas ainda profundas do racismo nas sociedades em geral. E defendi com vigor que aquela torcedora do Grêmio flagrada xingando o goleiro Aranha, do Santos, de “macaco” merecia uma punição rigorosa, nos limites da lei. Porque ela poderia tê-lo xingado de qualquer outra coisa, mas escolhera sim uma manifestação sabidamente – e conscientemente – racista.

Pois esta semana li um artigo do jornalista Clóvis Rossi na “Folha de S. Paulo” que reforçou minhas convicções e trouxe detalhes do que eu argumentara na ocasião da conversa.

(...) Os números mostram os motivos da divisão: os negros são 13% da população total (dos EUA), mas formam 40% da população carcerária; 3% de todos os homens negros estavam presos no fim de 2013, quando a taxa entre brancos era de apenas 0,5%. 

Em 2011, 1 de cada 15 afro-americanos tinha o pai preso; entre brancos, a proporção era de 1 para 111. (...)

Rossi cita uma pesquisa a respeito de um recente episódio da morte de um garoto negro por um policial nos EUA segundo a qual “62% dos afro-americanos dizem que o policial (branco) Darren Wilson errou ao atirar no negro Michael Brown, opinião que apenas 22% dos brancos compartilhavam”.

E concluía:

(...) Foi esse sentimento desumano que plasmou toda uma legislação segregacionista durante séculos. 

O fato de ela ter sido derrubada aos poucos não bastou para matar todos os demônios racistas que habitam os seres humanos. 

Será preciso toda uma revolução cultural e mental, por meio de uma ativa educação à convivência, para que um negro possa sentir-se tão à vontade nos EUA como um afegão. (...)

Numa entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, publicada em abril último, o ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, manifestou-se no mesmo sentido:

As estatísticas ainda mostram que a raça faz uma grande diferença. Afro-americanos e hispânicos não só são comparativamente mais atingidos pela pobreza como são muito mais passíveis de serem presos do que outras pessoas. Desde que saí da Casa Branca, 800% mais mulheres negras estão encarceradas. A maioria das pessoas que estão na prisão por um longo tempo são hispânicos, negros ou mentalmente deficientes. A conclusão é que, considerando as pessoas que escrevem as leis, administram as leis e as aplicam, as demais são excluídas de qualquer tratamento igualitário no sistema de Justiça.

As políticas afirmativas, como a de cotas, são de fato polêmicas. Na minha visão, devem ter prazo determinado. São, porém, uma alternativa possível – talvez não a melhor, mas uma alternativa. Que é, indubitalvemente, melhor do que a inação.

É dever do Estado corrigir mazelas que ele mesmo criou ao longo dos anos, ainda que alguém pague indevidamente o preço do que não fora causado em seu tempo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014 | | 0 comentários

Racismo: uma luta necessária

Confesso que a minha primeira reação ao mais recente ato de racismo no futebol brasileiro, desta vez contra o goleiro Aranha, do Santos, foi de completa indignação e revolta.

Como bem escreveu o jornalista Xico Sá, não podemos aceitar isto como “apenas mais um ato” ou como algo corriqueiro. Não é!

(...) O futebol não pode, como querem muitos, estar acima do bem, do mal e das leis. Racismo é racismo em qualquer canto. Com ou sem a bola rolando. Contra o Aranha ou contra a menina negra M.D.M.R, mineira de Muriaé, atacada no Facebook depois de postar uma foto com o seu namorado branco. 
Racismo é racismo. Ponto. Se era"normal" chamar de macaco no passado, que dane-se o passado, é hora de desmascarar a cara de pau da normalidade. Como disse o goleiro do Santos, naquele momento o racismo estava mostrando mais uma vez a sua face, a sua cara. Que seja punido. (...)


Minha intenção era fazer uma postagem com uma série de palavrões, de modo proposital, como se isto significasse uma panela de pressão explodindo ou, dito de outra forma, como se fosse a manifestação de alguém que já não tolera mais tamanha ignorância.

Passada a raiva (mas com a necessária permanência da indignação), fico com a posição do filósofo Hélio Schwartsman em artigo na “Folha de S. Paulo”:

Concordo que as manifestações racistas nos estádios são horrorosas e que devemos nos empenhar em pôr um fim a esse tipo de coisa. Também repudio a violência das torcidas organizadas e o vandalismo. Mas, se vamos combater esses comportamentos, precisamos fazê-lo segundo as regras do direito penal, que exigem identificar os culpados e julgá-los em processo regular, no qual tenham direito a ampla defesa. 
 Ora, algumas pessoas estão devidamente identificadas, não estão? Pois que se abra um processo penal, que elas tenham o direito à ampla defesa e, se assim a Justiça considerar, que elas sejam punidas no rigor da lei. No estrito rigor da lei. E que se dê ampla divulgação a isso. 


Só assim, com punição efetiva e educação, este triste capítulo da nossa sociedade poderá ganhar um outro final.

segunda-feira, 16 de junho de 2014 | | 0 comentários

Onde foi parar o sonho de L. King?

É inacreditável constatar que existem “940 grupos de ódio em atividade nos EUA hoje, segundo o Southern Poverty Law Center (SPLC), centro que mapeia esse tipo de atividade no país”. “De 2000 a 2013, o número dessas organizações subiu 56%”, informa reportagem da “Folha de S. Paulo”.

É inaceitável ouvir frases como a de “William Johnson, presidente do American Freedom Party, listado como grupo de ódio pelo SPLC”:

"Diversidade e multiculturalismo são sinônimos de genocídio branco. Eu quero que nossas escolas primárias tenham só crianças loiras, de olhos claros, crescendo e aprendendo a ser boas para a comunidade. Eu não quero que nos tornemos o Brasil", disse.

Leia também:

domingo, 4 de maio de 2014 | | 0 comentários

Frases

"(O racismo) Está em todo lugar, não só na Espanha. Toda a sociedade tem culpa nisso. O que aconteceu (...)só vai parar quando todos forem educados da maneira correta. De certa forma, somos todos responsáveis pelo que aconteceu.”
Josep Guardiola, técnico do Bayern de Munique, sobre o ato racista contra o lateral brasileiro Daniel Alves durante partida do Barcelona contra o Villareal

“Pudesse pegaria a foto e colocaria pública só para envergonhar, banir não é solução. Estaria pagando mal com mal, tem de educar as pessoas e não tentar banir ele do futebol.”
Daniel Alves, lateral brasileiro, alvo do ato racista

quarta-feira, 19 de março de 2014 | | 0 comentários

A questão do racismo

(...) Ora, como espaço privilegiado da emoção o futebol não poderia deixar de sintetizar e manifestar algumas tensões sociais latentes. Ele não é nem menos nem mais racista que outros domínios da sociedade brasileira (ou italiana, ou qualquer outra). É seu espelho, sua caixa de ressonância. Um episódio de discriminação ocorrido, por hipótese, num bar ficará restrito ao conhecimento de poucas pessoas; se o palco for um estádio de futebol, o fato ganhará larga publicidade. Diz o noticiário que Arouca foi ofendido por "três ou quatro torcedores"; Assis, por um único. Números, portanto, não superiores aos de cenas de desrespeito racial em um hipotético bar, baile ou parque. É evidente que todo ato racista é condenável independentemente da quantidade de pessoas que o pratiquem, mas também independentemente do local em que ocorre: ele não é mais incivilizado por se dar em um estádio.

Comentando os acontecimentos da semana passada, o ex-craque Raí observou que, se o racismo "passar impune no futebol, com certeza passará impune na sociedade". É verdade. No entanto, o inverso também o é, e com mais razão. No futebol o racismo é ambíguo: os mesmos torcedores que ofendem o jogador negro do time adversário aplaudem o negro do próprio time. Onde nasce e prospera o racismo é na sociedade. Inclusive com conceitos e práticas que o reforçam mesmo pretendendo o contrário. Proclamar a suposta superioridade da mestiçagem ou reservar cotas raciais na universidade pública alimenta pelo avesso aquilo que se quer combater. O inverso de um racismo é outro racismo. A tessitura das malhas sociais num país com a história e o perfil do Brasil é complexa. Precisa ser pensada e debatida de forma profunda e contínua, não apenas emocional e emergencial.

Fonte: Hilário Franco Júnior, “Um país no espelho”, O Estado de S. Paulo, Aliás, 16/3/14, E3.

Em tempo: se a Federação Paulista de Futebol (FPF) – ou a CBF ou a Conmebol (respectivamente confederações brasileira e sul-americana de futebol) – quer de fato dissociar o racismo do esporte que comanda basta tomar medidas EFETIVAS e RIGOROSAS de punição aos responsáveis diretos (torcedores, atletas e/ou dirigentes) e indiretos (clubes). 

Palavras em faixas e notas oficiais são discursos vazios, nada mais.

PS (acrescentado em 26/3/14): Quando me refiro a punição rigorosa e efetiva definitivamente não é o que fizeram a FPF e Conmebol com multas de no máximo R$ 50 mil.

Leia também

terça-feira, 11 de março de 2014 | | 0 comentários

Racismo, uma luta desigual

Alguns tipos de violação de direitos humanos recebem, nos meios de comunicação, o tratamento combativo à altura, como se passa com os atos contra gays e lésbicas. O racismo ainda não merece o empenho proporcional à sua gravidade. O futebol o demonstra muito bem.

Os casos se sucedem, as páginas esportivas os noticiam, a cada um seguem-se críticas em partes de colunas, e logo se passa à espera do próximo episódio. Muito cômodo para as consciências, mas também resulta em uma forma de conivência com a continuidade da agressão desumana. (...)

Fonte: Janio de Freiras, “A lição do lixo”, Folha de S. Paulo, Poder, 9/3/14.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014 | | 0 comentários

Histórias de um país dividido pela cor

Depois que a Carolina do Sul eletrocutou George J. Stinney Jr., em 1944, sua família enterrou o corpo queimado do rapaz de 14 anos num túmulo não marcado na esperança de que o anonimato lhe permitisse descansar em paz. Mas em duas manhãs na última semana, quase 70 anos após a eletrocução que fez de George, um adolescente negro no Sul segregacionista, o mais jovem executado nos Estados Unidos no século 20, advogados e espectadores se aglomeraram numa sala de tribunal com uma agenda muito diferente: lançar luz suficiente sobre o caso para tentar limpar o nome de George.

"Quando examinei o caso, vi o que havia ali e o estudei. Foi estarrecedor", disse Miller W. Shealy Jr., um dos advogados que aceitaram ajudar a família Stinney em sua busca de um novo julgamento ou uma anulação de veredicto. Ele acrescentou que o caso transcorreu na "velha Carolina do Sul". "Mesmo assim é estarrecedor." (...)

Fonte: Alan Blinder, “Uma execução de 70 anos que pode ter sido injusta”, O Estado de S. Paulo, Internacional, 26/1/14.

Leia também:

sábado, 16 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Ficção e/ou realidade

(...) O texto não estava suficientemente descolado da realidade para que todos percebessem a impossibilidade de ser literal?

Talvez, infelizmente, não: fui menos grosseiro, violento e delirante na sátira do que muitos têm sido a sério. Poucos dias antes da crônica ser publicada, um vereador afirmou em discurso que os mendigos deveriam virar "ração pra peixe". Com esse pano de fundo, ser "apenas" racista, machista, homo e demofóbico pode não soar absurdo. Quem se chocou achou o personagem equivocado, mas plausível. Quem me cumprimentou achou minha "análise" perfeitamente coerente. Ora, só dá para concordar com o texto se você acreditar que as cotas criaram uma elite negra e oprimiram os brancos, acabando com a "meritocracia que reinava por estes costados desde a chegada de Cabral", se achar que os 20 anos de ditadura foram "20 anos de paz" e que é legítimo e bem-vindo levantar-se contra "as bichas" e "o crioléu".

Em "Hanna e Suas Irmãs", do Woody Allen, Lee, uma das irmãs, é casada com um intelectual rabugento chamado Frederick. Lá pelas tantas, o personagem assiste a um documentário sobre Auschwitz, em que o narrador indaga "como isso foi possível?". Frederick bufa e resmunga: "A pergunta não é essa! Do jeito que as pessoas são, a pergunta é: como não acontece mais vezes?". Esta semana, diante dos e-mails elogiosos que recebi, a fala me voltou algumas vezes à memória: "Como não acontece mais vezes?". Vontade é o que não falta, por aí - e, infelizmente, não estou sendo irônico.

Fonte: Antonio Prata, “Abaixo, a ironia”, Folha de S. Paulo, Cotidiano, 10/11/13 (íntegra aqui).

quarta-feira, 28 de agosto de 2013 | | 0 comentários

"Eu tenho um sonho..."


Creio ser esta a única foto que eu repeti neste blog desde que ele foi criado. O motivo é justo: hoje faz 50 anos do famoso discurso que mudou a história dos Estados Unidos - e do mundo, por que não?

O discurso de Martin Luther King eternizou a frase mostrada na foto. Não só na história como também nas mentes e no chão de Washington D.C., a capital dos EUA, no exato lugar onde ela foi proferida.

Leia também:

- 50 anos após marcha de King, igualdade nos EUA continua distante

- Na terra de Luther King (acrescentado em 29/8)

Veja ainda reportagem do "Jornal da Globo" sobre o assunto.

* A foto é de Carlos Giannoni de Araujo

sábado, 20 de julho de 2013 | | 0 comentários

Viajar e pertencer: o caso Trayvon Martin de novo

Como na postagem anterior lembrei de uma viagem, ocorre-me agora comentar um outro episódio vivido na mesma ocasião.

Já escrevi aqui e principalmente no meu blog Piscitas - travel & fun que viajar me dá um sentimento de pertencimento - a um lugar, a uma situação, etc.

Quando vivenciamos algo numa viagem, é comum sentirmos certa intimidade com aquela experiência a partir de então. Foi assim que eu me tornei "íntimo" do caso envolvendo o adolescente Trayvon Martin. Soube do ocorrido numa visita à CNN, em Atlanta (EUA). Dias depois, em Nova York, vi um protesto pedindo justiça em favor do adolescente - negro, morto na Flórida por um vigilante que o confundiu com um suposto criminoso.

O assassinato despertou a ferocidade da discussão a respeito do racismo nos EUA, como relatei neste blog na ocasião.

Agora, quase um ano e meio após o crime, o vigilante acusado pelo assassinato foi inocentado pelo júri. A decisão, como era de se esperar, reacendeu a polêmica sobre o racismo. Manifestações estavam programadas para ocorrer em pelo menos 100 cidades norte-americanas neste sábado (20/7). Tal como eu vi em NY em abril do ano passado.

O julgamento teve tanta repercussão que até o presidente dos EUA, Barack Obama, negro como Martin, pediu aos cidadãos que refletissem sobre o caso. Obama, aliás, foi além: manifestou que a vítima poderia ter sido ele 35 anos atrás.

Ainda como reflexo do julgamento, o cantor Steve Wonder - também negro - anunciou que não mais se apresentará na Flórida enquanto vigorar a lei que permite até matar em uma suposta ação de legítima defesa, mesmo que o ato tenha como base mera suspeita.

É, como eu registrei em 2012, nos EUA a questão racial é coisa séria!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012 | | 0 comentários

"Analfabetismo histórico"

O movimento negro, bem como outros grupos que tentam reduzir os níveis de intolerância na sociedade, tem toda a minha simpatia. Isso dito, é ridículo o que estão tentando fazer com Monteiro Lobato. Se a iniciativa legal, que já chegou ao Supremo, prosperar, o autor poderá ter parte de sua obra banida das bibliotecas escolares.

Não há a menor dúvida de que Lobato se utiliza de expressões que hoje soam rematadamente racistas, como o termo "macaca de carvão", para referir-se à Tia Nastácia. A questão é que estamos falando de escritos dos anos 30, época em que quase todo mundo era racista. E, se há um pecado mortal na crítica literária e na análise histórica, é o de interpretar o passado com os olhos de hoje.

"Não sou nem nunca fui favorável a promover a igualdade social e política das raças branca e negra... há uma diferença física entre as raças que, acredito, sempre as impedirá de viver juntas como iguais em termos sociais e políticos. E eu, como qualquer outro homem, sou a favor de que os brancos mantenham a posição de superioridade."

Odioso, certo? Também acho. Mas, antes de condenar o autor da frase ao inferno da intolerância, convém registrar que ela foi proferida por Abraham Lincoln, o presidente dos EUA que travou uma guerra civil para libertar os negros da escravidão.

E Lincoln não é um caso isolado. Encontramos pérolas racistas em ditos de Gandhi e Che Guevara. Shakespeare traz passagens escancaradamente antissemitas, Eurípides era um misógino e Aristóteles defendia com empenho a escravidão. Vamos banir toda essa gente das bibliotecas escolares?

A verdade é que todos somos prisioneiros da mentalidade de nossa época. Há sempre um horizonte de possibilidades morais além do qual não conseguimos enxergar. Aplicar critérios contemporâneos para julgar o passado é uma manifestação de analfabetismo histórico.

Fonte: Hélio Schwartsman, "Folha de S. Paulo", Opinião, 19/9/12, p. 2.

terça-feira, 8 de maio de 2012 | | 0 comentários

Nos EUA, questão racial é coisa séria

Interessante a questão racial ser tão polêmica e determinante ainda hoje nos Estados Unidos, um país com grande influência negra em suas raízes e em sua população. O fato é que os EUA são uma nação dividida politicamente (entre democratas e republicanos), geograficamente (será que a guerra de Secessão realmente acabou?), religiosamente (católicos, protestantes, mórmons, etc) e racialmente (brancos e negros).

O mais incrível é tudo isto ser realidade num país que louva sua democracia e as liberdades individuais. Ou talvez as louve justamente em função dessa diversidade.

Até os anos 50, a segregação racial nos EUA era algo sério. Brancos e negros não dividiam o mesmo espaço em muitos lugares, como bares. Era uma espécie de apartheid. Não é preciso relembrar aqui a histórica luta liderada por Martin Luther King em favor dos direitos civis, particularmente dos negros.

Seis décadas depois, a questão ainda é predominante nos debates. Naturalmente, brancos e negros hoje dividem sem questionamento os mesmos espaços, mas nem sempre as mesmas ideias.

Em Chicago, tão logo entrei numa estação de metrô, vi um cartaz bem grande que dizia algo mais ou menos assim: “Nenhum ser humano deve ser considerado pela sua crença ou sua cor e sim pelo seu caráter”. Naturalmente, a mensagem é correta – o que me espantou é este tipo de manifestação ainda ser presente (ou necessária) justamente numa cidade com população marcadamente negra – de onde saiu o primeiro presidente negro do país.

Atrás deste cartaz, um outro desenho enaltecia o ex-jogador de basquete Michael Jordan, ídolo do Chicago Bulls nos anos 1990. Um texto que parecia ser de um estudante dizia algo como “Admiro Jordan por ele ser alto e rico”. No fundo mesmo estava a questão racial – Jordan é negro.

O assassinato de
Trayvon Martin, de 17 anos, por um vigilante na Flórida colocou lenha nessa fogueira. Martin, que era negro, caminhava pelas ruas sozinho quando teria sido abordado por uma força voluntária de segurança. Sem um motivo aparente, o jovem virou suspeito. Não se sabe exatamente o que aconteceu na abordagem, mas o fato é que Martin foi baleado e morreu.

Foi o estopim para uma série de protestos pelo país. Em Nova York, bem longe do epicentro do caso, dezenas de pessoas foram às ruas pedir Justiça. Elas exibiam cartazes com dizeres como “Pare a guerra contra a juventude negra e mulata – Empregos, não cadeias”, “Justiça para Trayvon Martin”, “Fim da opressão racista”, “Trayvon Martin é meu filho”, entre outros.






O chamado caso Trayvon Martin teve efeitos colaterais. Sobrou para muitos, como se diz na gíria. Três funcionários da rede de televisão NBC, uma das mais poderosas dos EUA, perderam seus empregos por causa da cobertura considerada inadequada do caso. Teriam editado de modo tido como preconceituoso uma matéria, emendando falas do vigilante dando a entender que a morte se deu em razão da cor do jovem (leia mais aqui e aqui).

A intenção de estabelecer culpa ou inocência de um lado e outro ultrapassou os limites da ética. Um jornalista da CNN comentou que considerava errado, em reportagens da TV, o uso de fotos de infância do jovem para ilustrar o caso numa aparente tentativa de criar um sentimento de piedade entre o público. Concordo com ele.

Nos EUA, polêmicas envolvendo a cor da pele e a religião parecem ser mais fortes do que as que envolvem a sexualidade, por exemplo. Muitas vezes essas questões ficam escondidas, escamoteadas, até voltarem à superfície sempre que um episódio (como a chance de um negro presidir o país ou o assassinato de um jovem negro) aparece no noticiário.

Natural: é quando se cutuca o vespeiro que as abelhas se manifestam. E, nos EUA, a questão racial ainda é um grande vespeiro.

domingo, 19 de dezembro de 2010 | | 1 comentários

Flagrante italiano 5

Quem disse que na Itália não há torcidas organizadas? E quem disse que estas torcidas não são violentas - ou praticam atos que possam incitar a violência? Quem disse que o racismo e a xenofobia são coisas do passado no futebol europeu?

A pichação foi flagrada na Avenida Caprilli, que leva ao Estádio Giuseppe Meazza, o San Siro - onde o Milan e a Internazionale mandam seus jogos.

PS: para quem não sabe, Seedorf é um jogador de futebol nascido no Suriname, naturalizado holandês, que atua há anos no Milan.