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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011 | | 2 comentários

Reflexões sobre um acidente - o jornalismo e as redes sociais

O episódio da queda de parte do teto da praça de alimentação do Shopping Pátio Limeira, no último domingo (16/1), traz interessantes reflexões sobre o jornalismo e as novas tecnologias. Fiquei ao mesmo tempo surpreso com a rapidez na divulgação do fato (e de fotos) e preocupado com a imprecisão reinante nas redes sociais.

Eu estava em Piracicaba quando, pouco tempo após o episódio, recebi um telefonema informando sobre o acidente. Na verdade, o interlocutor queria confirmar a informação – e as pessoas sempre procuram os jornalistas nestas horas. Naquele momento, eu ainda não sabia de nada, mas bastou uma checagem no Twitter para constatar que, sim, algo havia ocorrido na praça de alimentação do Shopping Pátio.

Neste ponto, o da agilidade, a Internet – e as redes sociais em particular – tem se mostrado cada vez mais eficiente. Praticamente insubstituível. As qualidades, porém, não vão muito além disso.

Deixam a desejar sobremaneira a imprecisão e o erro. No lugar da informação, sobram “achismos”. “Parece que...”, “Informações dão conta de que...”, “Falaram que...”, “... ainda não há confirmação...” foram expressões recorrentes por parte dos tuiteiros – alguns deles jornalistas. Na “cobertura” das redes sociais, sobrou até um “número quase oficial”.

A quantidade de feridos foi outro indicativo da imprecisão das redes sociais. Quatro, dez, 15, 18, 22... Até mortes foram citadas – houve quem falasse em três vítimas fatais!

Nesta hora, lembrei-me de uma palestra do jornalista Bob Fernandes em um congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em São Paulo. Na ocasião, ele citou a teoria do “menos é mais”. Ou seja: na falta de confirmação, não dê a suposta informação. Afinal, o que parece ser um “furo” (notícia dada em primeira mão) pode se transformar numa “barriga” (notícia errada no jargão jornalístico) – que resulta em arranhões na credibilidade do profissional e/ou do veículo e em danos a terceiros.

Quase todo profissional tem para contar uma história de “barriga” fruto da pressa para dar uma “informação”. E a pressa não é só inimiga da perfeição. É também do jornalismo.

Portanto, antes de divulgar qualquer fato, apure. Cheque. Confirme com outras fontes. É regra básica do jornalismo.

Não resta dúvida de que as redes sociais vieram para ficar. Tornaram-se importante fonte para os jornalistas e a sociedade em geral. Contudo, também não resta dúvida de que, ao contrário do que prenunciam os apocalípticos (para tomar emprestada a expressão que se notabilizou com a Escola de Frankfurt), o jornalismo – e o jornalista – terá cada vez mais importância no seu papel de organizar o caos informativo (e prezar pela precisão da informação, unindo-a à agilidade na medida do possível).

PS: um conhecido chegou a criticar a suposta incompetência da imprensa limeirense que, minutos após o acidente, ainda não tinha informações a prestar. Ora, as equipes estavam justamente apurando os fatos. E, como citei, enquanto a apuração não estiver concluída, o melhor é não sair dando tiros para o alto. Um deles pode até acertar o alvo, mas a chance de errar é infinitamente maior. E um erro no jornalismo muitas vezes pode ser irreparável.

Em tempo: este texto não pretende ser uma “lição de moral”. Longe disso, apenas quis externar uma reflexão que foi inevitável durante o acidente, tanto de minha parte quanto dos que me acompanhavam (e ninguém mais era jornalista).


* Chamou minha atenção também o fato de muitos veículos utilizarem fotos do acidente no shopping disponíveis no Twitter sem mencionar os créditos dos autores.