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segunda-feira, 4 de maio de 2015 | | 0 comentários

Imprensa: reflexão e autocrítica

(...) O ativismo do Ministério Público e da Polícia Federal pode ser um sonho para quem precisa produzir notícias sofregamente, de impacto, capazes de ganhar uma manchete, ou um alto de página ímpar. (...)

Engana-se redondamente quem pensa que a profusão de meios de informação tornou mais fácil a vida de jornalista. Mais do que nunca são necessários filtros, apurações, documentos confiáveis, fontes fidedignas etc. Dá trabalho, mas a recompensa profissional vale a pena. Usar o Ministério Público e a Polícia Federal como donos absolutos da verdade equivale a terceirizar o ofício do jornalismo. Mas é o que está em voga nesta fase policial da nossa democracia.

Fonte: Ricardo Melo,
“Época de estado policial”, Folha de S. Paulo, Poder, 4/5/15.

terça-feira, 31 de março de 2015 | | 0 comentários

"Fora do Facebook"

Uma bomba atingiu o mundo das notícias esta semana: dois sites jornalísticos muito importantes, o sacrossanto “The New York Times” e o irreverente “Buzzfeed”, estão a ponto de liberar seus conteúdos para que sejam lidos dentro dos domínios do Facebook.

É uma revolução, uma profunda quebra de paradigma. Hoje, se o leitor clica em um link de notícia que aparece no Facebook, é levado para o site que originalmente produziu o material - o “Buzzfeed” e os próprios jornais “The NYT”, “The Guardian”, “El País”, “G1”, “Folha” etc.

(...) Proposta do “Feice”: trazer a notícia para dentro dele mesmo e assim agilizar a parada. Isso significa um monte de coisas, mas a principal é que o produtor do conteúdo perde controle sobre quem está lendo sua notícia. As informações, estatisticamente tão relevantes, ficam na mão do Facebook. (...)

Fonte: Álvaro Pereira Júnior, "Folha de S. Paulo", Ilustrada, 28/3/15 (íntegra aqui).

quinta-feira, 19 de março de 2015 | | 0 comentários

"Jornal da Cultura": "o bom combate"


terça-feira, 10 de fevereiro de 2015 | | 0 comentários

Reflexão

Dia desses, refletindo sobre os desafios da profissão, identifiquei a fonte da subsistência da imprensa no futuro: produzir informação de qualidade. 

Sim, não é nada novo, ao contrário, é bastante óbvio, mas resume bem diversas análises que tenho lido (muitas delas postadas aqui no blog) a respeito do futuro de jornais e do jornalismo em geral.

Porque a Internet trouxe, como nunca antes, facilidades para a existência daqueles que apenas reproduzem informação.

Quem não produz, só reproduz, está de fato ameaçado.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015 | | 0 comentários

Uma curta reflexão sobre o caso "Charlie Hebdo"

Foi de propósito que esperei para escrever algo a respeito do lamentável ataque ao jornal "Charlie Hebdo", em Paris (França), na semana passada.

Li análises diversas, ouvi opiniões diversas e gostaria apenas de reforçar um aspecto que considero necessário em relação ao episódio: nada (repito - em letras garrafais - NADA) justifica o terror.

Se abrirmos uma brecha, pequena que seja, para buscar justificativas para atos desse tipo estaremos no perigoso caminho para justificar atrocidades como as do nazismo e tantas outras.

* Leia também (acrescentado em 21/1/15):

Žižek: Pensar o atentado ao Charlie Hebdo

quinta-feira, 13 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Regulação da mídia: um debate necessário

O assunto é espinhoso e vital para toda sociedade democrática.

Polêmico, mas inevitavelmente necessário.

Falo da regulação da mídia – desejo exposto por onze em cada dez petistas.

Vamos por partes e, ao mesmo tempo, sem rodeios: sou absolutamente a favor da regulação.

O que questiono – e temo – é quem irá definir as regras.

O capítulo 5 da Constituição Federal trata da comunicação social. Está lá no artigo 220:

Art. 220 - A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. 
 § 1º - Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. 
 § 2º - É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

Portanto, em tese, não haveria riscos, nada a temer, já que a lei maior do país é mais do que clara. Contudo, é compreensível o temor de parte da sociedade. A alta cúpula do PT sempre traz à tona o tema quando o partido se vê alvo de denúncias na imprensa. Entre os petistas, é frase feita acusar a “mídia golpista”.

É indiscutível o desejo de ligar a necessidade de regulação da mídia ao conteúdo – o que a Constituição veda.

Ao mesmo tempo, é preciso considerar limitações que a mesma Constituição introduziu (e, para as quais, aparentemente, governo e sociedade fazem vista grossa):

§ 3º - Compete à lei federal: 
 II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos, práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente. 
 § 5º - Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio. (grifo meu) 
 § 6º - A publicação de veículo impresso de comunicação independe de licença de autoridade.

E o que diz, afinal, o citado artigo 221?

Art. 221 - A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: 
 I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas; 
 II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; 
 III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; 
 IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Parece-me evidente que o assunto merece e necessita ser discutido.

Por fim, a Constituição estabelece no artigo 224 que “o Congresso Nacional instituirá, como seu órgão auxiliar, o Conselho de Comunicação Social, na forma da lei”.

A sociedade brasileira deve discutir o que é um direito – a comunicação social. As regras básicas já estão estabelecidas. O que se deve fazer é garantir efetividade ao que a Constituição já determina. E isto passa, antes e acima de tudo, pela mais absoluta liberdade de opinião, de imprensa e de informação.

Não cabe ao governo e menos ainda ao PT liderar esta discussão, embora nem um nem outro devam estar ausentes desse processo.

Vale aqui, como de resto em toda sociedade, uma recomendação: mais racionalidade, menos paixão.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014 | | 0 comentários

O que não vi do Templo de Salomão

Cobrir a inauguração do Templo de Salomão - a nova sede mundial da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) - foi, digamos, um exercício de antijornalismo.

A imprensa foi monitorada, cercada e vigiada durante todo o evento, que se deu obviamente do lado de dentro do novo templo, enquanto os jornalistas foram obrigados a acompanhar tudo do lado de fora, por meio de duas televisões.

Logo na chegada ao templo, a imprensa era recebida por uma espécie de guia, reunida em grupos de cinco pessoas (repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e auxiliares) e encaminhada ao local de onde deveria acompanhar a cerimônia – um pequeno espaço demarcado por grades na lateral esquerda do templo, ao lado de uma espécie de gruta chamada pela igreja de cenáculo.

Dali ninguém podia sair. Em tese, a saída era até permitida, mas ouvia-se um alerta: “Quinze minutos antes da presidente (Dilma Rousseff) chegar ninguém mais poderá entrar. Se você sair, corre risco de não poder voltar”. Ou seja: melhor ficar onde está.

Pedi a um assessor que vigiava o acesso ao local reservado à imprensa para ir alguns metros adiante porque, afinal, tínhamos que gerar para a emissora imagens externas do templo e a visão de onde estávamos se limitava a uma gigantesca parede lateral, vista muito de perto, o que reduzia o ângulo da câmera.

Pedido recusado.

O cinegrafista tentou, então, virar a câmera para a lateral a fim de captar algumas imagens do tal cenáculo. Foi impedido sob alegação de que “isto não é para hoje”, ou seja, a imagem na inauguração deveria mesmo se limitar à parede lateral e nada mais.

Um auxiliar quis ir ao banheiro, tendo sido acompanhado até a porta por um guia-segurança, que o aguardou e o trouxe de volta ao espaço da imprensa.

Ali, fotógrafos faziam cliques da tela das TVs enquanto a cerimônia ocorria dentro do templo.

Por fim, o púlpito reservado para um pronunciamento da presidente acabou se mostrando inútil, já que ninguém se dispôs a falar com a imprensa.

Na saída, após duas horas de evento e mais de três horas de “cobertura”, mais uma vez grupos eram formados, de modo que metade da minha equipe foi embora e eu teria que aguardar um novo grupo ser formando – o que, naturalmente, não fiz. Irritado, ignorei as ordens e acompanhei a equipe.

O guia, porém, estava lá, acompanhando-nos até a saída do templo.

Em tempo: antes do evento, um comunicado da IURD adiantava que imagens internas estavam proibidas e seriam cedidas pela TV Record, emissora à qual a igreja é ligada. Eu só não imaginava que até mesmo do lado externo a imprensa não poderia se movimentar.

Confesso que, mais do que frustração pelo trabalho limitado, saí de lá irritado – bem como outros colegas. A sensação era de ter sido convidado para uma festa da qual não pude participar. Cheguei a citar para um segurança da IURD se eles tinham convidado a imprensa para ficar vendo um muro...

Até compreendo que as relações da IURD com a imprensa são um tanto conflituosas, mas a falta de gentileza num evento como aquele gerou mal estar. Faltou, sem dúvida, sensibilidade dos organizadores e sobrou a impressão de que havia algo a ser escondido das lentes e olhares dos jornalistas.

* Leia também:

segunda-feira, 14 de julho de 2014 | | 0 comentários

A culpa (também) é da imprensa

(...) A imprensa e os jornalistas são muito democráticos: têm a convicção de que tudo e todos são sujeitos à crítica. Desde que não sejam a imprensa e os jornalistas. Apesar disso, é preciso dizer que os mal denominados meios de comunicação têm uma parcela - de difícil mensuração, mas não pequena - nas causas do que está chamado de "humilhação, catástrofe e vergonha". E parcela maior no choque emotivo das pessoas em geral, reação que corresponde à expectativa esperançosa de que estiveram imbuídas.

(...) Se o tempo de vida em contato com a imprensa e com a opinião pública vale alguma coisa, é a partir dele que concluo pela contribuição da baixa média de franqueza crítica para a ocorrência do desacerto, continuado e progressivo, que levou à "vergonha". E do mesmo modo se faz a minha convicção de que o ambiente ficou livre para que a falta de observações firmes, a tendência nacional ao oba-oba e os interesses comerciais se juntassem na criação do otimismo mentiroso. Logo, também na decepção doída como um luto.

O jornalismo brasileiro está precisando de uma reviravolta mais ou menos como a pedida para o futebol. (...)

Fonte: Janio de Freitas,
“Palavras de mudança”, Folha de S. Paulo, Poder, 10/7/14.

terça-feira, 24 de junho de 2014 | | 0 comentários

Reflexão para os jornalistas

Para a imprensa refletir: para estrangeiros, a violência no Brasil “parece maior nas páginas de jornal que nas ruas”.

Algo me parece errado quando o que se vê no mundo real não é exatamente o que a imprensa - cuja função é reproduzir fatos - escolhe noticiar.

Não se trata, absolutamente, de esconder fatos, mas de buscar um necessário equilíbrio para garantir um retrato mais próximo possível da sociedade.

segunda-feira, 9 de junho de 2014 | | 0 comentários

Frase

"Numa democracia, os políticos se submetem ao questionamento dos jornalistas porque reconhecem que devem prestar contas à sociedade e entendem que a imprensa existe para fiscalizar os governos, não para elogiá-los."
Ricardo Balthazar, jornalista, em coluna na “Folha de S. Paulo”

quarta-feira, 28 de maio de 2014 | | 0 comentários

Liberdade e imprensa

(...) "Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." A célebre definição de Millôr Fernandes não representa um elogio da imprensa militante, mas uma constatação básica, cuja relevância aumenta na razão direta do crescimento dos gastos publicitários governamentais: o jornalismo independente sempre dirá aquilo que não interessa ao poder de turno. (...)

"Deem-me a liberdade de conhecer, de pronunciar e de debater livremente, de acordo com minha consciência, acima de todas as liberdades", escreveu John Milton em 1644 no "Areopagitica", que solicitava ao Parlamento inglês a anulação da exigência de licença oficial para imprimir. O panfleto de Milton está na origem da liberdade de imprensa e da aventura histórica do jornalismo. (...)

Fonte: Demétrio Magnoli, “O nome de um jornal”, Folha de S. Paulo, Poder, 24/5/14.

sexta-feira, 4 de abril de 2014 | | 0 comentários

"Como ler as notícias" - a era da (des)informação

(...) No "outro lado", com frequência alarmante, sou abordado por jornalistas que não têm a mínima ideia do que estão perguntando e procuram, invariavelmente, apenas as aspas (como chamamos no jargão jornalístico uma declaração) que possam causar um choque, um mal entendido, e um consequente desconforto - obviamente induzido. Vejo isso repetidas vezes - e não só comigo, mas em infinitas "reportagens" na internet. Seria tudo muito válido, se um elemento não fosse constantemente desrespeitado nesse ciclo feroz de notícias hoje em dia: a verdade.

(...) quando ouvi isso pela primeira vez, abri espaço para falarmos de "verdadices" - minha tradução do termo que, se não me engano, foi popularizado pelo comediante/apresentador americano Stephen Colbert: "truthiness", algo que alguém acredita ser verdade não pelos fatos apresentados, mas pela mera repetição da informação (ou, no caso, desinformação). Esse é um fruto indigesto de uma cultura que consome cada vez mais a própria informação sem nenhum critério para avaliar os detalhes que absorve. Estamos, tristemente, mais e mais atolados na era da desinformação descrita por Bill McKibben. E podemos sair desse cenário? Bem, Alain de Botton acha que sim. Mas não sem transformações radicais - e, na minha avaliação, praticamente impossíveis de serem alcançadas.

(...) Mas assim como o "mundo ideal" imaginado pelo autor está longe (longíssimo) de existir, a estupidez que vemos diariamente na internet - e que passa por notícia - é também uma ficção. Nesse sentido, as palavras de Botton são um bálsamo para quem acredita que ainda é possível reinventar uma sociedade baseada na verdade e na transparência.

No entanto, transparência é justamente algo que vemos cada vez menos na informação de hoje. Blogs e twitters contribuem cada vez mais para a confusão - e no meio de pequenos interesses, que só recompensam as más fontes de desinformação (e nunca o leitor / ouvinte / telespectador / internauta), só acrescentam ruído ao já cacofônico cenário do jornalismo. E nossa melhor chance é torcer para que as pessoas fiquem cada vez mais atentas às armadilhas da desinformação. (...)

Fonte: blog do Zeca Camargo, postado em 4/4/14.

terça-feira, 11 de março de 2014 | | 0 comentários

Racismo, uma luta desigual

Alguns tipos de violação de direitos humanos recebem, nos meios de comunicação, o tratamento combativo à altura, como se passa com os atos contra gays e lésbicas. O racismo ainda não merece o empenho proporcional à sua gravidade. O futebol o demonstra muito bem.

Os casos se sucedem, as páginas esportivas os noticiam, a cada um seguem-se críticas em partes de colunas, e logo se passa à espera do próximo episódio. Muito cômodo para as consciências, mas também resulta em uma forma de conivência com a continuidade da agressão desumana. (...)

Fonte: Janio de Freiras, “A lição do lixo”, Folha de S. Paulo, Poder, 9/3/14.

domingo, 2 de março de 2014 | | 0 comentários

Entrevista coletiva

Para quem acha romântico o trabalho (da) na imprensa, isto é o que chamamos de entrevista coletiva. Como o nome diz, é o momento em que um personagem (autoridade, celebridade, etc) fala a vários veículos de imprensa ao mesmo tempo. É o oposto da exclusiva.

As coletivas podem ser mais organizadas, em salas tipo auditório, ou do tipo quebra-queixo, como as vistas abaixo com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e o ex-presidente do Corinthians, Andrés Sánchez.

Haja preparo físico para segurar um microfone por longos minutos espremido no meio de tantos repórteres, cinegrafistas e fotógrafos. Haja calor! Haja paciência! Haja ouvido! Haja tudo!





domingo, 16 de fevereiro de 2014 | | 0 comentários

A morte de Santiago (1)

(...) Entendo quem enxerga espírito de corpo no noticiário inflamado dos últimos dias, mas, pelas circunstâncias, a morte de Santiago é diferente das anteriores. Ele foi a primeira vítima direta da violência dos "black blocs". As outras mortes registradas em protestos ocorreram por acidentes, como queda de viaduto e atropelamento.

É significativo também que Santiago estivesse ali a trabalho, exercendo o papel de informar o público. O exagero está em considerar a sua morte um atentado à liberdade de imprensa, como fizeram editoriais da “Folha” e do "Globo".

(...) É essencial manter o sangue-frio para não perder a isenção no dimensionamento das notícias, uma das funções mais importantes do jornalismo. Caio de Souza e Fábio Raposo devem ser punidos pela morte trágica que provocaram, mas sem linchamento midiático. (...)

Fonte: Suzana Singer, “Ação e reação”, Folha de S. Paulo, Ombudsman, 16/2/14.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014 | | 0 comentários

Provocações (2)

"A imprensa tem de saber onde está o limite do interesse público. A pessoa quando é condenada criminalmente perde uma boa parte dos seus direitos. Os seus direitos ficam em hibernação, até que ela cumpra a pena”. (...)

Segundo (Joaquim) Barbosa (presidente do Supremo Tribunal Federal), o Brasil assiste à "glorificação" de condenados por corrupção "à medida em que os jornais abrem suas páginas a essas pessoas como se fossem verdadeiros heróis".

Fonte: Leandro Colon, “Para Barbosa, réus merecem ostracismo”, Folha de S. Paulo, Poder, 28/1/14.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013 | | 0 comentários

"Dos que tanto amam odiar a imprensa"

Primeiro, eles acusavam a imprensa de ser um "partido de oposição" e pouca gente se incomodou. A acusação era tão absurda que não poderia colar. Numa sociedade democrática, relativamente estável e minimamente livre, os jornais vão bem quando são capazes de fiscalizar, vigiar e criticar o poder. O protocolo é esse. A normalidade é essa. Logo, o bom jornalismo pende mais para a oposição do que para a situação; a imprensa que se recusa a ser vista como situacionista nunca deveria ser atacada. Enfrentar e tentar desmontar a retórica do poder, irritando as autoridades, é um mérito jornalístico. Sendo assim, quando eles, que se julgavam aguerridos defensores do governo Lula, brandiam a tese de que a imprensa era um "partido de oposição", parecia simplesmente que os jornalistas estavam cumprindo o seu dever - e que os apoiadores do poder estavam simplesmente passando recibo. Não havia com o que se preocupar.

Depois, as autoridades subiram o tom. Falavam com agressividade, com rancor. A expressão "partido de oposição" virou um xingamento. Outra vez, quase ninguém de fora da base de apoio ao governo levou a sério. Afinal, os jornais, as revistas e as emissoras de rádio e televisão não se articulavam nos moldes de um partido: não seguiam um comando centralizado, não se submetiam a uma disciplina tipicamente partidária, não tinham renunciado à função de informar para abraçar o proselitismo panfletário. Portanto, acreditava-se, o xingamento podia ser renitente, mas continuava sendo absurdo.

Se os meios de comunicação tivessem passado a operar como partido unificado, com o intento de sabotar a administração pública, o que nós teríamos no Brasil seria um abalo semelhante ao que se viu na Venezuela em 2002.

(...) No Brasil, não tivemos nada parecido. Nossa imprensa, convenhamos, é preponderantemente de direita e, muitas vezes, apresenta falhas de caráter, algumas inomináveis, mas nunca se perfilou com a organicidade de um partido político. Por todos os motivos, a acusação continuava sem pé nem cabeça.

Mas o fato é que começou a colar e o cenário começou a ficar esquisito. Agora, as inspirações até então submersas daquela campanha anti-imprensa afloram com mais nitidez. (...) Na falta de uma oposição de verdade que pudesse servir de vilã cruel, na falta de um satanás mais ameaçador para odiar (a "herança maldita" de FHC não funciona mais como antagonista imaginária), querem fazer valer essa ficção ufanista de que o País vai às mil maravilhas, só o que atrapalha a felicidade geral é esse maldito partidarismo da imprensa. A tese pode ser doidona, mas está funcionando. Alguns quase festejam: "Viva! Achamos um inimigo para combater! Vamos derrotar os editores de política deste país!".

Deu-se, então, um fenômeno estranhíssimo: as forças instaladas no governo, como que enfadadas do ofício de governar, começaram a fazer oposição à imprensa. Dilma Rousseff jamais embarcou na cantilena, o que deve ser reconhecido e elogiado, mas está cercada de profetas que veem em cada redator, em cada fotojornalista, uma ameaça ao equilíbrio institucional. (...)

Fonte:
Eugênio Bucci, “O Estado de S. Paulo”, Opinião, 26/12/13, p. 2 (íntegra aqui).

quinta-feira, 7 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Imprensa: que fase!!!

Aperta o cerco contra a imprensa mundo afora. Na Argentina, a Justiça validou a chamada Lei de Mídia, orquestrada pelo governo Cristina Kirchner. Na Inglaterra, foi aprovada a regulamentação da imprensa.

E assim caminha a humanidade...

Pelo menos no Brasil parece ter virado pó a tentativa de censurar as biografias não autorizadas – refiro-me ao tal “Procure Saber”. Aliás, esta é (foi?) uma discussão descabida.

Alguém tem dúvida de que qualquer filtro ou limite (inclusive o sugerido pelo cantor Roberto Carlos, os tais “certos ajustes”) é censura? E que uma biografia só é possível quando baseada na liberdade de informar?

Antes que alguém questione o direito constitucional à privacidade, recorro a trecho de um artigo de Vinicius Mota publicado na “Folha de S. Paulo” de 4/11:

“Sim, a liberdade de expressão é também a liberdade de injuriar, caluniar e difamar. Para esses males, a lei determina remédios. Mas é sobretudo a liberdade de criticar e contar histórias e versões menos abonadoras sobre quem quer que seja. E de oferecê-las ao crivo do debate público".

quinta-feira, 24 de outubro de 2013 | | 0 comentários

"Liberdade de imprensa"

(...) Alberto Dines, premiado com o Cabot em 1970, também falou no simpósio. Ele apontou que é importante recordar o quanto as coisas mudaram para melhor no Brasil depois da ditadura militar, e, para (Mauro) König, o trabalho de Dines continua a ser um marco de integridade.

Porém o conflito fundamental entre a liberdade de expressão e o segredo governamental continua irresolvido. Resta o paradoxo de termos Edward Snowden refugiado na Rússia, país que não é exatamente um baluarte da imprensa livre, e Julian Assange refugiado na Embaixada do Equador em Londres, em um momento no qual o governo equatoriano adota novas leis que muitos dos presentes à cerimônia dos Prêmios Cabot veem como restritivas à liberdade de imprensa. (...)

Fonte: Kenneth Maxwell, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 24/10/13, p. 2 (íntegra aqui).

domingo, 29 de setembro de 2013 | | 0 comentários

Nós (mídia) x eles (juízes) - uma reflexão (provocação)

O ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), fez um desabafo no começo da semana a um velho amigo, José Reiner Fernandes, editor do "Jornal Integração", de Tatuí, sua cidade natal. Em pauta, críticas que recebeu antes mesmo de votar a favor dos embargos infringentes, que deram a réus do mensalão chance de novo julgamento em alguns crimes.

"Há alguns que ainda insistem em dizer que não fui exposto a uma brutal pressão midiática. Basta ler, no entanto, os artigos e editoriais publicados em diversos meios de comunicação social (os 'mass media') para se concluir diversamente! É de registrar-se que essa pressão, além de inadequada e insólita, resultou absolutamente inútil", afirmou ele.

(...) "Eu imaginava que isso [pressão da mídia para que votasse contra o pedido dos réus] pudesse ocorrer e não me senti pressionado. Mas foi insólito esse comportamento. Nada impede que você critique ou expresse o seu pensamento. O que não tem sentido é pressionar o juiz."

"Foi algo incomum", segue. "Eu honestamente, em 45 anos de atuação na área jurídica, como membro do Ministério Público e juiz do STF, nunca presenciei um comportamento tão ostensivo dos meios de comunicação sociais buscando, na verdade, pressionar e virtualmente subjugar a consciência de um juiz."

"Essa tentativa de subjugação midiática da consciência crítica do juiz mostra-se extremamente grave e por isso mesmo insólita", afirma.

(...) "A liberdade de crítica da imprensa é sempre legítima. Mas às vezes é veiculada com base em fundamentos irracionais e inconsistentes." Por isso, o juiz não pode se sujeitar a elas. "Abordagens passionais de temas sensíveis descaracterizam a racionalidade inerente ao discurso jurídico. É fundamental que o juiz julgue de modo isento e independente. O que é o direito senão a razão desprovida da paixão?"

O ministro repete: não está questionando "o direito à livre manifestação de pensamento". "Os meios de comunicação cumprem o seu dever de buscar, veicular informação e opinar sobre os fatos. Exercem legitimamente função que o STF lhes reconhece. E o tribunal tem estado atento a isso. A plena liberdade de expressão é inquestionável." Ele lembra que já julgou, "sem hesitação nem tergiversação", centenas de casos que envolviam o direito de jornalistas manifestarem suas críticas. "Minhas decisões falam por si."

Celso de Mello lembra que a influência da mídia em julgamentos de processos penais, "com possível ofensa ao direito do réu a um julgamento justo", não é um tema inédito. "É uma discussão que tem merecido atenção e reflexão no âmbito acadêmico e no plano do direito brasileiro." Citando quase uma dezena de autores, ele afirma que é preciso conciliar "essas grandes liberdades fundamentais", ou seja, o direito à informação e o direito a um julgamento isento.

O juiz, afirma ele, "não é um ser isolado do mundo. Ele vive e sente as pulsões da sociedade. Ele tem a capacidade de ouvir. Mas precisa ser racional e não pode ser constrangido a se submeter a opiniões externas." (...)

Fonte: Mônica Bergamo, “Nunca a mídia foi tão ostensiva para subjugar um juiz”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 26/9/13, p. 2.

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