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terça-feira, 29 de julho de 2014 | | 0 comentários

Uma via, uma cidade, um jeito de ser

Stuck in speed bump city
Where the only thing that's pretty
Is the thought of getting out
There's a tower block overhead
All you've got's your benefits
And you're barely scraping by

In this trouble town
Troubles are found
In this trouble town
Words do get 'round
(“Trouble Town”, de Iain Archer e Jake Bugg)

Se há um lugar que simboliza bem os contrastes de São Paulo é o elevado Costa e Silva, o famoso “Minhocão”. Ele é o retrato acabado do que a metrópole pretendia ser, do que ela é e do que poderia ser.

A longa via, que começa na avenida Francisco Matarazzo e vai até a região da praça Roosevelt, no Centro, é odiada por grande parte dos paulistanos, seja como solução viária ou pela brutal interferência que causou/causa na paisagem da cidade. Fica, por exemplo, praticamente grudada em prédios residenciais, o que a obriga a ser fechada sempre às 21h30.





Não é à toa que vira e mexe, numa frequência cada vez maior, discute-se a sua demolição.

Certa feita, comentei isto com um taxista, que defendeu a via de modo taxativo. “Ela está sim mal cuidada. Mas é importante, faz toda a ligação leste-oeste. A cidade não andaria sem ela”, apontou, com a experiência de quem passa a maior parte do seu dia no caótico trânsito paulistano.

Ao mesmo tempo, recebe o carinho de outra boa parcela da população, que mesmo criticando a função viária do elevado vê nele uma boa alternativa para tornar a cidade mais humana e atraente.

Como? Fazendo do famoso e polêmico “Minhocão” um parque urbano suspenso, nos mesmos moldes do High Line, feito em Nova York há alguns (poucos) anos.

A ideia é defendida por uma associação criada em 2013, conforme artigo publicado na “Folha de S. Paulo”:

Vislumbra-se a chance de ressignificar uma cicatriz urbana e psíquica com forte conteúdo de negatividade que afeta a autoestima dos habitantes há quatro décadas. 
A criação do parque favorecerá os elementos intangíveis da vida urbana: os espaços de lazer, de contemplação da paisagem, de afeto e de alteridade. As novas formas de economia criativa e colaborativa poderiam oferecer serviços como o aluguel de bicicletas e comida de rua, além de eventos sazonais.

Alguns testes, durante os finais de semana, mostram que a iniciativa poderia render bons frutos, como já mostrou a TV Cultura:



É preciso, porém, coragem e vontade política para levar o projeto adiante. A principal discussão é o que fazer com o trânsito sem a alternativa do elevado.

Talvez fosse o caso de buscar apoio e inspiração mesmo em Nova York. Depois do High Line, uma iniciativa que começou com a luta de duas pessoas apenas, agora a “bola da vez” é a antiga fábrica da Domino Sugar, no Brooklyn.

E já nasceu o movimento “Save Domino”.

E aí, "Salve o Minhocão"? Ou "Salve São Paulo"?

* Leia também (acrescentado em 14/8):

- O fim do Minhocão e outras notícias

quinta-feira, 3 de outubro de 2013 | | 0 comentários

Frase

"Quando um ônibus passa ao lado de carros engarrafados, temos um símbolo de democracia. O interesse coletivo está acima do particular."
Enrique Peñalosa, economista e ex-prefeito de Bogotá (Colômbia), em entrevista à “Folha de S. Paulo”

sexta-feira, 20 de setembro de 2013 | | 0 comentários

"É preciso diminuir o espaço dos carros"

O maior empecilho à ampliação da rede de ciclovias em cidades como São Paulo é a prioridade que os automóveis têm no trânsito urbano, afirma o arquiteto e urbanista Fabiano Borba Vianna, mestre pela USP (Universidade de São Paulo) e professor da PUC/PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

"O espaço público não foi delegado ao automóvel, mas os carros o foram ocupando quase por completo. Hoje, vemos que pedestres e ciclistas brigam para retomar um espaço que já foi deles. O automóvel tem de ceder um pouco de espaço a todos os demais modelos de transporte", disse.

Para ele, a resistência de administradores públicos em decidir tomar espaço dos automóveis em favor de outras modalidades de transporte é uma barreira maior para a criação de ciclovias do que fatores como topografia ou custo.

"Falta decidir que o espaço das ruas tem de ser compartilhado entre carros, pedestres e ciclistas. Em outras palavras, é preciso diminuir o espaço do automóvel. E esse é um fator que barra a expansão [do uso da bicicleta como meio de transporte], pois não é decisão simples, principalmente no centro das grandes cidades", afirmou. (...)

Fonte: Rafael Moro Martins, “’É preciso diminuir o espaço ocupado pelo automóvel’, diz urbanista”, UOL, postado em 20/9/13.

terça-feira, 17 de setembro de 2013 | | 0 comentários

"Melhorar o trânsito sem fazer obras"

O trânsito é uma quimera tão dominante no mundo de hoje que é normal as pessoas acharem que dá para reduzir congestionamentos com muito dinheiro: avenidas novas, pontes sobre vales, minhocões por cima dos gargalos... Mas estudiosos já chegaram a duas certezas: grandes obras viárias provocam mais congestionamentos ao invés de resolver os existentes. E soluções simples, que atuam sobre o hábito das pessoas, têm custo baixo e ajudam a diminuir o número de carros na rua.

As medidas chamadas de TDM (do inglês "Traffic Demand Management", gestão de demanda do trânsito) incluem providências como escalonar horários de trabalho; incentivo a carona e ao transporte público; adoção do expediente em casa etc.

Na quinta-feira, 19, serão apresentados na Virada da Mobilidade os resultados de um programa de TDM coordenado pelo Banco Mundial em São Paulo, que pode melhorar o trânsito com ações simples e de baixo custo. O estudo-piloto aconteceu na avenida Berrini, lugar da cidade onde mais carros circulam só com o motorista e o congestionamento é tão grande que invade as garagens (os carros chegam a levar meia hora para sair do prédio).

O trabalho foi pilotado por Andrea Leal, especialista em políticas públicas e coordenadora de projetos do organismo internacional. Foram escolhidos dois grandes condomínios na av. Berrini: o WTC e o Cenu. De 80 empresas com escritórios nesses prédios, 20 aderiram ao projeto e passaram a trabalhar junto aos funcionários para mudar hábitos. Foram oferecidas opções como uso de caronas (parceria com o site caronetas.com.br), linhas de ônibus fretados, horário de trabalho flexível, incentivo ao uso de bicicletas, programas de trabalho doméstico...

Entre os resultados mais animadores estão os de uma ação simples: o hotel Hilton local apresentou a cada funcionário as melhores rotas de transporte público de sua casa ao trabalho. "Ficou provado que a informação é uma ferramenta poderosa para a mudança de hábitos", diz Andrea. Outra medida de impacto na redução do uso do carro foi deixar de cobrar a parcela de 6% dos empregados no custo do Vale Transporte.

Também utilizaram menos o automóvel aqueles funcionários que aderiram ao "home office": quem passou a trabalhar em casa (todos ou alguns dias) reduziu em 20% sua necessidade do carro para outras tarefas. Já a adesão à carona foi menor do que esperavam os organizadores, a partir de pesquisas, o que sugere a necessidade de melhorar o sistema de oferta nos próximos projetos.

(...) Numa cidade cansada de ver grandes obras viárias associadas a irregularidades, é bom saber que medidas de custo irrisório podem funcionar contra o trânsito.

Fonte: Leão Serva, “Folha de S. Paulo", Cotidiano, 16/9/13 (íntegra aqui).

Leia também:

terça-feira, 27 de agosto de 2013 | | 0 comentários

Proibido estacionar! (2)

Parou em lugar errado ou cometeu alguma outra irregularidade no trânsito? Dançou!


O flagrante foi feito em Nova Orleans (EUA).

Em tempo: a punição por estacionamento irregular foi rigorosa também na Filadélfia, conforme já mostrei neste blog.

* A foto é de Carlos Giannoni de Araujo

segunda-feira, 15 de abril de 2013 | | 0 comentários

Bestas ao volante

(...) O carro faz parecer que existia outro personagem que não o próprio condutor. Porém a lataria não pode ocultar o personagem e o Renavam não pode esconder a habilitação. O insulfilm não tem como mascarar o rosto e o deslocamento não tem como deixar para trás o que foi feito.

Porque fechar outro carro é como empurrar alguém no meio da rua. Porque buzinar é como chegar e gritar no ouvido do outro. Porque acelerar em direção a um pedestre é como levantar a mão em ameaça ao próximo. Porque estacionar trancando o outro é produzir um cárcere privado. Porque ultrapassar perigosamente é como sair armado.

(...) Sinal de que no carro somos outra pessoa, mais perigosa. Sinal de que nossa consciência assume que tem menos responsabilidade dentro do que fora dessa entidade.

O condutor é uma consciência e uma consciência é um bicho vestido. As sensações de anonimato e de que o pequeno espaço de nossa carroceria é privado fazem o bicho se despir como ele não faz do lado de fora. E o que vemos pela cidade são respeitáveis senhores e senhoras como bichos atrelados a um volante.

Dão vazão a violências que fora, vestidos, não dariam. Além das agressões e abusos que produzem, saem dos seus carros piores pessoas diante de suas próprias consciências. Seguem a rotina como se nada tivesse acontecido, mas trouxeram para dentro de sua casa, de sua alma, marcas de pneus. (...)

Fonte: Nilton Bonder, “Autoviolência”, Folha de S. Paulo, Opinião, 14/4/13, p. 3.

segunda-feira, 23 de julho de 2012 | | 0 comentários

Flagrante

Local: Shopping Piracicaba. Data: domingo, 22/7.

Estacionamento lotado, o cidadão apelou ao famoso "jeitinho brasileiro".


Fala a verdade, tem gente folgada, não?


Depois os brasileiros ficamos incomodados quando nos criticam pelo tal "jeitinho"...

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012 | | 0 comentários

O pedestre e o trânsito: a questão do espaço público

Por incrível que pareça, já estamos em janeiro - a avenida Paulista ainda fica congestionada pela romaria de paulistanos e turistas atrás de Papai Noel e pinheiros iluminados. Foi, talvez, o maior presente que a cidade recebeu no ano passado.

A crítica do Ministério Público Estadual contra a interdição da via pela prefeitura, por "priorizar o pedestre", é das mais desafortunadas dos últimos tempos. Não me lembro de nenhuma defensoria declarar "ilegal" a submissão de todas as políticas públicas dos últimos 70 anos aos carros. As vias de acesso secundárias aos hospitais da região sempre funcionaram em paradas gays e afins.

Podemos lamentar que, enquanto a gratuita Bienal de 2010 vivia com corredores vazios, nossas multidões infantilizadas não se cansem de "Jingle Bell" e decorações cafonas (mas Natal de verdade é sempre kitsch).

Mas a muvuca natalina rompeu um dos grandes tabus paulistanos. Tirou milhares de pessoas de frente da TV e das telenovelas idiotizantes para caminhar na rua e à noite. O paulistano está sedento de espaço público, de bater perna e de ter programas que não saiam a R$ 100 o ingresso.

Nas Ramblas, na Times Square, na Florida ou na Trafalgar Square isso é normal. Aqui, é uma mudança bem-vinda. Lembro que quando foi sugerida a Virada Cultural, nos moldes da parisiense Nuit Blanche, muita gente na prefeitura apostava que seria "impossível" levar milhares de pessoas ao centrão madrugada adentro. Estava errada.

A conquista do espaço público é pedagógica e deveria ser estimulada. Mas, no próximo Natal, que tal se o metrô ficasse aberto até a 1 h e o uso do carro nas imediações fosse desestimulado?

P.S.: Já morei na Paulista. Quem se mudou para a avenida nos últimos 30 anos sabia que havia trânsito, multidões nas calçadas, manifestações - o que a faz a mais viva das vias paulistanas. Felizmente ainda existe um lugar assim nesta encastelada cidade.

Fonte: Raul Juste Lores, “O Natal continua”, Folha de S. Paulo, Opinião, 4/1/12, p. 2.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011 | | 0 comentários

Flagrante italiano 13

Já que falei do assunto logo abaixo, que tal a solução italiana para encontrar mais espaços no caótico trânsito brasileiro?


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O custo milionário do trânsito violento

As mortes por acidentes de trânsito deixaram um prejuízo estimado de pelo menos R$ 22,113 milhões este ano, em Limeira. O valor tem como base o custo médio por morte em acidente – de R$ 567 mil - calculado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao governo federal.

Até novembro, a cidade registrou 38 casos de homicídio culposo (sem intenção) por acidente de trânsito. Como houve mais uma morte no trânsito em dezembro, chegou-se ao valor de pouco mais de R$ 22 milhões.

Os dados de acidentes são da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) e podem ser vistos aqui. Eles consideram apenas as mortes ocorridas no local do evento. Um levantamento paralelo feito pelo jornal “Gazeta de Limeira”, e que considera também as mortes ocorridas no hospital e nas rodovias que cortam o município, apontou 36 vidas perdidas só no primeiro semestre deste ano (leia aqui).

Considerando o levantamento do jornal, Limeira registrou nos últimos dez anos uma média anual de 53 mortes no trânsito. Isso significa um prejuízo acumulado em uma década de incríveis R$ 300,5 milhões em valores atualizados – o que representa 40% do orçamento do município para 2012.

O custo por morte em acidente estimado pelo Ipea leva em consideração despesas diretas - como as de socorro, atendimento hospitalar e danos aos veículos - e também indiretas, como a perda de produção (que representa 60% do prejuízo) por morte ou incapacidade permanente.

Em todo o Brasil, segundo reportagem do jornal “Folha de S. Paulo”, o custo dos acidentes este ano deve chegar a R$ 14,5 bilhões. O valor considera só as ocorrências nas estradas federais. Até agosto, foram 4.768 acidentes com mortes, 43.361 com feridos e 79.430 sem feridos (leia mais aqui - é preciso ter senha do jornal ou do UOL).

Já Limeira registrou 1.735 lesões por acidentes de trânsito este ano, até novembro (média superior a cinco por dia), conforme os dados da SSP.

O Brasil ocupa a quinta posição no ranking mundial de mortes por acidentes de trânsito, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). Em agosto, o país chegou a propor um plano nacional para redução dos acidentes. Ele deveria entrar em vigor em setembro, mas até agora praticamente nada foi feito (leia mais aqui).

Acima e além de qualquer estimativa, porém, existem famílias que choram a perda de entes queridos. Pais quer perdem seus filhos, filhos que ficam órfãos, perdas que comprometem a renda da família, o futuro e os sonhos das pessoas. É, antes de tudo, isto que deve pesar, muito mais do que qualquer custo.

Só para se ter uma ideia da gravidade da situação, o trânsito representa, disparadamente, a principal causa de morte violenta em Limeira. Morreram em acidentes este ano mais que o dobro de pessoas do que em assassinatos (que apresentaram 16 vítimas até novembro, incluindo um latrocínio, de acordo com a SSP).

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011 | | 0 comentários

Alternativa nova-iorquina

Vem de Nova York (EUA) uma dica para as médias e grandes cidades brasileiras enfrentarem um dos efeitos colaterais do excesso de veículos nas ruas: a falta de lugares para estacionar.





Que tal?

domingo, 7 de agosto de 2011 | | 0 comentários

Mais sobre o trânsito criminoso brasileiro

Impossível não ficar perplexo com o vídeo de um discurso de formatura que está circulando nas redes sociais.

Na cerimônia de formatura da faculdade de administração da ESPM no ano passado, o orador falou sobre um colega de turma que morreu porque, na volta de uma festa, perdeu o controle do automóvel. A partir do episódio, ele construiu imagens sobre os mistérios da vida e a importância da cautela e da responsabilidade. Finalizou o vídeo associando-o a suas carreiras e ao que teriam de enfrentar para dirigir uma empresa.

O orador era Vitor Gurman, morto há duas semanas, na Vila Madalena, por um automóvel que tinha 26 multas, dez das quais por excesso de velocidade. Ele voltava a pé para casa justamente porque não tinha ido de carro a uma festa, prevendo que iria beber.

Essa tragédia com jeito de ficção envolve mais uma coincidência: ocorre às vésperas do início da ofensiva, na cidade de São Paulo, para multar motoristas que não respeitam os pedestres.

Acidentes desse tipo no Brasil são rotina. Apenas nesta semana, em pleno século 21, começa na cidade de São Paulo a ofensiva para multar motoristas que não obedecem, por exemplo, à rudimentar faixa de segurança.

Na cidade de São Paulo, no semestre passado, morreram atropeladas duas pessoas por dia, em média. Acidentados no trânsito foram, nesse período, 72 casos diários.

Para ver como uma expressiva maioria desses acidentes seria facilmente evitável, basta conhecer o resultado de um programa experimental realizado desde maio em São Paulo. Numa preparação para as multas que começarão (ou deveriam começar) a ser aplicadas amanhã, realizou-se uma ação educativa em 38 cruzamentos das regiões centrais. Resultado: o número de atropelamentos caiu 69%.

Bastou, portanto, uma leve sensação de punição para menos gente ser atropelada.

Há uma cadeia de tolerância por trás do massacre. Considera-se muita coisa normal. Quando são publicadas as estatísticas de crime, mesmo nós, da imprensa, quase não damos destaque ao que ocorre no trânsito. As manchetes recentes foram para o aumento do latrocínio (47 casos) no semestre, o que equivale a 10% do número de pessoas que morreram atropeladas.

Considera-se normal a publicidade de automóveis que estimula o culto da alta velocidade. Associa-se, assim, o carro (e sua potência) a sucesso, sexo, poder - e por aí vai.

Celebridades não se constrangem (e quase não são constrangidas) por emprestarem sua imagem à venda de bebida alcoólica. Provocaram muito mais debate os comentários de Sandy sobre sexo anal do que o fato de ela emprestar sua imagem de boa moça, responsável, para promover uma marca de cerveja.

Não preciso aqui explicar a relação entre o álcool e os acidentes de trânsito, que mataram gente como Vitor ou seu amigo da faculdade.

Anunciam-se leis mais duras para coibir a mistura de álcool com direção, mas, com o tempo, elas deixam de funcionar.

No Brasil, achamos normal haver calçadas que não servem para pedestres: estreitas, esburacadas, muitas vezes usadas para carros estacionarem. Vemos bairros com milionários empreendimentos imobiliários em que não há preocupação com a construção de uma calçada.

Se quiser medir a taxa de civilidade de uma cidade, veja o tamanho de sua calçada. E, se quiser medir a cidadania de um país, pode usar como indicador o número de pedestres mortos.

O que ocorre em nosso trânsito são casos tão absurdos que, daqui a não muito tempo, quando olharmos para trás, não vamos sequer entender como os toleramos. É como vemos hoje a mulher não ter direito de votar, crianças serem obrigadas a trabalhar, negros serem escravos ou alguém fumar no avião.

O impacto da morte de Vitor, gerando repercussão entre jovens formadores de opinião - neste domingo, seu nome vai estar estampado na camisa do Corinthians -, certamente terá um efeito pedagógico na criação de uma comunidade mais responsável.

PS - Um dos maiores prazeres que tenho de morar nos Estados Unidos é poder flanar pela cidade com o direito de ficar distraído. Os motoristas não se comportam melhor lá porque são mais bonzinhos do que os nossos motoristas. É que eles sabem o tamanho do problema que terão pela frente se matarem ou ferirem alguém. Existe até quem queira punir os pedestres por não respeitarem o sinal verde dos motoristas.

Fonte: Gilberto Dimenstein, "O crime das mortes evitáveis", Folha de S. Paulo, Cotidiano, 7/8/11.

segunda-feira, 21 de junho de 2010 | | 0 comentários

Radares + agentes = 7.810 CNHs notificadas em Limeira

Em menos de cinco anos, mais de sete mil motoristas de Limeira tiveram a carteira de habilitação (CNH) suspensa ou cassada. São exatamente 7.810 entre 2006 e junho deste ano. Isso dá uma média de 145 por mês, quase cinco por dia. Os dados foram obtidos a partir das listas de CNHs notificadas pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

Considerando que das oito listas de 2006, apenas duas estavam disponíveis no site do Detran, na prática a média de CNHs notificadas em Limeira é bem maior. Em tempo: o site disponibiliza dados a partir de 2005, mas o acesso às duas listas daquele ano apresentou erro.

Uma checagem na lista de CNHs notificadas pelo Detran revela uma situação que os limeirenses vivenciam diariamente: a explosão das multas após o aumento da fiscalização do trânsito nos últimos dois anos. Até 2008, a cidade tinha dois radares móveis para fiscalizar todas as suas vias. A partir de então, novos equipamentos foram alugados, tanto móveis quanto fixos (novos contratos foram assinados recentemente, como se pode ver nas postagens abaixo ou clicando aqui).

Além disso, um pelotão de agentes de trânsito foi formado e colocado nas ruas (leia mais aqui).

Resultado: de uma média anual de 1.267 notificações em 2007 e 2008, houve um salto para 3.000 em 2009 – 137% a mais. Este ano, em apenas seis meses, já foram 2.166 (a média mensal saltou de 105 entre 2007/2008 para 250 em 2009 e incríveis 361 este ano).

A soma de maior fiscalização com imprudência de motoristas resultou num aumento de 243% na média mensal de CNHs notificadas em Limeira em quatro anos. De algum modo, criou-se uma verdadeira “fábrica de multas” na cidade (ressalvando a observação já feita na postagem anterior de que os motoristas limeirenses cometem muitos abusos diariamente).

Só para se ter uma ideia, Piracicaba – que tem 377 mil habitantes, ante 286 mil de Limeira, segundo o Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) - registrou este ano, também até junho, 1.960 CNHs notificadas, média de 326 por mês. Bauru - com 366 mil moradores - teve 1.844 notificações, média mensal de 307.

CNHs notificadas
2010
.......... 2.166 (até junho)
2009 .......... 3.000
2008 .......... 1.297
2007 .......... 1.238
2006 .......... 109 (em duas listas de oito)

* Para acessar a lista de CNHs notificadas no site do Detran, clique aqui.

PS: Limeira ganhou este ano 3.089 veículos novos, 800 deles motos (25% do total), conforme os dados de lacração do Detran (clique
aqui para ver).

quarta-feira, 16 de junho de 2010 | | 0 comentários

Multar em Limeira custa caro

A Prefeitura de Limeira gasta pelo menos R$ 244.553,00 por mês com recursos para aplicação de multas. São R$ 111.666,00 com o aluguel de oito radares estáticos para controle de velocidade (custo total anual de R$ 1,340 milhão, contrato assinado com a Engebrás S/A Indústria, Comércio e Tecnologia de Informática no dia 25 de maio).

Além disso, são gastos mais R$ 21.700,00 por mês com serviços técnicos de “processamento, administração e gerenciamento de multas de trânsito” aplicadas pelos agentes (total anual de R$ 260.400,00, contrato assinado com a Cobrasin Brasileira de Sinalização e Construção Ltda. no dia 7 de junho).

E tem outros R$ 111.186,90 com "execução de serviços de operação, manutenção e instalação de fiscalizadores de trânsito" - ou mais precisamente radares fixos para controle de velocidade em 55 faixas (custo total anual de R$ 1,334 milhão, contrato com a mesma Engebrás S/A prorrogado no dia 14 de abril).

Tendo um gasto fixo mensal de quase R$ 250 mil com equipamentos e sistemas para aplicação e gerenciamento de multas de trânsito, pode-se supor que a Prefeitura de Limeira procura arrecadar valor igual ou superior para custear estas atividades. De que forma? Aplicando multas?

Não quero sugerir aqui haver em Limeira uma “indústria de multas”. Basta uma volta pela cidade para averiguar uma sequência de abusos no trânsito (vide a foto abaixo de um motorista que parou o trânsito na Rua Alberto Ferreira, no Centro, porque ao sair do Sempre Vale não quis dar a volta pela Rua Carlos Gomes, optando por uma conversão proibida – que teve dificuldades de realizar).

No entanto, não deixa de soar estranho um gasto relativamente alto para punir os infratores no trânsito. No caso do contrato com a Cobrasin, seria inclusive uma espécie de “terceirização” do gerenciamento das multas.

Em tempo: os extratos dos dois primeiros contratos citados nesta postagem foram publicados no Jornal Oficial do Município desta quarta-feira, 16/6; o do terceiro saiu no Jornal Oficial de sexta-feira, 18/6.

PS: dados atualizados em 20/6.

sexta-feira, 23 de abril de 2010 | | 1 comentários

Prefeitura de Limeira comete infração de trânsito

Terça-feira, 20 de abril. Véspera de feriado. Eram 10h30. Estava me dirigindo para o trabalho quando parei no semáforo localizado no cruzamento da Rua Amorim com Avenida Santa Bárbara, em Limeira. À frente, um caminhão vermelho, placa BWF 5788, com carroceria.

Enquanto esperava a abertura do sinal, reparei que dentro do compartimento traseiro havia algo além de mato – provavelmente fruto de podas. Lá estavam dois trabalhadores. Duas pessoas sendo transportadas IRREGULARMENTE. Não hesitei: peguei o celular (este instrumento que pode ser usado para ações de cidadania) e bati a foto. A qualidade da imagem não ficou muito boa, visto que o sol estava frontal e fiz tudo isso rapidamente para evitar a abertura do sinal (o que, aliás, ocorreu em seguida).

Ainda tive tempo de pegar uma caneta e anotar a placa e o número do caminhão (308). Só quando o trânsito andou e fui fazer a curva, porém, vi a identificação do dono do veículo: PREFEITURA DE LIMEIRA.

Um veículo oficial do município acabava de ser flagrado cometendo uma infração grave de trânsito (artigo 235 do Código de Trânsito Brasileiro) – e, no mais, uma infração à dignidade do trabalhador (o que, aliás, o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais deveria apurar).

“Art. 235. Conduzir pessoas, animais ou carga nas partes externas do veículo, salvo nos casos devidamente autorizados:
Infração - grave;
Penalidade - multa;
Medida administrativa - retenção do veículo para transbordo.”


Já no trabalho, liguei para a Assessoria de Comunicações da prefeitura e informei o ocorrido. Deixei claro, inclusive, que eu tinha fotografado a situação.

Em pouco tempo veio a resposta. Inacreditável. A prefeitura conseguiu cometer dois “crimes” ao tentar justificar o injustificável: 1) negou e admitiu a situação ao mesmo tempo (como se isso fosse possível...); e 2) considerou justificável cometer um deslize (uma infração passível de multa!) por pouco tempo (ou mais precisamente por um percurso pequeno, como teria alegado o motorista do caminhão).

Ora, se a administração municipal considera cabível que uma infração seja cometida, ainda que por pouco tempo, como pode cobrar multa de alguém que esteja, por exemplo, acima do limite de velocidade? E se esta pessoa excedeu o limite apenas por “poucos metros”, justamente onde estava o radar?

Algum entendido poderia explicar?

Para que não pairem dúvidas, eis a resposta enviada pela prefeitura por e-mail (omiti os nomes dos assessores porque eles não têm nada a ver com a história, apenas repassaram a resposta. Em tempo: os grifos são meus):

"----- Original Message -----
From:
RP
To:
Fatos e Notícias ; TV Jornal
Cc:
imprensa@limeira.sp.gov.br
Sent: Tuesday, April 20, 2010 12:43 PM
Subject: AC Rodrigo - Caminhão com trabalhadores

Boa tarde, Rodrigo.

A XXXXX me passou seu questionamento referente a um caminhão que estaria transportando trabalhadores sobre a carroceria. Segue resposta da Secretaria de Obras e Serviços Urbanos:

O caminhão é da Secretaria de Obras, porém presta serviços à Secretaria do Meio Ambiente, com equipe do Meio Ambiente. Esta equipe estava trabalhando no recolhimento de material de poda, mas não estava transitando com pessoas na carroceria. O que ocorre é que para fazer o recolhimento de galhos, dois trabalhadores ficam no solo e dois ficam na carroceria para receber o material entregue pelos dois primeiros.


Como são poucos metros de distância entre um material a ser recolhido e outro, o motorista do caminhão informou que percorre estes poucos metros com pisca-alerta ligado e com os dois trabalhadores na carroceria, para que não tenham que subir e descer o tempo todo.

Mesmo assim, a Secretaria de Obras e Serviços Urbanos notificou o motorista para que isso não ocorra mais.

Assessoria Geral de Comunicações
Prefeitura de Limeira"


Acho que não seria preciso, mas já que a prefeitura citou textualmente que o dito caminhão “não estava transitando com pessoas na carroceria”, decidi dar um close na imagem para tirar a dúvida se eram pessoas ou não aquilo que eu vi.

Em tempo 1: naquela hora, o motorista deve ter esquecido de acionar o pisca-alerta, pois ele não estava ligado. Aliás, acionar o pisca-alerta permite que alguém cometa uma infração de trânsito por poucos metros?

Em tempo 2: para quem não conhece Limeira, o trecho em questão fica em pleno Centro, cruzamento de vias movimentadas (além das duas já citadas, tem-se acesso às ruas Piauí e Santa Terezinha). Até onde sei, não há pontos com mato algo na região que justificassem os “poucos metros” transportando os trabalhadores na carroceria “para que não tenham que subir e descer o tempo todo”.

PS: é necessário esclarecer uma outra infração visível pela foto. Reparem que o semáforo está no vermelho e o caminhão parado sobre a faixa de pedestres. É que o veículo da prefeitura já tentava a travessia quando um ônibus à frente teve dificuldades para fazer a curva e teve que manobrar. Diante disso, o sinal acabou fechando e o caminhão ficou no local impróprio, já que não podia mais dar ré.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010 | | 0 comentários

Frota limeirense

Flagrantes do trânsito de Limeira...