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terça-feira, 24 de setembro de 2013 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 04:47 | 0 comentários
O casamento é mera burocracia
"Deficiente intelectual precisa de autorização para
casar?", foi a pergunta da “Folha” do
último sábado. Acredito, porém, que existe uma questão mais geral que a
antecede: por que as pessoas ainda insistem em se casar?
Calma, não estou advogando pelo fim do amor, da família ou
das instituições sociais. O ponto central aqui é que o casamento desempenha
hoje duas funções bastante distintas.
A primeira é puramente contratual. Trata-se de regular as
relações jurídicas decorrentes das uniões entre pessoas, notadamente obrigações
para com filhos, sucessões etc. Essa é, sem dúvida, uma atribuição do Estado,
mas, como provam as chamadas uniões consensuais, esse tipo de controle pode
perfeitamente ser feito a posteriori. Hoje ninguém precisa mais pedir ao poder
público uma licença para procriar para que os filhos sejam considerados
legítimos.
A outra função é mais etérea e tem a ver com o
reconhecimento social do matrimônio e suas implicações para o status dos
envolvidos. O Estado aqui é totalmente dispensável. Na verdade, tudo ficaria
muito mais simples se o poder público parasse de lidar com casamentos e
tratasse exclusivamente de uniões civis, deixando os aspectos sociais para
igrejas, famílias e círculos de amigos.
(...) Ainda que sem alarde, esse movimento já está em curso. (...)
Marcadores: casamento, comportamento, Hélio Schwartsman, relacionamento, sociedade
quinta-feira, 16 de junho de 2011 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 21:46 | 0 comentários
Casamentos mundo afora
Já que postei um texto sobre casamentos (abaixo) e postarei a seguir um poema que cita o amor, vou mostrar aqui alguns casais que cruzaram meu caminho durante viagens.
Primeiro na Filadélfia, nos EUA:
E depois em Milão, na Itália:
| Postado por Rodrigo Piscitelli às 06:31 | 0 comentários
Reflexões sobre o casamento
No domingo passado, Dia dos Namorados, um amigo mandou flores para sua mulher com este bilhete: "Posso ser seu namorado ou continuo sendo apenas seu marido?".
A frase foi bem recebida. É que, para nós, "namorado e namorada" pode ser muito mais do que "marido e mulher". Em regra, nossa cultura romanceia o namoro, mas imagina o casamento como uma tragicômica "tumba do amor".
Na última sexta, na Academia de Ideias de Belo Horizonte, durante um bate-papo com João Gabriel de Lima sobre meu último livro, ao falar de amor e casais, eu propus o seguinte: 1) todos tendemos a amarelar diante de nosso próprio desejo; 2) o casamento nos permite acusar alguém de nossa própria covardia - assim: eu quero fazer isso ou aquilo, mas tenho preguiça e medo; por sorte, agora que me casei, posso dizer que desisto porque assim quer minha parceira; 3) um casal, para valer a pena, não deveria servir para justificar as desistências de nenhum de seus membros; ao contrário, ele deveria potencializar os sonhos e os desejos de cada um dos dois.
Uma mulher me lembrou, com razão, que até esse tal casal que vale a pena pode acabar. E perguntou: por quê?
Existe uma sabedoria popular resignada sobre a duração de um casal. Os sentimentos do namoro viveriam, no casamento, uma decadência progressiva inelutável. E os casais continuariam unidos mais por inércia do que por gosto.
Alguns dizem que a rotina e a proximidade desgastam os sentimentos. Ou seja, o apaixonamento sempre é fruto de alguma idealização, e de perto ninguém parece ideal por muito tempo. Será que o remédio seria manter a distância para não enxergar as falhas do outro?
Respondo: amar não significa não enxergar os defeitos do outro, mas achar graça neles. Uma amiga perde um celular por semana; ela sabe que uma relação amorosa está acabando no dia em que seu homem, em vez de achar graça na sua desatenção, irrita-se com seu descuido.
Outros acusam o tédio. A novidade (valor mor da modernidade industrial) seria o ingrediente essencial (e, por definição, efêmero) do casal feliz. Ou seja, felizes são só os recém-casados.
Respondo: todos nós, neuróticos, amamos a repetição e a praticamos com afinco. A rotina, portanto, não deveria nos afastar do amor.
Volto, portanto, à pergunta: por que um casal acaba? Levantei a questão no Twitter, e @M_Angela_ Jesus me escreveu que, segundo Anaïs Nin, os casais não morrem nunca de morte natural, mas por falta de cuidados, de atenções e de esforços.
A citação me levou a pensar nos meus próprios casamentos fracassados; não cheguei a resultado algum, salvo o fato de que não deveríamos chamar necessariamente de fracasso um amor que acaba; erigir a duração em valor é uma ideia perigosa, que pode transformar separações bem-vindas e necessárias em processos laboriosos e infinitos.
No meio dessas reflexões, no domingo, fui assistir a "Namorados para Sempre", de Derek Cianfrance, que me tocou fundo, por ser justamente a história de um amor que não é mais possível. Isso, sem que os protagonistas consigam saber por que "não dá mais": nenhum deles é o vilão da crise, e nenhum deles é capaz de dizer o que está errado e deveria mudar para que o casal tivesse uma chance.
A julgar pela idade aparente da filha, o casal do filme dura há mais ou menos cinco anos. Em cinco anos, os namorados que, no primeiro encontro, haviam dançado e cantado na rua, cheios de alegria e de encantamento, transformaram-se num casal de estranhos que se encaram antes de se enxergar.
O que aconteceu? Não há resposta. Essa é a força do filme, que acua cada espectador a se perguntar o que foi que aconteceu a cada vez que ele ou ela amou, e o amor se perdeu.
Não é preciso que haja discordância brutal, traição ou desamor para que um casal se perca. Claro, é sempre possível racionalizar e apontar causas: no caso do filme, ao longo dos cinco anos, talvez ela tenha "crescido" profissionalmente (como se diz) e alimente agora ambições que ele não pode compartilhar porque, para ele, o casamento e a filha continuam sendo as únicas coisas que importam. Pode ser.
Mas talvez o fim de um amor seja um fenômeno tão misterioso quanto o apaixonamento. Talvez existam duas mágicas opostas, igualmente incontroláveis, uma que faz e outra que desfaz.
Fonte: Contardo Calligaris, “Por que acaba um casal?”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 16/6/2011, p. 8.
Marcadores: amor, casamento, comportamento, Contardo Calligaris, relacionamento
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