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terça-feira, 15 de abril de 2014 | | 0 comentários

A arca de Noé

“Noé” é um filme ruim. Ponto.

As licenças poéticas do diretor Darren Aronofsky são primárias, extremamente inverossímeis (há verossimilhança possível em se tratando da Bíblia?, diria um provocativo colega de trabalho ateu) e até risíveis (os guardiões de pedra, por exemplo).

Feita a ressalva, o filme merece alguns comentários. Deixo claro que não sou conhecedor de cinema, falarei apenas como mero espectador. “Noé” me pareceu dogmático em demasia.

Fica clara (não de modo positivo e sim no sentido de subestimar a inteligência do espectador) a intenção de transmitir a mensagem de que o ser humano foi o responsável pela destruição do planeta uma vez e está caminhando para o mesmo rumo. As lições de moral introduzidas nas falas do personagem-título não deixam margem para dúvida tamanha a falta de sutileza dos diálogos.

O filme se desenrola durante duas horas mediante este propósito para tomar, no final, a previsível mensagem de esperança depositada na raça humana. O homem é capaz de decidir pelo caminho “certo”. Temos uma chance, ufa!

Mas se tudo é tão ruim, por que comentar o filme? Porque algo salva “Noé” – e não se trata de Deus ou da arca propriamente. Em que pese a primariedade dos diálogos, que atiram sem dó na cabeça do espectador as intenções do discurso, “Noé” apresenta um interessante questionamento a respeito “liberdade da vontade”, como chamou o filósofo Luiz Felipe Pondé em artigo na “Folha de S. Paulo”.

Cabe a Noé, o personagem, decidir entre cumprir o que ele julga ser a vontade – e a ordem – de Deus ou seguir seu coração e, o que se provará no fim, sua vontade.

A solução, como já mencionei, é previsível. Mas ainda assim vale a reflexão proposta (por mais que o espectador deixe o cinema com a nítida sensação de que seria possível tratar do tema de modo menos fantástico).

Vale, então, a pena assistir? Depende de qual é o seu objetivo. Pela diversão, não. Para refletir, quem sabe.

PS (serei vulgar porque o enredo do filme pede): considere que a humanidade quase acabou porque um dos filhos de Noé não conseguiu dar uma simples trepadinha. Pobre Ham...! 

Em tempo: esta foi apenas mais uma das licenças poéticas do diretor.

domingo, 9 de março de 2014 | | 0 comentários

Um retrato do mundo atual

“A preocupação central do autor de O Espírito das Leis era, porém, com a degradação do espírito geral das Nações, com a vitória dos vícios sobre as virtudes. Infelizmente, esse parece ser um cenário cada vez mais visível, eis que, ao lado do progresso material, se distingue na estampa internacional um quadro de exaustão, cujos matizes agregam fatores como quebra da lei e da ordem, anarquia crescente, Estados fracassados, ondas de criminalidade, máfias transnacionais, debilitação da família, declínio da confiança nas instituições, cartéis de drogas, enfim, o paradigma do caos.

Fonte: Gaudêncio Torquato, “Era uma vez... mil vezes – O Brasil de todos os vícios”, ed. Topbooks: São Paulo, 2012, p. 73.

terça-feira, 14 de maio de 2013 | | 0 comentários

Muito prazer, Lucy!

Meu primeiro encontro com Lucy foi em setembro de 2009 em Nova York, nos Estados Unidos. Ela estava lá, toda exibida e iluminada. E não era para menos: pela primeira vez a "jovem" visitava aquele país em milhões de anos. Isto mesmo!

Para quem não sabe, Lucy era até pouco tempo o exemplar mais antigo de hominídeo já descoberto. Sua idade: 3,2 milhões de anos. Embora esqueletos mais antigos tenham sido encontrados nos últimos tempos, Lucy continua sendo a mais famosa. Ela foi achada em 1974 num deserto da Etiópia, na África. Trata-se de uma espécime do Australopithecus afarensis, um ancestral do Homo sapiens.

Quando a vi, Lucy era destaque de uma exposição no recém-aberto Discovery Times Square Exposition, um museu diferenciado que leva a chancela – como o nome indica – do Discovery Channel. Ela ficou em NY entre 24 de junho e 25 de outubro de 2009. Na mesma época, o mesmo lugar exibia também uma exposição sobre o Titanic.


Era a primeira vez que o famoso esqueleto deixava o Museu Nacional da Etiópia, em Addis Abeba, para ir aos EUA. A turnê norte-americana – chamada “Lucy´s Legacy: the hidden treasures of Ethiopia” ("O legado de Lucy: os tesouros escondidos da Etiópia") - durou ao todo seis anos e gerou muita polêmica (parte dos cientistas temia que pudessem ocorrer danos na ossada).

Lembro bem da emoção que senti ao me deparar com Lucy. Ela estava bem à minha frente, deitada tranquilamente. Quase podia tocá-la. Perguntei a um vigilante que guardava a sala se o esqueleto era original. Ele respondeu positivamente. E eu tive a certeza de que parte importante da nossa história, da aventura humana pela Terra, passava por aqueles pequenos fragmentos de ossos (o esqueleto não está completo, provavelmente devido ao desgaste do tempo).

Tudo isto me veio à mente dia desses quando eu assistia na TV a um documentário sobre a evolução humana. O programa especial citava uma série de pesquisas e descobertas feitas ao longo das últimas décadas e levantava uma questão: há uma “lacuna” na história da evolução que a ciência ainda não conseguiu explicar.

Em que momento, afinal, ganhamos o nível de consciência que atingimos como seres humanos? Se temos raízes tão comuns com os macacos (ou com os símios em geral), por que eles também não evoluíram da mesma forma? Por que, por exemplo, “abrimos mão” (popularmente falando) dos pelos se buscamos cobertores peludos para nos aquecer? Não seria isto uma “falha” de acordo com os princípios da evolução?

Do ponto de vista espiritual, uma resposta para estas perguntas pode ser encontrada no livro clássico “Os exilados da Capela”.

Naturalmente, a ciência não crê nas explicações dadas no livro de cunho espírita (embora elas busquem amparo científico).

O fato é que a ciência ainda não respondeu à perturbadora pergunta: em que momento e de que forma foi dado o “salto” evolutivo do hominídeo para o ser humano do ponto de vista da mente?

No aspecto físico, sabe-se que os hominídeos tinham postura quase ereta, caminhando sobre duas pernas, daí a classificação que os coloca como ancestrais do homem, mas e a consciência humana, que lugar ocupa na história da evolução?

Eis uma pergunta que Lucy não foi capaz de responder.

Em tempo: tive o prazer de reencontrá-la no ano passado no Field Museum, em Chicago (EUA). Era uma réplica, como soube depois, mas ainda assim foi um reencontro de fortes sentimentos e emoções. Ao menos dessa vez pude fotografá-la (as fotos eram proibidas na exposição em NY, já que se tratava do esqueleto original).



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