sexta-feira, 13 de setembro de 2013 | |

O poder das ruas

Sou um fã da vida urbana e das cidades em geral. Considero-as uma das principais invenções humanas. São, desde o seu nascedouro, o espaço da vida social e coletiva. Esta essência se mantém dos primeiros assentamentos às modernas metrópoles atuais. E vem sendo reforçada por acontecimentos recentes em vários pontos do mundo – até em contraponto à cultura virtual em voga.

Matéria publicada na edição de 8-9 de junho deste ano do “International Herald Tribune”, assinada Michael Kimmelman, trata dessa questão ao analisar os protestos populares ocorridos na Turquia. O título é emblemático: “The power of the public space” (“O poder do espaço público”).

Depois da praça Tahrir no Egito e do Zuccotti Park em Nova York, a praça Taksim é a mais recente a lembrar do poder do espaço público.
 (...) O espaço público, ainda que seja uma faixa modesta e caótica como a Taksim, novamente se revela fundamentalmente mais poderosa do que as mídias sociais, que produzem comunidades virtuais. Revoluções acontecem no mundo real. Na Taksim, estranhos descobriram um ao outro, seus pleitos comuns e sua voz coletiva. O poder das pessoas juntas, ao menos por um instante, produz um momento democrático, e dá aos líderes uma perigosa crise.
 "Nós nos encontramos", define Omer Kanipak, um arquiteto turco de 41 anos.
(...) Gokhan Karakus, um crítico de arquitetura, disse: “o espaço público é igual a uma identidade cosmopolita, urbana. É exatamente do que o primeiro-ministro não gosta. Os turcos que tomaram o Gezi Park em protesto sentem que o lugar é realmente deles, não algo dado a eles pelo governante, então nesse sentido o movimento para destruir a praça se voltou contra ele".
(...) O conflito sobre o espaço público é sempre sobre controle versus liberdade, segregação versus diversidade. O que está em jogo é mais do que uma praça. É a alma de uma nação.

O trecho da matéria mostra não só o poder do espaço público como deixa subentendida a importância e necessidade de entende-lo como tal. Ou seja: é preciso ter consciência de que os espaços públicos são coletivos, da cidade, da sociedade, tanto para cuidar deles como para ocupa-los em suas variadas formas, seja para lazer, atividades comerciais ou inclusive (e não menos importante) para protestar.

Em tempo: mais do que bibliotecas, centros comunitários e órgãos oficiais em geral, o espaço público mais nobre talvez seja a rua. O mais simples de todos – e, sim, o mais importante.

Leia também:

0 comentários: