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quinta-feira, 8 de outubro de 2015 | | 0 comentários

Beleza faz, sim, diferença!

Beleza é fundamental, já dizia o poeta. Agora no século 21 temos condições não apenas de confirmar essa predisposição humana mas também de esquadrinhá-la e quantificá-la. É o que faz Christian Rudder, autor de “Dataclisma: Quem Somos Quando Achamos que Ninguém Está Olhando”.

(...) Homens e mulheres considerados bonitos são mais populares no Facebook. (...) Mas é no emprego que a coisa fica muito mais assimétrica.

Aqui, a beleza masculina quase não afeta as chances de ser chamado para entrevistas de contratação. A curva é uma linha. Já para elas, a curva é exponencial.

(...) Pior, coisas parecidas ocorrem nos tribunais. Pessoas mais bonitas têm menos chance de ir para a cadeia e, quando vão, tendem a pegar sentenças menores que os feios. (...)

Fonte: Hélio Schwartsman,
"Ai dona fea!", Folha de S. Paulo, Opinião, 4/10/12, p. 2.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015 | | 0 comentários

Frase

“O descenso moral do PT não é um espetáculo bonito, mas é didático.
Hélio Schwartsman, filósofo, em coluna na “Folha de S. Paulo”

terça-feira, 25 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Quem, afinal, é este tal de mercado? - uma reflexão

(...) Não estou afirmando que não caibam críticas morais aos resultados produzidos pelo mercado. Elas são muitas e muito pertinentes. É fundamental, contudo, que a indignação que possamos experimentar não contamine nossa capacidade de compreender como as engrenagens econômicas funcionam no mundo real. Se isso ocorrer, o resultado são barbeiragens. Foi exatamente o que se deu na primeira gestão de Dilma.

Quanto à lista de injustiças do mundo, ela até pode ser encabeçada pelos lucros exorbitantes de banqueiros, mas não se limita a eles. Por que um sujeito que teve a sorte de jogar bem futebol ou a mulher que por acaso nasceu bonita merecem ganhar milhares de vezes mais do que pernas de pau ou feias? Como mostrou John Rawls, quase tudo o que valorizamos é um prêmio indevido.

Fonte: Hélio Schwartsman, "O tal de mercado", Folha de S. Paulo, Opinião, 25/11/14, p. 2.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014 | | 0 comentários

"A objetividade possível"

(...) Será possível ser objetivo numa cobertura jornalística?

(...) É Immanuel Kant (1724-1804) quem traça as linhas do debate moderno. Para o filósofo de Königsberg, podemos conceber uma realidade objetiva, isto é, que exista independentemente das ideias que tenhamos sobre as coisas que a compõem.

O problema é que essas "coisas em si" são uma mercadoria de pouco valor, já que nós, humanos, não temos acesso direto a elas, estando condenados a abordar o mundo através de nossa sensibilidade e por meio de nosso entendimento. Para Kant, o que de melhor temos à nossa disposição é o fenômeno, que seria uma espécie de interação entre a realidade objetiva e nossa forma humana, subjetiva, de percebê-la.

Assim, num plano mais metafísico, a resposta à nossa pergunta é negativa. A objetividade não seria muito mais do que uma miragem.

(...) Gosto de brincar dizendo que o jornalismo é a realização diária de uma impossibilidade teórica.

(...) Ainda que não seja fácil sustentá-lo filosoficamente, penso que há uma diferença importante entre a ficção pura e simples e a exposição de eventos em princípio verificáveis. É nesse espaço estreito e epistemologicamente precário que o jornalismo busca equilibrar-se. Consegue? (...)

Fonte: Hélio Schwartsman, “Folha de S. Paulo”, Poder, 25/9/14 (íntegra aqui).

domingo, 14 de setembro de 2014 | | 0 comentários

A força misteriosa que muda as sociedades

(...) Gostamos de descrever nossos valores em termos de uma moral absoluta, mas a realidade é mais complexa. Ainda que certas intuições morais sejam universais, é grande o espaço que a cultura tem para moldá-las. (...)

Como e por que o "Zeitgeist" (espírito do tempo) de uma sociedade se modifica permanece um mistério. Mas, felizmente, ele muda. Apenas 50 anos atrás, um país desenvolvido como os EUA ainda mantinha leis segregacionistas. Hoje, qualquer americano educado, que não assoe o nariz na manga da camisa, vê com genuíno horror atos e palavras discriminatórios. No plano do "Zeitgeist" a luta contra o racismo foi vencida. Isso não significa, é claro, que o triunfo tenha chegado às estatísticas sociais.

O ponto que defendo aqui, na esteira de Friedrich von Savigny, é que esse tipo de revolução cultural independe da vontade do legislador. Quando este se digna a aprovar um diploma, é porque a sociedade já chegara muito antes a esse parecer. (...)

Fonte:
Hélio Schwartsman, “Prisioneiros do tempo”, Folha de S. Paulo, Opinião, 14/9/14, p. 2.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014 | | 0 comentários

Sobre o politicamente correto

(...) Ao contrário de outros defensores do humor sem patrulhas, não vejo o politicamente correto como o inimigo a ser esmagado. Prefiro descrevê-lo como o efeito colateral de um movimento civilizador, que foi a mobilização da sociedade para conter seus impulsos racistas e sexistas. É claro que o fato de o PC (politicamente correto) ter uma origem bacana não elimina a necessidade de combater seus exageros.

Se há algo tão ruim quanto uma pilhéria de gosto duvidoso, é perder a capacidade de rir das incongruências do mundo. A diferença é que, enquanto a primeira tende a ser resolvida com o silêncio que reservamos às piadas sem graça, a falta de humor priva a vida de seus sabores.

Fonte: Hélio Schwartsman, "Juventude carrancuda", Folha de S. Paulo, Opinião, 13/8/14, p. 2.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014 | | 0 comentários

Provocações

Do filósofo Hélio Schwartsman, em coluna na “Folha de S. Paulo”:

Outra coisa incrível nessa novela é descobrir que existem jovens que defendem teses esdrúxulas como foquismo e revolução socialista, entre outras utopias regressivas desabonadas pela história.

São o comunismo, o socialismo e afins “teses esdrúxulas” e “utopias regressivas desabonadas pela história”?

segunda-feira, 9 de junho de 2014 | | 0 comentários

"Autonomia" universitária: um debate necessário

(...) Trocando em miúdos, não faz muito sentido exigir que os impostos do favelado paulista subsidiem o estudante de medicina ou engenharia da USP, que, apesar dos relevantes serviços que prestarão, serão recompensados com vencimentos 15 ou 20 vezes maiores que a média nacional.

A questão, no fundo, é simples. A menos que incorrêssemos em alíquotas de imposto significativamente maiores que as atuais, o Estado não consegue oferecer "gratuitamente" tudo o que dele se exige. Precisamos fazer escolhas. E aí o caso da universidade é um dos mais difíceis de defender. A educação básica e a saúde, para citar apenas dois itens, me parecem prioridades bem mais claras.

Fonte: Hélio Schwartsman, “Não há almoço grátis”, Folha de S. Paulo, Opinião, 4/6/14, p. 2.

***

A seguir, trecho de e-mail que mandei para o Schwartsman a respeito do assunto:

"O modelo das universidades no Brasil já se esgotou. Ou a autonomia é revista (não para derrubá-la, mas ao menos para impor uma espécie de lei de responsabilidade fiscal, ou se institui o modelo que você sugeriu).

Afinal, as universidades públicas paulistas consomem mais de 10% das receitas do ICMS do Estado mais rico da federação, um modelo único no mundo. Parece-me um custo desproporcional no que diz respeito ao conjunto da sociedade.

Ainda mais quando uma universidade comete a irresponsabilidade de comprometer 105% do seu orçamento com salários. Na iniciativa privada isto tem nome: insolvência.

Mas em relação à USP mal se pode tocar no assunto...

Que ao menos as alternativas sejam debatidas com racionalidade, sem dogmatismos ideológicos."

domingo, 27 de abril de 2014 | | 0 comentários

Frase

"Será que nossas vidas não requerem um pouco de incerteza para ser plenamente vividas?"
Hélio Schwartsman, filósofo, em coluna na “Folha de S. Paulo”

sábado, 19 de abril de 2014 | | 0 comentários

"Hipocrisias, vícios e virtudes"

(...) Uma série de experimentos psicológicos revela que, sob as condições certas, isto é, com a garantia de que não seremos apanhados e qualquer coisa que se assemelhe a uma justificativa, a maioria de nós trapaceia. Pior, acabamos acreditando, ainda que claudicantemente, nessa justificativa. Se não fosse assim, seríamos incapazes de cultivar uma autoimagem pelo menos aceitável.

Mais do que a homenagem que o vício presta à virtude, a hipocrisia é a forma que o cérebro encontrou para lidar com as complexidades e ambiguidades que povoam nossas vidas.

Fonte: Hélio Schwartsman, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 18/4/14, p. 2 (íntegra aqui).

segunda-feira, 7 de abril de 2014 | | 0 comentários

"Deveres da amizade"

(...) é possível ser justo e leal para com os amigos ao mesmo tempo?

É claro que tudo depende de como definimos os termos, mas não é de hoje que filósofos apontam uma incompatibilidade entre o relacionamento especial que caracteriza a amizade e os princípios morais exigidos por alguns dos principais sistemas éticos. É impossível, por exemplo, ser totalmente imparcial, como cobra o consequencialismo, e dar preferência às necessidades dos amigos.

(...) Ghiraldelli, sem deixar de reconhecer a dificuldade, fica com os amigos, atribuindo grande parte da confusão a uma banalização dos vários significados de "amor" e "philia" (amizade). Pode ser, mas tenho uma visão um pouco mais trágica. Acho que nosso senso moral é o resultado não projetado de diferentes pressões seletivas, o que praticamente nos condena a ficar pulando de um sistema ético para outro sem jamais satisfazer nossas intuições.

Fonte: Hélio Schwartsman, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 6/4/14, p. 2 (íntegra aqui).

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014 | | 0 comentários

Uma discussão sobre causas da criminalidade

(...) Para a esquerda, condições socioeconômicas como pobreza, desemprego, desigualdade e educação são os principais fatores a explicar a criminalidade. Já para a direita, delinquência se resolve é com polícia.

(...) Para desgosto da esquerda, é fraco o elo entre economia e violência, como mostra Steven Pinker em "Melhores Anjos". Dados de EUA, Canadá e Europa Ocidental revelam que melhoras econômicas quase não têm efeito sobre as taxas de homicídios. Há, isto sim, uma correlação bem modesta entre os índices de desemprego e os crimes contra o patrimônio.

A desigualdade se sai um pouco melhor. Ela até que prediz os índices de violência quando se comparam países, mas fracassa em apontar tendências dentro da mesma nação. É pouco provável, portanto, que haja aqui uma relação causal. Mais razoável imaginar que falhas institucionais que produzem excesso de desigualdade gerem também violência.

A solução da direita também traz problemas. É claro que, em algum nível, melhorar o policiamento reduz crimes. Mas isso só funciona até certo ponto. Se você o excede, desperdiça dinheiro público e estraga inutilmente a vida de um monte de gente.

Os EUA, por exemplo, adotaram a tolerância zero nos anos 90 e reduziram o crime. Mas os índices de homicídio do Canadá, que já eram bem menores que os dos EUA, seguiram as mesmas curvas sem que o país tenha sucumbido à histeria.

Fonte: Hélio Schwartsman, “Especulação precoce”, Folha de S. Paulo, Opinião, 16/2/14, p. 2.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014 | | 0 comentários

"Liberdade, igualdade, rolezinhos"

(...) Vivemos num estágio de civilização em que já não se admitem mais algumas modalidades de discriminação racial e social. É verdade que ninguém advoga pelo direito de mendigos frequentarem shoppings, mas revolta-nos pensar que pessoas sejam impedidas de entrar num deles apenas em virtude da cor de sua pele ou de seus rendimentos. Exigimos certa igualdade jurídica entre cidadãos.

(...) A moral da história é que liberdade e igualdade, embora tenham inspirado a Revolução Francesa, são princípios incongruentes. Se os agentes são livres para buscar seus interesses, alguns acumularão mais bens do que outros e darão tratamento privilegiado a seus familiares, amigos e clientes, o que mina, na teoria e na prática, a ideia de igualdade.

Fonte: Hélio Schwartsman, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 21/1/14, p. 2 (íntegra aqui).

Leia também:

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014 | | 0 comentários

Frase

“A humanidade tem melhorado ao longo dos séculos e penso até que podemos falar em progresso moral, mas creio que existem limites biológicos para até onde podemos chegar.”
Hélio Schwartsman, filósofo, no artigo “Comércio e Solidariedade” publicado na “Folha de S. Paulo” em 7/1/14 (íntegra aqui)

terça-feira, 24 de setembro de 2013 | | 0 comentários

O casamento é mera burocracia

"Deficiente intelectual precisa de autorização para casar?", foi a pergunta da “Folha” do último sábado. Acredito, porém, que existe uma questão mais geral que a antecede: por que as pessoas ainda insistem em se casar?

Calma, não estou advogando pelo fim do amor, da família ou das instituições sociais. O ponto central aqui é que o casamento desempenha hoje duas funções bastante distintas.

A primeira é puramente contratual. Trata-se de regular as relações jurídicas decorrentes das uniões entre pessoas, notadamente obrigações para com filhos, sucessões etc. Essa é, sem dúvida, uma atribuição do Estado, mas, como provam as chamadas uniões consensuais, esse tipo de controle pode perfeitamente ser feito a posteriori. Hoje ninguém precisa mais pedir ao poder público uma licença para procriar para que os filhos sejam considerados legítimos.

A outra função é mais etérea e tem a ver com o reconhecimento social do matrimônio e suas implicações para o status dos envolvidos. O Estado aqui é totalmente dispensável. Na verdade, tudo ficaria muito mais simples se o poder público parasse de lidar com casamentos e tratasse exclusivamente de uniões civis, deixando os aspectos sociais para igrejas, famílias e círculos de amigos. 

(...) Ainda que sem alarde, esse movimento já está em curso. (...)

Fonte: Hélio Schwartsman, “Revolução silenciosa”, Folha de S. Paulo, Opinião, 24/9/13, p. 2.

sexta-feira, 14 de junho de 2013 | | 0 comentários

Ainda sobre a "nossa Primavera"

É verdade que essas manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo conturbam a cidade. Vou um pouco mais longe e afirmo que há algo de egoísta nos protestos, já que impingem a todos as reverberações de uma agenda que não é consensual.

Uma sociedade democrática, entretanto, precisa aprender a conviver com esse tipo de contratempo. A alternativa, que é impedir a realização de atos públicos ou de condicioná-los ao beneplácito das autoridades, me parece incomensuravelmente pior.

E a Constituição (art. 5º, XVI) assegura que todos podem reunir-se sem armas em locais abertos ao público independentemente de autorização. Alguém poderia argumentar que o constituinte exagerou, já que o dispositivo permite a pequenas minorias impor grandes aborrecimentos à maioria, mas agora Inês é morta. Em 1988, após mais de 20 anos de ditadura, consagrar a liberdade de reunião era a coisa certa a fazer.

É claro que não existem direitos absolutos. Se é líquido e certo que cidadãos podem protestar, também é fato que a propriedade, pública ou privada, precisa ser preservada. Um manifestante tem o direito de resistir a agressões policiais que considere injustas. Isso pode até envolver socos e pontapés, mas é difícil perceber como o legítimo exercício da autodefesa passe por queimar ônibus e destruir vitrines. Não há o que objetar na intenção do governador Geraldo Alckmin de identificar os responsáveis por tais atos e de processá-los.

Mesmo rejeitando os exageros e os atos de vandalismo, deve-se reconhecer que protestos por vezes tonificam a democracia. E, para que funcionem assim, é preciso garantir que movimentos reivindicatórios possam ter lugar sem julgar o que os motiva. Não dá para criar uma lei que permita manifestações como as das praças Taksim e Tahrir, mas não as da avenida Paulista, só porque combater a tirania é uma causa mais nobre do que demandar subsídios.

Fonte: Hélio Schwartsman, “Protestos em série”, Folha de S. Paulo, Opinião, 14/6/13, p. 2.

Leia também (acrescentado às 13h52):

- Existe terror em SP: o dia em que PMs atiraram ante aplausos e pedidos de não violência

segunda-feira, 15 de outubro de 2012 | | 0 comentários

Educação brasileira: o "x" da questão

Pesquisa da Faculdade de Educação da USP mostrou que quase metade dos alunos que ingressam nos cursos de licenciatura em física e matemática da universidade não estão dispostos a tornar-se professores. O detalhe inquietante é que licenciaturas foram criadas exatamente para formar docentes.

A dificuldade é que, se os estudantes não querem virar professores, fica difícil conseguir bons profissionais e, sem eles, o sistema de ensino brasileiro seguirá colecionando fracassos.

Embora exista muita polêmica sobre o que funciona ou não em educação, não há dúvida de que a qualidade do professor é fundamental. Trabalho de 2007 da consultoria McKinsey comparou sistemas de educação de todo o mundo e concluiu que o elemento de maior destaque nas redes de excelência era a capacidade de "escolher as melhores pessoas para se tornarem professores".

Na Coreia do Sul, por exemplo, os futuros mestres são recrutados entre os 5% de alunos com notas mais altas no equivalente ao vestibular. Na Finlândia, os docentes são selecionados entre os "top ten". Por aqui, segundo levantamento de 2008 da Fundação Lemann, apenas 5% dos melhores alunos do ensino médio pensam em abraçar o magistério. Ser professor no Brasil se tornou a opção dos que não têm melhores opções.

Resolver essa encrenca é o desafio. Salários são por certo uma parte importante do problema, mas outros elementos, como estabilidade na carreira e prestígio social, também influem. O tratamento quase reverencial que a sociedade coreana dispensa a seus mestres ajuda a explicar o sucesso educacional do país.

Essas considerações tornam difícil a situação do Brasil, que precisa transitar de um modelo em que os piores alunos viram docentes para um que prime pela excelência. E, como o deficit de professores já é enorme (200 mil só na área de exatas), teremos de achar um jeito de trocar o pneu com o carro em movimento.

Fonte: Hélio Schwartsman, “Encrenca educacional”, Folha de S. Paulo, Opinião, 13/10/12, p. 2.

sábado, 13 de outubro de 2012 | | 0 comentários

Administração pública: o "x" da questão

A Justiça do Trabalho anulou todos os contratos entre o Estado de São Paulo e organizações sociais (OSs) na área da saúde. Entendeu que os trabalhadores empregados pelas OSs deveriam, como ocorre com servidores públicos, ser selecionados por concurso e estar sob comando do governo.

Se mantida a decisão, pode ser o fim das OSs. O que as diferencia da administração direta, afinal, é a maior liberdade para contratar e demitir, bem como a dispensa de licitação para adquirir insumos. É isso que lhes permite ganhos de eficiência.

As OSs, porém, se tornaram marca registrada da administração tucana, o que dá tons ideológicos à discussão. Curiosamente, e sem jamais reconhecer virtudes no modelo, petistas também desenvolveram sua própria tentativa de passar por cima das exigências legais, com a edição de uma medida provisória que permite ao governo federal contratar obras para a Copa, a Olimpíada e o PAC com regras mais flexíveis. Desta vez, foram os tucanos que protestaram.

As mútuas recriminações são um bom indício de que a dificuldade é real. O nó górdio do problema é o artigo 37 da Constituição, que estabelece, de um lado, que o princípio republicano da impessoalidade deve nortear todos os atos do poder público, e, de outro, que o Estado deve se pautar pela busca da eficiência.

Em teoria, os dispositivos não são incompatíveis, mas harmonizá-los é mais difícil do que parece. As exigências de concurso público e licitação pretendem garantir a impessoalidade. Em certa medida o fazem, mas à custa de enrijecer o processo de gestão, o que conspira contra a eficácia. Tente administrar um hospital sem poder demitir o médico que não trabalha ou tendo de abrir concorrência para comprar até papel higiênico.

Como não dá para abrir mão de qualquer parâmetro de moralidade administrativa, precisamos rever a legislação para obter um balanço mais fino entre controles e resultados.

Fonte: Hélio Schwartsman, "Eficiência administrativa", Folha de S. Paulo, Opinião, 12/10/12, p. 2.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012 | | 0 comentários

"Fabulações do mensalão"

Para os petistas, o julgamento do mensalão representa um golpe da direita contra uma administração popular que, pela primeira vez na história deste país, promoveu mudanças de verdade.

Para seus adversários, se há uma revolução em curso, ela virá com a condenação dos principais réus, que romperá o ciclo da impunidade de políticos e lançará o Brasil numa nova era de moralidade administrativa.

Ambas as versões, em especial a primeira, não passam de fabulações com fins políticos. Urdi-las faz parte do jogo democrático, que não bane a tentativa de influenciar magistrados e eleitores, mas reconhecer isso não implica que devamos acreditar nelas.

Se há algo notável e até certo ponto inesperado nessa história é que as instituições estão funcionando. A PF, subordinada a um ministro petista, investigou o caso, colheu provas e as levou ao Ministério Público. O procurador-geral, nomeado pelo próprio Lula, viu uma série de crimes e apresentou a denúncia. E o STF, de cujos 11 integrantes originais 8 chegaram ao cargo por indicação de presidentes petistas, vem, após análise individualizada de cada caso, condenando a maior parte dos acusados. Se, diante desse histórico, o PT ainda insiste na tese do golpe, em vez de acusar a direita, deveria procurar um sabotador em suas próprias fileiras.

Isso significa que o Brasil mudou, como quer o devaneio tucano? É claro que não. As instituições funcionaram aqui porque a situação era atípica, explosiva demais para ser ignorada. Só que boas instituições funcionam sempre, independentemente de quem sejam os envolvidos. E, nesse quesito, nossa Justiça é muito ruim, como o prova o caso do mensalão mineiro, cronologicamente anterior ao do PT, mas ainda não julgado.

Nesse contexto, os petistas poderiam queixar-se de estar pagando por ter agido como todos os outros. Pode ser, mas o mundo é muitas vezes cruel e, por definição, só podemos punir os que se deixam apanhar.

Fonte: Hélio Schwartsman, "Folha de S. Paulo", Opinião, 10/10/12, p. 2.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012 | | 0 comentários

Questão de opinião

"There's no Such Thing as a Free Lunch". Numa tradução livre, "almoço grátis é algo que não existe". A frase, popularizada por Milton Friedman, que a utilizou como título de livro de 1975, revela a ideia central da economia de que tudo tem um preço, ainda que ele não esteja evidente.

O princípio não está restrito à economia e vale para outras esferas, como direitos e dinâmicas sociais, aí incluída a liberdade de expressão. Como mostrou o "Tec", ela vem sendo objeto de debates, devido à conjunção dos incidentes provocados por sátiras ao islamismo e casos variados de autocensura na rede social.

Evidentemente, não existem direitos absolutos. Se afirmássemos algum deles em grau superlativo, estaríamos negando todos os demais, o que nos tornaria um povo de direito único. Ainda assim, há que reconhecer que a liberdade de expressão só faz sentido se for assegurada de forma robusta. Dou a palavra ao linguista e ativista político Noam Chomsky: "Se você é a favor da liberdade de expressão, isso significa que você é a favor da liberdade de exprimir precisamente as opiniões que você despreza". De fato, se o mecanismo devesse limitar-se ao que a maioria está disposta a ouvir, nem seria necessário inscrevê-lo como garantia fundamental nas Constituições.

E nós o fazemos, não por capricho dos primeiros ideólogos da democracia, mas porque ele regula um elemento essencial para o funcionamento da sociedade, que é a circulação de informações. Sem a livre troca de ideias, a democracia não funciona. Nem a ciência, a inovação, o desenvolvimento tecnológico e, por conseguinte, o avanço econômico. Isso para não mencionar as artes.

Exageros, bobagens e ofensas são o preço que precisamos pagar para ter uma sociedade aberta. O que há de novo aqui é que, em tempos de internet, tantos os benefícios quanto os ônus da liberdade de expressão ganham escala exponencial.

Fonte: Hélio Schwartsman, "O preço do almoço", Folha de S. Paulo, Opinião, 26/9/12, p. 2.