Mostrando postagens com marcador Israel. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Israel. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

As vozes israelenses contra a ocupação

Conheci recentemente – por meio da revista “Ocas” – o trabalho da “Breaking the Silence” ("Quebrando o Silêncio"), uma organização não-governamental de Israel formada por ex-soldados (lá o serviço militar é obrigatório para homens e mulheres) que busca o fim da ocupação israelense em territórios palestinos por meio de denúncias dos abusos cometidos pela Força de Defesa de Israel.

Denúncias nesse sentido são comuns. O que diferencia o trabalho da ONG é o fato dela ser formada justamente por ex-militares, ou seja, as denúncias partem exatamente de quem praticava os abusos (e não pretendo aqui fazer nenhuma reflexão, para isto recomendo a leitura da revista ou um contato com o site da ONG).

As denúncias são registradas em vídeo e áudio e constam basicamente de relatos de soldados e ex-soldados israelenses. Já são quase mil depoimentos, como o do vídeo abaixo:


A seguir, transcrevo um trecho da entrevista concedida à “Ocas” pelo diretor da organização, Yehuda Shaul, de 31 anos, em reportagem assinada por Douglas Portari, da Fundação Perseu Abramo:

“Eu nunca invadi casas no meio da noite, arrombando apartamentos, em Jerusalém e, provavelmente, onde você vive a polícia também não faz isso. Mas, em Hebron, onde eu servi por um ano, há duas patrulhas militares e uma patrulha policial de fronteira. Seu trabalho é, no jargão militar, fazer sua presença notada. Você tem essas patrulhas 24 horas por dia, sete dias por semana. 
Você começa seu turno às 22h e vai até 6h. Caminha pelas ruas da velha cidade de Hebron, tromba com uma casa, uma casa palestina, não uma casa da qual você tenha alguma informação de inteligência [uma suspeita], uma casa qualquer, o sargento é quem a escolhe – eu fui sargento por alguns meses. Entramos, revistamos a família, homens de um lado, mulheres de outro, vasculhamos o lugar, você pode imaginar a dinâmica da coisa, o que acontece quando uma unidade militar invade sua casa no meio da noite. 
Acabamos a busca, voltamos pra rua, batemos em algumas portas, lançamos algumas bombas de efeito-moral, fazemos algum barulho, corremos até a esquina, invadimos outra casa, revistamos a família, fazemos uma busca, subimos no telhado, pulamos de um telhado para o outro, descemos pela sacada de uma terceira casa... e assim você passa as oito horas do seu turno, isso 24 horas por dia, sete dias por semana. 
E, de setembro de 2000, quando começou a Segunda Intifada, até hoje, nós não paramos um segundo sequer. A ideia é simples: todo palestino precisa sentir que há um militar respirando em sua nuca. Você nunca sabe quando nós vamos aparecer, o que nós vamos fazer, quando vai começar, quando vai terminar, quantas horas vai durar... tudo isso é o que os militares chamam de tchushat nirdafut [em hebraico], criar o sentimento de estar sendo perseguido, caçado, criar esse sentimento em uma população inteira. 
A única forma de dominar um povo para sempre contra sua vontade é fazê-lo temer você. E assim que ele se acostuma àquele nível de medo, você tem de aumentá-lo.”

Como não encontrei a reportagem no site da “Ocas”, a íntegra pode ser lida no blog da fundação.

segunda-feira, 28 de julho de 2014 | | 0 comentários

Visões de um conflito

(...) A sucessão de conflitos no Oriente Médio só tende a dificultar uma saída pacífica, mantidas as regras do sistema vigente. A cada novo cadáver, cresce o ódio na região. A saída civilizada seria a construção de um Estado único onde árabes e judeus convivam em harmonia. Utopia? Sim. Mas é preferível apostar nela, lutar por ela, do que assistir ao flagelo permanente sem esperança.

Fonte: Ricardo Melo,
“Israel é aberração; os judeus, não”, Folha de S. Paulo, Poder, 28/7/14.

***

(...) Por último, toda a gente sabe que a solução mais realista para o conflito passa pela existência de dois Estados com fronteiras seguras e reconhecidas.

Assim foi antes da partição da Palestina pela ONU (relembro a Comissão Peel de 1937). Assim foi com a Partição propriamente dita em 1947. E, para ficarmos nos últimos anos, assim foi em Camp David (2000). Foi o lado palestino que recusou essa divisão -o maior crime cometido por Yasser Arafat contra o seu próprio povo. (...)

Fonte: João Pereira Coutinho,
“David e Golias”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 22/7/14.

***

(...) O filósofo francês Ernest Renan certa vez definiu uma nação como "um grupo de pessoas unidas por uma visão errônea sobre o passado e o ódio por seus vizinhos". Embora isto possivelmente se aplique a este conflito, minha sensação é de que a deterioração que estamos testemunhando resulta de outra coisa - a crescente distância humana entre pessoas que se conheciam intimamente e hoje são virtualmente estranhas.

(...) Uma geração atrás, havia muitas causas de tensão e de preocupação. Mas os palestinos que construíam o que esperavam que se tornasse seu Estado, e os israelenses que trabalhavam com eles, tinham um sentimento muitas vezes inspirador e um objetivo comum. Alguns descobriram que gostavam do outro e desejavam trabalhar juntos. Hoje, esses sentimentos estão virtualmente mortos. E enquanto a mistura das populações naqueles anos não foi uma panaceia, divorciá-las só piorou as coisas.

Fonte: Ethan Bronner,
“A distância desumana que separa os vizinhos”, Folha de S. Paulo, 22/7/14 (original no “The New York Times”).

***

Minha impressão após conversar nos últimos dias com judeus e descendentes de palestinos: não haverá solução para o conflito enquanto a raiz do problema não for discutida: a criação de um estado judeu - Israel - da forma como se deu em 1947.

* Leia também (acrescentado em 4/8/14):

- A maior angústia de um repórter