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sexta-feira, 19 de abril de 2019 | | 0 comentários

Uma entrevista com o Mago

Entrevista gravada em 2017 com o escritor Paulo Coelho para uma série especial de reportagens do "Jornal da Cultura" (TV Cultura):

Paulo, você abriu há pouco mais de um ano a sua fundação em Genebra e disse numa entrevista para a revista "Isto É" que foi a primeira vez que viu sua obra completa, em todas as línguas e ficou impressionado. Queria entender que sensação é esta de um escritor que bateu um recorde de 400 semanas na lista do "New York Times", que tem mais de 210 milhões de livros vendidos, é mais que a população do Brasil, né?!, como ainda fica impressionado?

Claro, porque eu nunca tinha visto os livros assim, corridos, né? É um corredor com 1.800 edições diferentes. Embora eu só tenha escrito 20 livros, enfim, tem diversas edições. Então, quando você entra e olha aquilo, diz "Caramba, isso tudo começou em Copacabana, com um livro que ninguém acreditava". Eu não posso perder essa alegria. Se eu perder essa alegria, se eu achar que é muito "blasè", que as coisas são normais, não! É um milagre, tem que ser considerado um milagre pra mim, eu fico meio maravilhado mesmo.

As citações de seus livros viraram uma espécie de mantra no mundo inteiro, frases saem aqui e acolá pra ajudar as pessoas. Você provavelmente já ouviu muitas histórias de leitores que foram influenciados pelo que escreveu. Tem alguma que te tocou?

Ah, tem muitas... A mais recente, vou contar a mais recente, é de um cara que era de uma gangue em Liverpool. Eu não sabia inclusive que mafioso não pode tirar férias. Se tirar férias perde o ponto. Esse cara foi lá pra Tailândia. Esse cara estava na cachoeira, pumba, caiu. E era morte certa, mas ele caiu entre duas pedras e aí ele sentiu aquela proximidade da morte e ouviu uma voz dizendo que ele tinha que buscar um livro. Então, nesse interior da Tailândia, ele foi lá numa lojinha. Enfim, ele não sabia que livro era. Ele pegou o meu livro. Era meu livro - ele achou a capa meio de criança. Leu. Terminou fazendo o Caminho de Santiago e veio me entregar uma camisa do Gerrard (risos), que é um jogador do Liverpool, era aliás. Eu fiquei muito comovido com essa história.

Você falou na sua resposta anterior em "milagre". Agora conta uma história em que a pessoa ouve uma voz ou algo assim dizendo para procurar um livro e chega ao seu livro. Crê mesmo no aspecto transcendental de tudo que realizou?

Ai, que pergunta difícil! Eu não sei. Bom, eu creio em milagres, eu particularmente creio em milagres. Eu não acho que seria possível tudo o que aconteceu na minha vida sem a presença de um milagre, da proteção, de honrar o que eu estou fazendo também, porque você pode imaginar que é muito fácil, enfim, ficar achando que isso tudo é normal. Mas não é! Isso tudo, saber que as pessoas encontram o seu livro em qualquer lugar, que reverencie e celebre o que de bom acontece na sua vida, eu particularmente acredito em milagres e acho que o trabalho de todos nós, de uma maneira ou de outra, se a gente esttá fazendo com amor, ele é guiado pela energia divina.

Eu tive a oportunidade de ir para alguns países e me deparar, naquela ânsia de brasileiro de querer ter alguma referência do seu país, com livros seus em vitrines de lojas. Em que momentos você se sentiu mais "embaixador" do Brasil?
Acho que não sou eu, é o meu livro né. Eu resolvi parar de viajar, virei ermitão, já viajei muitos anos na minha vida, desde que eu era hippie até 2010. Cheguei aqui em Genebra e parei. Eu particularmente não frequento nenhum lugar para falar do Brasil, acho que o livro transcende. Curiosamente o livro não fala do Brasil, mas todo mundo acha que o livro é brasileiro. Eu achava que as pessoas iam pensar que o autor é espanhol, que o autor é suíço etc, mas não, todo mundo sabe que é brasileiro. O MediaLab, que é do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), me coloca como o brasileiro mais conhecido do mundo, o que me orgulha muito.

Você falou aí do seu recolhimento, eu queria que descrevesse um pouco como é sua rotina em Genebra. Pensa um dia em voltar a morar no Brasil?

Não chega a ser um recolhimento. Sim, penso em voltar a morar no Brasil, mas não agora, né! Convenhamos, convenhamos...! Principalmente meu bairro, que é Copacabana, tá complicado. E é o seguinte: O que eu faço todo dia é sair, normalmente A essa hora porque no verão é infernal, com 35 graus. Ir pras florestas e não pensar em nada. Ficar à vontade. Aí vou até o tempo que for necessário. Eu e minha mulher. Tenho convivido muito com minha mulher. Uma vez ou outra eu convido alguém pra jantar. Não aceito convites pra jantar e pronto, é isso! (risos) É uma rotina mesmo. Sendo que a parte que eu não gosto desta rotina é acordar muito tarde, porque como eu sei que não vou fazer nada de manhã eu termino acordando muito tarde.

Qual o tamanho do desafio de ser o "Mensageiro da Paz" no mundo de hoje?
Ai, difícil. Eu tive com dois secretários-gerais (da ONU) até agora, que me nomearam. São 12 mensageiros da Paz apenas, e a gente o que está acontecendo? As nossas mãos, de certa maneira, estão atadas, porque a ONU, por mais que ela tente fazer alguma coisa, ela depende da boa vontade dos países que fazem parte dela. Então, às vezes a gente não consegue nada e às vezes a gente consegue. Eu agora fui convidado em setembro pra ir para um barco pelo Mediterrâneo pra recolher refugiados. Eu estou seriamente tentado a sair da minha rotina e fazer isso - e também pra escrever sobre isso.

É uma pergunta clichê, mas conversando sobre o que as pessoas gostariam de saber de você, a minha chefe disse: "leio Paulo Coelho há muito tempo e os livros deles sempre saem com milhões de exemplares. Eu queria perguntar pra ele se ele tem noção se é uma mesma geração, se são novas gerações que vão sendo agregadas... Qual é o segredo disto?"
Não, não, a resposta pra ela é a seguinte: o primeiro livro saiu há 30 anos, né, "O Diário de Um Mago", 1987, nós estamos em 2017, são 30 anos, então vai se renovando. Houve um momento, lá pelo ano 2009, que as vendas pararam. Pararam, eu digo, alguns milhões só por ano. E de repente a coisa voltou, retornou. Eu não sei se foram as redes sociais... Vamos dizer que em 2008 e 2009 não teve - e talvez a falha tenha sido minha - porque eu escrevi um livro que as pessoas odiaram, que foi "O Vencedor está Só", mas se mantiveram estáveis ou cresceram.

Quem você lê? Quem o inspira ainda hoje? 

Ah, leitura pra mim é básica, né. Eu não consigo deixar de ler. Infelizmente, o mercado no mundo está caindo. No Brasil, de 2016 pra cá, caiu 16% exatamente. É triste, é triste! As pessoas estão lendo cada vez menos. Eu leio todo dia. Eu não consigo viver sem ver um bom filme e sem ler um bom livro todo dia. Quer dizer, um livro inteiro não. O que que eu estou lendo agora? Um escritor chamado Gay Talese, que é responsável pelo novo jornalismo, essas coisas todas. Eu li a obra completa do Gay Talese, exceto o que eu estou lendo agora, que se chama "Honra o teu Pai". Eu não sei se está traduzido. É uma história que ele está escrevendo, ele é um jornalista, ele criou esse estilo. O que ele escreveu de mais clássico se chama "Frank Sinatra está Resfriado", ele foi mandado pra Espanha, na época que se tinha dinheiro pra mandar jornalista pra viajar, pelo tempo que fosse necessário, a chamada grande reportagem. E o Frank Sinatra não quis dar entrevista, então ele escreveu essa obra-prima chamada "Frank Sinata está Resfriado", e esse é sobre um mafioso chamado Joe Bonanno, "Honra o teu Pai". Mas escreveu coisas maravilhosas. Eu prefiro a não-ficção à ficção.

Eu queria recorrer a uma imagem que vi pra perguntar sobre outra sensação, mais curiosa. Vi uma foto sua pro "El País" em que aparece mergulhado nos seus livros. Só se vê o seu rosto. Qual a sensação física de estar tomado pelos livros?

Essa imagem... Acredite se quiser, essa imagem de eu cercado pelos livros ela é de 1992. Imagine se fosse hoje. Hoje, eu estaria sufocado (risos) e seria envolvido pelos livros, amassado pelos livros.


Na sua biografia escrita pelo Fernando Moraes, tem um episódio da visita ao Palácio de Buckingham, em que houve uma certa dúvida sobre o traje da comitiva brasileira e você foi informado que seria um convidado especial da rainha. De alguma forma, transcendendo o país, as fronteiras, a representatividade nacional. O que significa isso?
Ou transcendendo ou a falta de educação do Lula e do PT, né. Quer dizer que infelizmente, eu tenho uma obra social no Pavão-Pavãozinho, o Lula passou na porta e não entrou. Se tivesse entrado, quando ele era presidente né... Eu só vim descobrir que eu era convidado da rainha quando a comitiva brasileira resolveu ir de terno e gravata. E eu já querendo evitar aquele negócio de fraque, né, disse "ai que bom, vou de terno e gravata." Foi aí que eu perguntei e descobri que eu era convidado da rainha. Foi um momento aliás, muito interessante. Quando você fala de ser embaixador do Brasil, eu sou embaixador não-oficial, extra-governos. Porque os governos, infelizmente, são catastróficos.


Você não gosta muito de falar sobre política, mas em dois momentos citou sua cidade, que vive uma situação difícil, e agora o país. O que diria aos brasileiros que procuram na sua obra uma manifestação de esperança?

Mas eu tô falando com a TV Cultura, a TV Cultura é governo, então eu vou guardar as opiniões pra mim. 
(risos...) Isso dito, pena, que pena, né! O Brasil vai inteiro, entende. Aquele país que era adorado, que era admirado, não pense o governo que a coisa não ultrapassa as fronteiras... Ela ultrapassa e é essa tristeza. Eu já vi países, não apenas o Brasil, pouco a pouco irem caindo... eu não diria nem no ostracismo... Você vê a Venezuela hoje, você vê Brasil, você vê a Síria... A Síria é um país maravilhoso, entende? Você vê outros países que pouco a pouco vão perdendo a importância. E não se enganem, não: vai demorar muitos anos pra recuperar. Não é uma coisa que amanhã muda o presidente e muda tudo, não! Isso daí nós estamos falando de 20 anos, no mínimo, pra recuperar, se for possível.

Queria voltar ao começo da sua história. "O Alquimista", seu livro de maior vendagem, é um fenômeno literário do século 20. Isso é algo extraordinário. Pergunta clichê: tinha ideia lá atrás que chegaria onde chegou?

Óbvio que não. Agora, que eu queria chegar eu queria (risos). Óbvio que não, chegar aonde eu cheguei, meu amigo, só se eu fosse um megalomaníaco aí - que eu sou, que eu sou! Mas graças a Deus eu cheguei. Voltando à sua pergunta logo no início da entrevista, quando eu olhei aquelas 1.700 edições dos meus livros, fiquei tão surpreendido, você não tem noção! Você sabe que é famoso, sabe que vendeu 210 milhões de exemplares. Ora, 210 milhões de exemplares significam 600 milhões de leitores. Se eu vou a uma festa com 100 pessoas eu já fico meio claustrofóbico, ter que conversar com todo mundo! Imagina 600 milhões de pessoas! Então é uma coisa muito abstrata.

Passei dois dias, desde que você aceitou nosso convite, pesquisando e lendo e confesso que a maior dificuldade era saber exatamente o que te perguntar. Você já deu muita entrevista, por mais que seja ainda meio avesso, tem muitas falas suas, escrevia muito em jornais... Fiquei pensando: "o que será que nunca perguntaram pra ele e ele queria poder falar?" Tem algo que nunca lhe perguntaram e você queria poder falar?

Não. Não tem, inclusive esta mesma pergunta que você faz agora já foi feita por vários jornalistas muitas outras vezes 
(risos). Então, pra mim, a entrevista hoje em dia é absolutamente - tô dando porque, enfim, acho importante vez por outra me comunicar com meus leitores brasileiros, mas não é uma coisa que vá vender livros, por exemplo. Você vê que a maior vendedora de livros no mundo, J. K. Rowling, se a gente falar Harry Potter, tudo bem, mas J. K. Rowling não. 

É que talvez a gente sinta falta de ouvi-lo de vez em quando...
Eu cheguei na Polônia, num ano sabático, eu disse: "não vou fazer nada", em 96. O livro tinha acabado de sair na Polônia. Eu cheguei lá, não achava o livro em livraria nenhuma. Eu vi um, mandei perguntar se estava vendendo bem. Aí, pela gesticulação, eu entendi que não estava vendendo nada. Bom, passaram-se dois anos. E dois anos depois eu voltei à Polônia. Quando abriu a porta do aeroporto tinha, como dizer, era como se a Madonna tivesse chegando, entende? Tinha todas as televisões, todos os jornais, essas coisas todas. Ora, o que mudou? Mudou que eu era uma pessoa famosa agora, muito famosa na Polônia. E antes ninguém me conhecia. Você foi feliz, perguntou sobre minha carreira, mas os caras estão interessados em outras coisas, inclusive às vezes na política interna do país. Eu fui pra Geórgia: "O que q você acha da invasão da Rússia?". Eu não posso falar sobre essas coisas. Eu não nasci na Geórgia, entende, eu não sou russo. Eu tenho que me limitar. O que você pensa do Trump? "Amigos, isso é com os americanos". A não ser que a coisa fique muito grave. 

Até em razão de tudo isso, agradeço muito a gentileza de ter aceitado esse papo com a gente. Sei do seu tempo e da sua aversão a entrevista. Muito obrigado mesmo. 
Te agradeço muito também por esta oportunidade de poder falar com os telespectadores da TV Cultura. Um forte abraço, hein.

Precisa depois reaparecer aqui no Roda Viva"...
Porra, "Roda Viva" já fiz vários, mas faz tempo que não faço... As duas entrevistas que dei ano passado, os livros venderam igual. Vocês viram a entrevista? Tem trechos no ar. As duas foram para um programa, "CBS News Sunday". Às vezes você tem que fazer uma média com o editor... Um grande abraço, muito obrigado. Que Deus te abençoe aí.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016 | | 0 comentários

Série IFA 2016 - o admirável mundo novo da tecnologia

sábado, 20 de agosto de 2016 | | 0 comentários

Movimento Boa Praça ("Ordem do Dia")

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016 | | 0 comentários

"Ordem do Dia" - Guarda Compartilhada

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"Ordem do Dia" - Inclusão do deficiente

sábado, 6 de fevereiro de 2016 | | 0 comentários

"Ordem do Dia" - Direito Esportivo

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015 | | 0 comentários

"Ordem do Dia" - Segurança

domingo, 22 de novembro de 2015 | | 0 comentários

"Ordem do dia" - Artigo Sexto

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"Ordem do dia" - O Século dos direitos

terça-feira, 6 de outubro de 2015 | | 0 comentários

"Admirável mundo novo"

Para quem não viu, segue a série de reportagens especiais que gravei para o "Jornal da Cultura" (TV Cultura, seg. a sáb., 21h) na IFA, em Berlim, na Alemanha - a maior feira de tecnologia da Europa (e, possivelmente, do mundo):









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"Saídas para a crise"

A TV Cultura promoveu recentemente uma série de ações visando discutir saídas para a atual crise política e econômica que assola o país. Programas especiais foram exibidos e um seminário de dois dias foi realizado em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, a Assembleia Legislativa paulista e um núcleo de estudos da Universidade de São Paulo (USP).

Para o "Jornal da Cultura", a equipe de jornalismo produziu uma série de 12 reportagens. Fiz a primeira e a última, ou seja, a abertura e o encerramento da série. Foram uma espécie de diagnóstico:





Depois, como encerramento da campanha, cobri os dois dias do seminários que debateu - na sede da OAB-SP - soluções para a crise:





Um livro está sendo elaborado com as sugestões apresentadas no seminário. Ele será encaminhado aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

terça-feira, 9 de junho de 2015 | | 0 comentários

Trabalhando...

São Paulo também vira líder em turismo religioso (a partir do minuto 20):



Videogame é lazer preferido dos brasileiros:

quarta-feira, 6 de maio de 2015 | | 0 comentários

"Roda Viva" com Marília Gabriela

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Trabalhando...

Livros de pintar para adultos (a partir do minuto 7:28):



A degradação do Centro paulistano ("JC Debate", após abertura):

sábado, 18 de abril de 2015 | | 0 comentários

Trabalhando...

Falta apoio para ex-detentos ganharem uma nova vida:



2015 começa com alta nas tarifas públicas:



sexta-feira, 10 de abril de 2015 | | 0 comentários

Trabalhando...

Internet influencia o comportamento para o bem e o mal:


Frango passou de símbolo do Real a sinônimo da crise - a partir do minuto 21:02:

terça-feira, 31 de março de 2015 | | 0 comentários

Trabalhando...

Uma “tardis” de debate com fãs do “Doctor Who” a partir do minuto 7:45:


Reportagem com a saltadora Fabiana Mürer a partir do minuto 7:15:

sexta-feira, 27 de março de 2015 | | 0 comentários

Uma casa ecológica no polo Norte

Kiruna, norte da Suécia. Aqui, o inverno é rigoroso - no pico da estação, a temperatura pode chegar a 45 graus negativos. Localizada num canto isolado do globo, 200 quilômetros acima do Círculo Polar Ártico, a cidade de 23 mil habitantes foi erguida sobre um verdadeiro tesouro: a maior mina de ferro do mundo. A mineração é a razão da existência de Kiruna. A cidade nasceu junto com a exploração desse recurso, o quarto mais presente no planeta. Daqui saíram 28 milhões de toneladas de minério cru no ano passado.

Para tirar tudo isto debaixo da terra, a empresa mineradora usa 1,7% de toda a energia da Suécia - é uma das maiores consumidoras do país. Mas com novas tecnologias, ela virou também fornecedora. A energia gerada no processo de mineração é reciclada e vai para o sistema de aquecimento da cidade. Hoje, ela representa 5% das necessidades de Kiruna.

No futuro, com um novo sistema que está em testes e deve começar a operar no meio do ano, será possível sustentar todo o sistema de aquecimento da cidade. Isto irá reduzir a demanda por energia, o que significa economia para os consumidores. E vai quase zerar o uso de combustíveis fósseis, uma boa notícia para o meio ambiente.

A medida também vai contribuir para a meta do governo sueco de reduzir pela metade o consumo de energia do país até 2050.

Mas a mina não trouxe só riqueza para Kiruna. Criou também um grande problema. A exploração avança em direção à área urbana e já afeta o subsolo. Pelo menos seis mil pessoas vão perder suas casas nos próximos anos. Para que a cidade não desapareça, a comunidade decidiu mudá-la de lugar. Um novo centro será construído três quilômetros para o leste. Problema que virou também oportunidade. Kiruna quer aproveitar a mudança para construir uma cidade mais sustentável. E o primeiro passo é fazer casas ecológicas - ou autossustentáveis. Um modelo já foi construído e está na fase de acabamento.

Como em Kiruna o sol se põe cada vez mais cedo no inverno, quando visitamos a casa já estava escuro. Num lugar com temperaturas tão baixas durante meses, um dos primeiros desafios da equipe que desenvolveu o projeto foi garantir aquecimento para os moradores. As paredes, por exemplo, são bem largas - tudo para segurar o ar quente dentro do imóvel e o ar frio fora. Ccom a mesma finalidade, a casa tem janelas amplas e com vidros duplos.

Além dos avanços tecnológicos, a casa sustentável conta com uma ajuda extra para o sistema de aquecimento. O calor gerado pelo próprio corpo humano. Desde que a nossa equipe chegou ao imóvel, por exemplo, a temperatura ambiente subiu um grau.
Seguindo o conceito de casa autossustentável, o aquecimento da casa aproveita também o calor dos equipamentos da cozinha e outros aparelhos elétricos.

E em tempos de crise hídrica no Brasil, a casa tem uma solução inteligente nos banheiros. Um sistema permite o reúso constante da água do banho. Assim que ela atinge o chão, passa por um filtro e é bombeada novamente para a rede. Não existe desperdício. Toda a água que circula pela casa é aquecida por um sistema especial. Ela chega fria, recebe calor e retorna aquecida.

De acordo com Mats Nilsson, chefe da empresa de energia municipal, a Tekniska Verken I Kiruna Ab, a construção da casa ecológica custa de 30% a 50% mais do que uma residência normal, mas ele explica que os custos de manutenção no dia a dia serão muito menores. “Algumas casas tradicionais em Kiruna usam 30 mil quilowatts por ano para aquecimento. Esta casa vai usar apenas cinco mil a seis mil. É muito dinheiro num ano”.

Embora o projeto tenha sido feito para uma cidade localizada quase no polo Norte, o diretor garante que os conceitos também podem ser aplicados num país tropical como o Brasil. “A ideia principal, de preservar a maior quantidade de energia possível, é uma boa ideia. Eu imagino que em condições tropicais, você estará isolando a alta temperatura do lado de fora e preservando uma boa temperatura do lado de dentro. Você reduz a quantidade de energia necessária para resfriar o ambiente.”


* Texto original de reportagem feita para o programa “Repórter Eco” (TV Cultura, dom., 17h30)

segunda-feira, 23 de março de 2015 | | 0 comentários

"O sal da terra" - uma ode a Salgado e ao planeta

Um mestre na arte de escrever com a luz. 


Nas últimas quatro décadas, Sebastião Salgado rodou o planeta como “testemunha da condição humana”. No Kuwait, registrou o “triste espetáculo” dos poços de petróleo incendiados por Saddam Hussein após a guerra em 1991. Com a série “Trabalhadores”, homenageou os “homens e mulheres que construíram nosso mundo”.

A trajetória do fotógrafo de 71 anos virou filme. Dirigido pelo filho Juliano em parceria com o alemão Win Wenders, “O sal da terra” estreou recentemente no Brasil após concorrer ao Oscar de melhor documentário.


Nascido em Aimorés, Minas Gerais, Sebastião Salgado mudou para a França em 1969. Premiado em todo o mundo, ele revela no filme um olhar apurado em busca da melhor imagem. Com suas fotos, denunciou tragédias como a sede e a fome na África, os horrores do genocídio em Ruanda e o drama dos refugiados.

Chocado com tanta tristeza, apostou num novo projeto: “Gênesis” - uma homenagem ao planeta. Percorreu 30 países em busca de cenas como a do nativo solitário no tronco seco, da imensidão da floresta e da beleza da vegetação refletida na água.

Mas se os homens são o “sal da terra”, à terra devem voltar. E salgado voltou para a fazenda da família, no vale do rio Doce, onde passou a infância. E o que viu foi uma terra arrasada. “Os pássaros, os jacarés e a majestosa mata não existiam mais...”, conta n o filme. “A mata que existia antes e se estendia por todas essas colinas era a mata Atlântica, a floresta tropical atlântica”, comenta.

Sem mata, sem vida... “Quando eu era menino, tínhamos uma pequena cascata. Mais tarde derrubaram a mata e a água desapareceu”, fala. Até que a mulher dele resolveu plantar a semente de uma ideia: recriar a floresta que fez parte da história de vida do marido. “Eu me lembro que na primeira plantação às vezes eu sonhava que tudo tinha morrido”, afirma Lélia Salgado.

Foram plantadas dois milhões e meio de mudas. O Instituto Terra recuperou 600 hectares de mata - uma área equivalente a 780 campos de futebol. Mais de mil nascentes ressurgiram. “Quando vemos uma árvore, pensamos só em sua verticalidade e beleza. Mas tudo depende da árvore: nossa água, nosso oxigênio...”, cita o fotógrafo. A maior batalha na recuperação da fazenda da família Salgado, porém, não foi vencer a terra seca: foi vencer as mentes, disse Juliano.

Agora, o projeto entra em uma nova etapa. Parcerias feitas pelo Instituto Terra vão garantir o plantio de 125 milhões de mudas nos próximos 25 anos. O reflorestamento será feito ao redor das 370 mil nascentes do rio Doce. O trabalho do instituto é um exemplo de que recomeçar é possível. 

Uma lição do fotógrafo que virou amigo dos gorilas e das baleiras e que vê poesia na força da natureza. “E pensar que essas árvores, que hoje têm três meses, atingirão o ápice daqui a 400 anos! Talvez a partir disso possamos medir o conceito da eternidade”, filosofa Salgado.

* Texto original de reportagem feita para o programa “Repórter Eco” (TV Cultura, dom., 17h30) - reportagem acrescentada em 4/5/15



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* O primeiro vídeo desta postagem é de divulgação

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A questão das TVs públicas: um debate necessário

Dois livros recém-lançados no Brasil debatem uma questão cada vez mais premente na sociedade: o papel das TVs públicas.

Consideradas modelos bem sucedidos em vários países (o Reino Unido, com a BBC, talvez seja o melhor exemplo no que diz respeito à gestão, financiamento e conteúdo), as TVs públicas brasileiras vira e mexe vão parar no noticiário, seja pela qualidade de algum produto ou pelas costumeiras interferências políticas e/ou baixa audiência.

Segundo o jornalista Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobrás e autor de “O Estado de Narciso”, o problema “começa na submissão das emissoras às autoridades de plantão, que controlam verbas e indicam diretores”, conforme resenha assinada pelo jornalista Bernardo Mello Franco na “Folha de S. Paulo”.

Já Ernesto Rodrigues em “O traço da Cultura” analisa especificamente o caso da TV Cultura de São Paulo, emissora da qual foi ombudsman por três anos (em tempo: a experiência de ter um ouvidor foi encerrada na Cultura – emissora da qual estou funcionário).

Para ele, a TV pública paulista é um “parque de diversões da elite cultural paulistana em que todos trabalhavam de costas para o público, sem querer saber se ele estava satisfeito. Ou mesmo presente”.

Conforme resenha feita pelo crítico de TV do UOL, Mauricio Stycer, Rodrigues defende para a Cultura (o que, no caso do Brasil, vale para outras emissoras públicas) “a inclusão de conteúdos, personagens e temáticas ‘mais populares’ na grade. Na sua visão, isso não significa ‘abrir mão do senso crítico ou adotar a mediocridade como parâmetro cultural ou jornalístico’”.

Este debate sempre teve sua particular relevância, acentuada neste momento em que parte da sociedade coloca em xeque a independência dos meios de comunicação e que o partido do governo cobra a aprovação no país de uma nova lei de mídia.

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