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sábado, 20 de agosto de 2016 | | 0 comentários

Memorial da Resistência

Na exposição temporária, a história do prédio de 1914 criado como armazém e escritório da antiga estrada de ferro sorocabana e que sediou a partir de 1940 o temido Dops. Um lugar marcado pelo sangue de muitos brasileiros, como cita a placa. 


No vídeo, a trajetória de um dos principais órgãos de polícia política do país, criado em 1924 e extinto no fim do regime militar. “Ele foi inaugurado em 2002 como Memorial da Liberdade, mas como não havia atividades educativas e culturais, mais ou menos em 2006, 2007 os ex-presos políticos solicitaram ao governo do Estado que o lugar fosse melhor aproveitado em termos educativos e culturais. Nós queríamos, de fato, trabalhar neste lugar de memória um conceito de resistência, porque ela não pode ficar só lá no passado, é uma coisa atual e que deve continuar no futuro. Neste lugar as pessoas podem tomar conhecimento de fatos que aconteceram no Brasil recente, então ela pode se educar para cidadania, para valorização dos princípios democráticos, do respeito aos direitos humanos”, diz Katia Regina Neves, coordenadora do memorial.

Em uma sala, uma linha do tempo histórica mostra casos de repressão e resistência desde a proclamação da República, em 1889. Episódios que nem a redemocratização do país impediu, como o assassianto do líder seringueiro Chico Mendes em 1988, as chacinas do Carandiru, em 92, da Candelária e de Vigário Geral em 93 e o massacre de Eldorado dos Carajás em 96.

O ponto alto da visita são as celas que abrigaram presos políticos. Uma delas reproduz o ambiente na época da ditadura. Os rabiscos na parede são atuais, um grito silencioso de quem sobreviveu. Nas celas, o som da abertura da porta indicava o destino de cada um. 





As máscaras representam 436 desaparecidos políticos. “Muitas continuam desaparecidas até hoje. E outras morreram em consequência da tortura." Aqui, como diz o painel, lembrar é resistir. 


“Isso é tão impressionante porque eu acho que as pessoas , quando elas visitam o memorial, conseguem entender isso, se a gente olhar, por exemplo, no livro de visitas que as pessoas deixam comentários, falam assim: ‘as pessoas falam que deveria voltar a ditadura porque não conheceram este lugar, eles não falariam um absurdo desses’. É impossível uma pessoa sair de um lugar como este, se ela tiver disponibilidade para aprender, e para perceber o que é você viver numa ditadura, etc, que ela não se eduque para ser um cidadão de fato, que exija seus direitos, mas também que respeite o direito dos outros”, fala Katia.
 
 

O Memoria da Resistência fica no largo General Osório, 66, junto da Estação Pinacoteca. A entrada é grátis. 
* Texto de reportagem feita para o programa “Ordem do Dia” (TV Cultura, sex. 23h30, sáb. 8h30)

sábado, 15 de agosto de 2015 | | 0 comentários

Na Pinacoteca, os retratos da família imperial

Para quem aprecia arte, principalmente pintura e escultura, a Pinacoteca do Estado de São Paulo é um programa imperdível. A exposição permanente reúne alguns dos melhores nomes da arte brasileira – e as mostras temporárias sempre apresentam novidades que costumam causar grandes filas, como foi com o trabalho do australiano Ron Mueck.

O prédio em si já mereceria uma visita. Feito todo em tijolos, é um palacete cercado de um belo jardim (pena que a área onde ele fica esteja mal cuidada; em uma das últimas visitas que fiz, o cheiro de urina e fezes na calçada era insuportável).






A seguir, trago alguns exemplos da mostra permanente, com destaque para o quadro “Emigrantes III” (1937), de Lasar Segall (o primeiro da sequência abaixo):




  






Uma das partes de que mais gosto é a que apresenta pinturas e retratos da família imperial brasileira. Não me lembrava, da primeira visita que fiz à Pinacoteca anos atrás, que esse material estava lá. É bastante interessante ver de perto as imagens da única família imperial das Américas (tirando o Canadá, que é da Commomwealth e não conta muito):

Dom João VI

Carlota Joaquina

Dom Pedro I e Dona Amélia

Dom Pedro II

Dona Maria Amélia


Dona Teresa Cristina

A Pinacoteca fica na Praça da Luz, 2 – largo General Osório, 66. Abre de terça a domingo das 10 às 17h30, com permanência até as 18h.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015 | | 0 comentários

A música canta e conta a história

Qualquer cidadão, em qualquer lugar do mundo, será capaz de lembrar de uma música que tenha marcado época por seu caráter histórico, de contestação ou retratação de um determinado momento. Das mais pops, como “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones...”, às mais rebuscadas, muitas delas contaram e fizeram história.

Confesso, porém, que nunca tinha parado para pensar na amplitude dessa relação quase umbilical até ver recentemente uma interessante exposição do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Intitulada “A música canta a República”, a mostra retratou a história do Brasil do final do século 19 ao início do século 21 por meio de canções populares, muitas das quais fizeram enorme sucesso, outras nem tanto.


A exposição foi construída de um modo que os visitantes passassem por uma espécie de linha do tempo. Nela, os fatos históricos mais relevantes eram apresentados em fotos e textos. Trechos de música apareciam como retratos daquele momento. Um guia auditivo podia ser usado para ouvir as canções conforme se avançava pela exposição.











   
A iniciativa acompanha o lançamento da trilogia “Quem foi que inventou o Brasil - a música popular conta a história”, escrita pelo jornalista e ex-ministro do governo Lula, Franklin Martins, cujos dois primeiros livros foram lançados recentemente.

Depois de São Paulo, a mostra passaria por Rio de Janeiro e Brasília.

Em tempo: as fotos acima não seguem a ordem cronológica dos fatos.

segunda-feira, 22 de junho de 2015 | | 0 comentários

A arte e a cor de Miró em São Paulo

Meu encontro com Joan Miró, um dos pilares da pintura espanhola no século 20, foi em 1995. Eu estava na faculdade de Comunicação Social e tinha o desafio de escolher um objeto de análise para o trabalho final de Semiótica – uma disciplina que exigia de mim e, creio, dos colegas uma atenção além do comum.

Compreender os signos, símbolos, ícones, significantes e significados era tarefa difícil, embora interessante.

Ainda meio – ou bastante – perdido, sem saber o rumo que o trabalho tomaria, decidi ir à biblioteca. Não sei responder o motivo, mas de alguma forma fui parar na seção de livros de arte. Comecei a folheá-los e me deparei com uma obra de Miró, “Interior holandês”, de 1928. Uma versão alegre, colorida e um tanto surrealista do quadro do holandês Hendrick Sorgh, “O tocador de alaúde”, de 1661 (veja aqui os dois quadros – em tempo: o link não é de minha autoria).

Além do entusiasmo transmitido pela obra de Miró (que, descobri depois, está presente na maioria dos seus trabalhos), chamou minha atenção a forma como ele subverteu o pretenso realismo do quadro original, feito quase três séculos antes. Estava, então, escolhido meu objeto de análise.

Com ele em mãos, fui até a professora e pedi uma orientação. O que ela me disse não ajudou muito: fiquei olhando para o quadro, várias horas se for preciso.

Foi o que fiz. Nada me vinha à mente – a não ser um anunciado “zero” no trabalho. Até que tive uma “luz”: comparar a geometria dos dois quadros. Tracei os riscos que a visão percorria, um desenho meio sem sentido, mas que rendeu um inesperado elogio da professora e um acréscimo na nota. A primeira, um oito, foi riscada para virar um dez, com uma observação: “pela dificuldade do objeto”.

Desde então passei a admirar o trabalho de Miró.

Anos depois, já em 2007, tive a surpresa e o prazer de me deparar com o quadro que me desafiou e me rendeu elogios na faculdade. “Interior holandês” está exposto no MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York.

Todo este preâmbulo veio à minha mente em razão da exposição do artista catalão no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Aberta em maio, “Joan Miró - a força da matéria” pode ser visitada até 16 de agosto. É, segundo o instituto, a maior exposição dele no Brasil, com mais de 100 obras, entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, objetos e fotos.


Alguns desenhos até soam infantis:


Outros, com uso intenso do preto, ganham um ar sombrio:



Mas o que prevalece mesmo são as cores tradicionais com que Miró dá ritmo aos seus traços:

 
 

 







Nas esculturas, é comum identificar rostos estilizados:


 
 
 

O instituto fica na avenida Faria Lima, 201, com entrada pela rua Coropés, em Pinheiros.