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quarta-feira, 6 de maio de 2015 | | 0 comentários

A escola que conhecemos faliu, acabou...

Se eu fosse estudante hoje faria milhares de bótons com a hashtag #chegadetortura para ostentar na sala de aula. (...) e cá estamos nós tentando melhorar a gestão - reciclagem e firulas - de um sistema medieval.

Paremos de culpar professores, acusando-os de corporativistas e letárgicos. Cessemos o giro da engrenagem da tortura que mói os alunos, vítimas da ditadura das aulas maçantes. O conceito da escola atual caducou. Fim.

Os pais não saberiam hoje achar uma raiz quadrada, e são incapazes de dizer qual a capital da Holanda ou da Suíça. Tentem. Ou, então, citem dois escritores românticos brasileiros, diferenciem um sujeito oculto de um indeterminado ou mesmo lembrem de dois elementos seguidos da tabela periódica.

A escola que temos é resultado da ideia iluminista de que tudo precisa ficar guardado na cabeça. Na era do Google, é um crime insistir no método da decoreba. (...)

Fonte: Ricardo Semler, “Tortura escolar nunca mais”, Folha de S. Paulo, Opinião, 28/4/15.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015 | | 0 comentários

Na Suécia, escola ensina a mudar

O jogo surgiu no século 19 como diversão. Virou tênis de mesa quando se profissionalizou. Mas numa escola da Suécia continua sendo o bom e velho pingue-pongue. Pode não parecer, mas os jovens estão aprendendo enquanto se divertem, como ressalta Lucas Morales, estudante e diretor de arte júnior. A Suécia também exporta educação. Um jeito diferente de ensinar. Ou melhor, de mostrar o que é preciso aprender.


Bem-vindo – indica a sala de aula da Hyper Island. É a área que mais se parece com uma classe como as das escolas brasileiras. Os alunos, de várias partes do mundo, estão atentos às explicações para a próxima tarefa. Ficam bem à vontade - tem até quem tira um cochilo. A aula, no sentido tradicional, dura menos de dez minutos. Hora de partir para a criação.

A escola que tem "ilha" no nome é um espaço cercado de pessoas criativas por todos os lados. E é este espírito que ela quer despertar nos estudantes. Os princípios colados nas paredes - como manter o foco e ter energia positiva - já foram vistos por 22 mil alunos.

A diretora Johanna Frelin conta que a escola nasceu em 1996 numa pequena cidade da Suécia com apenas 16 estudantes e um programa sobre novas tecnologias. Foi criada por três homens que queriam revolucionar a educação oferecendo treinamentos de uma maneira diferente porque tiveram experiências ruins na escola. “Na verdade, estamos tentando ensinar as pessoas a aprender, a serem curiosas e a entenderem a forma como a sociedade evoluiu para uma cultura digital que não tem volta. E tentar dar poder às pessoas e encorajá-las a escolher mudar”, diz ela.

Ensinar as pessoas, principalmente os jovens, a viver num mundo que muda numa velocidade nunca antes vista. É este o foco dos programas da Hyper Island. Mais do que ensinar regras ou ferramentas, estimular os alunos a pensar e a lidar com as mudanças que este novo mundo traz.

Por isso a aula tradicional toma só uma pequena parte do tempo dos estudantes. O resto é reservado para a prática - é assim que eles vão aprender. Sempre em grupos. Num espaço que é uma grande sala de aula, tudo pode mudar a qualquer dia. Inclusive os biombos que servem de paredes. E os próprios estudantes é que definem como vai ficar cada espaço. E isto tudo faz parte do aprendizado.








Os papéis coloridos lembram as tarefas e servem de estímulo à criatividade. O ambiente divertido ajuda o trabalho. Os alunos ficam concentrados. Na tela do computador, o filminho ganha forma. Thiago Masci tem 29 anos e chegou aqui em agosto do ano passado para um curso de um ano. Especializado em design de animação, procurou a Hyper Island para se aperfeiçoar.

Em breve, filmes como os do Thiago poderão ser feitos no Brasil. A Hyper Island abriu no ano passado uma filial em São Paulo. Por enquanto são apenas dois cursos rápidos, mas a ideia é ampliar a oferta de programas, inclusive com cursos de longa duração. “A Suécia tem uma longa tradição de proximidade com o Brasil. Nós compartilhamos os mesmos valores e como temos muitos estudantes que vêm aqui e refrescam nossos programas, achamos que seria muito fácil estar no Brasil”, fala a diretora.

Um intercãmbio que ganha novos parceiros e pode ajudar os dois países. A ONG “Young Innovation Hub” em Estocolmo, criada há cinco meses, aposta na troca de experiências para estimular novos negócios. Foi isto que levou o brasileiro Michael Figueiredo a colaborar com o projeto.


Uma das fundadoras da ONG, Sissa Pagels conta que o plano é ambicioso: criar uma comunidade global de empreendedores. Para isso, a ONG conecta os jovens com empresas e investidores. “Quero que eles entendam que podem trabalhar localmente, mas que são globais. Eles estão conectados com outras pessoas ao redor do mundo. Eu quero os jovens conectados com diferentes países”.

* Texto original (com adaptações para o blog) de reportagem feita para o programa “Matéria de Capa” (TV Cultura, dom., 19h30)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

Estelionato eleitoral petista chega à educação em SP

Não só em nível federal que o PT pratica estelionato eleitoral. Agora é a vez de São Paulo. Após passar várias campanhas (inclusive a mais recente, para o governo do Estado) com seus candidatos atacando a aprovação automática na rede estadual, a prefeitura da capital – liderada pelo petista Fernando Haddad – anunciou justamente a aprovação de alunos que não conseguiram nota suficiente para passar de ano. Em ouyras palavras, aprovação automática.

Faça o que eu digo, não faça o que eu faço... Ou: ouça o que eu digo, mas não repare no que eu faço... Ou: critico o que tu fazes, digo que não faço, mas faço.

E quando eu digo que são todos farinha do mesmo saco...

segunda-feira, 15 de setembro de 2014 | | 0 comentários

Lições que vêm da Finlândia

Recentemente, tive a oportunidade de entrevistar a diretora de uma universidade da Finlândia. Assunto: educação.

Foi das conversas mais interessantes que tive.

O que me chamou a atenção foi o fato das respostas serem todas tão óbvias, mas tão óbvias, que me fizeram sentir como realmente o Brasil está longe de ter uma educação de qualidade. Simplesmente porque as respostas óbvias estão extremamente distantes da nossa cultura e da nossa realidade.

A seguir, um resumo da entrevista (não se trata de tradução das respostas, apenas o "espírito" do que foi dito):

Por que a Finlândia está sempre no topo dos rankings da educação? Qual o segredo?
Boa questão. A gente não percebia isso até que nos perguntamos: “por quê?”. O segredo é a igualdade entre os estudantes. As escolas são iguais, todos têm a mesma formação e as mesmas oportunidades. Não há educação privada, todo o sentido é gratuito.

O que o Brasil poderia fazer para melhorar a educação?
Deve começar educando os professores o melhor que se pode. Na Finlândia, todos têm ao menos mestrado.

O que deve ser feito para combater a evasão escolar? Isto existe na Finlândia?
É ínfimo, casual, inexistente. Se os pais respeitam/valorizam a educação, os filhos não deixam a escola.

Como os pais participam da vida escolar dos filhos?
Eu tenho dois filhos. Duas vezes ao ano temos reuniões com os professores, e reuniões privadas. Os pais acompanham o que está ocorrendo.

O que é mais importante se o Brasil tivesse que escolher uma meta: treinar os professores, estimular os pais ou investir mais?
Invista nos professores. Eles são os reis da educação.

Em tempo: o ensino básico na Finlândia dura 12 anos.
 O médio é dividido entre técnico (vocacional) ou tradicional (“high school”) - ambos de três anos.

terça-feira, 17 de junho de 2014 | | 0 comentários

A crônica falta de educação brasileira

(...) Na raiz e na forma daquele fato está a realidade de que os brasileiros não têm educação nenhuma. (...)

A cafajestice é a regra, sem diferenciação entre as classes econômicas. Na vulgaridade da linguagem, na indumentária "descontraída", na ganância que faz de tudo um modo de usurpar algo do alheio, na boçalidade do trânsito, nos divertimentos escrachados, na total falta de respeito de produtores e comerciantes pelo consumidor, enganado na qualidade e furtado no valor - em tudo é o reinado do primarismo mental e dos modos da falta de educação.

O baixíssimo nível moral e intelectual do Congresso, o comercialismo dos dirigentes políticos e dos partidos, o negocismo que corrompe as administrações públicas, tudo isso é a própria falta de educação, invasiva e ilimitada. E crescente. (...)

Fonte: Janio de Freitas,
“O que se perdeu”, Folha de S. Paulo, Poder, 17/6/14.

segunda-feira, 9 de junho de 2014 | | 0 comentários

"Autonomia" universitária: um debate necessário

(...) Trocando em miúdos, não faz muito sentido exigir que os impostos do favelado paulista subsidiem o estudante de medicina ou engenharia da USP, que, apesar dos relevantes serviços que prestarão, serão recompensados com vencimentos 15 ou 20 vezes maiores que a média nacional.

A questão, no fundo, é simples. A menos que incorrêssemos em alíquotas de imposto significativamente maiores que as atuais, o Estado não consegue oferecer "gratuitamente" tudo o que dele se exige. Precisamos fazer escolhas. E aí o caso da universidade é um dos mais difíceis de defender. A educação básica e a saúde, para citar apenas dois itens, me parecem prioridades bem mais claras.

Fonte: Hélio Schwartsman, “Não há almoço grátis”, Folha de S. Paulo, Opinião, 4/6/14, p. 2.

***

A seguir, trecho de e-mail que mandei para o Schwartsman a respeito do assunto:

"O modelo das universidades no Brasil já se esgotou. Ou a autonomia é revista (não para derrubá-la, mas ao menos para impor uma espécie de lei de responsabilidade fiscal, ou se institui o modelo que você sugeriu).

Afinal, as universidades públicas paulistas consomem mais de 10% das receitas do ICMS do Estado mais rico da federação, um modelo único no mundo. Parece-me um custo desproporcional no que diz respeito ao conjunto da sociedade.

Ainda mais quando uma universidade comete a irresponsabilidade de comprometer 105% do seu orçamento com salários. Na iniciativa privada isto tem nome: insolvência.

Mas em relação à USP mal se pode tocar no assunto...

Que ao menos as alternativas sejam debatidas com racionalidade, sem dogmatismos ideológicos."

domingo, 16 de fevereiro de 2014 | | 0 comentários

Frase

“Mesmo se em alguns momentos da história o saber não soube ou pôde eliminar por completo a barbárie, não temos outra escolha. Devemos continuar a crer que a cultura e uma educação livre são os únicos meios para tornar a humanidade mais humana.”
Nuccio Ordine Diamante, professor de literatura italiana da Universidade da Calábria, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”

quarta-feira, 23 de outubro de 2013 | | 0 comentários

Para anotar na agenda

Então ficamos assim: segundo afirmou a presidente Dilma Rousseff em rede nacional de TV na última segunda-feira (21/10), o Brasil passará por uma “pequena revolução” na educação nas próximas três décadas em razão da dinheirama do pré-sal.

Já o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, falou no dia seguinte em “salto extraordinário” nos investimentos no setor.

É esperar para ver. Ou melhor, para cobrar.

Se em 30 anos o Brasil não se tornar de fato um país desenvolvido na mais relevante e pura acepção do termo, que significa ter educação de qualidade, a responsabilidade única e exclusiva será dos governos.

Afinal, Dilma e Mercadante prometeram uma “revolução” (pequena, mas revolução) e um “salto extraordinário” (e nada menos que extraordinário).

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013 | | 0 comentários

Piora desempenho de limeirenses no Enem

O sinal amarelo acendeu nas escolas de ensino médio de Limeira – públicas e particulares. Todas as que tiveram nota no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2009 pioraram o desempenho em 2011. Algumas delas não só apresentaram um desempenho inferior de seus alunos como também perderam posições no ranking municipal, casos do Colégio Acadêmico e da Einstein.

Mais uma vez, as melhores notas foram das escolas particulares. Entre as dez primeiras, oito são privadas – as únicas duas públicas que figuram no “top ten” são de ensino técnico (Cotil, ligado à Unicamp, e “Trajano Camargo”, ligado ao Centro Paulo Souza).


O Ministério da Educação (MEC) só divulga as notas das escolas cuja participação dos alunos no exame foi igual ou maior a 50%. Em 2011, receberam nota 10.076 instituições em todo o país. A média de todas elas caiu em relação ao ano anterior – ou seja, o fenômeno não é exclusivo de Limeira, sendo necessário um alerta nacional.

A nota média das escolas participantes no Enem 2011 foi de 519,08. Isto significa que 11 escolas de Limeira ficaram acima da média nacional.

Para efeito de comparação, a melhor escola do Brasil foi o Colégio Objetivo Integral, de São Paulo, com nota 737,15. Há dois anos, a melhor nota tinha sido 749,7.

Em 2009, 35 escolas de Limeira apareceram na lista do MEC, embora nove delas não tivessem nota. Em 2011, o número de unidades apresentadas foi de 19 – todas com nota.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012 | | 0 comentários

Educação brasileira: o "x" da questão

Pesquisa da Faculdade de Educação da USP mostrou que quase metade dos alunos que ingressam nos cursos de licenciatura em física e matemática da universidade não estão dispostos a tornar-se professores. O detalhe inquietante é que licenciaturas foram criadas exatamente para formar docentes.

A dificuldade é que, se os estudantes não querem virar professores, fica difícil conseguir bons profissionais e, sem eles, o sistema de ensino brasileiro seguirá colecionando fracassos.

Embora exista muita polêmica sobre o que funciona ou não em educação, não há dúvida de que a qualidade do professor é fundamental. Trabalho de 2007 da consultoria McKinsey comparou sistemas de educação de todo o mundo e concluiu que o elemento de maior destaque nas redes de excelência era a capacidade de "escolher as melhores pessoas para se tornarem professores".

Na Coreia do Sul, por exemplo, os futuros mestres são recrutados entre os 5% de alunos com notas mais altas no equivalente ao vestibular. Na Finlândia, os docentes são selecionados entre os "top ten". Por aqui, segundo levantamento de 2008 da Fundação Lemann, apenas 5% dos melhores alunos do ensino médio pensam em abraçar o magistério. Ser professor no Brasil se tornou a opção dos que não têm melhores opções.

Resolver essa encrenca é o desafio. Salários são por certo uma parte importante do problema, mas outros elementos, como estabilidade na carreira e prestígio social, também influem. O tratamento quase reverencial que a sociedade coreana dispensa a seus mestres ajuda a explicar o sucesso educacional do país.

Essas considerações tornam difícil a situação do Brasil, que precisa transitar de um modelo em que os piores alunos viram docentes para um que prime pela excelência. E, como o deficit de professores já é enorme (200 mil só na área de exatas), teremos de achar um jeito de trocar o pneu com o carro em movimento.

Fonte: Hélio Schwartsman, “Encrenca educacional”, Folha de S. Paulo, Opinião, 13/10/12, p. 2.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012 | | 0 comentários

"Jamaica ou Finlândia?"

Terminada a Olimpíada de Londres, aqui e ali escuta-se que o país deveria investir nas escolas, verdadeiros "celeiros de atletas", a fim de obter um desempenho melhor em 2016 no Rio. Com a massificação das práticas esportivas, dizem os especialistas, inevitavelmente surgiriam campeões.

De fato, é muito frustrante, a cada quatro anos, acompanhar o desempenho brasileiro na competição. Dia após dia, a Olimpíada vai se transformando numa sucessão interminável de fracassos. Com honrosas exceções, nossos atletas só perdem. Nem o 'massificado' futebol escapa.

Mas, considerando a fragilidade do ensino brasileiro, será mesmo que descobrir atletas deve ser uma prioridade das nossas escolas? Um país que não consegue ensinar português e matemática adequadamente aos seus alunos deve realmente se preocupar em achar talentos olímpicos? Afinal, preferimos ser uma Jamaica, potência no atletismo, ou uma Finlândia, que nem uma medalhinha de ouro conseguiu em Londres?

É evidente que não se trata aqui de desmerecer a importância do esporte na formação do indivíduo. Os benefícios físicos e psicológicos obtidos com a prática esportiva são inegáveis. A questão é de foco. O objetivo é estimular hábitos saudáveis nas escolas - para os quais bastam uma bola, uma quadra e um bom professor de educação física - ou vamos gastar milhões em diversos equipamentos esportivos para formar campeões em dezenas de modalidades?

Antes de pensar em mudar de patamar olímpico, o Brasil precisa elevar o seu padrão de ensino. Dados como os divulgados anteontem pelo governo federal sobre o grau de conhecimento dos nossos estudantes são inconcebíveis, muito mais do que os resultados esportivos. A nota do estudante do ensino médio é de apenas 3,7, para se ter uma ideia.

Se até 2016 o Brasil conseguir melhorar significativamente os indicadores educacionais, aí sim teremos algum motivo para comemorar.

Fonte: Rogério Gentile, "Folha de S. Paulo", Opinião, 16/8/12, p. 2.

sexta-feira, 4 de maio de 2012 | | 0 comentários

Novos jornalistas

Prezados pais, amigos, companheiros e companheiras dos formandos, queridos alunos. Boa noite. Que alegria imensa reencontrá-los neste momento tão importante. Sou acostumado a falar de improviso, mas ocasiões especiais exigem algo mais apurado. E esta é, sem dúvida, uma ocasião especial.

Alguns gestos são extremamente significativos na vida de qualquer pessoa. Seja um simples “muito obrigado” ou o convite para uma formatura, significam sempre uma manifestação de atenção e carinho. Assim, ser convidado para representar o corpo docente desta turma que hoje se forma em Comunicação Social, na habilitação Jornalismo, é uma distinção que me deixa honrado e agradecido. Tenham, desde já, minha gratidão.

Quando entrei nesta instituição pela primeira vez como professor, tinha plena noção do tamanho da responsabilidade que me aguardava. Procurei desde o início fazer meu melhor. Recebi do Isca Faculdades uma missão nobre: ensinar. Sabia que ficara para trás o tempo em que o professor era o sábio detentor de todo o conhecimento. Confesso, porém, que não esperava aprender tanto quanto aprendi com cada um de vocês, queridos alunos. Conheci pessoas diversas, com modos e pensamentos diferentes; encontrei novos colegas e descobri até amigo – e quão valorosos são os amigos.

Quantas foram as vezes em que cheguei nesta instituição cansado e saí renovado com a energia de vocês, a energia da juventude. Não que eu esteja tão longe assim dos tempos de jovem, mas posso dizer que quando fiz faculdade ainda não se usava e-mail - e é melhor parar esta parte por aqui.

Não é sobre mim, porém, que gostaria de falar nesta noite. Os protagonistas desta solenidade são vocês, queridos alunos. Por isso, peço licença aos pais e convidados para me dirigir diretamente aos formandos. Vocês escolheram uma profissão difícil, em vários aspectos. Trata-se de uma verdadeira profissão de fé – e não cito fé aqui em seu sentido mais estrito, religioso, e sim num sentido mais amplo.

Nossa missão profissional é árdua: denunciar e escancarar o que muitos querem esconder. Fiscalizar e cobrar o que não querem que seja fiscalizado e cobrado. Como já dizia o grande Millôr Fernandes, “jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Fazer isto, porém, custa caro. Não é à toa que vez ou outra sofremos retaliações e ameaças – sei bem o que é isto. Muitos de nossos colegas pagam com a própria vida. Só este ano, um jornalista foi morto a cada cinco dias nos quatro cantos do mundo, relata a organização Repórteres Sem Fronteira. No Brasil, quatro jornalistas foram assassinados em 2012, um a cada mês. Foram mortos porque contrariaram interesses. Em última análise, padeceram por simplesmente exercer a profissão que escolheram. A eles, portanto, nossas homenagens.

Não pretendo aqui assustar aos pais, namorados e namoradas, maridos e esposas, mas o fato é que a profissão de jornalista tem certas particularidades que precisam ser ditas. Costumamos trabalhar muito e receber pouco, muitos de vocês já devem ter se dado conta disto. Não é à toa que muitos abandonam a profissão (perdoem-me a franqueza, mas isto tudo tem que ser dito).

Se decidirem seguir em frente, tenham consciência: jornalismo é profissão de fé. Somos movidos por ideais – unicamente por isso, ideais.

Sobre a profissão, porém, já conversamos bastante durante as aulas e nos encontros fortuitos no dia-a-dia das nossas atividades. Gostaria, portanto, de pedir licença para falar sobre algo mais importante, a vida. É sobre isto que quero conversar com vocês, queridos alunos.

A vida é um bem precioso. Um bem, acredito eu, movido a sonhos. Tenho certeza que dentro de cada um de vocês, ou da maioria de vocês, reside um sonho. Ou muitos sonhos. Às vezes adormecido, mas ele existe, está aí. Talvez seja preciso permitir que ele se manifeste, só isso. Se assim for, ouçam-no. E comecem. Dêem o primeiro passo – ele é o mais difícil de todos, acreditem. Corram atrás. Não se acovardem perante os riscos e as dificuldades, são parte da nossa caminhada pela vida. Não se permitam chegar ao fim e, ao olhar pelo retrovisor, constatar que deixaram de tentar pelo medo de falhar. Tenham certeza: é melhor arriscar e eventualmente alcançar coisas grandiosas, mesmo expondo-se à derrota, a ficar inerte, sem conhecer nem vitória nem derrota.

Para dar o primeiro passo, é preciso uma boa dose de coragem, é verdade. Muitas vezes também uma dose de ousadia. E até, às vezes, uma porçãozinha de loucura. Antes e acima de tudo, porém, é preciso que vocês não se acomodem. Nunca. Trabalhei numa empresa que teve durante algum tempo um slogan de que eu gostava muito: “Acomodar-se jamais!”. A inquietude das almas move o mundo, desde os primórdios.

Não, não é fácil, eu sei. “Todos somos escravos da esperança e do medo”, já dizia Sêneca. Aliás, vem deste mesmo pensador uma sentença bastante interessante e adequada para o que pretendo dizer: "Com efeito, viver muito tempo quem decide é o destino. Viver plenamente, o teu espírito." 

Por isso, queridos alunos, não se permitam acomodar. Não se conformem com a mesmice. Sonhem, planejem, busquem, façam a diferença – não para os outros, mas para si mesmos. E lembrem-se: cada dia conta. Se ao final da jornada, vocês puderem repetir as sábias palavras registradas em uma das cartas do apóstolo Paulo ao jovem Timóteo, terá valido a pena: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”. Façam, pois, valer a pena o bem precioso a que chamamos de vida.

Parabéns e sejam felizes, queridos alunos e agora colegas de trabalho. É o desejo mais precioso que posso ofertar-lhes neste momento.

Muito obrigado.


PS: discurso proferido por mim, na qualidade de professor homenageado, na formatura da turma 2011 de Comunicação Social (Jornalismo e Publicidade/Propaganda) do Isca Faculdades em 4/5/12.

* Queridos alunos, esta foi a única foto que encontrei da turma nos meus arquivos. Infelizmente, nem todos foram à comemoração nesse dia (há, portanto, alunos faltando na foto, como há também pessoas que não eram alunos da classe). Seja como for, vale a intenção.

Afinal, por que não tiramos mais fotos?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011 | | 1 comentários

No Chile, consciência política é coisa séria!

“Estamos en presencia de um quiebre entre la ciudadanía y el mundo político que prácticamente lo desligitima. Una reforma política profunda es imprescindible para recuperar la legitimitad de la representación.”
Roberto Méndez, presidente do Adimark GfK, em entrevista para o jornal “El Mercurio”, de Santiago (Chile), publicada em 25/11/11 na página B 7


Viajar não é só conhecer lugares. É também entender (ou tentar) uma outra cultura. Foi justamente este aspecto o que mais me chamou a atenção numa recente viagem ao Chile.

Nós, brasileiros, sempre ouvimos falar do nível educacional do povo chileno, um dos mais elevados da América Latina. Recentemente, assistimos à disputa entre estudantes e governo, que incluiu uma greve dos alunos que durou seis meses.


Tudo isso eu já sabia e de alguma forma já esperava. O que me surpreendeu mesmo foi constatar a quantidade de protestos do povo. Não há rua que se passe em que não se veja alguma forma de protesto em muros, fachadas, etc.

Grande parte dos protestos é de caráter genérico e puramente ideológico, com frases feitas como “abaixo o capitalismo”, “não ao lucro”, etc.



  
Há protestos mais diretos contra o que consideram repressão por parte do governo ou contra demissões e supostos arrochos salariais (escrevo “supostos” porque não conheço a realidade do país).


Existem, por fim, protestos que me parecem ser resquícios de uma das mais violentas ditaduras que a América Latina conheceu, comandada pelo general Augusto Pinochet. São mensagens de lembrança, heroísmo e saudade de pessoas que se foram. Mensagens assim foram vistas até nas margens do rio Mapocho, que corta a capital chilena com suas águas cor de achocolatado.



Também chamou a atenção o local onde alguns protestos apareceram. É significativo, do ponto de vista da democracia, ver uma gigantesca faixa em plena fachada de uma das mais tradicionais universidades chilenas, a Universidad de Chile (ou simplesmente "La U”, como dizem os locais).

  

Mais significativo ainda foi ver outra grande faixa pendurada no alto do Ministério da Agricultura, a dez metros do Palácio de La Moneda, sede do poder Executivo federal (ou seja, o local de trabalho do presidente). Em meio a folhetos com mensagens de protesto (pelo que entendi, partiam de uma central de trabalhadores públicos) jogados do alto do prédio, a faixa dizia: “Piñera miente”.

Em tempo: a pessoa citada é Sebastian Piñera, que vem a ser justamente o presidente da República.

  
Confesso que não consegui imaginar cenário semelhante no Brasil, algo como uma grande faixa pendurada em alguns dos ministérios da esplanada, em Brasília, dizendo “Dilma mente”. Não, não consegui vislumbrar algo assim, pacificamente como vi em Santiago.

É certo que pouco tempo depois a polícia compareceu ao local e vi inclusive um certo tumulto, mas me pareceu uma reação a um suposto fechamento do órgão público (até porque a tal faixa ficou lá no alto do prédio durante todo o dia).


Talvez a força democrática vista nas ruas de Santiago e nas demais cidades chilenas por onde passei esteja ligada ao elevado nível educacional da população. Talvez ela esteja ligada ao fato do país não abrir mão de acertar as contas com seu passado, sua história (ao contrário do Brasil...). Talvez seja uma bela lição para nós, brasileiros - que vimos recentemente a reitoria da maior universidade do país ser tomada pelos estudantes em protesto contra uma ação da Polícia Militar de repressão ao uso de maconha...

PS: registre-se que se há diferenças claras no que diz respeito à conscientização política entre brasileiros e chilenos, alguns aspectos nos unem. É o caso da desconexão entre os anseios do povo e a ação de seus representantes, como evidencia a manifestação que abre esta postagem.

terça-feira, 30 de agosto de 2011 | | 0 comentários

O desafio da educação de qualidade

Poderia até funcionar como propaganda do ProUni brasileiro: em 20 anos, o número de estudantes universitários multiplicou-se por cinco, passando de 200 mil a 1 milhão. Melhor ainda: 70% dos universitários de hoje são filhos de pais que jamais tiveram acesso à universidade.

Mas não estamos falando do Brasil e, sim, do Chile. Aliás, os estudantes chilenos de 15 anos ficaram no primeiro lugar na América Latina, no mais recente exame internacional comparativo, o Pisa, conforme lembrou ontem, em "El País", o colunista Andrés Oppenheimer.

Esses números indicam que são ingratos os estudantes chilenos, que não saem das ruas há meses, reclamando educação pública gratuita e de qualidade? Não. Indicam duas coisas, a saber:

1 - O chileno, ao contrário do acomodado brasileiro, é um bicho afeito à mobilização desde sempre.

2 - O sistema educacional chileno nem é público nem é gratuito nem é de qualidade.

O Chile, como o Brasil, resolveu o problema da quantidade (conseguiu universalizar o acesso ao ensino básico), mas não o da qualidade: 40% dos alunos deixam o ensino fundamental sem entender o que leem (como no Brasil).

Vale o mesmo raciocínio para a universidade. No modelo chileno, o Estado praticamente afastou-se do ensino superior, limitando-se a financiar as escolas privadas para que aceitem o maior número possível de alunos. 

Em consequência, a metade praticamente dos jovens em idade universitária está na escola superior, índice melhor do que o de quase todos os vizinhos.
Mas a legislação é frouxa no que tange ao controle da qualidade do ensino (como no Brasil).

Pior: o custo é o mais elevado da América Latina, o triplo do italiano, 19 vezes maior do que o francês, conforme os dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o que levou o endividamento (do estudante e de sua família, avalista do débito durante a graduação) a um ponto insuportável e empurrou a moçada para a rua.

Em um país em que o salário médio (não o mínimo) equivale a R$ 1.755, os jovens desembolsam entre R$ 580 e R$ 1.370 mensais conforme o curso escolhido. 

Consequência inescapável: 70% dos estudantes estão endividados e 65% dos mais pobres interrompem os estudos sufocados por problemas financeiros insuperáveis.

Os custos levam ainda à reprodução, no acesso à universidade, da desigualdade que existe no conjunto da sociedade (como no Brasil, aliás): entre os 10% mais pobres, só 16% conseguem chegar ao ensino superior, ao passo que, nos 10% mais ricos, a taxa é de 61%.

Tudo somado, fica evidente que a América Latina tem um nó formidável na educação, posto que há deficiências colossais nos dois modelos (o público gratuito do Brasil, complementado por proliferação descontrolada do ensino privado, e a escola privada financiada pelo Estado, como no Chile, também com setor estritamente privado igualmente sem controle de qualidade).

O que surpreende, pois, não é que os jovens chilenos ganhem a rua, mas que os brasileiros só o façam para reivindicar meia entrada.

Fonte: Clóvis Rossi, “Chile e Brasil, dois fracassos”, Folha de S. Paulo, Mundo, 30/8/11.

sexta-feira, 1 de abril de 2011 | | 0 comentários

"Livros"

Eram várias filas de meninos e meninas, quase todos negros e de famílias pobres, que organizadamente saíam da escola. Um detalhe fez com que essa fosse para mim uma das mais inesquecíveis imagens de indivíduos que se transformam, apesar de todos os obstáculos, em seres apaixonados pelo prazer de aprender.

Muitas daquelas crianças, embrulhadas em imensos casacos e carregando pesadas mochilas, tinham dificuldade de caminhar. E por um simples motivo: estavam entretidas lendo livros enquanto andavam. Nem quando desciam as escadas interrompiam a leitura, segurando o corrimão com a mão livre.


Naturalmente, ninguém tinha pedido a eles que lessem coisa alguma, afinal isso seria um convite a tropeções.


A imagem se torna ainda mais interessante quando sabemos que o bairro onde fica essa escola em Nova York, chamado Crown Heights, é povoado de gangues, drogas, casos de gravidez precoce e famílias desestruturadas. A maioria dos adolescentes não consegue completar o ensino médio e os que conseguem têm notas ruins, o que os impede de ir para as melhores faculdades.


Não é difícil entender a cena quando se está sentado diante do diretor dessa escola pública, chamada Always Mentally Prepared Academy (traduzindo livremente, Academia das Mentes Sempre Preparadas).


Negro, com cabelos trançados, Ky Adderley foi treinado durante um ano em algumas das melhores universidades americanas para desenvolver a habilidade de gestão. Assim, aprendeu a recrutar equipes, estimular os professores, economizar dinheiro e trabalhar com metas. "As notas não são minha grande meta, apesar de serem o jeito de sermos avaliados. Nossos alunos têm notas altas. Minha meta é que sejam pessoas autônomas e com gosto por aprender."


A melhor tradução do sucesso dessa escola está num simples número: 70% dos alunos conseguem entrar na faculdade.


Desde o primeiro dia na escola, a criança recebe uma camiseta com um número grande escrito nas costas. É o ano em que ela vai entrar na faculdade. "Não é apenas o estudante que entra na nossa escola. A família entra junto", conta Ky, dizendo que é feito um trabalho especial com os pais para compartilhar os desafios.


As salas de aula têm nomes de universidades. Durante os feriados ou nas férias, são programadas viagens para várias dessas instituições.


Como está numa escola pública independente (recebe dinheiro do governo, mas pode escolher o currículo e os professores), Ky pode demitir o professor que não funciona.


Muitas vezes, ele fica no fundo da sala assistindo às aulas e, depois, conversa com os professores para ajudar a explicar as matérias. "Como sempre gostei de esporte, trouxe esse técnica inspirado nos técnicos", conta.


No dia em que eu estava lá, ele protagonizou uma cena insólita. No fundo da sala, Ky dava dicas em tempo real usando um quase imperceptível microfone para se comunicador com o professor, que tinha um receptor no ouvido. "Aprendi que, se cuidamos diariamente dos pequenos problemas, mesmo que pareçam insignificantes, eles não ficam grandes."


Os sinais da busca da excelência, da necessidade de esforço e do encanto do aprender estão em todos os lugares. Estão nas salas arrumadas e coloridas, estão nos corredores onde se pode ouvir tanto o som de jazz contemporâneo como obras clássicas e até música brasileira. "Sou louco pelo Brasil, especialmente pela Bahia."


As paredes dos corredores estão forradas de frases e ensinamentos de pensadores e escritores, como se fossem um livro aberto.


Assim, fica fácil explicar aquela cena na fila: se o livro entra vida das pessoas, as pessoas entram na vida dos livros.

PS - Uma ironia. Naquela escola, existe um professor baiano (Sabiá Silveira) que dá aula de capoeira. Ele transformou nossa luta-dança em fonte de ensinamentos sobre diversidade cultural, equilíbrio emocional, física e geometria. Ainda dá aula de português. Tive de viajar para tão longe do Brasil para ver o melhor uso da capoeira na educação.


Fonte: Gilberto Dimenstein, “Folha de S. Paulo”, Cotidiano, 27/3/2011.

terça-feira, 8 de março de 2011 | | 0 comentários

Jornalismo, internet, educação e legislação

O Corregedor-geral auxiliar da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, coronel Elias Augusto Siqueira de Souza, foi exonerado após intimar o jornalista João Valadares, do “Jornal do Commercio”, a prestar depoimento e revelar a identidade de militares que teriam servido como fonte de informação para uma série de reportagens sobre o sucateamento do Corpo de Bombeiros.

O governador Eduardo Campos (PSB), responsável pela exoneração, afirmou que o respeito aos direitos humanos e à liberdade de imprensa embasou a decisão e defendeu o direito ao sigilo da fonte. "Nosso governo é transparente por princípio e por decisão política. Nós consideramos essencial à democracia o preceito constitucional segundo o qual é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional", disse.


Leia a notícia completa aqui.

Fonte: Natalia Mazotte, blog "Jornalismo nas Américas", produzido pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas na Universidade do Texas, em Austin, e financiado pela John S. and James L. Knight Foundation

***

Tramita no Senado uma proposta de emenda à Constituição (PEC 6/11) que quer tornar o acesso à internet um direito social do cidadão brasileiro. O senador Rodrigo Rollemberg, autor da proposição, pretende popularizar o acesso à rede, garantindo que o Estado seja provedor deste direito.

Na justificativa de apresentação da PEC, protocolada no último dia 2/3, o senador argumenta que a internet se tornou uma ferramenta importante para a formação pessoal, intelectual e profissional de todos os cidadãos. (...)

Para o senador, a iniciativa se faz necessária em função da precariedade do acesso à web para estudantes pobres e moradores de regiões menos desenvolvidas do país. De acordo com o estudo "Lápis, Borracha e Teclado", realizado pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz e apresentado por Rollemberg como argumento em favor de sua proposta, há uma grande diferença no que diz respeito ao acesso à internet entre escolas públicas e privadas no país.

Segundo o estudo, no ensino fundamental, 17,2% dos alunos das escolas públicas usam a internet, enquanto que nas escolas particulares o número é de 74,3%. No ensino médio, o percentual de estudantes das escolas públicas com acesso à internet é de 37,3%, contra 83,6% nas escolas privadas.


Leia a notícia completa aqui.

Fonte: Idem.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011 | | 0 comentários

Limeira fora de mais uma lista...

Uma resolução - número 38, de 29 de dezembro de 2010 – do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) é o mais recente indicativo da falta de prestígio ou de competência de Limeira junto ao governo federal. O documento apresentou os municípios contemplados na primeira chamada com creches do Programa Pró-Infância e com quadras escolares do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2).

Em todo o país, 223 municípios receberão verba para a construção de 520 creches e 98 para 213 quadras. Segundo a Agência Brasil, São Paulo é o estado com o maior número de projetos atendidos: 103 creches.

Da região, foram contempladas com creches Americana (duas unidades), Amparo (1), Araras (2), Campinas (8), Cosmópolis (1), Engenheiro Coelho (1), Jaguariúna (1), Mogi-Guaçu (1), Mogi-Mirim (1), Nova Odessa (1), Paulínia (1), Rio Claro (3), Santa Bárbara d'Oeste (2) e Sumaré (2). Ou seja, quase todo mundo...

Araras (2), Rio Claro (1) e Santa Bárbara d'Oeste (1) ainda foram contempladas com verbas para quadras.

De acordo com a resolução, o processo seletivo foi realizado no último trimestre de 2010 pelo Ministério da Educação. Coordenador-geral de Infraestrutura Educacional do FNDE, Tiago Radunz explicou à Agência Brasil que “a seleção é feita com base no número de projetos inscritos e na demanda por vagas em creches que há naquela região”.

Ainda conforme a agência oficial do governo, essa primeira lista incluiu “municípios com mais de 50 mil habitantes e localizados em regiões metropolitanas”. Repare que o texto cita “e” (ou seja, os dois fatores juntos) e não “e/ou”, o que abriria a possibilidade de um ou outro fator ter sido considerado.

No entanto, basta verificar a lista de cidades mencionadas aqui para concluir que grande parte delas não faz parte de nenhuma região metropolitana – no caso, a de Campinas (RMC), formada por 19 cidades (a saber: Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d´Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo).

Engenheiro Coelho, com 10 mil habitantes, não se encaixa na faixa populacional prevista, embora faça parte da RMC (valeria então apenas um dos dois fatores)? Sendo assim, Limeira poderia estar na lista pois, mesmo fora de qualquer região metropolitana, tem mais de 50 mil habitantes – como Jaú (1), Lins (1), Matão (1) e São Carlos (2), contempladas com verbas para creches.

Alguém, portanto, poderia responder se Limeira ficou fora porque não inscreveu projetos (o fator incompetência) ou porque não teve os projetos selecionados (o fator falta de prestígio)?


Seja qual for a opção, é grave e triste.

Em tempo: a resolução do FNDE foi publicada no Diário Oficial da União no último dia de 2010, nas páginas 49 e 50. Para ver, clique
aqui e aqui.

Já a reportagem da Agência Brasil pode ser vista
aqui.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010 | | 0 comentários

O futuro do Brasil

O Ministério da Educação apresentou hoje o novo Plano Nacional de Educação. Ele fixa 20 metas para a próxima década. São elas:

Meta 1: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, e ampliar, até 2020, a oferta de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até 3 anos.

Meta 2: Criar mecanismos para o acompanhamento individual de cada estudante do ensino fundamental.

Meta 3: Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%, nesta faixa etária.

Meta 4: Universalizar, para a população de 4 a 17 anos, o atendimento escolar aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de ensino.

Meta 5: Alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os 8 anos de idade.

Meta 6: Oferecer educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica.

Meta 7: Atingir as médias nacionais para o Ideb já previstas no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

Meta 8: Elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos de modo a alcançar mínimo de 12 anos de estudo para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos 25% mais pobres, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, com vistas à redução da desigualdade educacional.

Meta 9: Elevar a taxa de alfabetização da população com 15 anos ou mais para 93,5% até 2015 e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de analfabetismo funcional.

Meta 10: Oferecer, no mínimo, 25% das matrículas de educação de jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio.

Meta 11: Duplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta.

Meta 12: Elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurando a qualidade da oferta.

Meta 13: Elevar a qualidade da educação superior pela ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior para 75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 35% doutores.

Meta 14: Elevar gradualmente o número de matrículas na pós-graduação stricto sensu de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores.

Meta 15: Garantir, em regime de colaboração entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios, que todos os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior, obtida em curso de licenciatura na área de conhecimento em que atuam.

Meta 16: Formar 50% dos professores da educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto sensu, garantir a todos formação continuada em sua área de atuação.

Meta 17: Valorizar o magistério público da educação básica a fim de aproximar o rendimento médio do profissional do magistério com mais de onze anos de escolaridade do rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente.

Meta 18: Assegurar, no prazo de dois anos, a existência de planos de carreira para os profissionais do magistério em todos os sistemas de ensino.

Meta 19: Garantir, mediante lei específica aprovada no âmbito dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, a nomeação comissionada de diretores de escola vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e à participação da comunidade escolar.

Meta 20: Ampliar progressivamente o investimento público em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

Fonte: Agência Brasil

segunda-feira, 19 de julho de 2010 | | 1 comentários

10 dicas para uma boa educação

Praticamente uma semana depois do presidente Lula enviar ao Congresso um projeto de lei que proíbe os castigos físicos contra crianças (leia aqui e aqui), nada melhor do que ajudar a plantar a cultura da paz.

Para isso, recorri às dez dicas para evitar conflitos entre crianças, adolescentes e adultos citadas pelo Programa de Combate à Violência contra a Criança e o Adolescente, apresentado recentemente em Limeira.

1) Acalme-se! Respire fundo antes de chamar a atenção da criança. Evite discutir sob o efeito da raiva.

2) Converse sempre com a criança e o adolescente. Entender porque algo está acontecendo é o primeiro passo para que, juntos, encontrem a solução.

3) Jamais recorra a tapas, insultos ou palavrões. Devemos tratar a criança de maneira respeitosa.

4) Não deixe que outras preocupações (cansaço, raiva ou estresse) sejam descarregadas na criança ou adolescente.

5) Converse sentado, somente com os envolvidos na discussão. Isso contribui para uma melhor comunicação.

6) Mantenha um tom de voz baixo e calmo, segure as mãos da criança enquanto você conversa, porque o contato afetuoso ajuda a gerar maior confiança e acalma a criança.

7) Considere sempre as opiniões e idéias da criança ou adolescente. Eles têm direito à liberdade e expressão e opinião.

8) Elogie quando a criança ou adolescente se comportar bem e quando não. Ao invés de dizer “você é um desastrado, nunca faz nada direito”, que tal tentar “Olha o que acaba de acontecer, como podemos evitar que aconteça de novo?”.

9) Busque expressar de forma clara quais são os comportamentos que aborrecem. Explique o motivo de suas decisões.

10) Se sentir que errou, peça desculpas à criança e ao adolescente. Eles aprendem com nossas atitudes.

E só para lembrar: o artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) diz que “é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.

quinta-feira, 8 de julho de 2010 | | 0 comentários

O ensino em Limeira e o desafio brasileiro

Quanto mais difícil o ensino fica, menor é o nível de conhecimento dos alunos no Brasil. É o que revelou o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), divulgado recentemente pelo Ministério da Educação (MEC). Feito a cada dois anos, ele aponta a qualidade do ensino no país a partir de dois conceitos: aprovação e desempenho dos estudantes em língua portuguesa e matemática. As notas variam de zero a dez (leia mais aqui).

Na região, o cenário não foge à regra nacional. Estudantes da 8ª série/9° ano do ensino fundamental têm nota inferior aos do chamado primeiro ciclo (4ª série/5° ano). Nas duas faixas, houve evolução em Limeira (após uma queda em 2007), Americana, Piracicaba, Araras e Rio Claro.

No primeiro ciclo, os melhores desempenhos são de Americana e Araras (notas 6,1 e 6,0 respectivamente). Piracicaba, Rio Claro e Limeira estão juntas com 5,6.

4ª série/5° ano
Cidade .......... 2005 .......... 2007 .......... 2009
Americana ....... 5,2 ........... 5,3 ............ 6,1
Piracicaba ....... 4,9 ........... 4,9 ............ 5,6
Araras ........... 5,2 ........... 5,2 ............ 6,0
Rio Claro ........ 5,1 ........... 5,3 ............ 5,6
Limeira ......... 5,3 ........... 5,1 ............ 5,6

No segundo ciclo, Araras e Rio Claro têm as melhores notas (4,9). Limeira aparece em seguida, com 4,8. Americana tem 4,7 e Piracicaba 4,5. Considerando as duas faixas, pode-se dizer que Araras tem o melhor ensino da região – ou que ao menos seus alunos têm os melhores desempenhos.

8ª série/9° ano
Cidade .......... 2005 .......... 2007 .......... 2009

Americana ....... 4,5 ........... 4,7 ............ 4,7
Piracicaba ....... 3,8 ........... 4,2 ............ 4,5
Araras ........... 4,3 ........... 4,4 ............ 4,9
Rio Claro ........ 4,7 ........... 4,7 ............ 4,9
Limeira ......... 6,4 ........... 4,5 ............ 4,8

No caso de Limeira, a nota do primeiro ciclo está dentro da meta (5,6) fixada pelo MEC – a da rede municipal é ainda maior (5,7). No segundo ciclo, porém, o cenário é outro. A nota dos alunos limeirenses está bem distante da meta (vale lembrar que este ciclo é oferecido apenas pela rede estadual).

4ª série/5° ano
Ano .......... Nota .......... Meta
2005 ......... 5,3 ............. ---
2007 ......... 5,1 ............. 5,3
2009 ......... 5,6 ............. 5,6
2011 ........................... 6,0
2013 ........................... 6,2
2015 ........................... 6,5
2017 ........................... 6,7
2019 ........................... 6,9
2021 ........................... 7,1

8ª serie/9° ano
Ano .......... Nota .......... Meta

2005 ......... 6,4 ............. ---
2007 ......... 4,5 ............. 6,5
2009 ......... 4,8 ............. 6,6
2011 ............................ 6,8
2013 ............................ 7,0
2015 ............................ 7,3
2017 ............................ 7,4
2019 ............................ 7,6
2021 ............................ 7,7


A educação é o grande desafio brasileiro no século 21 (até porque a melhoria do ensino provoca impactos positivos na saúde, na segurança e no emprego). Só ela poderá garantir o salto de qualidade e desenvolvimento de que o país necessita.

Para se ter uma ideia, a Coreia do Sul registrou em 2007 um total de 7.061 patentes, 18,8% a mais do que no ano anterior. Ficou em quarto no ranking mundial. A China somou 5.456 registros (sétimo lugar no ranking), uma alta de 38,1%, segundo dados da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI).

O Brasil ficou num modesto 24° lugar, com 384 patentes naquele ano – 14 vezes menos do que a China e 18 vezes menos que a Coreia do Sul (leia mais aqui). Há 30 anos, Coreia e Brasil estavam no mesmo patamar. O que garantiu o salto da primeira foi o investimento em... educação.

No Brasil, a falta de mão de obra qualificada até em funções básicas, como a de pedreiro, e o déficit de profissionais, como engenheiros, indicam que o ensino é, talvez, o grande gargalo estrutural que dificulta um crescimento maior da economia. Um gargalo que parece ter surgido do dia para a noite, já que durante anos falou-se somente na necessidade de investimentos em infraestrutura de transporte e energia, por exemplo.

Apenas como exemplo do abismo em que o Brasil se encontra, “cerca de 30 mil engenheiros saem das universidades por ano. Na Coreia do Sul, este número chega a 80 mil. Na China são 400 mil engenheiros por ano e na Índia 250 mil”, informou recentemente a Agência Brasil (leia aqui). Ressalvando o tamanho das populações, de cinco a seis vezes maior na China e Índia do que no Brasil, ainda assim o número brasileiro é muito pequeno.

Portanto, o desafio está colocado.

Sobre este assunto, o ministro da Educação, Fernando Haddad, concedeu uma interessante entrevista esta semana à rádio CBN comentando os resultados do Ideb – que tem como um de seus méritos o fato de estabelecer metas de melhoria do ensino.