Mostrando postagens com marcador El País. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador El País. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 29 de julho de 2015 | | 0 comentários

Conhecendo Cuba

Poucas vezes li retratos tão bem escritos sobre a vida em Cuba quanto os que são feitos pelo renomado escritor Leonardo Padura. Autor do clássico “O homem que amava os cachorros”, o cubano mantém uma coluna no jornal espanhol “El País”, na qual escreve sobre o cotidiano da ilha caribenha alvo de paixões e ódios pelo mundo.

Retratando aspectos do cotidiano, Padura consegue encantar e revelar qualidades e defeitos de uma sociedade “socialista”, enfraquecida economicamente pelo embargo de meio século mantido pelos Estados Unidos, marcada pela ausência de oposição política formal e por afrontas às liberdades.

Num dos textos, Padura comenta sobre a chegada da gigante Netflix à ilha neste momento de reaproximação com os norte-americanos. Com humor, desenha um retrato da televisão local - que padece com a precariedade das produções, mas pela qual é possível assistir de graça, antes de muitos países, aos lançamentos que concorrerão ao Oscar e levarão milhões de pessoas aos cinemas mundo afora.

“Porque aunque los cubanos puedan suscribirse a las ofertas de Netflix si sus parientes en el exterior asumen el pago del servicio… ¿dónde y cómo podremos ver la tercera temporada de House of Cards si bajar por un correo electrónico doméstico un archivo de 4 megabytes es casi una misión imposible y ver un corto de dos minutos en YouTube uno de los siete trabajos de Hércules?

Os problemas e qualidades aparecem assim, de modo claro e objetivo, porém sem ingressar no pedantismo político-ideológico (algo que o escritor se recusa a fazer, como deixou claro em recente entrevista ao programa “Roda Vida”, da TV Cultura, na qual foi questionado sobre sua possível omissão como figura de destaque na sociedade cubana).


Para ler os artigos de Padura e conhecer a Cuba por um cubano (como deve ser a análise de qualquer país na visão do escritor, como frisou ao “Roda Viva”), clique aqui. Eu garanto: vale a pena!

quarta-feira, 6 de junho de 2012 | | 0 comentários

Crise e corrupção

No momento em que o governo brasileiro busca alternativas para aquecer a economia após o pífio desempenho no primeiro trimestre deste ano, com aumento de meros 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto) em relação ao trimestre anterior,  o jornal “El País”, da Espanha, trouxe na edição desta quarta-feira um interessante artigo que tem muito a nos ensinar – ou muito a ver com nossa realidade.

No Brasil, especialistas têm atribuído o fraco desempenho da economia ao baixo investimento dos governos em geral em infraestrutura. Gasta-se muito em custeio, pessoal e programas sociais e pouco em obras que estimulam a indústria, criam empregos e desencadeiam um círculo econômico virtuoso. Em praticamente todos os setores do governo federal, o nível de investimento este ano despencou – o que inclui o propalado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).


Há, porém, um outro – e decisivo – fator que escapou das principais análises e que está diretamente ligado aos baixos investimentos (e, no caso do artigo do “El País”, à crise europeia): a corrupção (ou a sensação de corrupção). Dinheiro público que deveria servir para obras vai para o ralo – ou para o bolso de cachoeiras e cuecas de mensaleiros em geral.


Escreve Ricardo Martínez de Rituerto no “El País”, com base em levantamento da ONG (organização não-governamental) Transparência Internacional, que dois de cada três espanhois acreditam que o país seja o mais corrupto da Europa. Para 81%, os partidos políticos são “corruptos” ou “muito corruptos”. A percepção é a mesma entre italianos, portugueses e gregos.


Não é à toa que Espanha, Itália, Grécia e Portugal são os protagonistas da forte crise que atinge e ameaça a zona do euro.


Segundo a TI manifestou em seu mais recente informe, os quatro países sofrem de “uma grave carência de responsabilidade dos poderes públicos e uma ineficácia, negligência e corrupção tão enraizadas pela falta de controle e de punição”. “Já não se pode passar por alto os vínculos entre corrupção e a crise financeira e orçamentária nestes países”, aponta a ONG, conforme o “El País”.


Ainda de acordo com o artigo, a TI apontou – em referência aos quatro países europeus - que “'a corrupção consiste com frequência em práticas legais, mas não éticas' fruto da opacidade das regras que regem os grupos de pressão, o tráfico de influências ou a permeabilidade entre os setores público e privado”.


Alguma semelhança com a realidade brasileira?


Daí que aquecer a economia passa também – e necessariamente – pelo combate a esta mazela chamada corrupção, o princípio de todos os males, da falta de educação e saúde aos altos índices de violência.


Daí entendo, como já registrei neste blog, que o nível de intolerância em relação ao desvio de dinheiro público e aos aproveitadores do erário deve ser máximo.


Em tempo: o informe da TI citado no artigo é o “Money, Politics and Power: Corruption Risks in Europa” (“Dinheiro, política e poder: os riscos da corrupção na Europa”).


PS: o título desta postagem teve uma leve inspiração em uma das obras máximas do russo Dostoiévski, “Crime e Castigo”.