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sábado, 20 de agosto de 2016 | | 0 comentários

Jornalismo espetáculo

Para entender um pouco mais sobre como o jornalismo virou espetáculo, lembrando Guy Debord, e como a forma está se sobrepondo ao conteúdo - aqui.

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O caminho mais fácil para a audiência (2)

escrevi neste blog que existe um caminho - ou vários - fácil para a audiência. O chamado "jornalismo justiceiro" é um destes caminhos. É o que se viu com uma equipe de um programa policial que forçou a entrada num hospital público, onde sabidamente é necessária autorização para captação de imagens (a não ser que o assunto justifique o uso de câmera escondida, o que deve ser exceção da exceção). 

Para quem não sabe como funciona a imprensa, pode parecer corajosa e ousada a atitude da repórter. Quem faz jornalismo sério, porém, sabe que o caminho escolhido não é o adequado. 

A questão é saber se o público faz essa distinção. Por mais que muitos tendam a dizer que não, arrisco-me a afirmar o oposto. Pode-se argumentar que tais programas dão audiência. É verdade. Há uma boa parcela da população que responde a esse tipo de chamado sensacionalista. Mas e quanto a todos os outros programas que estão sendo exibidos no mesmo horário? E quanto aos que não assistem a nada? Não será um número maior? Certamente é.

O caminho fácil para audiência mostra-se, portanto, limitado. Para quem quer ir além das migalhas tradicionais no Ibope pode funcionar - mas deve-se saber que nunca se chegará ao topo pela via mais fácil.

terça-feira, 29 de setembro de 2015 | | 0 comentários

50 anos de um clássico do jornalismo

“A Sangue Frio”, o clássico livro-reportagem do jornalista Truman Capote - que inaugurou o estilo conhecido como “new journalism”, ou novo jornalismo (termo aplicado à utilização de recursos literários em reportagens) – completou 50 anos.

É leitura obrigatória para qualquer (repito, QUALQUER) profissional de comunicação, especificamente do jornalismo. Até pelas polêmicas que suscita e que foram exploradas em recente reportagem da “Folha de S. Paulo” sobre a efeméride.

A principal crítica pode ser resumida na seguinte frase da reportagem, assinada por Thais Bilenky: “Ao longo do tempo, críticos apontaram evidências de que ele tratou os fatos com uma liberdade intolerável segundo padrões jornalísticos”.

Seja como for, é clássico, ditou novos rumos para a escrita jornalística e criou uma “escola”.

A reportagem original está disponível no site da revista “The New Yorker” – inclusive com o alerta do editor.


segunda-feira, 31 de agosto de 2015 | | 1 comentários

As pessoas é que são notícia!

Se tivesse novamente a oportunidade de conduzir um jornal diário (ou site), tomaria como norma editorial algo sobre o qual tenho lido muito a respeito: a necessidade premente de humanizar o jornalismo. A questão foi muito abordada pela ombudsman da “Folha de S. Paulo”, Vera Guimarães Martins, em coluna do dia 30/8/15:

“É mais factível acreditar na insensibilidade de coberturas conduzidas no automático, nas quais predominam o macro, não as pessoas, e as disputas políticas, não as histórias humanas de gente sem pedigree.

Números são importantes, mas são as pessoas que merecem ser notícia – ou destaque. Dados ajudam a interpretar o mundo, mas são as histórias que nos comovem e nos geram identificação com os problemas que os números friamente retratam.

Quando fui convidado a voltar a dirigir o jornal do qual fui editor-chefe por quase seis anos, discuti com um dos proprietários algumas ideias que tinha para mudar o diário. Um dos pilares era justamente este: privilegiar histórias de vida, gente, pessoas de carne e osso.

Hoje, em geral, prevalecem nos jornais as aspas improdutivas; o oficialismo inútil e distante do dia a dia dos cidadãos; as denúncias que vêm e vão e pouco mudam a realidade; os dados jogados ao vento, muitas vezes sem aprofundamento, contextualização, análise ou algo mais real que possa dar a eles algum sentido.

Aliás, sobre o uso de dados, trago a seguir a reflexão feita por Jeff Sonderman em artigo do Poynter, traduzido por Natália Mazotte, do Knight Center for Journalism in the Americas:

“Sim, registros públicos podem ser obtidos por qualquer pessoa. Isso graças a decisões de políticas públicas que determinam que o conhecimento em poder do governo deveria ser passivamente acessível a qualquer pessoa, mediante solicitação. 

Mas quando um jornalista opta por copiar essa informação, enquadrá-la em um determinado (inerentemente subjetivo) contexto e, em seguida, ativamente destacá-la para milhares de leitores e pedir a eles para olharem para ela, ele tomou uma ação distinta pela qual é responsável.
 

Bons jornalistas de dados lhes dirão que ‘despejar dados’ não é bom jornalismo.
 

Os dados podem ser errados, enganosos, prejudiciais, constrangedores ou invasivos. Apresentá-los como uma forma de jornalismo requer submetê-los a um processo jornalístico.
 

Nós devemos pensar em dados como nós pensamos em qualquer fonte. Eles lhe dão informações, mas você não apenas reproduz tudo o que uma fonte diz, textualmente. Você examina a informação de forma crítica e se atém a certos padrões de publicação - como precisão, contexto, clareza e equidade.”

Em tempo: não se trata de desafio novo. A humanização da notícia foi destacada num seminário do qual participei, promovido pela Associação Paulista de Jornais (APJ) em Bauru, muitos anos atrás. Desde então, em razão da precariedade que toma conta das Redações, fruto da crise financeira das empresas e da falta de visão dos administradores, a situação em nada melhorou.

Infelizmente, em muitos casos, degringolou...

quarta-feira, 1 de julho de 2015 | | 0 comentários

Televisão, esporte e jornalismo

Sobre o novo modo de apresentar as notícias na TV, notadamente na Rede Globo, na busca (quase) desesperada por audiência (e pelo público jovem, que está deixando de ligar a telinha), li uma interessante análise do crítico de TV da "Folha de S. Paulo"/UOL, Maurício Stycer: 

"O problema ocorre quando a informação é deixada de lado, e prevalece apenas o entretenimento (...)".

segunda-feira, 22 de junho de 2015 | | 0 comentários

“Jornalismo e emoções”

(...) com pixels e telas cada vez mais substituindo a tinta e o papel, pesquisas indicam que nossa maneira de vivenciar aquilo que lemos pode ser alterada de maneiras profundas. As telas podem reduzir o tempo que dedicamos à leitura mais concentrada – o tipo de leitura que desenvolve o raciocínio abstrato e criativo, como destacou a cientista Maryanne Wolf. Outros cientistas indicam que nossa maneira de processar as palavras nas telas pode até afetar a empatia que sentimos pelos personagens das histórias que lemos. Em “The Shallows: what the Internet is doing to our brains”, o autor Nicholas Carr escreve até que a Internet pode estar “alterando a profundidade das nossas emoções e pensamentos”.

Será que a mudança da forma impressa para a digital realmente afeta nossa capacidade de sentir empatia pelos personagens das reportagens? Quais seriam os efeitos disso no jornalismo?


(...) A pesquisa a respeito da leitura digital oferece uma hipótese clara: parece possível que os leitores digitais se sintam menos transportados por uma reportagem de revista por causa da velocidade mais acelerada e do nível de distração incentivados pelas telas. Se os leitores não investirem seu tempo e adquirirem informação suficiente a respeito do personagem de uma reportagem, seu nível de transporte deve ser mínimo. Em outras palavras, se as telas estão reduzindo a capacidade do leitor de ser transportado pela reportagem, o jornalismo terá menos impacto. Os leitores podem se tornar mais seletivos em relação às reportagens que desejam ler e podem até evitar deliberadamente os relatos sobre incompreendidos e sub-representados da sociedade em favor de grupos e narrativas com os quais já sintam à vontade. (...)


Fonte: Lene Bech Sillesen, Chris Ip e David Uberti, “O Estado de S. Paulo”, Aliás, p. E5, 14/6/15, reproduzido da “Columbia Journalism Review”, com tradução de Augusto Calil (íntegra aqui).

quarta-feira, 10 de junho de 2015 | | 0 comentários

A América Latina e o jornalismo

“A situação econômica da América Latina é fictícia.”

Ouvi a frase acima em abril de 2012, durante uma visita à sede da CNN em Atlanta (EUA). Foi dita pelo jornalista argentino Guillermo Arduino. Na época, ela até pareceu um tanto exagerado, embora existissem já claros sinais da deterioração do continente, principalmente na Argentina.

Hoje, ao rever as anotações daquela visita, lembrei da conversa com Arduino, na praça de alimentação pública no térreo do prédio da CNN, e reforcei a convicção de que ser visionário (no sentido de fazer análises e antecipar cenários) é papel fundamental do bom jornalista e do bom jornalismo.

Esta tarefa exige essencialmente uma qualidade (saber interpretar fatos) e duas características: leitura e cultivo de boas fontes.

quarta-feira, 6 de maio de 2015 | | 0 comentários

Frase

"Não se faz bom jornalismo sem paixão."
Vera Brandimarte, diretora de Redação do jornal "Valor Econômico", na festa de comemoração dos 15 anos do diário

segunda-feira, 4 de maio de 2015 | | 0 comentários

"Jornalismo aprofundado e sério tem um mercado enorme"

É impossível - repito, em caixa alta, IMPOSSÍVEL - fazer jornalismo de qualidade sem investimento. 

A velha lição, esquecida por quase todas as empresas e redações, foi reforçada numa interessante entrevista do editor do "Washington Post", Marty Baron ao jornal "Folha de S. Paulo", publicada em 3/5/15. 

Veja algumas pitacos a seguir:

(...) Há um investimento enorme em medir o comportamento do leitor digital: o que ele lê, o que ignora, quanto tempo gasta por reportagem. Qual foi a maior surpresa?

Vários clichês foram confirmados. A porcentagem de quem lê um texto até o final é muito menor do que a gente pensa. Uma típica reportagem é lida até o final por 1%, 2% dos leitores. Mas há dois lados da moeda. Várias reportagens longas, bem-feitas, estão entre as mais lidas. Há um enorme número de gente que gasta muito tempo em narrativas aprofundadas. Não é verdade que texto longo afaste leitor.

Assuntos popularescos que fazem barulho na internet espantam o leitor tradicional?
Há um enorme mercado para assuntos sérios. Mas não é porque são sérios que precisam ser chatos. Na nossa profissão, se a história parecer interessante demais, tem gente que acha que está sacrificando a seriedade. Mas contar uma história séria de forma envolvente é um enorme desafio. Essas são as mais lidas.

(...) Além da tecnologia, o que pode melhorar no jornalismo e na maneira de contar histórias?
A narrativa mudou muito com a interatividade. O mais interessante é a integração das ferramentas em um único texto, nos lugares apropriados, dar o contexto. Se numa reportagem você narra a gafe de um político ou uma violência policial e tem o vídeo, pode mostrar ali, na hora. Coloque o gráfico, a cópia do documento para quem quiser se aprofundar. Não separado, em outro lugar, como acontecia muito no passado. Tem que estar tudo bem trançado. É para isso que investimos tanto em tecnologia.

(...) Com esses investimentos, como o conteúdo está mudando?
Falei muito de negócios, mas a minha paixão, o que me mantém nesse meio, são o jornalismo e a reportagem, e temos muito do que nos orgulhar. O Pulitzer deste ano foi para uma reportagem nossa sobre falhas do Serviço Secreto - como o nome diz, é secreto, e nossa repórter conseguiu desvendá-lo. As revelações de Snowden sobre a NSA foram revolucionárias. Temos feito reportagens sobre pobreza, drogas, saúde mental, temas ainda evitados na mídia e na sociedade. Gosto do jornalismo que explica o mundo, explica assuntos com nuances. Tudo o que puder fugir de slogans de políticos, de comentaristas com frases feitas.

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Imprensa: reflexão e autocrítica

(...) O ativismo do Ministério Público e da Polícia Federal pode ser um sonho para quem precisa produzir notícias sofregamente, de impacto, capazes de ganhar uma manchete, ou um alto de página ímpar. (...)

Engana-se redondamente quem pensa que a profusão de meios de informação tornou mais fácil a vida de jornalista. Mais do que nunca são necessários filtros, apurações, documentos confiáveis, fontes fidedignas etc. Dá trabalho, mas a recompensa profissional vale a pena. Usar o Ministério Público e a Polícia Federal como donos absolutos da verdade equivale a terceirizar o ofício do jornalismo. Mas é o que está em voga nesta fase policial da nossa democracia.

Fonte: Ricardo Melo,
“Época de estado policial”, Folha de S. Paulo, Poder, 4/5/15.

segunda-feira, 13 de abril de 2015 | | 0 comentários

Gugu: mais do mesmo

Diante das polêmicas geradas pelas entrevistas que fez com Suzane von Richthofen e o ex-goleiro Bruno Fernandes, ambos presos condenados por envolvimento com assassinatos, o apresentador Gugu se defendeu dizendo que apenas faz jornalismo.

"Estava com saudades de fazer externas e grandes reportagens", disse. Falou 
ainda que fez entrevistas com pessoas procuradas por toda a imprensa.

Este é, certamente, o ÚNICO mérito de Gugu - com a ressalva de que conseguiu as entrevistas muito mais pela sua conhecida docilidade do que pela credibilidade (que perdeu depois do episódio da falsa entrevista com PCC) e pelo faro jornalístico.

De "grande reportagem" o trabalho recente de Gugu não tem nada. Peca na forma e no conteúdo, como bem explicitou o crítico de TV do UOL/"Folha", Mauricio Stycer. Jornalismo não combina com a dramatização piegas, forçada e excessiva das entrevistas, tampouco com "pegadinhas" para atrair a audiência como a da "revelação" de Bruno que mudaria o caso do ponto de vista jurídico.

No fundo, Gugu continua fazendo o que sempre fez: um entretenimento muitas vezes apelativo em busca de nada mais do que audiência. Para isso, finge usar recursos jornalísticos e empresta ao material uma cara (de jornalismo) que qualquer análise minimamente séria concluirá não se sustentar.

Em outras palavras, Gugu engana o telespectador e abusa da boa fé do público (ou seria inocência? Ignorância?...) em proveito próprio. Apenas isso.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015 | | 0 comentários

Jornalismo: o "outro lado" realmente existe?

Nos anos em que trabalhei como editor-chefe de um jornal diário no interior de São Paulo, uma questão costumeiramente me incomodava (embora, eu admita, tenha sido na maioria das vezes uma luta perdida): o mero formalismo do “outro lado”.

Era comum deparar com denúncias ou reclamações em que o repórter trazia apenas o registro de alguém se queixando e a posição do alvo da queixa (via de regra o poder público). Mais que isto, muitos textos eram feitos na condicional. “O mato estaria...”, “a empresa teria feito...”.

Ora, eu perguntava: você, repórter, foi ao local, apurou, investigou, qual a conclusão? O que de fato houve? É dever do jornalista procurar as respostas e oferecê-las ao leitor. Se há um buraco na rua, há um buraco na rua e ponto. Se foi causado pela chuva, foi causado pela chuva. Se a prefeitura há dez dias foi acionada e nada fez, é preciso dizer que há dez dias foi acionada e nada fez.

Apuração, investigação – regras básicas do jornalismo.

Nos textos, porém, apareciam apenas moradores reclamando e o outro lado rebatendo. Em geral, posições opostas.

Travava-se um diálogo interno e silencioso. “Eu, jornalista, fiz minha parte, ouvi os dois lados. Você, leitor, tire a conclusão”. Estava em tese cumprido o “dever” – meramente formal – de ouvir o outro lado.

Como assim?, eu perguntava. O leitor não deve ser obrigado a fazer investigações por conta própria. Ele paga um jornal para ter as respostas, não dúvidas.

O problema não era exclusividade do meu antigo jornal. Recentemente, ao ler a coluna da ombudsman da “Folha de S. Paulo”, Vera Guimarães Martins, deparei-me com um questionamento semelhante:

(...) A toada dos dois lados sugeria mais uma DR (discussão de relacionamento) entre compadres magoados do que o debate de um problema urgente (...). O jornal, de seu lado, relegou o assunto a um texto acanhado, que resumia os argumentos dos atores envolvidos, sem informar suas atribuições e responsabilidades. 

Nenhuma resposta a questões óbvias, daquelas que passam imediatamente pela cabeça do leitor (...). 

Vale ressaltar que matérias que pecam pelo mero registro mecânico do discurso dos entrevistados ou pela falta de contestação de afirmações questionáveis não são exceção à regra nem problema de uma só editoria, embora os exemplos hoje comentados sejam do mesmo caderno. Suspeito que o problema seja fruto de uma leitura apressada da determinação de ouvir todos os lados e deixar que o leitor tire suas próprias conclusões. A prescrição é correta, mas cabe ao jornal desenhar bem o cenário para que ele possa fazer isso. Rascunho é pouco. 

Está aí uma discussão importante e necessária. Alguém se arrisca?

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Há um novo telejornalismo no ar?

Em tempos de mídias sociais, o jornalismo abre cada vez mais espaço para o entretenimento. Arrisca-se ao ultrapassar uma fronteira tênue – e perigosa. Há casos em que o show tem prevalecido em detrimento da informação.

A Igreja Universal do Reino de Deus, não é de hoje, usa a concessão da TV Record conseguida em nome de seu líder, o bispo Edir Macedo, para fazer proselitismo religioso e atender interesses políticos. Caso recente ocorreu no programa “Domingo Espetacular”, que “exibiu uma longa reportagem (26 minutos) sobre viciados em crack com o objetivo, na verdade, de divulgar o trabalho de um bispo da igreja junto a pessoas com este problema”, conta Mauricio Stycer em coluna na “Folha de S. Paulo”.

Na mesma coluna, Stycer cita as manifestações do âncora e editor-chefe do “Jornal Nacional”, da TV Globo, William Bonner, em redes sociais. “Talvez chame um pouco mais atenção pelo fato de se tratar de um jornalista, de quem se espera uma postura mais recatada, e não de um artista”.

Segundo o crítico de TV, a “questão é que esta fronteira está cada vez mais borrada”. “No caso de alguns jornalistas da Globo, parece haver um incentivo da própria emissora no sentido de que os profissionais adotem uma postura mais ‘humana’, mais ‘gente como a gente’”, observa.

Não sei se é uma política da emissora, mas é fato que muitos jornalísticos – da Globo e de outros canais - têm ganhado uma postura cada vez mais popularesca. Na linguagem inclusive. Em reportagens, é comum ouvir “a gasolina ‘tá’ cara” no lugar de “está”. Trata-se de uma concessão à linguagem falada, em confronto com a gramática formal. Mais que concessão, uma escolha.

Também é comum ver apresentadores de telejornais, antes restritos ao formalismo (talvez excessivo, é verdade) das bancadas, aderir a um jeito despojado de chamar as notícias. Adotam até um tom estridente, como se estivessem fazendo animação de auditório. “O jornal fica por aqui, a gente volta amanhã, um beijo pra vocês e juízo hein!” – ouvi dia desses.

Repito: num mundo cada vez mais sem fronteiras em razão das mídias sociais, talvez seja mesmo a hora de rever o formalismo dos telejornais (e do jornalismo em geral). Contudo, há que se questionar se a popularização é o melhor caminho.

Um texto, mesmo na TV, continua sendo um texto e tem regras, disse um colega jornalista dia desses.

Veja: não estou dizendo que o novo caminho é certo ou errado, melhor ou pior, apenas que é diferente. Concessões são sempre um risco, abrem espaço para o limiar do entretenimento, do show, da celebrização, que não deveriam se misturar com a tarefa de informar.

Mas e se funciona?

Aí a questão é: para quem? Por qual objetivo? Audiência meramente?

São apenas perguntas (provavelmente ainda sem respostas) para questões que atormentam.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015 | | 0 comentários

Reflexão

Dia desses, refletindo sobre os desafios da profissão, identifiquei a fonte da subsistência da imprensa no futuro: produzir informação de qualidade. 

Sim, não é nada novo, ao contrário, é bastante óbvio, mas resume bem diversas análises que tenho lido (muitas delas postadas aqui no blog) a respeito do futuro de jornais e do jornalismo em geral.

Porque a Internet trouxe, como nunca antes, facilidades para a existência daqueles que apenas reproduzem informação.

Quem não produz, só reproduz, está de fato ameaçado.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015 | | 0 comentários

As lições de jornalismo do PVC

Trechos da entrevista do jornalista Paulo Vinícius Coelho, o PVC, para o UOL Esporte. Vale a pena ler e refletir, são verdadeiras lições de jornalismo:

UOL Esporte: O PVC repórter é um pouco ofuscado por esse PVC comentarista de televisão e o PVC blogueiro?
PVC: Tem uma diferença de opinião e análise. Opinião todo mundo tem. Estamos em uma era em que todo mundo opina, cria. Eu posso achar qualquer coisa sobre qualquer coisa. Mas isso não quer dizer que tenha profundidade e tenha valor. Uma opinião tem valor? Claro que tem. Mas uma análise que tem apuração, que tem um cara que conversou com um, conversou com outro, checou os dois lados, construiu uma história, conseguiu analisar, citando quais foram as fontes, isso tem mais valor. O que eu tento fazer é esse tipo de análise. Eu não sei se ofusca. O que eu acho que ofusca é essa espetacularização da notícia. É quando você percebe que o jornalista virou quase um artista. O jornalista não é para ser artista. O jornalista é para dar a informação e para analisar a informação. Nesse cenário, não é que o repórter fica ofuscado. Fica ofuscado o jornalista em toda a sua plenitude. Ou seja, o jornalista que apura, que checa, que recheca, que interpreta, que analisa, que junta 20 anos de história, de experiência. Isso tá fora. O cara olha na TV a imagem do cara que tá aparecendo na televisão. E não tem como mudar isso. Tem como você ter a percepção de qual é o seu papel diante de disso. E o seu papel não é ser uma celebridade, é ser um jornalista.

UOL Esporte: De qualquer maneira, ainda te assusta o fato de você virar notícia? Isso te incomoda? Emendando, você é tímido?
PVC: Eu sou tímido. A vida inteira eu falo isso. Eu tinha 14 anos e comecei a esboçar para falar para algumas pessoas que eu pensava em ser jornalista e eu ouvia: "não pode porque você é muito tímido". Até hoje eu sou. Outro dia eu contei para o Flávio Gomes e ele adorou. Quando eu fiz a minha primeira matéria, eu passei pela rua Jurubatuba (em São Bernardo do Campo), e tinha um anúncio: "jornal O Diálogo". Eu bati na porta, subi a escada, tinha lá uma redação e eu pedi um frila. (...) Então eu tinha de aprender a driblar essa timidez. O que me assusta não é você entender que você virou notícia. Para resumir: eu sou jornalista. Se você decidiu fazer uma nota no UOL ou em outro lugar julgando que o que está acontecendo comigo é notícia, eu como jornalista tenho de entender que na opinião de outro jornalista isso tem um valor de notícia. Nesse momento eu virei notícia. Outra coisa é eu ter a percepção que o meu papel não é ser notícia. O meu papel é ser jornalista. Então, não é para ser notícia. Se for, foi circunstancialmente. (...)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015 | | 0 comentários

Uma esperança para os jornais (e o jornalismo de qualidade)

Há um par de anos, a "Economist" alçou à capa a suposição, tirada de um especialista em comunicação, de que o último jornal impresso circularia pela última vez no ano de 2043.

(...) Eis que, há duas semanas, John Cassidy, jornalista da "New Yorker", tascou o primeiro texto razoavelmente otimista sobre a indústria nos últimos 20 anos.

Antes das boas notícias, o diagnóstico mais ou menos consensual: com a chegada da internet, o antigo modelo de negócios baseado em receitas de publicidade foi seriamente danificado, "e o esforço para replicar o modelo de anúncios na rede fracassou em geral".

Ninguém, no mundo inteiro, descobriu até agora como ganhar dinheiro com jornalismo na internet.

Ganhar dinheiro, no caso, não significa só os trocados que permitem a mera sobrevivência. Jornalismo (de qualidade, é claro) é um esporte extremamente caro e, portanto, exige receitas de fato suculentas.

A boa notícia é que começam a pipocar, aqui e ali, números que demonstram que talvez dê, sim, para ganhar dinheiro com notícias no papel e em sua versão digital.

O exemplo mais recente citado por Cassidy é o do veteraníssimo "Times" (o de Londres, não o de Nova York), que acaba de anunciar o primeiro lucro operacional após 13 anos de prejuízos.

Como foi dos primeiros a cobrar pelo seu conteúdo, o lucro do "Times" é um desmentido à sabedoria convencional que diz que ninguém pagaria por notícias se estivessem disponíveis de graça na internet.

(...) A mudança no modelo de negócios, se e quando efetivamente se consolidar, beneficia o leitor, como escreve Cassidy:

"Jornalistas financiados por anúncios são dependentes de anunciantes, da métrica de page-views' e dos algoritmos das mídias sociais. Jornalistas financiados por assinaturas são dependentes dos leitores".

(...) O otimismo do texto não leva o autor à ingenuidade de supor que a crise do modelo de negócios está superada, mas lhe permite afirmar que "o argumento de que jornais são dinossauros, destinados a serem substituídos por competidores on-line mais ágeis, parece um bocado menos convincente do que há poucos anos". (...)

Fonte: Clóvis Rossi, "Há vida no planeta jornal", Folha de S. Paulo, Mundo, 28/12/14.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

As vozes israelenses contra a ocupação

Conheci recentemente – por meio da revista “Ocas” – o trabalho da “Breaking the Silence” ("Quebrando o Silêncio"), uma organização não-governamental de Israel formada por ex-soldados (lá o serviço militar é obrigatório para homens e mulheres) que busca o fim da ocupação israelense em territórios palestinos por meio de denúncias dos abusos cometidos pela Força de Defesa de Israel.

Denúncias nesse sentido são comuns. O que diferencia o trabalho da ONG é o fato dela ser formada justamente por ex-militares, ou seja, as denúncias partem exatamente de quem praticava os abusos (e não pretendo aqui fazer nenhuma reflexão, para isto recomendo a leitura da revista ou um contato com o site da ONG).

As denúncias são registradas em vídeo e áudio e constam basicamente de relatos de soldados e ex-soldados israelenses. Já são quase mil depoimentos, como o do vídeo abaixo:


A seguir, transcrevo um trecho da entrevista concedida à “Ocas” pelo diretor da organização, Yehuda Shaul, de 31 anos, em reportagem assinada por Douglas Portari, da Fundação Perseu Abramo:

“Eu nunca invadi casas no meio da noite, arrombando apartamentos, em Jerusalém e, provavelmente, onde você vive a polícia também não faz isso. Mas, em Hebron, onde eu servi por um ano, há duas patrulhas militares e uma patrulha policial de fronteira. Seu trabalho é, no jargão militar, fazer sua presença notada. Você tem essas patrulhas 24 horas por dia, sete dias por semana. 
Você começa seu turno às 22h e vai até 6h. Caminha pelas ruas da velha cidade de Hebron, tromba com uma casa, uma casa palestina, não uma casa da qual você tenha alguma informação de inteligência [uma suspeita], uma casa qualquer, o sargento é quem a escolhe – eu fui sargento por alguns meses. Entramos, revistamos a família, homens de um lado, mulheres de outro, vasculhamos o lugar, você pode imaginar a dinâmica da coisa, o que acontece quando uma unidade militar invade sua casa no meio da noite. 
Acabamos a busca, voltamos pra rua, batemos em algumas portas, lançamos algumas bombas de efeito-moral, fazemos algum barulho, corremos até a esquina, invadimos outra casa, revistamos a família, fazemos uma busca, subimos no telhado, pulamos de um telhado para o outro, descemos pela sacada de uma terceira casa... e assim você passa as oito horas do seu turno, isso 24 horas por dia, sete dias por semana. 
E, de setembro de 2000, quando começou a Segunda Intifada, até hoje, nós não paramos um segundo sequer. A ideia é simples: todo palestino precisa sentir que há um militar respirando em sua nuca. Você nunca sabe quando nós vamos aparecer, o que nós vamos fazer, quando vai começar, quando vai terminar, quantas horas vai durar... tudo isso é o que os militares chamam de tchushat nirdafut [em hebraico], criar o sentimento de estar sendo perseguido, caçado, criar esse sentimento em uma população inteira. 
A única forma de dominar um povo para sempre contra sua vontade é fazê-lo temer você. E assim que ele se acostuma àquele nível de medo, você tem de aumentá-lo.”

Como não encontrei a reportagem no site da “Ocas”, a íntegra pode ser lida no blog da fundação.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

Questões sobre jornalismo

Recentemente, li duas críticas jornalísticas que reforçaram convicções que carrego ao longo da carreira - e pelas quais lutei (inclusive "comprando briga" do ponto de vista conceitual com gente que, atrasada, virou-me a cara).

Uma diz respeito a uma noção (contemporânea talvez), reforçada pela explosão de meios, de que a comunicação exige conteúdo e forma - ambas de qualidade e caminhando juntas. Não se tem sucesso sem uma ou outra.

(...) É o modelo que restou à TV aberta, hoje, do jornalismo de tabloide. Como não há produção de notícia policial para tanta demanda, o que se vê continuamente é a sobreposição de coberturas, em canais e programas diversos ou no mesmo telejornal, caso do repetitivo "Hora Um". 

Mas o programa tenta não ser só isso. Seu trunfo, mais que uma tediosa agenda política de Brasília ou um requentado noticiário internacional, é a apresentadora Monalisa Perrone, que consegue tratar com naturalidade os assuntos sangrentos e com proximidade a audiência. (...)

Fonte: Nelson de Sá, “Informalidade do ‘Hora Um’ atenua jornalismo de tabloide”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 3/12/14.

A outra questão envolve os números - que, frios, costumeiramente indicam a prevalência do abstrato sobre o humano, disfarçam deficiências de apuração e escondem a preguiça. Jornalismo é, sobretudo, contar histórias de vida, de pessoas, de gente.

Isto sem considerar que os números, muitas vezes, enganam.
  
(...) Não é novidade que jornais e jornalistas gostam de qualquer notícia que possa ser "traduzida" em percentuais ou rankings. A preferência parte da crença de que algum grau de mensuração torna o conteúdo mais confiável e lhe confere uma aura de precisão ou seriedade. Se, em levantamentos extensivos como o do IBGE, isso é verdadeiro, em boa parte das vezes, é pura balela. (...)

Fonte: Vera Guimarães Martins, “Oh, céus! Oh, vida!”, Folha de S. Paulo, Ombudsman, 7/12/14.

Não sou visionário, apenas procuro fazer o que acho correto - de acordo com o que aprendi nos bancos da faculdade, nos congressos e seminários de que participei e com a vida. 

Um dia, quem sabe, volte a ter oportunidade de estar à frende de discussões como estas.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Caso Adnet: público, privado, imprensa e sociedade

(...) Na verdade, acho muito mais feio o comportamento do paparazzo que seguiu Adnet até conseguir as fotos comprometedoras. Claro que eu sei que o cara estava trabalhando - mas há alguma coisa errada numa sociedade onde uma atividade dessas rende dinheiro.

Fico igualmente incomodado com a enxurrada de comentários agressivos, e também com os portais e sites que repercutiram a notícia. (...)

Mas me pergunto: será que não estamos indo longe demais?

Fonte: Tony Goes, “Estamos indo longe demais no caso de Marcelo Adnet?”, postado no F5/UOL, em 10/11/14.

*** 

(...) os brasileiros parecem muito à vontade para discutir a vida privada de atores ou celebridades. O frenesi recente, causado pela foto, obtida por um paparazzo, do humorista Marcelo Adnet beijando uma mulher que não a sua, mostra isso claramente.

Tenho uma dúvida: qual é a diferença? Por que expor a intimidade de um ator parece normal, corriqueiro, e tratar abertamente da vida privada de um político dá a impressão de ser tão chocante? Qual das duas atitudes está errada?

Fonte: Mauricio Stycer, “Por que a exposição da intimidade de Adnet foi aceita e a de Aécio não?”, Blog do Mauricio Stycer/UOL, postado em 10/11/14.

Leia também:

quinta-feira, 16 de outubro de 2014 | | 0 comentários

Jornalismo x publicidade

(...) Acontece que o BuzzFeed não é especializado só em listas. Também é o rei de fazer o que, na era da internet, ganhou o bonito nome de "conteúdo patrocinado" - e que antigamente se chamava matéria paga. É publicidade disfarçada de jornalismo. (...)

Ao clicar na "reportagem" do BuzzFeed sobre as roupas da Wildfang, o que se esperava era um texto feito por um(a) repórter de moda, de opiniões próprias. E que se dedica integralmente ao assunto, entende muito e seria capaz de apresentar os lançamentos de uma maneira crítica - apontando virtudes e falhas, comparando com outras marcas etc. (...)

Pode ser um bobo ranço geracional, mas tenho enorme dificuldade para aceitar que conteúdo informativo e publicidade se transformem em uma coisa só.

Fonte: Álvaro Pereira Júnior, “Vítima da moda”, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 11/10/14.