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quarta-feira, 1 de abril de 2015 | | 0 comentários

"Abril e silêncio"

A primavera jaz abandonada
Uma valeta de cor roxa escura
move-se ao meu lado
sem restituir nenhuma imagem.
A única coisa que brilha
são algumas flores amarelas.
Carrego-me dentro de minha
própria sombra como um violino
em seu estojo.
A única coisa que quero dizer
paira bem fora do alcance
como a prataria da família
numa casa de penhores.

(De Tomas Tranströmer, tradução de Enaiê Azambuja)

terça-feira, 31 de março de 2015 | | 0 comentários

"Tempo de travessia"

Não sei se estou perto ou longe demais, sei apenas que sigo em frente, vivendo dias iguais de forma diferente.
Levo comigo cada recordação, cada vivência, cada lição.
E mesmo que tudo não ande da forma que eu gostaria, saber que já não sou o mesmo de ontem me faz perceber que valeu a pena. 
Aprendi que viver é ser livre, que ter amigos é necessário, que lutar é manter-se vivo.
Aprendi que o tempo cura, que a mágoa passa, que decepção não mata!
Que hoje é o reflexo de ontem, que os verdadeiros amigos permanecem para sempre e que a dor fortalece.
Aprendi que sonhar não é fantasiar, que a beleza não está no que vemos e sim no que sentimos!
Aprendi que um sorriso é a maneira mais barata de melhorar a aparência.
Que não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.
Aprendi que não é preciso correr atrás da felicidade, ela está nas pequenas coisas, e hoje, sei que posso ser e fazer o que quiser, mas a gente é aquilo que faz, é o que vale a pena e só o que permanece…

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares…
É o tempo da travessia… e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

(De Fernando Teixeira de Andrade)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015 | | 0 comentários

Flor azul

Seu moço,
Faça um favor.
Pegue água cristalina,
Bote neste regador,
e regue aquela flor azul.
Ela é a mais bela 
entre todas as flores,
do Jardim dos olhos de minha Mãe.

(De Rodrigues Lima, dedicado à mãe dele – e, com licença que peço, extensivo a todas as mães)

sexta-feira, 14 de novembro de 2014 | | 0 comentários

Apenas versos

Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Por pudor sou impuro.
Não preciso do fim para chegar.
De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra - Como um lápis numa península.
Do lugar onde estou já fui embora.

(Trecho de “O livro sobre nada”, de Manoel de Barros)

segunda-feira, 8 de setembro de 2014 | | 0 comentários

48 horas...

48 horas já não são mais suficientes para falar todas as palavras,
para matar todas as saudades,
para bater todos os papos,
para tomar todas as cervejas 
e cafés.

48 horas já não são mais suficientes para rever as pessoas amadas,
para relaxar, curtir, dormir
para caminhar, passear, saborear
para nada fazer
e tudo querer.

48 horas já não são mais suficientes para todas as visitas devidas,
para todos os presentes atrasados,
para todos os churrascos programados,
para todas os convites recebidos
e os abraços desejados.

48 horas simplesmente já não são...
já não dão...

quarta-feira, 3 de setembro de 2014 | | 0 comentários

"A poem"

"A bird is a bird is a bird."

domingo, 20 de abril de 2014 | | 0 comentários

“O lutador”

Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
São muitas, eu pouco.
Algumas, tão fortes
como o javali.
Não me julgo louco.
Se o fosse, teria
poder de encantá-las.
Mas lúcido e frio,
apareço e tento
apanhar algumas
para meu sustento
num dia de vida.
Deixam-se enlaçar,
tontas à carícia
e súbito fogem
e não há ameaça
e nem há sevícia
que as traga de novo
ao centro da praça.

Insisto, solerte.
Busco persuadi-las.
Ser-lhes-ei escravo
de rara humildade.
Guardarei sigilo
de nosso comércio.
Na voz, nenhum travo
de zanga ou desgosto.
Sem me ouvir deslizam,
perpassam levíssimas
e viram-me o rosto.
Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue…
Entretanto, luto.

Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate.
Quisera possuir-te
neste descampado,
sem roteiro de unha
ou marca de dente
nessa pele clara.
Preferes o amor
de uma posse impura
e que venha o gozo
da maior tortura.

(...)

(De Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 12 de março de 2014 | | 0 comentários

"A próxima viagem"

- passada a chuva o sol brilha ao meio-dia
enquanto na calçada um funcionário limpa
com um pano o corrimão dourado do
departamento de polícia da cidade de Nova
York

- táxis amarelos passam juntos na
sombra que as árvores do parque
lançam amplamente na Avenue of the
Americas

(Trecho de poema de Sérgio Medeiros, parte do livro "Viagens e Passeios às Ilhas")

* Mais textos - crônicas - sobre Nova York, clique aqui.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014 | | 0 comentários

"Bem no fundo"

no fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela - silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas

(De Paulo Leminski)

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014 | | 0 comentários

O que passou...

Escuta:
o que passou passou
e não há força
capaz de mudar isto.

Nesta tarde de férias, disponível, podes,
se quiseres, relembrar.
Mas nada acenderá de novo
o lume
que na carne das horas se perdeu.

(...)

O que passou passou.
Jamais acenderás de novo
o lume
do tempo que apagou.

(Ferreira Gullar, em "Praia do Caju")

domingo, 19 de janeiro de 2014 | | 0 comentários

"São Paulo, teu nome"

Urbinácia máxima imperfeita
lençol de eus e meus em multidão
plantada em hastes, a planalticeia:
cidade inventada a cada pessoa.

Teus homens, mulheres e moribundos
vestem a roupa rústica das manhãs
à noite desapertam os calçados da tarde
ora com nuvens, ora sem elas.

Levam às ruas o coração fechado
enquanto os olhares usurpam cores
das feias esquinas à quimera das vitrines
atados estamos ao preço das coisas.

E a matéria vivida coexiste calada
nos cômodos das mesmas casas
soma de tantos gestos e sentenças
manchas úmidas nas paredes gastas.

Quantos insones atravessam a tua noite
acionam os remos largos da madrugada
e no amanhecer fecham os olhos cansados
indiferentes à altivez dos arranha-céus.

Na praça do bairro aparecem as primeiras
crianças - as que se interessam pela terra
acreditam na sombra das árvores
e acolhem faceiras a luz deste dia.

Aos poucos - avenidas, viadutos, prédios
despertam os músculos, os ossos e o rosto.
Novamente o corpo se levanta por inteiro
novelo de artérias sem fim nem começo.

Teu nome, São Paulo, induz ao engano,
tão pouco de ti lembra a santidade.

(De Fernando Paixão; publicado originalmente no caderno Ilustríssima, da “Folha de S. Paulo”, em 19/1/14)

domingo, 3 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Meros versos

O reflexo de nosso rosto no espelho muda a cada instante
e cada dia tem o seu próprio labirinto.

(Jorge Luis Borges)

terça-feira, 1 de outubro de 2013 | | 0 comentários

Setenta vezes sete

Sete vezes desprezei minha alma:
A primeira vez quando a vi disfarçar-se com a humildade para alcançar a grandeza.
A segunda vez quando a vi coxear na presença dos coxos.
A terceira vez quando lhe deram a escolher entre o fácil e o difícil, e ela escolheu o fácil.
A quarta vez quando ela cometeu um mal, e consolou-se com a ideia de que outros cometem o mal também.
A quinta vez quando aceitou a humilhação por covardia, e atribuiu sua paciência à fortaleza.
A sexta vez quando desprezou a fealdade de uma face, e não sabia que era uma de suas próprias máscaras.
E a sétima vez quando considerou uma virtude elogiar e glorificar.

(Khalil Gibran, filósofo e escritor libanês, em "Areia e espuma" - "Sand and foam" no original)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013 | | 0 comentários

O lustre



Um lustre
Ilustre.
Um lustre
Garboso,
Brilhoso.
Ilustre
o tempo...
O lustre.
Ilustre.



Em tempo: o lustre das fotos fica no salão principal do Palacete Levy, imóvel do século 19 construído no Largo Boa Morte, no Centro de Limeira.

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O sonho

Ontem eu sonhei que via
Deus e que a Deus falava;
e sonhei que Deus me ouvia...
Depois sonhei que sonhava...

(...)

À noite sonhei que ouvia
Deus, que me gritava: Alerta!
Depois Deus adormecia
e eu gritava: Desperta!

(António Machado, poeta espanhol, em “Antologia Poética”, tradução de José Bento)

quarta-feira, 18 de setembro de 2013 | | 0 comentários

O caminho

Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar.

(António Machado, poeta espanhol, em “Antologia Poética”, tradução de José Bento)

terça-feira, 30 de julho de 2013 | | 0 comentários

“O quintal que tentei desenhar”

Haicai! Haicai!
Ainda usa uma atadura
Sobre seu olho machucado!

Como foi que essa gente
entrou aqui,
essas duas moscas?

O quintal que tentei desenhar
- Ainda parece
O mesmo

O filho que quer solidão
Envelopou-se
Em seu quarto

Todos esses sábios
Dormem
De boca aberta

Odeio o êxtase
Dessa rosa,
Dessa rosa peluda

(Jack Kerouac, tradução de Claudio Willer, em
"Livro de Haicais")

sábado, 20 de julho de 2013 | | 0 comentários

Um pouco de poesia


Em tempo: isto era parte de uma exposição sobre o famoso poeta paulistano - um dos pais do modernismo. A mostra estava no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, tempos atrás.



sábado, 8 de junho de 2013 | | 0 comentários

Um pouco de Vinicius

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

(“Poema de Natal”, de Vinicius de Moraes)

quarta-feira, 8 de maio de 2013 | | 0 comentários

"Uma arte"

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subsequente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

(...)

(Elizabeth Bishop, tradução de Paulo Henriques Britto)