quarta-feira, 25 de setembro de 2013 | |

Tortura nunca mais: novo capítulo

Uma confusão marcou a visita de parlamentares da Comissão da Verdade da Câmara Federal ao prédio que abrigou o DOI-Codi, no Rio de Janeiro, onde hoje funciona o 1 Batalhão de Polícia do Exército. O edifício é apontado como o principal centro de tortura da ditadura militar brasileira (1964-85).

A confusão foi causada pelo deputado federal e oficial da reserva, Jair Bolsonaro (PP-RJ).

Bolsonaro é uma das "viúvas" da ditadura e defende a classe. Suas opiniões a respeito deste e outros assuntos revelam o que há de mais conservador e retrógrado na sociedade brasileira. Em alguns casos, beiram o crime.

Reconheço que Bolsonaro - como seus votos indicam - representa uma parcela da sociedade. É legítimo o direito dele de se manifestar, seja como parlamentar ou cidadão.

Já agressão física (ainda que tenha sido um mero empurrão, como o próprio deputado reconheceu) é inaceitável. Revela truculência típica de quem defende práticas da ditadura. Tratando-se de um parlamentar (ainda mais agindo contra um senador da República), é caso de falta de decoro. 

A dúvida é se a Câmara Federal terá coragem de colocar o dedo nesta ferida.

***

Bolsonaro à parte, dois aspectos muito mais relevantes chamam a atenção no fato. O primeiro deles é a incapacidade do Brasil como sociedade e governo de lidar com sua própria história. 

Países vizinhos, como o Chile e a Argentina, e distantes, como a Alemanha, tratam de suas ditaduras e as atrocidades por elas cometidas de forma muito mais direta e transparente. Entendem que é preciso lembrar para não repetir. Sabem que nenhum povo poderá avançar sem conhecer sua trajetória. Falam do passado para virar a página e escrever uma nova história.

Na Argentina, por exemplo, ex-oficiais e colaboradores do regime (inclusive os que ocuparam cargos de alto comando na esfera militar e no Executivo, como presidente da República) foram colocados no banco dos réus e condenados pelas práticas nefastas ocorridas naqueles tempos sombrios. No Brasil mal se pode tocar no assunto - e estamos em pleno século 21!

O segundo aspecto, tão preocupante quando o primeiro, é a reação ensandecida (e em muitos casos ignorante) de parte da sociedade, manifestada por comentários na Internet. Apenas como exemplo retirei algumas mensagens postadas junto da reportagem do UOL sobre a confusão no antigo DOI-Codi:

"Tem que apanhar mesmo. Pelo menos para aprender a falar como homem. Esse bando de aproveitadores da comissão da mentira tem que entrar na peia para saber o que é ditadura mesmo e não a ditabranda dos militares."
(Louroferreira)

"temos uma lei de anistia - AMPLA, GERAL E IRRESTRITA! pq comissão da verdade para os militares e não para os terroristas comunistas que nunca, nunca lutaram pela democracia ou pelas liberdades democráticas no Brasil! (...) Pena que o DOI CODI não trabalhou melhor. Iríamos ter menos dor de cabeça hoje!"
(Francisco Jose Rabello)

"O Brasil na época dos militares era mil vezes melhor. Que sirva para eles de lição, da próxima vez que voltarem ao poder, não deixarem escapar nínguém, para não haver tempos depois comissões do tipo desta de meia verdade."
(Alberon Santista)

"Total apoio!!!!!!!!!!!!!! Antes tivessem feito o que o ditador Pinochet fez no Chile, fazendo sumir 20.000. Hoje o Chile é o país mais desenvolvido da América Central e Sul..."
(ivan de Bauru)

"Como não poderia ser diferente, mais dinheiro público indo pro ralo. Até quando estes revanchistas vão tentar inventar mortos e torturados para ganhar às custas do povo brasileiro? Por que nunca consultaram os brasileiros comuns que viveram durante o "regime" para verificar se eles tem queixas contra os militares? Por que não investigam as atrocidades cometidas pelos comuno-socialistas? na verdade, não adianta investigar, já que todos estão aí, dilapidando o patrimônio público e cobertos pelo $TF. Acorda Brasil! 
(Schneiderus)

"Sou contra qualquer tipo de limite à liberdade da vida. Mas era estudante universitário nessa época, pagava o meu curso, trabalhava de dia a estudava a noite. Nunca fui impedido de ir a aula. Não apanhei nem fui preso. Sou democrata, contra qualquer regime de ditadura, daí o comunismo, porque não conheço nenhum país comunista que não seja ditadura no seu regime. Se alguém fez alguma coisa para que meu País não tivesse caido nas garra de um comunista eu agrdeço e torço por ele."
(leão falante)

Três observações necessárias: 

1 - todas estas pessoas esquecem que se hoje elas podem manifestar-se livremente é justamente porque a ditadura ficou para trás. Naquela época o cidadão não tinha direito à livre manifestação do pensamento. 

2 - naturalmente, houve abusos do "outro lado", como citam, não se nega isto. O que está em questão, porém, é o recurso a práticas ilegais e arbitrárias por parte do Estado brasileiro na época.

3 - o fato do Brasil ter hoje uma série de problemas e desafios a enfrentar, como corrupção e insegurança, jamais deve servir de pretexto para louvar qualquer tipo de ditadura. Como diz o ditado, não se deve confundir alhos com bugalhos.

PS: os comentários foram reproduzidos tal como aparecem na Internet, com eventuais erros de ortografia e gramática.

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