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terça-feira, 29 de setembro de 2015 | | 0 comentários

50 anos de um clássico do jornalismo

“A Sangue Frio”, o clássico livro-reportagem do jornalista Truman Capote - que inaugurou o estilo conhecido como “new journalism”, ou novo jornalismo (termo aplicado à utilização de recursos literários em reportagens) – completou 50 anos.

É leitura obrigatória para qualquer (repito, QUALQUER) profissional de comunicação, especificamente do jornalismo. Até pelas polêmicas que suscita e que foram exploradas em recente reportagem da “Folha de S. Paulo” sobre a efeméride.

A principal crítica pode ser resumida na seguinte frase da reportagem, assinada por Thais Bilenky: “Ao longo do tempo, críticos apontaram evidências de que ele tratou os fatos com uma liberdade intolerável segundo padrões jornalísticos”.

Seja como for, é clássico, ditou novos rumos para a escrita jornalística e criou uma “escola”.

A reportagem original está disponível no site da revista “The New Yorker” – inclusive com o alerta do editor.


quinta-feira, 31 de maio de 2012 | | 0 comentários

"Jornalismo é como sedução, diz Gay Talese"

Para o jornalista americano Gay Talese, o repórter é um sedutor que conquista seus personagens como um vendedor convence a clientela.

Talese, 80, ilustrou bem o que quer dizer, ontem, em uma palestra de uma hora e meia para jornalistas na Folha. No encontro, contou histórias de suas reportagens, como "Frank Sinatra Está Resfriado", e comentou seus métodos de trabalho.


Sem celular, notebook ou tablet, Talese anda com pequenos cartões para escrever o que vê ou precisa saber.


O veterano, que veio ao Brasil participar do Congresso Internacional Cult de Jornalismo Cultural, é considerado pai do "new journalism" (novo jornalismo), ou jornalismo literário, caracterizado por reportagens que se apropriam de técnicas da ficção.


É autor de livros como "O Reino e o Poder", sobre os bastidores do "New York Times", "Honra Teu Pai", sobre uma família de mafiosos, e "Fama e Anonimato", que reúne diversas reportagens.


Filho de um alfaiate de origem italiana, mostrou-se elegante como sempre, de paletó, colete e sapato verdes, e gravata amarela. Na cabeça, um chapéu branco, o único que trouxe para o Brasil. "Em minha casa, tenho 30", contou. Leia trechos a seguir.


LITERATURA

Quando era um menino na escola, lia contos, pequenos romances, e fiquei interessado nas narrativas. Mais tarde, me perguntei se eu poderia contar histórias, mas não com personagens imaginários, e sim reais. Não queria ser um repórter, mas contar histórias. Não precisava usar a imaginação, mas sim passar tempo com as pessoas.

Pessoas nem sempre contam a verdade. São cuidadosas, pois não conhecem o jornalista. Eu queria conquistar a confiança delas. E como fazer isso? Aos poucos.


Você conhece alguém na rede social, sai, almoça, passeia e ficam íntimos. Há um paralelo com o tipo de jornalismo que faço. Às vezes, nós, jornalistas, somos sedutores. E não quero ser o sedutor de uma noite só, mas sim um parceiro de uma relação.


JORNALISMO

Eu acho que jornalismo pode ser uma forma de arte.

Estudantes de jornalismo estão sempre reclamando que não têm emprego na área. Quando comecei, eu pegava sanduíches para o pessoal. Era o jeito de entrar.


Quem reclama que não tem tempo para um bom trabalho precisa arrumar esse tempo. Você não deve ser um repórter como qualquer outro. Tem que ter perseverança, ego e até arrogância.


Muitas vezes você escreve sobre pessoas famosas e não pode se sentir diminuído, como se estivesse falando com alguma pessoa extraordinária. Por isso, desde jovem me sentia importante.


LIÇÕES DE FAMÍLIA

Não tenho celular, não uso e-mail. Vou conhecer as pessoas. Minha atitude vem da minha família. Minha mãe tinha uma loja de vestidos e meu pai era alfaiate.

Aprendi com minha mãe: deixe as pessoas falarem, não as interrompa. Com meu pai: o que é feito à mão é melhor que o feito com máquina.


PERSONAGENS

Nunca quis escrever sobre notícias do dia, o que os economistas ou políticos disseram hoje. Queria escrever notícias não importantes, mas escrevia tão bem que saía no jornal.

Quero escrever sobre pessoas que não estão nas notícias. Elas refletem a sociedade e quero ser o cronista de suas vidas. No "New York Times", fiz de tudo para ficar longe dos famosos. Sugeria um monte de desconhecidos, e o editor dizia: "Quem se interessa?". Eu me interesso.


AUTOMÓVEIS

Uma vez fiquei um ano e meio num assunto para escrever um livro. Foi entre 1980 e 1981, era sobre a indústria automobilística. Viajei com um diretor da Chrysler, frequentei reuniões, fui até Tóquio. Mas decidi que não queria mais. Seria muito sensacionalista.

Escrevi sobre mafiosos. Escrevi sobre pervertidos. Eu os respeito porque não estavam se escondendo; mas o pessoal do automóvel não era o que dizia ser. E expô-lo seria sensacionalista.


VENDEDOR

Uma reportagem começa na curiosidade. Você decide escrever sobre algo. Por quê? Porque te deixa curioso.

Aí, precisa achar alguém e propor que ele colabore. Como? Com técnicas refinadas de vendedor.


É como vender um aspirador. Se a pessoa já tiver, insista para ela tentar o seu.


Sou polido, não forço a barra. Acredito que o que vou escrever tem valor, não é superficial. Chego na pessoa com boas maneiras, estou sempre de terno e gravata, não importa se é o presidente ou lixeiro.


Aqui, por exemplo, está todo mundo mal vestido, mas não é meu problema (risos).


REPORTAGEM

Você diz à pessoa que ela tem uma história significativa e pergunta se ela pode colaborar. Se ele estiver ocupada e tiver que ir ao dentista, você pergunta se pode ir com ela. Eu procuro situações. É a arte de sair com as pessoas.

MÉTODO

Não faço anotações enquanto a pessoa fala. Escrevo o nome, o dia, o local. Depois, no hotel, peço a máquina de escrever emprestada e escrevo tudo.

FIM DO IMPRESSO

Quando entrei no jornalismo, aos 20 anos, diziam a mesma coisa, diziam que a televisão ia acabar com o jornalismo impresso. "Está tudo na tela, para que ler no dia seguinte?".

Não acredito que vá acabar. Mas tem que ser de boa qualidade. Bons textos vão sobreviver porque são bons.


Fonte: Ivan Finotti, "Folha de S. Paulo", 31/5/12.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010 | | 0 comentários

O adeus a uma referência do novo jornalismo latinoamericano

"El periodismo no es un acto de narcisismo , es un acto de servicio, servicio a la comunidad, servicio a los demás , servicio a la verdad."

O escritor e jornalista argentino Tomás Eloy Martínez, que morreu no último dia 31 de janeiro aos 75 anos, foi um dos profissionais mais conhecidos quando o assunto era a mistura da crônica jornalística à literatura, lembra o La Voz de Argentina.

Martínez foi o jornalista mais lido e traduzido da Argentina, e "a este ofício dedicou sua paixão", resume o El Universal. Ele começou a carreira como corretor no jornal La Gazeta de Tucumán e nos últimos tempos desempenhava a função de colunista nos jornais La Nación, El País e New York Times.

Chamado de "professor de repórteres", desempenhou um papel-chave na criação da Fundação de Novo Jornalismo Iberoamericano (FNPI, por sua sigla em espanhol), presidida por Gabriel García Márquez.

"Nos últimos tempos, os açoites que [o jornalismo] recebeu por aqueles que o negam, trouxeram-lhe um tempo difícil; ele era apaixonado pela rapidez com que internet podia circular a informação, mas ficava preocupado com a possibilidade de espalhar rumores e erros sem que ninguém contestasse. (...) mas considerava que o jornalismo podia superar esse 'sarampo' e continuar sendo, como dizia seu amigo García Márquez, o melhor trabalho do mundo", escreve Juan Cruz, do El País.



* Texto originalmente publicado no blog do Knight Center for Journalism in the Americas. A frase de abertura da postagem é de Tomás Eloy Martínez e não consta do texto original.

Em tempo: para quem tiver interesse, Martínez escreveu sobre os desafios do jornalismo (clique aqui para ler - texto em espanhol).