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sexta-feira, 2 de maio de 2014 | | 0 comentários

A ética da responsabilidade

(...) Os filósofos Patrick Lee e Robert P. George, respondendo a Judith Thomson, sublinham precisamente esse ponto: nós temos certos deveres existenciais - para com os nossos pais, os nossos irmãos, os nossos amigos etc. - que existem independentemente de os termos escolhido ou assumido.

Claro que podemos recusar tais deveres. Mas isso não apaga a existência desses deveres. (...)

Fonte: João Pereira Coutinho, "O roubo do futuro", Folha de S. Paulo, Ilustrada, 29/4/14.

terça-feira, 26 de março de 2013 | | 0 comentários

Ética de ocasião

Políticos são mestres na arte de provar que a ética funciona ao sabor dos ventos. Os discursos que valem aqui podem não valer acolá se outros interesses estiverem em jogo. Os princípios que valem aqui podem não valer acolá se outros negócios estiverem em jogo. 

Transparência, direitos humanos, democracia - pilares sagrados das sociedades modernas podem até ficar em segundo plano conforme o momento. É a ética de ocasião.

Neste sentido, recomendo a leitura da coluna de Clóvis Rossi na "Folha de S. Paulo" desta terça-feira (26/3/13). O título é "O tirano e o caixeiro-viajante".

sexta-feira, 23 de novembro de 2012 | | 0 comentários

"Jornalismo, ética e segurança pública"

Na última segunda-feira, dia 19, a Folha publicou uma entrevista comigo. A sua chamada na Primeira Página: "País deve negociar com criminosos, afirma sociólogo", atribuindo-me posições que me são completamente estranhas.

Jamais diria uma sandice destas.

(...) Quando saiu a publicação, fiquei surpreso porque se confundiu deliberadamente mediação com negociação, e não foi feita referência aos diversos temas e propostas que estavam sendo discutidos. Fui vítima do sensacionalismo do título que terminou desconstruindo totalmente minha fala a ponto de quase ninguém ler o que estava sendo dito na entrevista.

Afora as implicações éticas, é interessante notar o processo social que este tipo de jornalismo suscita.

Após a publicação da entrevista, o site da Folha publicou mais de 400 comentários de internautas que, além de ameaças, adjetivos e palavrões, muito pouco se debruçavam sobre o texto da entrevista.

(...) Será este é o público que estamos informando para debater temas de segurança pública? Estamos condenados às trevas da truculência e ameaças ao tentar discutir soluções mais além das corporações ou dos eventos episódicos?

O que eu não havia me dado conta ainda é o quanto nossa imprensa contribui para esse nível de debate.

Sempre soube que ela era parte importante do problema de segurança pública, pois não reflete de forma mais arguta sobre os graves problemas estruturais que vivemos no Brasil. Se tomarmos os recentes eventos de São Paulo, por exemplo, ainda não vi uma matéria que busque compreender as raízes mais profundas da crise ou a real dimensão dela.

Nossa estrutura de segurança pública é disfuncional, pouco efetiva, bastante descrita na imprensa - mas raramente analisada. Abdica-se da investigação jornalística para lançar mão de "especialistas", autoridades e denúncias na busca de "furos" e manchetes de efeito efêmeras, mas com consequências perversas na construção de nossa cidadania incompleta.

Eis um setor da administração pública que se beneficiou pouco com a democratização brasileira: a segurança pública. Ela ainda é isolada, pouco transparente, avessa a debates e sem nenhum sentido de prestação de contas acerca do que fazem.

Se por um lado a imprensa teve o importante papel de denunciar suas mazelas, acabou sendo contaminada pelo espetáculo e sensacionalismo de nossas misérias cotidianas.

Nós, "especialistas", terminamos sendo algumas vezes vítimas involuntárias. Expostos de forma desnecessária, através de fotos e manchetes que desconstroem completamente o conteúdo do que dizemos em favor do espetáculo, acabamos alvos da irracionalidade e ira reinantes. (...)

Fonte: Claudio Beato, “Folha de S. Paulo”, Opinião, Tendências/Debates, 22/11/12, p. 3.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012 | | 0 comentários

A ética nossa de cada dia

Estamos vivendo tempos de uma ética utilitarista. Ou, melhor dizendo, da deturpação dos princípios utilitaristas. Do eudemonismo natural para uma moral egoísta. Isto se revela em dois tipos de atitudes: 1) a avaliação do que é bom ou mau (ou, dito de outra forma, do que vale a pena ou não) com base nas consequências que algum ato possa trazer para o indivíduo; e 2) a consideração do que vale a pena ou não com base numa suposta superioridade ideológica em relação a outras correntes de pensamento.

O resultado desse tipo de comportamento é que agimos ou nos omitimos pensando unicamente no(s) efeito(s) que tal ação ou omissão pode nos causar como indivíduos ou à nossa causa (neste período eleitoral este tipo de situação fica evidente). Traduzindo em exemplo: não importa se determinada pessoa possa ter cometido uma irregularidade; se denunciar irá trazer benefícios, faça-se; se não trouxer benefícios, omite-se. E a suposta irregularidade? Ora, ora...

Em suma, o indivíduo aceita as irregularidades desde que estas não o prejudiquem ou ainda desde que a omissão de não denunciá-las o beneficie. E o processo que pode estar sendo deturpado pelas tais irregularidades? E outros que podem estar sendo prejudicados? “Laissez faire, laissez passer” (atenção: considere a expressão meramente por sua tradução e não por seu significado na teoria econômica liberal).

Se questionada, a pessoa que aplica a ética utilitarista (deturpada) dirá que está seguindo a moral eudemonista. Falará isso com base na crença de que suas verdades são “a verdade”.

Eis, pois, uma das minhas mais recentes inquietações – levada a cabo por uma pergunta de um militante político: “Entre a orientação partidária em favor de um projeto em prol da coletividade e as suas convicções, você fica com qual?”

Mais uma vez, fico tentado a recorrer a Quincas Borba: “Ao vencedor, as batatas!”

domingo, 5 de agosto de 2012 | | 0 comentários

Inversão de valores: a ética no banco dos réus

Então ficamos assim: o ministro José Antonio Dias Toffoli - um dos 11 decisivos votos do STF (Supremo Tribunal Federal), a mais alta corte do Judiciário – não se considerou impedido de participar do julgamento do chamado “mensalão”, iniciado na última quinta-feira (2/8).

Dias Toffoli traz no currículo o fato de ter advogado em favor do PT (partido foco da denúncia em julgamento no STF), de ter sido assessor na Casa Civil do então ministro José Dirceu (justamente um dos principais réus do caso) e de ter defendido o ex-presidente Lula em três campanhas eleitorais, recebendo pagamento de Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT e também réu no caso).

Não bastasse isso, Dias Toffoli namora uma advogada que atuou em defesa de um ex-deputado federal do PT também réu no processo do “mensalão”. E, para fechar a questão familiar, o irmão do ministro é prefeito de Marília (SP) justamente pelo PT.

Cobrindo causas forenses na Comarca de Limeira durante anos como repórter de um jornal, vi juiz se declarar impedido de julgar um processo por motivo muito menos relevante.

Pois para Dias Toffoli, todas as ligações de seu currículo e de seu passado (não é preciso sequer considerar a namorada e o irmão) com os réus não foram suficientes para ele se declarar suspeito no julgamento.

É uma questão de foro íntimo, um direito do ministro considerar-se apto para julgar o caso – até porque ninguém pediu sua suspeição -, mas que é eticamente questionável, isto é.

Como disse um amigo recentemente ao comentar uma certa boataria envolvendo o trabalho da imprensa: “é uma total inversão de valores”.

Assim, não é só o “mensalão” que está em julgamento no STF. A ética também foi parar no banco dos réus.

O voto de Dias Toffoli promete, desde já, provocar polêmica.

Leia também:

- "Sai daí rápido, Zé!" (é preciso ter senha do UOL ou da "Folha de S. Paulo)