Era o fim do mundo.
E não era propriamente um fim, mas um começo.
Um recomeço.
Como se espera e se anuncia.
Primeiro houve uma forte ventania, fortíssima,
levantando poeira que ofuscava a visão.
Seguiu-se um forte e estrondoso tremor, mas nada se
moveu nem ninguém se feriu.
O tremor durou segundos; a ventania, longos minutos.
Houve pânico e temor, mas não dor.
Foi tudo de repente, inesperado, pegando todos de
surpresa.
Eis que veio a calmaria. E um belo dia surgiu, com céu
azul e sol reluzente.
Pela janela, via-se que o mundo não era mais mundo.
Havia uma espécie de ilha flutuante, como se fosse um
outro planeta, rochoso e irregular, tal como um asteroide. Nessa ilha havia
algumas pessoas, assustadas, porém seguras.
A Terra estava lá embaixo, muito abaixo. Olhando do
novo mundo, via-se apenas o contorno de um lugar qualquer e muita água por todo
lado. Era como se tudo tivesse sido destruído, mas ao mesmo tempo tudo
continuava lá, em seu devido lugar.
E o fim do mundo não era uma destruição, mas uma separação.
Muitos ficaram, poucos subiram para a tal ilha flutuante. E dali partiriam não
se sabe para onde nem para quê.
Houve temor e choro, muito choro.
Um choro de angústia, desespero e uma ponta de
tristeza.
Porque no novo mundo, na ilha flutuante, descobriu-se
que muitas pessoas queridas ficaram para trás. E com elas não haveria mais
contato.
E não era por saudade que as pessoas choravam;
choravam pelas oportunidades perdidas.
A oportunidade de dizer quanto alguns eram queridos e
amados; quanto outros mereciam o perdão. Quantas palavras deixaram de ser ditas,
quantas reconciliações deixaram de ser feitas, quantos erros deixaram de ser
consertados, quanto havia por fazer e fomos todos esperando o tempo passar, deixando
tudo o que era relevante para depois por causa da correria das tarefas inúteis
do dia a dia.
E as palavras, aquilo que realmente importava, o
perdão a pedir e oferecer, o abraço amigo e irmão, a mão estendida, o carinho e
o amor – tudo ficou para trás.
Assim foi o fim do mundo.
E não foi propriamente um fim, mas um começo.
Um recomeço.
PS: esta postagem é baseada numa visão.
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