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domingo, 7 de outubro de 2012 | | 0 comentários

O exemplo da praça Roosevelt

Eu nunca tive dúvida que a revitalização de áreas públicas é uma das formas mais eficientes de combater a violência e melhorar a qualidade de vida numa cidade. Exemplos bem sucedidos não faltam: Nova York (EUA), com o famoso programa “Tolerância Zero”; Calí, Bogotá e Medellín, na Colômbia; Americana (SP), ao menos na praça onde fica o avião.

O mais recente exemplo vem da capital paulista, como noticiou a “Folha de S. Paulo” de sábado (6/10):

“A noite na praça Roosevelt está "bombando". Uma semana após a reinauguração, a área de lazer na Consolação (centro de São Paulo) tem atraído muita gente até tarde.

Às 22h de anteontem, estava lotada. Eram pedestres, skatistas, ciclistas... À meia-noite, boa parte continuava por lá.

A reforma de R$ 55 milhões e dois longos anos foi aprovada pelos frequentadores.

O ponto mais enaltecido é a segurança. Em todos os horários que a reportagem foi à praça, havia ao menos três carros da GCM (Guarda Civil Metropolitana) em pontos diferentes com ao menos dez guardas.

'Agora sim ficou bom. O lugar está aberto e as luzes estão excelentes. Antes, o pessoal se escondia nos cantos para usar droga', disse o aposentado Vitor Luiz da Rocha Brandão, 65, que leva o cão John John para passear ali à noite.

A fama do local gerou uma migração 'amantes das rodinhas'. 'Isso aqui lotado à noite é porque muitas pessoas vêm de outros lugares para andar [de skate] aqui', disse o professor e skatista Luis Alberto Ribeiro, 29.

Nem o incessante barulho de patins e skates irrita quem mora ali perto. 'Se não tivesse problemas no joelho, andaria de também', diz o cientista político Eduardo Barone, 28.

Com a segurança reforçada e aumento do público, o comércio ficou aquecido. Segundo Fabiana de Almeida, 31, gerente de um bares no entorno, foram contratados mais funcionários.

'Nos primeiros dias percebemos aumento de 10% e parece que vai ser maior.'

Mas nem tudo é elogio. A maior queixa de quem vai ali diariamente, como o modelo Edson dos Santos Jr., 25, é a falta de bebedouros e banheiros.

'Não é possível que eles não tenham pensado nas crianças que vêm aqui e ficam morrendo de sede. Isso é um cuidado básico que deve haver com a saúde das pessoas."

Em nota, a prefeitura disse que 'já determinou que todas as demandas e sugestões para aprimorar ainda mais os serviços públicos na praça sejam avaliadas e, dentro das possibilidades, atendidas'."

(Fonte: Felipe Souza, com colaboração de Lucas Neves, “Reforma faz praça Roosevelt 'bombar' até tarde da noite”, Cotidiano)


Não há dúvida que onde há espaço estruturado e segurança, a população se faz presente. O comércio é reativado, a economia e a sociedade ganham.

Por que, em Limeira, nada pode ser realizado na Praça Toledo Barros? É assim que vamos querer que o local - coração da cidade - seja seguro?

Está na hora de começar a enfrentar alguns paradigmas e fazer esta cidade evoluir, progredir. E isto implica enfrentar interesses de alguns em favor do interesse da maioria, da coletividade. Democracia é isto, não?

Afinal, desde que as cidades foram concebidas, na Grécia Antiga, as praças eram o espaço de convivência pública. E assim devem voltar a ser!

E aí, será que em Limeira isto também será possível?

* A foto que ilustra a postagem foi retirada da Folha de S.Paulo/UOL e é de Eduardo Anizelli/Folhapress.

segunda-feira, 4 de junho de 2012 | | 0 comentários

"'Integrar as pessoas da cidade coíbe a violência', diz arquiteto"

José Armênio de Brito Cruz, 52, assumiu no começo deste ano a presidência do departamento paulista do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) com uma festa em pleno centro de São Paulo e a meta de mostrar à sociedade que os arquitetos conhecem as técnicas para construir uma cidade melhor.

Formado em 1982 pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), Cruz é fundador do escritório Piratininga, autor de projetos como a reforma da biblioteca Mário de Andrade e o conjunto Comandante Taylor, em Heliópolis.


Ele diz que a segregação dos condomínios fechados é uma das causadoras da violência e afirma que é preciso as regiões da cidade sejam ocupadas por pessoas de todas as classes sociais.


Folha - Qual é a cidade que estamos construindo? Nessa "nova cidade" tem arquitetura?

José Armênio de Brito Cruz - O importante nessa questão da construção da cidade é a população compreender que a cidade é fruto dela própria, da população mesmo. A população não é vítima da cidade. A sociedade não é vítima da construção que faz do espaço que ela habita. A cidade é fruto, justamente, dessa correlação de forças da sociedade, dessa ação da sociedade, dos desejos da sociedade, dos desígnios que a sociedade coloca para esse espaço. E a arquitetura é o instrumento para que a sociedade possa definir as direções que essa cidade vai tomar. O arquiteto tem esses instrumentos, essa técnica.

Que tipo de técnica, por exemplo?

Por exemplo, entender o que significa como fortalecer o comércio de rua. Saber que o foco de um imenso shopping center vai, no área circunvizinha considerável, enfraquecer este comércio de rua.

Houve um tempo em que todo mundo queria shopping.

Todo mundo querer os shoppings... Um shopping center, como espaço de mercado, pode ser uma coisa positiva. Nós temos histórias de mercados lindos, como o mercado de São Paulo, Porto Alegre tem um mercado muito bonito. São os espaços do comércio. Mas na hora que o shopping center começa a chegar no mercado como uma esponja e suga a força comercial da circunvizinhança, isso tem de ser uma decisão da sociedade.

A sociedade tem de ter consciência do que está fazendo. As coisas não são ruins ou boas a princípio. Tem de ser uma decisão da sociedade. A sociedade tem de saber quais as consequências dessa tomada de decisão, para não ficar com áreas deterioradas, não ficar com áreas em desuso, porque isso é um custo para a sociedade e começa a gerar vícios no uso do espaço.


Também houve um tempo em que condomínios fechados eram moda, e agora há uma discussão de que isso deve voltar a se integrar a sociedade.

Essas afirmações que você diz, da moda, vamos entender isso enquanto afirmações de direções. O condomínio fechado é uma privatização do espaço. Aqui, só entra quem é dono. Isso, para a cidade, não é bom, porque a partir do momento em que você diz que aqui só entra quem é dono você está dizendo que milhões de pessoas estão ficando fora.

Talvez, esse milhão de pessoas não fique muito contente de ficar fora daquele espaço. Existem teses na USP que já evidenciaram que, ao mesmo tempo em que cresceram os condomínios fechados, a violência também cresceu. A segregação, tecnicamente, é um elemento que aumenta a violência. Seja a segregação do rico no condomínio fechado, seja a reprodução disso nas camadas mais pobres, a integração é contra a violência.


Mas não é essa cidade que a gente está construindo, dos shoppings centers e dos condomínios fechados?

Tenho que concordar com você. Infelizmente é, porque é uma atitude não nacional. É como se esse nosso espaço, o nosso território, não fosse da nossa população. Na hora que nós assumirmos esse território como da nossa população, o jogo vai começar a acontecer de forma mais justa, de forma mais clara, e a violência tende a diminuir. Na hora que os espaços públicos estiverem qualificados e devidamente ocupados pela população... Nós fizemos aqui na nossa posse uma festa. 1.500 pessoas aqui na esquina, nessa região que é tida como o centro, o pessoal fala aí... Nem um problema. Começamos às quatro horas da tarde, terminamos pontualmente às 22 horas, 1.500 pessoas, três bandas de rock tocando, os bares todos abertos, servindo, acabou todo o estoque de cerveja da região, nem um problema. O que eu quero dizer?

Essa exposição, essa disposição em qualificar a cidade, na verdade, é a disposição de ver que nós somos uma sociedade que tem diferenças. Diferenças econômicas, diferenças culturais, mas que pode conviver. Essa é a nossa convicção, que a arquitetura se insere na sociedade dessa forma. Esses vícios do condomínio fechado, da segregação, são vícios que nunca foram definidos pelos arquitetos. Talvez alguns projetos sejam feitos, mas os arquitetos, aqui no instituto de arquitetos, nunca defenderam essa segregação.


Fonte: Evandro Spinelli, "Folha de S. Paulo/UOL", 4/6/12, p. A14.


* Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui.