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sexta-feira, 18 de março de 2011 | | 0 comentários

O enigmático silêncio de Pejon

O depoimento do secretário da Educação de Limeira, professor Antonio Montesano Neto, à CPI da Merenda da Câmara Municipal ontem foi sintomático. Revelou a desfaçatez da classe política, elemento essencial para o estado de coisas que se vê hoje (hoje?) na cidade e no país.

Com a experiência de quem já presidiu o Legislativo e comandou uma das mais bem feitas CPIs da história de Limeira, a que investigou irregularidades nos contratos de asfaltamento durante o governo Pedro Kühl (PSDB), Montesano foi firme em todas as respostas. Quando se defendeu e contra-atacou.

E não foram poucos os contra-ataques. Em pelo menos quatro oportunidades, todas com muita veemência, o secretário atribuiu a supostos desmandos do governo José Carlos Pejon com o setor da merenda a decisão de terceirizar os serviços.

Primeiro Montesano disse que o cenário encontrado nas escolas no início de 2005, primeiro ano do governo Silvio Félix (PDT), era precário. Problemas na infraestrutura das cozinhas e nos equipamentos (parte destes problemas não chegou a ser documentada, admitiu o secretário). Depois, afirmou que não havia sequer merendeiras oficialmente, já que o cargo havia sido extinto do quadro de funcionários municipais.

“Recordo-me de ter encontrado em 2005 uma situação caótica na merenda fornecida pelo município", disse, conforme mostra o Jornal de Limeira (clique aqui). Como se vê na reportagem, ele citou inclusive riscos à saúde das crianças devido a ninhos de baratas e insetos na cozinha de algumas unidades de ensino.

O secretário falou ainda que era comum as diretoras terem que recorrer ao dinheiro da APM (Associação de Pais e Mestres) para complementar a merenda, tamanha a falta de qualidade. Chegou a classificar a situação como uma “precariedade”.

E Montesano foi além. No fim do depoimento à CPI, pediu autorização para acrescentar um detalhe. E passou a ler o que seriam os cardápios da merenda servida no município em agosto de 2004, no governo Pejon. Sopão, mingau e por aí vai...

Quando questionado a respeito do valor gasto no primeiro ano de terceirização da merenda (R$ 8,1 milhões) em confronto com 2004, último ano do governo Pejon (R$ 6,4 milhões), o atual secretário da Educação lançou um desafio enfático: “Este valor não é verdadeiro! Desafio alguém a sustentar a merenda com esse dinheiro”.

Antes de Montesano, o próprio prefeito já havia culpado o governo Pejon pelos problemas na merenda, como registrou a imprensa (leia aqui).

Não há nenhum problema no contra-ataque de Montesano. Ele faz o papel dele. O problema está no silêncio de Pejon. Desde que deixou o comando do Executivo, o ex-prefeito se empenhou em defender sua gestão – em especial no que diz respeito à merenda, calcanhar-de-Aquiles do sucessor.

Foram inúmeras as visitas a órgãos de comunicação em que Pejon teceu críticas ferrenhas à terceirização implantada pelo governo Félix, inclusive levantando suspeitas a respeito da decisão e do valor gasto. Sempre frisava a diferença entre os R$ 6,4 milhões gastos no último ano de sua gestão e os R$ 15 milhões previstos no contrato firmado pela prefeitura no governo Félix com a SP Alimentação.

Pejon não se cansava de enviar textos à imprensa defendendo suas posições, seja diretamente ou por meio de seu assessor informal.

Agora que as críticas foram feitas numa CPI da Câmara, Pejon se calou. Coincidentemente, a atitude ocorre num momento em que o ex-prefeito virou braço direito de Félix, seu antigo desafeto. Pejon é secretário-chefe de gabinete do atual prefeito e, dizem, uma espécie de “primeiro-ministro” do atual governo – como este blog já registrou (veja aqui).

Por isso o depoimento de Montesano foi sintomático. O silêncio de Pejon é muito revelador do caráter da política. E das pessoas...


Em tempo: em dezembro de 2007, a coluna política do "Jornal de Limeira" informava que uma aliança de Pejon com Félix para a eleição de 2008 era “impossível”. Sinal de que os ventos da política realmente mudam...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010 | | 0 comentários

Limeira é 2ª em anúncios de investimentos na região em 2009

Após despencarem nos três primeiros anos do governo Silvio Félix (PDT), como já mostrou este blog (veja aqui), os investimentos anunciados em Limeira se recuperaram e deixaram a cidade com o segundo melhor desempenho da região em 2009. É o que aponta o levantamento feito anualmente pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados). No total, foram anunciados 11 investimentos em Limeira, que somam US$ 60,66 milhões.

Só Rio Claro teve desempenho melhor no ano passado, com US$ 63,18 milhões (dos quais US$ 43 milhões são fruto da parceria público-privada firmada com a Foz do Brasil para tratamento de esgoto). Atrás de Limeira, aparecem Piracicaba (US$ 49,89 milhões), Americana (US$ 20,61 milhões) e Sumaré (US$ 11,86 milhões). São Carlos, um dos principais polos tecnológicos do país, teve investimentos de US$ 13,24 milhões.

Não custa lembrar que, após a publicação da postagem anterior, em meados do ano passado, o prefeito criticou o Seade. Félix manifestou na ocasião que o levantamento era um “chutômetro” e que a metodologia usada pela fundação era “furada” (veja
aqui).

Dos investimentos anunciados para Limeira em 2009, segundo o Seade, destaca-se a multinacional japonesa Yachiyo/Honda: US$ 30,23 milhões, metade do total da cidade no ano. A empresa está implantando uma unidade nas margens da Via Anhanguera.

As demais empresas que anunciaram investimentos para Limeira em 2009 foram Doce Vida (implantação), Hospital Frei Galvão/Santa Casa (ampliação), Maxxi Atacadista/Wal-Mart (implantação - US$ 14,38 milhões), Senac (ampliação), Sindicato dos Comerciários (implantação de nova sede), Siscom (implantação - US$ 5,8 milhões), Sixtini (implantação), Supermercados Covabra (implantação nova loja - US$ 6,21 milhões), Tennis One (implantação) e Wal-Mart (implantação).

Americana teve nove investimentos anunciados, Piracicaba somou 14 (destaques para a Cosan, com US$ 16,49 milhões, e a CNH-Case New Holland/Fiat, com US$ 15 milhões), Rio Claro teve sete, Sumaré cinco e São Carlos seis.

Em todo o Estado, o Seade somou 742 anúncios de investimentos no ano passado. Eles totalizaram US$ 28 bilhões, um aumento de 20% em relação a 2008 (US$ 23,7 bilhões). A pesquisa de investimentos (Piesp) tem como base os anúncios publicados por grandes jornais, como “Folha de S. Paulo”, “Estado de S. Paulo”, “Valor Econômico” e “Gazeta Mercantil”.

Apesar do resultado positivo de Limeira em nível regional e do crescimento expressivo em relação aos anos anteriores, os números ainda estão muito distantes do período de 2001 a 2004, notadamente a partir de 2002, no governo José Carlos Pejon (agora integrado à equipe de Félix). Nesse período, o ano que teve investimentos mais modestos anunciados registrou um valor três vezes maior do que o verificado em 2009.

1998 ..... 2 anúncios ..... US$ 252 milhões

1999 ..... 5 anúncios ..... US$ 26,81 milhões
2000 ..... 6 anúncios ..... US$ 32,08 milhões
2001 ..... 16 anúncios ..... US$ 89,9 milhões
2002 ..... 14 anúncios ..... US$ 515,74 milhões
2003 ..... 30 anúncios ..... US$ 285,02 milhões
2004 ..... 13 anúncios ..... US$ 173,06 milhões
2005 ..... 6 anúncios ..... US$ 3,03 milhões
2006 ..... 9 anúncios ..... US$ 5,29 milhões
2007 ..... 16 anúncios ..... US$ 14,43 milhões
2008 ..... 10 anúncios ..... US$ 18,48 milhões*
2009 ..... 11 anúncios ..... US$ 60,66 milhões

Fonte: Seade

* PS: do total de dez investimentos anunciados em 2008, um deles não se concretizou: o da empresa Worksheep. A empresa investiria US$ 3,01 milhões para uma fábrica na unidade da antiga União, mas o negócio não chegou a ser implantado em definitivo.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010 | | 0 comentários

A história secreta de uma renúncia

Era final de março de 2002, provavelmente dia 29. Eram fortíssimos os rumores de que o então prefeito de Limeira, o empresário Pedro Teodoro Kühl (PSDB), o primeiro reeleito sucessivamente na história da cidade, iria renunciar ao mandato para ser candidato a deputado federal. Há tempos o tucano vinha reclamando que a cidade deixava de ganhar muito com a ausência de um representante em Brasília (o último deputado federal limeirense foi Jurandyr Paixão Filho, o Jurinha, que deixou o cargo em 1998).

Com a autoconfiança e um certo grau de messianismo que sempre lhe foram característicos, Kühl arvorou-se o dever de sanar este problema, ainda que parecesse uma tarefa insana para quem um ano e seis meses antes havia sido aclamado pelas urnas para manter-se no cargo mais alto do Executivo limeirense por mais quatro anos. Nos bastidores políticos, a possibilidade da renúncia era ao mesmo tempo provável (para quem conhecia o prefeito) e impensável (para quem conhecia o cenário eleitoral, uma candidatura que exigia algo em torno de 120 mil votos).

Para quem achava-se na condição de ser candidato a vice na chapa do então governador Mário Covas (PSDB), porém, a candidatura a deputado soava como plausível – sensação provavelmente reforçada pelo cordão de puxa-sacos que cercava o então chefe do Executivo municipal.

Deste cordão não fazia parte o vice-prefeito. José Carlos Pejon nunca fora amigo (na correta acepção do termo) de Kühl. Então no PSDB após um acordo político que o levou em 1996 a apoiar a candidatura do empresário à prefeitura, Pejon havia comandado a Secretaria da Habitação durante o primeiro mandato do colega tucano.

O rompimento do prefeito com o então vice Paulo Brasil Batistella (PL, hoje PR), que saiu candidato ao Executivo em 2000 contra seu ex-colega de chapa e de governo, fez com que o PSDB optasse por uma chapa pura na disputa reeleitoral. E a escolha recaiu sobre Pejon – naquele momento, o candidato a vice talvez nunca tivesse imaginado que em breve comandaria a prefeitura.

Um ano e três meses depois da posse, Pejon continuava não acreditando naquela hipótese. Em entrevista ao programa “Fatos & Notícias”, da TV Jornal, nesta quinta-feira (4/2/2010), ele admitiu que considerava a ideia da renúncia em prol de uma candidatura a deputado um grande risco. “Uma aventura”, em suas palavras.

Mas Kühl insistia na ideia e os rumores só aumentavam.

Aproximava-se o prazo exigido pela lei para que o então prefeito deixasse o cargo (a tal desincompatibilização). Pejon via cada vez mais perto a chance de realizar um sonho nutrido desde sua candidatura a prefeito em 1992 (quando – apoiado pelo prefeito da época, Paulo D´Andréa - competiu contra Kühl, então em outro partido, e contra o ex-prefeito Jurandyr Paixão, que venceu; houve ainda um candidato do PT, não me recordo se Wilson Nunes Cerqueira ou Neide Mansur).

Em uma das salas do núcleo duro do governo municipal, Pejon vivia uma certa perturbação. Uma mistura de expectativa e dúvida. Estava a poucas horas de se tornar prefeito, mas não conseguia conceber a renúncia do colega. O vice decidiu, então, ter uma conversa “olho no olho”, como classificou na entrevista ao “Fatos”, com Kühl. Dirigiu-se ao gabinete do prefeito e pediu para conversar.

Pejon foi direto: “Pedrinho, está todo mundo falando da sua renúncia. Você vai mesmo renunciar? Pense bem porque, olha, eu sou o maior interessado, mas a candidatura me parece um cenário difícil”. Kühl também foi direto (algo não tão comum na personalidade do ex-prefeito, aliás na de qualquer tucano...): “Pejon, pode ter certeza. Vou renunciar e vou me eleger deputado federal”.

Ali, naquele momento, Pejon teve realmente certeza de que o sonho de uma década antes seria realizado. Ainda como vice, ele chegou em sua casa à noite e comunicou a esposa Silvia que dali alguns dias seria o novo prefeito de Limeira – e ela, por tabela, a primeira-dama. Houve uma modesta comemoração em família, admitiu Pejon.

Dois dias depois, em 31 de março, Kühl enviava à Câmara Municipal sua carta de renúncia. Ele cumpria assim a primeira parte da afirmação que fizera ao vice naquela conversa reservada. No dia seguinte, 1 de abril, Dia da Mentira, Pejon era empossado prefeito de Limeira. A cidade tinha um novo chefe, num dos capítulos mais inusitados de sua história política recente.

O resto da história é conhecido: na eleição de outubro de 2002, Kühl teve 67.524 votos, insuficientes (de longe) para dar-lhe uma cadeira na Câmara Federal. Foi apenas o 21 mais votado na coligação PSDB-PSD-PFL (hoje DEM). O ex-prefeito deixava de cumprir a segunda parte da afirmação. Por sua vez, as previsões de Pejon se confirmavam: a candidatura revelou-se uma grande aventura. Uma aventura de preço alto, o preço da renúncia, que Kühl pagará pelo resto de sua vida.

PS: na entrevista ao “Fatos”, questionado sobre a nota que daria ao seu governo numa escala de zero a dez, Pejon apontou sete. Foi a mesma nota que deu ao governo Silvio Félix (PDT). Justificou que, embora o atual prefeito tenha uma popularidade muito maior do que a dele, “o tempo é o senhor da razão” (expressão que havia sido citada momentos antes por mim).