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terça-feira, 4 de dezembro de 2012 | | 0 comentários

Um poema

Aguardo, equânime, o que não conheço - 
Meu futuro e o de tudo. 
No fim tudo será silêncio, salvo 
Onde o mar banhar nada. 

(Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, em "Odes")

sexta-feira, 30 de novembro de 2012 | | 0 comentários

"Da verdade não quero mais que a vida"

Sob a leve tutela 
De deuses descuidosos, 
Quero gastar as concedidas horas 
Desta fadada vida. 
Nada podendo contra 
O ser que me fizeram, 
Desejo ao menos que me haja o Fado 
Dado a paz por destino. 
Da verdade não quero 
Mais que a vida; que os deuses 
Dão vida e não verdade, nem talvez 
Saibam qual a verdade. 

(Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, em "Odes")

quarta-feira, 28 de novembro de 2012 | | 0 comentários

"Tenho mais almas que uma"

Vivem em nós inúmeros; 
Se penso ou sinto, ignoro 
Quem é que pensa ou sente. 
Sou somente o lugar 
Onde se sente ou pensa. 

Tenho mais almas que uma. 
Há mais eus do que eu mesmo. 
Existo todavia 
Indiferente a todos. 
Faço-os calar: eu falo. 

Os impulsos cruzados 
Do que sinto ou não sinto 
Disputam em quem sou. 
Ignoro-os. Nada ditam 
A quem me sei: eu 'screvo. 

(Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, em "Odes)

segunda-feira, 20 de agosto de 2012 | | 0 comentários

“Nada fica”

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pese
Da humilde terra imposta,
Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas -
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, por que não elas?
Somos contos contando contos, nada

(Ricardo Reis, um dos quatro heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012 | | 0 comentários

"Breve o dia"

Breve o dia, breve o ano, breve tudo.
Não tarda nada sermos.
Isto, pensado, me de a mente absorve
Todos mais pensamentos.
O mesmo breve ser da mágoa pesa-me,
Que, inda que mágoa, é vida.

(Ricardo Reis, um dos quatro heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa)

terça-feira, 14 de agosto de 2012 | | 0 comentários

"Cada Um"

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre, 
E deseja o destino que deseja; 
Nem cumpre o que deseja, 
Nem deseja o que cumpre.

Como as pedras na orla dos canteiros 
O Fado nos dispõe, e ali ficamos; 
Que a Sorte nos fez postos 
Onde houvemos de sê-lo.

Não tenhamos melhor conhecimento 
Do que nos coube que de que nos coube. 
Cumpramos o que somos. 
Nada mais nos é dado.

(Ricardo Reis, um dos quatro heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa)