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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015 | | 0 comentários

A lei de mídia argentina: enfrentar ou não enfrentar o problema?

escrevi neste blog sobre a conveniência de discutir uma lei de mídia no Brasil, a rigor do que especifica a Constituição (e sem paixões partidárias ou ideológicas – para deixar claro, não é a “imprensa golpista” que investiga as denúncias da Operação Lava Jato, tampouco manda prender ou soltar; é a Polícia Federal do governo do PT, o Ministério Público e a Justiça Federal a partir de delações de executivos – convenhamos que ninguém aceitaria se incriminar em troca de redução de pena se de fato não tivesse cometido crime).

Feita a ressalva, queria tomar por base a sempre citada lei de mídia da Argentina, sancionada e promulgada em 10 de outubro de 2009. Pelo que tenho lido, o projeto em discussão no Brasil, ainda no forno, traz uma diferença substancial em relação ao que se aprovou no país vizinho.

Aqui, talvez para facilitar a discussão e tramitação da proposta, defensores da lei dizem que não se pretende tirar concessões de ninguém, ou seja, mexer no que já está feito. O objetivo seria, pois, regular o que virá.

Se assim for, perde-se talvez o principal objetivo de uma lei desse gênero, principalmente para fazer jus ao que exige a Constituição, ou seja, evitar oligopólios. De que valerá uma lei de mídia se empresas poderão seguir detendo várias (dezenas?) cadeias de TV, rádio, jornais e revistas?
  
Ley de Servicios de Comunicación Audiovisual N.º 26.522 
 Artículo 45 - Multiplicidad de licencias. A fin de garantizar los principios de diversidad, pluralidad y respeto por lo local se establecen limitaciones a la concentración de licencias. 
 En tal sentido, una persona de existencia visible o ideal podrá ser titular o tener participación em sociedades titulares de licencias de servicios de radiodifusión, sujeto a los siguientes límites: 
 1- En el orden nacional: 
 a) Una (1) licencia de servicios de comunicación audiovisual sobre soporte satelital. La titularidade de una licencia de servicios de comunicación audiovisual satelital por suscripción excluye la posibilidad de ser titular de cualquier otro tipo de licencias de servicios de comunicación audiovisual. 
 b) Hasta diez (10) licencias de servicios de comunicación audiovisual más la titularidade del registro de una señal de contenidos, cuando se trate de servicios de radiodifusión sonora, de radiodifusión televisiva abierta y de radiodifusión televisiva por suscripción con uso de espectro radioeléctrico. 
 c) Hasta veinticuatro (24) licencias, sin perjuicio de las obligaciones emergentes de cada licencia otorgada, cuando se trate de licencias para la explotación de servicios de radiodifusión por suscripción con vínculo físico en diferentes localizaciones. La autoridad de aplicación determinará los alcances territoriales y de población de las licencias. 
 La multiplicidad de licencias - a nivel nacional y para todos los servicios - en ningún caso podrá implicar la posibilidad de prestar servicios a más del treinta y cinco por ciento (35%) del total nacional de habitantes o de abonados a los servicios referidos en este artículo, según corresponda. 
 2 - En el orden local: 
 a) Hasta una (1) licencia de radiodifusión sonora por modulación de amplitud (AM). 
 b) Una (1) licencia de radiodifusión sonora por modulación de frecuencia (FM) o hasta dos (2) licencias cuando existan más de ocho (8) licencias en el área primaria de servicio. 
 c) Hasta una (1) licencia de radiodifusión televisiva por suscripción, siempre que el solicitante no fuera titular de una licencia de televisión abierta. 
 d) Hasta una (1) licencia de radiodifusión televisiva abierta siempre que el solicitante no fuera titular de una licencia de televisión por suscripción. 
 En ningún caso la suma del total de licencias otorgadas en la misma área primaria de servicio o conjunto de ellas que se superpongan de modo mayoritario podrá exceder la cantidad de tres (3) licencias. 
 Artículo 158 - Régimen de licencias vigente. Los actuales titulares de licencias legalmente otorgadas para explotar algunos de los servicios regulados por esta ley, que hayan obtenido renovación de licencia o prórroga, no podrán solicitar una nueva extensión de plazo por ningún título, quedando expresamente habilitados para participar en concursos y/o procedimientos de adjudicación de nuevas licencias.  

Sem discutir os limites impostos pela lei argentina, parece-me que o Brasil corre risco de criar uma jabuticaba jurídica, com pouco efeito prático.

* Leia também (acrescentado em 24/2):

Política de mídia está nacontramão da de EUA e Europa

segunda-feira, 14 de julho de 2014 | | 0 comentários

A última para os "hermanos"

A versão brasileira para o famoso "Brasil, decime que se siente" que os argentinos entoaram durante toda a Copa:

Argentina, me diz como se sente

Ver de longe cinco estrelas a brilhar
Te juro ainda que os anos passem
Você nunca vai me alcançar
Cinco Copas só eu tenho
E sem trapacear
“Mi papa” não se dopou para jogar
Uma coisa eu te digo
Para nunca se esquecer
O Pelé tem mais Copa que você!

* Para ver o vídeo com a música, clique aqui

segunda-feira, 7 de julho de 2014 | | 0 comentários

Frase

“Os argentinos sempre pensam que são mais do que são. Às vezes isso é bom e às vezes isso é ruim.”
Alejandro Sabella, técnico da seleção da Argentina de futebol, em entrevista coletiva

terça-feira, 24 de junho de 2014 | | 0 comentários

Resposta (bem-humorada) aos "hermanos" argentinos

Legal, então jogadores argentinos comemoraram a vitória (apertadíssima e injusta, registre-se!) contra o "fortíssimo" Irã na Copa do Mundo tirando sarro do Brasil...



Para quem não entendeu, porque realmente é difícil entender, a música diz mais ou menos o seguinte: "Brasil, me diz como é ter em casa o seu 'papai' (referência a Maradona). Eu juro que mesmo que passem os anos nós nunca vamos esquecer que Diego te driblou, Canniggia te ferrou e que vocês estão chorando desde a Itália até hoje (referência à derrota brasileira para a Argentina na Copa da Itália por 1 a 0). E o Messi vocês vão ver que a Copa ele vai trazer. E Maradona é maior do que o Pelé".

Realmente deprimente um time ter que comemorar - para zombar do outro - um vice-campeonato... Pois até onde me recordo a Copa da Itália foi vencida pela Alemanha contra a Argentina. "Hermanos" argentinos, vocês não têm nada melhor para comemorar sobre o Brasil?

Outra perguntinha: quantas estrelas vocês têm no peito mesmo? Duas... Ah, só para saber... (não custa lembrar que a Copa de 78, lá na Argentina, foi um dos maiores escândalos do futebol mundial, não é mesmo?). Só gostaria de lembrar que o Brasil tem cinco.

Ah, e se uma vitoriazinha que não levou a nada numa Copa do Mundo é só o que vocês têm a comemorar sobre o Brasil, ou seja, se vale qualquer joguinho, então que tal relembrar o TÍTULO brasileiro sobre a Argentina na final da Copa das Confederações da Alemanha em 2005?

Placar? 4 a 1...



Em tempo: é bom mesmo que Messi leve a Copa porque assim, quem sabe, vocês terão de fato algo a comemorar porque já se vão 28 anos né...

PS: eu citei em postagens anteriores que rivalidade esportiva vale!

segunda-feira, 9 de junho de 2014 | | 0 comentários

Brasileiros e argentinos

Recentemente, tive a oportunidade de jantar com dois colegas jornalistas argentinos. Amenidades à parte, a conversa girou em torno de assuntos necessários, como a crise política-econômica na Argentina, sobre a qual já falei neste blog, e obviamente sobre a relação entre brasileiros e argentinos e o futebol.

Argumentei que as rivalidades esportivas são saudáveis e devem ser alimentadas, com alegria, criatividade e provocação, mas no limite do respeito mútuo. Estranho seria ver um argentino torcendo pelo Brasil e vice-versa.

Fora isso, disse que ambos os países, junto aos demais irmãos latino-americanos, compartilhamos qualidades, defeitos e desafios muito semelhantes. De alguma forma estamos todos num mesmo barco e é contraproducente torcer pelo pior em relação aos países vizinhos.

Neste sentido, parece-me ignorância brasileiros criticarem os argentinos, e vice-versa. No fim das contas, somos todos um – seres humanos.

Recentemente, o técnico da seleção argentina, Alejandro Sabella, o "Pachorra", deu uma bela contribuição para a tese que defendi. Disse ele em entrevista sobre a Copa do Brasil:

“Sempre existe uma grande rivalidade esportiva entre Brasil e Argentina. Queremos ganhar, respeitamos muito e sabemos do valor do futebol brasileiro, assim como sabem do nosso. É uma rivalidade que temos que deixar no plano estritamente esportivo e que não passe daí. Não podemos deixar de ser povos irmãos, o motor da América Latina. Dependemos muito um do outro, principalmente em termos de cidadania. Há um limite que não temos que passar. Temos que tentar ganhar, temos as brincadeiras, e não pode passar disso. Por mais importante que seja e a paixão que exista, é um esporte. Assim esperamos que seja”.

quarta-feira, 28 de maio de 2014 | | 0 comentários

Conversa de jornalistas: tema Argentina

Recentemente, tive a oportunidade de jantar com dois colegas jornalistas argentinos. Inevitavelmente, a crise política e econômica que vive o país vizinho virou tema da conversa. 

Ambos aparentemente discordaram entre si diante do diagnóstico que apresentamos. Ele, Federico, fotógrafo, defendeu o governo da presidente Cristina Kirchner. Disse que se ela pudesse ser candidata novamente seria reeleita - uma afirmação que parece distante das informações que recebemos no Brasil. Ela, Ayelén, repórter, apenas fez uma careta diante da manifestação do colega.

Federico disse mais: que na verdade a sociedade argentina está dividida em extremos - os que são absolutamente contra o governo Cristina e os que são absolutamente a favor. Falta, na visão dele, o meio-termo, o equilíbrio que possa trazer um pouco de racionalidade ao debate e ao país.

À parte a defesa do kirchnerismo, a análise final do fotógrafo me pareceu sensata.

Leia também:

- Os desastres econômicos da Argentina e da Venezuela

quinta-feira, 7 de novembro de 2013 | | 0 comentários

Imprensa: que fase!!!

Aperta o cerco contra a imprensa mundo afora. Na Argentina, a Justiça validou a chamada Lei de Mídia, orquestrada pelo governo Cristina Kirchner. Na Inglaterra, foi aprovada a regulamentação da imprensa.

E assim caminha a humanidade...

Pelo menos no Brasil parece ter virado pó a tentativa de censurar as biografias não autorizadas – refiro-me ao tal “Procure Saber”. Aliás, esta é (foi?) uma discussão descabida.

Alguém tem dúvida de que qualquer filtro ou limite (inclusive o sugerido pelo cantor Roberto Carlos, os tais “certos ajustes”) é censura? E que uma biografia só é possível quando baseada na liberdade de informar?

Antes que alguém questione o direito constitucional à privacidade, recorro a trecho de um artigo de Vinicius Mota publicado na “Folha de S. Paulo” de 4/11:

“Sim, a liberdade de expressão é também a liberdade de injuriar, caluniar e difamar. Para esses males, a lei determina remédios. Mas é sobretudo a liberdade de criticar e contar histórias e versões menos abonadoras sobre quem quer que seja. E de oferecê-las ao crivo do debate público".

sábado, 18 de maio de 2013 | | 0 comentários

O medo das ditaduras

Jorge Rafael Videla, o maior símbolo da ditadura argentina do período 1976/83, morreu onde devia mesmo morrer: na cadeia.

Não é o caso de fazer um balanço do que foi esse terrível período da história argentina, prenhe, aliás, de períodos terríveis.

Só vou falar do medo, o medo tremendo que ditaduras injetam no corpo e na alma até de quem, como eu, nem argentino sou.

Medo que começou quando a sucursal da Folha em Brasília iniciou as gestões junto à embaixada argentina para que eu obtivesse o visto de residência, já que havia sido designado correspondente do jornal em "mi Buenos Aires querido".

Era 1980, Videla era o presidente de turno da ditadura. A informação inicial foi a de que não me dariam o visto porque eu não era jornalista, "era militante".

Não era exatamente mentira. Nunca militei em partido algum, mas militava, sim, como voluntário em defesa dos direitos humanos, sob o generoso guarda-chuva da Arquidiocese de São Paulo, então comandada por dom Paulo Evaristo Arns.

Ser carimbado como militante pela ditadura argentina equivalia quase a uma sentença de morte. Por isso, hesitei a princípio em assumir o posto, ainda mais pelo risco a que exporia a família.

Mas acabei indo, torcendo para que o fato de ser correspondente funcionasse como um habeas corpus preventivo, embora precário.

Funcionou em termos. Até que, um dado dia, apresenta-se em meu apartamento Eduardo Pereyra Rossi (sem parentesco), um dos sete "comandantes", como os Montoneros, o grupo peronista dedicado à luta armada, chamava seus principais líderes.

Era um dos sete homens mais procurados pela máquina de matar dos militares. Eduardo me fora apresentado em São Paulo, durante as férias, por um amigo comum.

Conversamos um bom tempo. Ao despedir-se, me pediu que eu observasse da sacada até que ele dobrasse a esquina. Se fosse preso antes, que eu fizesse a denúncia.

Eduardo, naquele dia, dobrou a esquina, mas uns dez dias depois, foi morto em um suposto "enfrentamiento".

Aí, começaram os problemas mais sérios. Primeiro, um roubo no apartamento, quando estávamos todos fora, em que levaram notas de US$ 50 e US$ 100, mas deixaram as de US$ 10. Você conhece ladrão comum que deixa notas de dólar encontradas na mesma gaveta em que estavam as roubadas?

O objetivo era deixar a mensagem de que eu estava sendo vigiado e podiam fazer o que quisessem. Após outro episódio similar, chamamos a polícia, que, porém, não procurou impressões digitais nas portas, alegando que em portas de madeira não ficam impressões digitais.

Depois, começou o seguimento na rua. Notei que um baixinho gordinho aparecia frequentemente em locais a que eu ia. Um dado dia, apareceu na porta da galeria em que ficava a lavanderia a que eu levava a roupa (a família estava de férias no Brasil).

Depois, reapareceu na estação do metrô perto de casa, e desceu na mesma estação que eu. Eu havia marcado encontro com um advogado (comunista) da Liga dos Direitos do Homem, num café da praça Lavalle, no centro.

Entrei no café, sentei e, pelos janelões, vi que ao baixinho gordinho se juntara um mais alto, espigado, de óculos escuros, bolsa tipo capanga embaixo do braço. Ficaram olhando para o café, e eu olhando para eles.

O advogado não apareceu. Deduzi que havia sido preso, que meu nome e telefone estavam na agenda dele e por isso eu estava sendo seguido.

Saí depois de uma hora de espera. Quando dei meia volta após um tumulto qualquer na pracinha, dei de cara com o baixinho gordinho, que me seguiu até o metrô.

Pouco mais tarde, vou almoçar no café da esquina de casa. Não demora e entram o baixinho gordinho e o da bolsa capanga. Não consigo comer, já aterrorizado.

Vou à sede da Liga dos Direitos do Homem, saber do meu amigo advogado. Não estava, não aparecia havia dias. Parecia confirmar-se a minha dedução sobre sua prisão.

Desço e, no térreo, ao fechar a porta pantográfica do elevador (prédio antigo, elevador antigo), dou de cara com um gigante de 2 metros de altura. Pensei: "Agora, engrossaram e mandaram um bem grandão para me fazer desaparecer". Era apenas a minha imagem no espelho. O episódio me ensinou o efeito devastador que o medo provoca, em situações que você não pode controlar.

Folha achou prudente antecipar viagem já programada para a América Central para cobrir as guerras em andamento. Fui e mesmo tendo caído em fogo cruzado em El Salvador, eu ao menos sabia quem era quem e de onde vinha o perigo.

Na guerra argentina, o terror era promovido pelas sombras de um Estado tomado por uma máquina de matar.

PS - Meu amigo advogado tinha apenas ido visitar a mãe doente no interior.

Fonte: Clóvis Rossi, “Sofri o medo que as ditaduras injetam no corpo e na alma”, Folha de S. Paulo, Mundo, 18/5/13.

PS: embora este blog não tenha finalidade comercial, sigo a regra determinada pela “Folha” - para preservar direitos autorais - a respeito da republicação de seu material (dois parágrafos, com link para o original). 

Neste caso, porém, dada a importância do tema, decidi postar o texto na íntegra. Ele só é compreensível se toda a história for contada. 

Além disso, serve de lição para que NUNCA MAIS alguém seja perseguido, preso, torturado e morto apenas por exercer o sagrado direito de discordar.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012 | | 0 comentários

Que tal uma visita ao cemitério?

Não costumo celebrar o Dia das Bruxas, mas respeito a data como tradição (embora tenha restrições a algumas práticas). Pois navegando na Internet, mais precisamente no blog de turismo da “Folha de S. Paulo”, deparei-me com um texto que fazia alusão ao famoso “Halloween” e sugeria visitas a cemitérios famosos nesse dia.

Nunca tinha ligado uma coisa à outra. De fato, visitar cemitérios soa macabro e pouco usual, mas pode se revelar uma atividade interessante, principalmente para quem é ligado em história. Poucos lugares como um cemitério ajudam tanto a contar a história de uma localidade.

Foi no texto citado que descobri um outro site que lista os cemitérios mais famosos (e bonitos) do mundo, por motivos diversos. Na lista dos “12 mais”, estão três que eu conheci. Aproveito, então, o Dia das Bruxas para mostrar um pouco mais de cada um deles.

O primeiro a ser retratado é o Cemitério St. Louis #1, de Nova Orleans (EUA). É o mais antigo da cidade ainda preservado – é datado de 1789. Assim, abriga muitos dos moradores mais remotos e, dizem, até a rainha do vodu, Marie Laveau. Ele fica na Basin St. em uma das “fronteiras” do French Quarter, na divisa com Treme-Lafitte.

Como fui até lá no final da tarde, ele já estava fechado e eu apenas passei em frente.




Visitei, porém, outro histórico cemitério da cidade – o Lafayette #1. Ele fica um pouco afastado da área histórica, numa região residencial muito bonita, calma e arborizada, o Garden District. Para chegar até lá é preciso pegar um dos tradicionais bondes, descendo na St. Charles Ave. e acessando a Washington Ave.

O cemitério é de 1833 e muitos dos túmulos estão bem preservados. É comum encontrar por lá objetos como chupetas, balas e colares coloridos (tradicionalmente usados no Mardi Gras, o carnaval local).

A principal característica de St. Louis e Lafayette é o fato dos corpos serem colocados acima da terra, nas edificações tumulares que se parecem às vezes com pequenas moradias. Como Nova Orleans é ameaçada por inundações em razão de estar abaixo do nível do mar (diques tentam segurar a invasão das águas), evitou-se enterrar os corpos.








Outro cemitério que aparece na lista dos “12 mais” é o da Recoleta, em Buenos Aires (Argentina). O local atrai milhares de turistas não só por ficar numa das regiões mais bonitas da capital, o charmoso bairro que dá nome ao cemitério, junto a um parque, mas também por abrigar os restos mortais de Evita, a eterna primeira-dama argentina, quase uma santa nacional.

Tal como em Nova Orleans, o cemitério da Recoleta é conhecido também por deixar os corpos acima da terra, dentro de pequenas “moradias”. É possível ver vários caixões (em um túmulo mais preservado, cheguei a ver uma espécie de sala de estar para velar o morto, com duas cadeiras aveludadas, velas e flores, tudo muito bem cuidado e limpo).

Também está na lista o histórico Cemitério de Arlington, na cidade de mesmo nome, grudada em Washington D.C. O local é conhecido por abrigar os corpos de cerca de 300 mil soldados e familiares – sim, ele é exclusivo para militares. É um típico cemitério norte-americano, com as famosas lápides brancas colocadas diretamente no gramado. São tantas as lápides que elas parecem ondas brancas num mar esverdeado.




Arlington atrai turistas também por abrigar o famoso túmulo do soldado desconhecido, guardado por militares como um panteão nacional. Jovens soldados revezam-se durante todo o dia num ritual ininterrupto, assistido por uma turba silenciosa. Também merecem destaque os túmulos do ex-presidente John F. Kennedy e de sua esposa Jacqueline Kennedy Onassis.



Embora não apareça na lista, gostaria de citar outro cemitério que merece destaque. Ele fica na Filadélfia, a primeira capital dos EUA: o Christ Church Burial Ground. É pequenino e famoso por abrigar muitos dos fundadores da nação, aqueles que assinaram a Declaração de Independência e participaram das primeiras sessões legislativas do novo país.

Pequenas bandeiras (na primeira versão da flâmula norte-americana, feita por Betsy Ross) indicam onde estão os restos mortais dos “pais fundadores”.

Ali também está enterrado o corpo de Benjamin Franklin, um dos inspiradores da "revolução" norte-americana que levou à independência.


O cemitério é tão antigo e tão frágil que, embora seja permitido caminhar por entre as lápides, é preciso cuidado (tocá-las é terminantemente proibido, pois muitas estão desmanchando).

É o menor de todos os cemitérios citados nesta postagem e o único pelo qual se paga para entrar (o valor é simbólico, um ou dois dólares). Fica no centro histórico, chamado de Old City, mais precisamente no cruzamento da Arch St, com a Independence Mall East. Procure por Franklin´s Grave.






* As fotos são minhas e de Carlos Giannoni de Araujo

Leia também:

quarta-feira, 6 de abril de 2011 | | 0 comentários

Saga lusitana

A crise chegou com tudo a Portugal. A antiga metrópole pede socorro. À antiga colônia, o Brasil. Ao mundo. Deixando de lado as agruras econômicas do povo, a situação não deixa de ser curiosa. Talvez este início de século 21 seja apenas a concretização de um processo iniciado 200 anos antes, com a transferência da família real de Lisboa para o Rio de Janeiro. Naquele momento, a então metrópole começava a perder importância política - a econômica já vinha sendo arranhada desde séculos antes.

Não vou discorrer aqui sobre a história de Portugal e do Brasil. Para saber mais sobre este processo, sobre o momento crucial em que a historia dos dois países se uniu e o destino de ambos mudou para sempre, recomendo a leitura dos dois livros do jornalista Laurentino Gomes, "1808" e "1822".

Quero falar do século 21. Notícias recentes vindas da corte, ou melhor, de Portugal, revelam uma situação dramática. Greves, desemprego altíssimo, renda em queda, déficit nas contas do país, falta de dinheiro. Fala-se abertamente, ainda que em tom de ironia, na anexação da antiga metrópole pelo Brasil. Obviamente, esta possibilidade não foi sequer cogitada nos círculos diplomáticos durante a recente visita da presidente Dilma Rousseff a Portugal, mas as vozes são ouvidas aqui e ali, nas ruas e nas páginas dos jornais.

Para a alma e o orgulho portugueses, trata-se de uma desfaçatez, uma desonra - como fora em 1807 a partida da corte para o Brasil fugindo das tropas de Napoleão. A verdade é que os portugueses nunca digeriram aquele episódio. Para muitos, dom João 6° não passa de um covarde traidor. Não é à toa que houve uma reação muito forte, quase um golpe de estado, exigindo a volta do rei para Portugal (de novo recomendo "1822").

O fato é que a decisão de dom João 6° - genial ou humilhante, conforme o ponto de vista - antecipou na então colônia um processo que viria mais dia, menos dia. Desde o início, em que pese a colonização predatória instalada pelos portugueses, o Brasil estava fadado a ser grande. E isto incomodou os portugueses.

Hoje, 200 anos depois, esse sentimento ainda é muito presente. Nas três vezes em que estive em Portugal, entre 2005 e 2007, presenciei várias manifestações de orgulho português. Um orgulho exacerbado porque, na realidade, contido. Desde 1808, quando a família real aqui aportou, a influência de Brasil sobre Portugal só cresceu. Em todas as áreas, da economia à cultura, passando pelo esporte.

Nos tempos modernos, isso se vê em vários momentos. Primeiro foi a invasão de dentistas brasileiros - ouvi alguém dizer que foram mais de 20 mil. Depois, a dos jogadores de futebol, que dominam os gramados lusos (a seleção nacional tem três brasileiros naturalizados, sem contar o técnico Luiz Felipe Scolari, que comandou o time durante anos). As prostitutas brasileiras também ocuparam seu espaço - o que faz, alias, muitos portugueses destratarem as mulheres do Brasil, conhecidas pelo "rebolado".

Até a língua pátria, quem diria, começou a mudar. Por influência das nossas telenovelas, sucessos em Portugal. Nossas gírias aos poucos começaram a ser incorporadas pelos jovens portugueses, para desgosto dos mais conservadores. E quando a dominação passa a ser cultural, como a dos EUA, a situação tende a se acentuar. Algo que os portugueses não querem aceitar.

Tudo isso, um processo histórico secular acentuado pela crise financeira atual, atinge diretamente a alma portuguesa (algo bem analisado pelo jornalista João Pereira Coutinho no artigo indicado abaixo).

Embora distantes geograficamente, portugueses e argentinos compartilham algo em comum: a melancolia típica de quem pretende ser novamente algo que um dia foi. Daí para uma certa soberba é um passo – e não é difícil encontrar argentinos e portugueses topetudos. Eles gostam de exaltar as glórias passadas (e ninguém mais vive do passado do que os portugueses, cuja alma ainda espera o retorno do rei dom Sebastião, e os argentinos, que vivem eternamente o legado de Eva e Perón). Consideram melhor tudo o que é local. Proclamam-se desenvolvidos e superiores. Ainda que inúmeras dificuldades batam à porta.

Ah, um último detalhe a uni-los: a soberba de um e outro está diretamente ligada ao crescimento do Brasil.

***

Para saber mais sobre a crise de Portugal, recomendo os artigos a seguir:

* Calote é a saída para Portugal – Clóvis Rossi

* Incerteza portuguesa – Vaguinaldo Marinheiro

* Sem governo e sem dinheiro, a festa acabou no país que vive das aparências – João Pereira Coutinho