Não é o jornal do futuro. Falar em jornal do futuro é estratégia de marketing. A reformulação gráfica e editorial apresentada pela “Folha de S. Paulo” neste domingo (23/5) é, no máximo, o jornal do presente. E com certo atraso, como diz uma jornalista no documentário sobre as mudanças no jornal, lembrando o “velho” Frias. Fosse esta a fórmula do jornal do futuro e o futuro dos jornais não seria tão incerto como é – e a crise dos veículos impressos não seria tão grave como se mostra.
Isto posto (e não é pouco), vamos à análise: a “Folha” tenta, com sua mais recente reforma, ajustar-se aos novos tempos. Por isso, a reformulação me soou mais bem sucedida no campo conceitual do que propriamente gráfico.
Sobre as mudanças gráficas especificamente, recomendo a leitura da postagem feita pelo estudante de Jornalismo, Carlos Giannoni, no blog “O que rola na mídia” (clique aqui). Destaco apenas a mudança positiva do caderno de esportes (um modelo que, aliás, propus quando era editor-chefe do “Jornal de Limeira”, e que não foi implantada).
Nesta postagem, vou ater-me à questão conceitual. Quando “O Estado de S. Paulo” apresentou sua reforma gráfica recentemente, observei uma mudança drástica de conceito. Dos jornais de São Paulo, o “Estadão” foi o primeiro a radicalizar o fim do “hard news” e a aposta em reportagens de maior fôlego, descritivas, interpretativas e/ou analíticas. Via de regra, o “hard news” foi relegado às notas, presentes em todas as editorias, e ao site do jornal.
A reforma do “Estadão” também prenunciou algo que se confirmou com a da “Folha”: a valorização gráfica e editorial da opinião e análise (leia mais aqui). Do mesmo modo, “Estadão” e “Folha” acentuaram a busca da convergência entre mídia impressa e eletrônica. E apostaram com maior afinco no material exclusivo (seja um “furo” ou uma história de vida – que, aliás, ganhou uma seção na estreia da nova diagramação da “Folha”).
De modo diferente, os dois jornais optaram por um texto mais enxuto. No “Estadão”, isso se deu com as notas; foram mantidos textos longos nas reportagens principais de cada editoria. Na “Folha”, até mesmo as reportagens principais sofreram o impacto dos textos mais curtos; o que vale agora é o conjunto editorial (os complementos).
Ainda assim, nenhum deles aderiu – e isto é extremamente positivo e relevante – à “ditadura” dos textos curtos como única saída para os jornais, algo que se pretendeu tornar regra anos atrás.
A grande reportagem tradicional, na “Folha”, ficou reservada ao “Ilustríssima”, novo caderno que substitui o “Mais!” – aliás, a estreia abordando a questão do crack merece leitura. No “Estadão”, ela aparece eventualmente nas diversas editorias (aqui é importante registrar o “eventualmente”, pois a edição de estreia de um projeto gráfico costuma ser mais caprichada. É preciso, portanto, ver como esse projeto vai se desenvolver com o decorrer dos dias).
Cada um a seu modo e mantendo suas características e tradições, “Folha” e “Estadão” buscam com as recentes reformas responder às demandas e aos desafios dos novos tempos do jornalismo. Se as respostas serão bem sucedidas e quanto tempo elas vão durar, só o futuro saberá responder.
Em tempo: em que pese a mídia impressa ter mais perguntas do que respostas, o documentário institucional sobre o processo da reforma da “Folha” é uma aula de jornalismo em seu grau mais concreto – a concepção de um jornal de verdade. Vale a pena!
PS: para comparar com o projeto gráfico de 2006 da "Folha", clique aqui.
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domingo, 23 de maio de 2010 | Postado por Rodrigo Piscitelli às 21:40 | 2 comentários
"Novos" jornais, "novo" jornalismo (?)
Marcadores: Estadão, Folha, jornal, jornalismo, reforma gráfica
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