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segunda-feira, 22 de junho de 2015 | | 0 comentários

A arte e a cor de Miró em São Paulo

Meu encontro com Joan Miró, um dos pilares da pintura espanhola no século 20, foi em 1995. Eu estava na faculdade de Comunicação Social e tinha o desafio de escolher um objeto de análise para o trabalho final de Semiótica – uma disciplina que exigia de mim e, creio, dos colegas uma atenção além do comum.

Compreender os signos, símbolos, ícones, significantes e significados era tarefa difícil, embora interessante.

Ainda meio – ou bastante – perdido, sem saber o rumo que o trabalho tomaria, decidi ir à biblioteca. Não sei responder o motivo, mas de alguma forma fui parar na seção de livros de arte. Comecei a folheá-los e me deparei com uma obra de Miró, “Interior holandês”, de 1928. Uma versão alegre, colorida e um tanto surrealista do quadro do holandês Hendrick Sorgh, “O tocador de alaúde”, de 1661 (veja aqui os dois quadros – em tempo: o link não é de minha autoria).

Além do entusiasmo transmitido pela obra de Miró (que, descobri depois, está presente na maioria dos seus trabalhos), chamou minha atenção a forma como ele subverteu o pretenso realismo do quadro original, feito quase três séculos antes. Estava, então, escolhido meu objeto de análise.

Com ele em mãos, fui até a professora e pedi uma orientação. O que ela me disse não ajudou muito: fiquei olhando para o quadro, várias horas se for preciso.

Foi o que fiz. Nada me vinha à mente – a não ser um anunciado “zero” no trabalho. Até que tive uma “luz”: comparar a geometria dos dois quadros. Tracei os riscos que a visão percorria, um desenho meio sem sentido, mas que rendeu um inesperado elogio da professora e um acréscimo na nota. A primeira, um oito, foi riscada para virar um dez, com uma observação: “pela dificuldade do objeto”.

Desde então passei a admirar o trabalho de Miró.

Anos depois, já em 2007, tive a surpresa e o prazer de me deparar com o quadro que me desafiou e me rendeu elogios na faculdade. “Interior holandês” está exposto no MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York.

Todo este preâmbulo veio à minha mente em razão da exposição do artista catalão no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Aberta em maio, “Joan Miró - a força da matéria” pode ser visitada até 16 de agosto. É, segundo o instituto, a maior exposição dele no Brasil, com mais de 100 obras, entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, objetos e fotos.


Alguns desenhos até soam infantis:


Outros, com uso intenso do preto, ganham um ar sombrio:



Mas o que prevalece mesmo são as cores tradicionais com que Miró dá ritmo aos seus traços:

 
 

 







Nas esculturas, é comum identificar rostos estilizados:


 
 
 

O instituto fica na avenida Faria Lima, 201, com entrada pela rua Coropés, em Pinheiros.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014 | | 0 comentários

A genialidade de Dalí em São Paulo

O trabalho de Salvador Dalí é provocador - como, via de regra, o dos surrealistas. 

Dalí, porém, acrescenta elementos extras ao incluir um forte tom de crítica social em muitas de suas obras (o caos atômico é tema recorrente), de tratar dos sonhos (tema sempre envolto em mistérios) e de recorrer à intensidade das cores e de incríveis efeitos de luz para tornar - o que parece paradoxal - ainda mais sombrios muitos de seus quadros.

Tive a oportunidade de ver pela primeira vez as obras de Dalí em 2005 no museu Reina Sofia (é lá que está "O Grande Masturbador", uma de suas obras mais conhecidas), em Madri (Espanha). Depois, em 2010, vi uma exposição só dele no Palazzo Reale, em Milão (Itália). 

Agora chegou a vez de Dalí pisar em São Paulo, com uma ampla retrospectiva (este é, aliás, o nome da mostra no Instituto Tomie Ohtake). São 24 pinturas, 135 gravuras e desenhos, 16 fotos e 39 documentos abrangendo "primordialmente a década de 1930, auge do movimento" (surrealista).


Entre as pinturas que mais chamaram minha atenção, estão "Autorretrato cubista" (1923 - primeira foto abaixo), "Idílio atômico e urânico melancólico" (1945 - quarta foto), "O sentimento de velocidade" (1931 - quinta foto), "Compsoição surrealista com figuras invisíveis" (1936 - sexta foto) e "O espectro do sex-appeal" (1934 - sétima foto):








Ao contrário de artistas como Van Gogh, que só conquistaram reconhecimento mundial após a morte, Dalí fez muito sucesso ainda em vida. Exemplo disso são as capas de revista que ele estampou - as principais publicações do mundo, geralmente em poses provocativas que misturavam ironia e humor (detalhe: não estou afirmando que estas eram as intenções do artista, e sim quais foram minhas percepções):

  



As mesmas sensações (ironia e humor) tive ao ver a série de fotos:


Também são interessantes as ilustrações que Dalí fez a partir de clássicos da literatura, como "Dom Quixote" e "Alice no País das Maravilhas":









A exposição é grátis (é preciso retirar senha antecipadamente - ela vale para o mesmo dia em que é retirada). O instituto fica na avenida Faria Lima, 201, entrada pela rua Coropés.